Mulheres e homens com quem cruzei na vida, houve quem valesse a pena novos momentos de foda, algumas e alguns chegaram mesmo a ficar na minha memória e na minha história. Mas Luciana foi a única que conseguiu se manter no patamar diferenciado, ao ponto de chegarmos a ser um casal de namorados. A única namorada que tive, aliás.
Dávamo-nos muito bem, além da cama. Era uma mulher inteligente, perspicaz, nos seus trinta e oito anos dona de um corpo ainda bastante apetitoso, e, principalmente, de um time de humor e de sacadas geniais. Tudo isso fazia de nossas transas algo fenomenal, e responsável por demorar tanto tempo nossa relação.
No início, mantínhamos um relacionamento “entreaberto”, ou seja, havia espaço para outras pessoas, mas não na mesma cama, ao mesmo tempo. Nós dois bissexuais, tanto eu quanto ela saíamos com outras pessoas, mas não falávamos sobre isso. Somente quando o outro perguntava, é que dizíamos se havíamos ficado ou não. Se não houvesse perguntas, também não haveria respostas, nem informações.
Luciana tinha um sobrinho, filho de sua irmã, que era meu xará, mas todos o chamavam apenas de Cau. Desde cedo, os dois, tia e sobrinho, se afeiçoaram, e Luciana terminou sendo mais confidente e presente na vida dele do que a própria mãe, enciumada mãe. O pai, então, nem se fala, botava comida na mesa – para ele era o suficiente; esse negócio de conversar com filho era coisa de mulher. Nesse nível.
Luciana me contava que Cau era muito especial, tinha um comportamento que fugia ao convencional. Desde sempre, ele não se sentia homem – toda aquela história de uma mulher presa no corpo de um homem, e tal, que não vou contar aqui, porque todos estão cansados de saber; Cau era bi: mesmo sentindo-se mulher, curtia homens e mulheres. Ao chegar à puberdade, começou a transição, e foi à tia que ele segredou tudo. Ela deu o maior apoio, e o primeiro vestido. Saía com ela (agora a Cau – o apelido servia também para a mulher que nascia para o mundo), iam para as baladas, divertiam-se, enfim. Resolveram contar à mãe, que, muito séria, ficou entre a preocupação de como a filha seria tratada, e o despeito por não ter sido a primeira a saber.
Mas o problema (e a angústia de Cau) é que tudo ainda era escondido do pai. Então, quando fez dezoito anos, incentivada por Lu, ela resolveu contar ao velho – a tia e a mãe presentes, “dando uma força”, mas a postos para qualquer reação mais violenta do pai. Este quase teve um piripaque, mas fez das tripas coração, engoliu a raiva, e, depois de olhar para a esposa, e mais ainda para a cunhada (confirmando que ele era o último a saber), apenas falou: “Só peço que se mantenha discreto (traduzindo: no armário), em nome da dignidade da família (traduzindo: da minha cara perante os amigos)”. E saiu da sala, batendo secamente a porta. Cau saiu por outra, trancou-se no quarto, e dessa vez tomou uma decisão sem a ajuda da tia. No final de semana, na pequena comemoração familiar do seu aniversário, Cau apareceu como mulher, espantando a alguns, a outros nem tanto. O velho entendeu que mais gente sabia daquela situação, e se trancou num mutismo obssessivo. Pelo menos não fez escândalo. Mas, à saída do último familiar (Luciana, naturalmente), ele, um bloco de gelo, pediu a Cau que deixasse a sua casa. E desta vez foi ele que se trancou no quarto.
Cau, obviamente, valeu-se da tia, e Luciana acolheu em seu apartamento a deprimida e triste sobrinha (finalmente borboleta liberta para voar).
Este, o minucioso relato que minha namorada me fez, após transarmos loucamente, atualizando nossos corpos com o tesão que nos devorava. Havíamos decidido, quando nos víramos pela última vez, cerca de um mês antes, passar o próximo fim de semana (que seria prolongado) numa agradável cidade litorânea. “Precisamos apoiar a Cau. Ela está muito tristinha!” Esse apoio significaria ela ir com a gente para o final de semana, uma empata foda oficial. Mas Luciana foi tão persuasiva, que nada mais me restou a não ser concordar, e transamos outra vez, com mais ímpeto do que a primeira vez.
Eu nem tinha essa intimidade toda com Cau. Vira-o apenas umas duas ou três vezes, antes da transição. Nada de especial me chamara a atenção nele. Mas eu estava na fase de fazer tudo que Luciana me pedisse, então aceitei sacrificar nossa privacidade, em nome de uma causa maior. Quem sabe, não contaria alguns créditos no céu, para minha alma tão desgastada – ela sorriu, divertida com meu herético aforismo.
Na sexta-feira seguinte, fui pegá-las cedinho, para sairmos ainda com o frescor do final da madrugada. Não pude deixar de me espantar com o visual de Cau. Longos cabelos loiros enfeitavam um rosto angelical, carnudos lábios vermelhos contrastavam com o branco suave da pele e dos dentes perfeitos; o corpo, definido pelo vestido, deveria ser muito bonito também. Além do mais, era simpática, sempre sorridente e prestativa, não obstante o trauma familiar que estava vivenciando.
Ainda assim, não consegui vê-la como mais que um atrapalho na minha intimidade com Luciana. No entanto, a viagem de pouco mais de duas horas, o café da manhã de meia hora, foram preenchidos com a agradável conversa de Cau, tão loquaz, empolgante e divertida quanto a da tia – claro, a convivência das duas construíra na agora garota uma perfeita discípula da tia e mentora. Ao desembarcarmos nossas malas no apartamento da pousada, minha indisposição inicial já se dissipara, e estávamos os três na mesma vibe de feliz entrosamento.
Como havíamos reservado apenas um apartamento de casal, e a pousada estava lotada, a compreensível proprietária providenciou mais uma cama. Eu já trabalhara na minha cabeça a abstinência sexual que seria aquele final de semana. Fiquei super de boa: não faltariam oportunidades para novas e homéricas fodas, principalmente que eu sentia nosso relacionamento encaminhando-se gradativamente para algo mais sério.
Tão logo descansamos um pouco da viagem, começamos a nos preparar para a praia. Somente então pude perceber o quanto a minha sobrinha postiça era gostosa, quanto seu corpo parecia ter sido talhado minuciosamente pela natureza, num momento de felicidade dos deuses e deusas. A ausência de seios era compensada pela barriguinha branca e chapada, pelas alvas coxas e as nádegas perfeitas, a disfarçar o volume discretamente acomodado no comportado shorte, sob a esvoaçante canga de um tecido fino e transparente.
Sua desenvoltura no andar, sua simpatia de mil sorrisos, seus toques em momentos de uma mais intensa risada, tudo isso foi aos poucos mexendo com meus hormônios, e entre surpreso e confuso, senti discretos movimentos do meu pau, leves socos no estômago e sangue acelerado pelo aumento de velocidade das batidas cardíacas. Eu olhava para Luciana, como a lhe pedir auxílio (já que não me sentia à vontade para conversar com minha namorada sobre aquele fenômeno), mas ela parecia estar mais à vontade que a própria Cau, rindo e feliz. Terminei embarcando na onda.
Na praia, na volta para a pousada, na saída para o almoço, no passeio da tarde, no jantar e na conclusão noturna do primeiro dia, vivemos momentos de feliz cumplicidade. Cau me tocava com mais insistência do que eu queria ver, e eu gostava desses toques, e os devolvia. Os abraços eram cálidos, e eu não procurava mais nem disfarçar o tesão expresso na rigidez de meu falo. Penso mesmo que certa vez ela apoiou-se num banco, o braço entre minhas pernas, e ao retirar, roçou discretamente minha rola. Como para compensar, e acalmar minha culpa, eu procurava acariciar Luciana, disfarçadamente (porque em público), nos seus recantos mais erógenos, e até já dedilhara mais de uma vez sua buceta, que se encharcava ao meu toque.
Pelo andar da carruagem, eu não tinha a menor ideia de onde aquilo ia dar... Meu corpo dava claros sinais de que estava muito a fim de cálidos momentos com Cau, embora não soubesse bem como, nem tivesse certeza de nada, nem principalmente se ela também estava interessada ou se era tudo minha imaginação. Mas eu estava muito inquieto principalmente por não ter oportunidade de conversar com a minha namorada. Sentia-me meio canalha. Parece que Cau adivinhou minha angústia (ou sacou mesmo – ela é foda!), e arranjou um jogo eletrônico instalado no barzinho onde paramos para provar alguns drinques, dizia ela, para se divertir um pouco. Enquanto isso, eu e Lu iríamos dar uma volta: “Vocês precisam atualizar seus corpos, que eu não dei folga o dia todo”, completou rindo, enquanto se dirigia, saltitante para a máquina.
Dirigimo-nos, então a um recanto da varanda do barzinho, que se debruçava sobre a praia, e, diante do negro mar que barulhava lá embaixo, nos atracamos em toda nossa saudade, quase transando ali mesmo, só não consumando o ato pela constatação (dela) do inadequado do ambiente – mas não teve buraco em nossos corpos que não fosse generosamente acariciado. Meu pau só não estava mais duro do que sua xoxota estava encharcada.
Mas nos contivemos, e nos propomos a conversar. Sabíamos que ambos tínhamos algo a dizer ao outro. Já falei que perspicácia é a principal matéria de que é feita minha namorada, e foi ela que começou a falar: “Meu lindo, claro que você já percebeu que a Cau está super a fim de você, não é? E você não consegue mais disfarçar o quanto isso o satisfaz e o excita também...” Quis protestar, mas meu débil gesto foi logo sufocado pelo sorriso de Luciana. “Relaxe, meu bem! Sabemos o quanto é importante para ela, para sua autoestima, sentir-se desejada e correspondida por alguém a quem ela também deseja! E que eu sei, por experiência própria, que a satisfará também sexualmente. Então livre-se de suas possíveis culpas e viva com intensidade esse momento!”
Então como um raio iluminou em flash meu cérebro: “Lu, você já comeu a Cau?” A tranquilidade de sua resposta foi estarrecedora, envolvida num sorriso de luz e paz: “Desde que era meu sobrinho!” Senti um ímpeto tão grande de foder Luciana, que o teria feito ali mesmo, indiferente ao inapropriado do lugar, se, depois de um extenso e roçante abraço, não a tivesse puxado pela mão, de volta à mesa – meu coração parecia querer sair pela boca.
Encontramos Cau feliz da vida, batendo palminhas e rindo feliz: havia ganhado todas as partidas do jogo. À guiza de cumprimentá-la, baixei a cabeça por entre seus cachos amarelos e perfumados, murmurei um parabéns no seu ouvido, enquanto deixava um beijo em seu pescoço, arrepiando os pelinhos do seu braço e lhe dando a certeza de que sua tia abrira os caminhos do inusitado encontro.
A conversa seguiu-se por mais uma meia hora e algumas doses, todos agora bem mais relaxados e à vontade. Quando começamos a perceber que estávamos chamando a atenção das outras mesas, em nossas efusivas demonstrações de carinho a três, mas também porque estávamos ávidos para ficarmos sozinhos, fechamos a conta e saímos rindo do mundo e da noite.
No fundo eu ainda estava com algumas dúvidas, que não ousava expor. Como aconteceria? Estava evidente que nos desejávamos intensamente, eu e Cau, e que nos pegaríamos tão logo a porta do apartamento se fechasse. Mas e Luciana? Participaria da orgia familiar? Sabia-lhe intensamente excitada... Eu deveria deixar que as duas transassem primeiro? Eu deveria primeiro transar com minha namorada? Bobagens e leviandades, evidentemente, que essas coisas não têm regras nem dogmas – o que tivesse que ser seria. Mas o inusitado de tudo aquilo, as doses etílicas a turvar-me o raciocínio mais lógico, e o alto grau de tesão – não poderiam produzir em mim algo diferente desses autoquestionamentos idiotas, que pelo menos tive a sensatez de não verbalizar.
Chegando ao apartamento, fui para a varanda, debruçando-me sobre a amurada para melhor apreciar o mar e ver se acalmava minimamente o corpo, enquanto minhas parceiras dirigiram-se ao banheiro. Em instantes, senti um suave toque nas minhas costas, e logo as mãos rodearam meu peito e um corpo amoldou-se a minhas costas. Senti o volume proeminente sobre minhas nádegas e fui me virando, bem devagar, até ficar de frente àquele rosto angelical, que sorria mais com os olhos que com a boca. E ela encostou seus lábios nos meus, senti fagulhas percorrendo todo o meu corpo, enquanto nossas línguas se encontravam, ansiosas.
Cau estava apenas de camiseta e shorte de malha, este estufado pelo rígido pau em seu interior. Desci minha mão e catei o teso membro, que já babava de excitação. Ela gemeu, enquanto me livrava das minhas roupas, e em segundos estávamos despidos, nossas espadas brigando por espaço em nosso abraço. Caímos por sobre a cama e liberamos então toda a ânsia contida. Recolhi seu pau com a boca e senti o gostinho salgado de sua cabeça molhada; suguei-o delicadamente, percorrendo cada detalhe, cada reentrância. Depois desci para seu cu, depilado e pulsante, enveredei com minha língua, abrindo caminho, ao som de gemidos cada vez mais fortes.
Foi quando surgiu, divinal, minha Luciana, linda e nua, o corpo contra a baça luz da luminária, assemelhando-se a uma fada, uma das musas do Olimpo, ou algo assim. Recolheu carinhosamente o rosto de Cau e depositou seus lábios sobre os dela, num beijo como poucos que já presenciara em vida. Suas bocas pareciam se devorar como dois seres independentes e famintos. Então Cau avançou sobre o corpo da tia e presenciei, a milímetros, sua rola lubrificada pela minha boca introduzir-se na buceta que eu já comera tantas vezes. Os cadenciados movimentos provocavam ondas de pele úmida, que brilhavam enquanto sua pica entrava e saía.
Lu uivava de satisfação. Então a vi retirar-se da rola da sobrinha e chamar-me, num gesto entre carinhoso e incisivo. Obedientemente, como apraz a um fiel servo que às vezes pensa que é senhor, cobri seu corpo com meu corpo, e enquanto Cau lhe acariciava os seios e descia seus dedos ágeis à xoxota da tia, bebi o gosto de nossa sobrinha em sua boca, no beijo que trocamos, enquanto minha rola deslizava para dentro de sua caverna, caminho e movimentos já tantas vezes realizados, que se faziam como independentes de nossos pensamentos. Encontrei seu botãozinho da bomba atômica (como carinhosamente chamávamos o clitóris), e passei a roçar meu pênis nele, a cada entrada e saída. Em segundos, Luciana rugiu de prazer, jogando a cabeça, esvoaçando os cabelos, num frenesi extraordinário, prostrando-se, em seguida, ofegante e coração aos pulos.
Mantive meu pau rígido dentro de sua buceta, que o mastigava nas contrações involuntárias do pós-orgasmo, quando senti o molhado de uma língua no meu cu, logo substituída por uma cabeça e um cilindro musculoso, agora ainda mais lubrificado pela lubricidade de Luciana. Cau foi entrando em mim como um cuidadoso animal adentrando em sua toca, acomodando-se aos poucos, parando e logo retomando a descida, até encontrar o fundo energizado e acolhedor, começando os movimentos de entra e sai, de sobe e desce, esgarçando prazerosamente minhas pregas, que lhe prendiam o membro e o liberavam, em rítmicos encaixe e desencaixe.
Então, com a mesma suavidade com que me comia, Cau retirou-se de mim, aproximou-se do meu falo em rocha e o tomou na boca. Indescritível a sensação de prazer proporcionada por aqueles lábios carnudos e aquela boca quente, a envolver minha rola, que rescendia ao líquido do gozo de Luciana. Eu não conseguiria durar muito, sob aquele intenso carinho, e Cau, mais uma vez, sacou isso, e liberou minha pica, colocando-se estrategicamente sob mim, praticamente encaixando o cu na cabeça do meu pau. Este, completamente lubrificado, não encontrou dificuldade em descer, escorregando-se para dentro da jovem deusa loira. E fui desbravando o rabo de minha sobrinha postiça, até finalmente sentir-me encostado em suas perfeitas nádegas – estava todo dentro dela, que se requebrava e gemia alto, antecedendo minha explosão também atômica, que inundou fartamente a caverna invadida.
Ao retirar-me do campo de batalha, cansado e feliz, desabei sobre a cama, de bruços, pernas entreabertas, sentindo o pênis úmido me molhar a barriga, quando Cau, pela primeira vez traída pela ansiedade, montou-se nervosa sobre minha bunda, e novamente recebi seu falo, agora com mais vigor. Lu sentara-se na parte anterior da cama, pernas abertas, a admirar aquela bela foda; sua buceta a minha frente, novamente dava sinais de inundação, e consegui catar com os lábios seus lábios, passando a beijá-la e enfiar-lhe a língua, como se uma boca fosse. Minha namorada passou a se remexer e novamente gemer, fazendo coro com Cau, enquanto sua caverna enxurrava-se, quase me afogando. Prossegui, procurando manter o ritmo de suavidade e energia, que fazia Lu ir num crescendo de prazer, até quando o botãozinho da bomba atômica foi novamente acionado, e ela não mais se conter e explodir, aos gritos, num gozo espetacular, ao mesmo tempo que eu sentia os líquidos jatos de Cau dentro de mim, ela também aos bramidos do orgasmo que a sacudia.
Finalmente os três corpos estavam saciados (embora não satisfeitos), para se abraçarem carinhosamente, misturarem seus cheiros, seus suores perfumados, partilharem as batidas cardíacas e a respiração forte, aos poucos voltando ao normal. Cau, com os belos olhos nadando em emoção, beijou cada um de nós, demoradamente (senti o salgado de sua lágrima misturado ao doce de seu beijo), e disse, em seguida: “Eu amo demais vocês!” E nos apertou contra seu corpo, como a querer fazer-se tudo um só corpo.
A brisa fresca que vinha do mar acariciava e refrescava as carnes que se sentiam, naquele momento, como apenas um único e sacrossanto altar de prazer e sedução.