Quando eu estava indo embora ele me puxou pelo braço e disse no meu ouvido: “de hoje em diante, você é meu” - e me beijou ali mesmo.
Nos dias que se seguiram, o Carlos provou mais de uma vez que podia ser o mais perfeito dos namorados e o mais safado dos amantes... E os dois juntos ao mesmo tempo...
Ele andava comigo o tempo todo.
Na escola as pessoas desconfiavam e comentavam, mas ninguém podia provar nada. E se provasse, nós não estávamos nem aí.
”Que se dane o mundo, e o quê as pessoas pensam! Você é meu namorado e isso é tudo o que importa para mim”
Ele me disse quando eu comentei que estava preocupado com os boatos.
De qualquer forma, com a banda e a festa, eu e os meninos havíamos nos tornado populares demais e ninguém queria desagradar a gente fazendo piadinhas.
Mesmo na banda esse assunto era meio tabu. Todo mundo sabia, mas ninguém comentava.
É incrível como a sociedade é hipócrita...
Se nós fôssemos qualquer outro casal de gays, provavelmente seríamos humilhados por todo mundo, mas como eu era muito popular, ninguém se atrevia a falar nada e ficar mal comigo.
Era estranho ter esse poder da popularidade; principalmente quando meses antes eu era um completo estranho a esse mundo de aparências, um completo invisível que ninguém se dava nem ao trabalho de humilhar, tamanha a indiferença pela minha pessoa.
A Celyne sentia a mesma coisa que eu. Ela era considerada estranha e isolada até semanas atrás quando entrou na banda e ficou conhecida por todos.
Agora havia até um grupo de meninas que se vestiam iguais a ela, tentando fazer amizade com a mais nova guitarrista da Tsubasa.
Depois do show no meu aniversário, a banda começou a tocar quase toda semana em lugares diferentes.
Tocamos em umas boates para jovens (aquelas que abrem às 18:00 h e fecham às 22:00 h - na minha cidade tem aos montes). No shopping, na inauguração de uma galeria de lojas no bairro vizinho ao nosso.
De forma bem rápida estávamos tomando visibilidade nas redondezas do nosso bairro.
O Carlos ia assistir a todos os shows. O “cachorrinho” da Marília também (ela já estava enjoando dele; o cara era muito grudento).
Pouco a pouco o tempo foi passando e bem diferente do meu namoro com o Alex, onde se estabeleceu um rotina de aula pela manhã, casa dele à tarde, música, desenho, mangá e masturbação, sexo oral...
Com o Carlos tudo era imprevisível.
Um dia ele me arrastou para o banheiro do colégio e transou comigo ali mesmo em uma das cabines de sanitário. Foi uma loucura!
Eu percebi que ele gostava de fazer coisas inusitadas.
Uma vez eu acordei com ele me ligando às 4:45 h da madrugada, para o meu celular. Ele estava parado em frente à minha casa e quando eu abri a porta eu vi que ele estava de bicicleta.
O louco queria que eu fosse andar de bicicleta com ele até a praça dos ipês pra ver o nascer do sol.
Eu achei uma grande loucura, mas embarquei na dele e não me arrependi. O nascer do sol visto dalí era lindo!
Um dia estava desabando a maior chuva e ele bateu na porta de casa de bermuda e camiseta todo molhado, com uma bola na mão. Ele queria jogar futebol na chuva.
Na minha cidade não tem enchente quando chove e em alguns bairros é comum o pessoal tomar banho de chuva.
Foi muito divertido. Ele chamou o resto do time também e a gente jogou na chuva.
Diferente do Alex, ele não me queria só pra ele o tempo todo.
Ele gostava de sair com os amigos, fazer piadas, rir junto com todos.
Para o Carlos a felicidade não era algo que devesse ser guardada só pra gente. Era um sentimento que devia ser compartilhado com os outros.
A cada dia eu me via mais apaixonado por ele...
Era incrível como ele tornou minha vida mais feliz, mais completa.
Acho que eu finalmente estava entendo o verdadeiro sentido do amor.
Eu amava o Carlos e ele era essencial para mim, mas eu não fiz dele meu mundo, nem ele me fez o mundo dele.
Nós dois juntos fazíamos o mundo do outro um lugar melhor!
Nós fizemos uma conexão muito especial.
Quando estávamos juntos, deitados um ao lado do outro, eu podia sentir o que ele sentia e, às vezes, podia jurar que lia os pensamentos dele. Ele era um livro aberto pra mim, sem segredos, sem mistérios. Parecia que eu o conhecia por toda a minha vida.
O tempo foi passando; meu namoro com o Carlos foi ficando mais sério. Nós estávamos juntos há quatro meses quando ele me apresentou como namorado para toda a família dele.
O pai dele ficou chocado... Mas com o tempo compreendeu que havia muito mais em mim e no Carlos do que simplesmente dois Gays.
Eu jantava várias vezes na casa dele e ele ia à minha casa com muita frequência também.
Mamãe até o deixava dormir lá de vez em quando.
A gente também abriu para o pessoal da banda que estávamos namorando e a reação dos meninos foi “dããã... como se ninguém soubesse!”.
Nós pedimos discrição, por motivos óbvios.
Eu fui ficando amigo do irmão mais velho dele e o pai dele admitiu que gostava muito de mim, e se era para o filho dele namorar um menino, que pelo menos fosse um menino legal como eu.
Essa declaração foi muito importante pra gente.
Agora nós já estávamos no segundo ano do ensino médio e o meu namoro com o Alex já era apenas uma lembrança agradável que eu guardava no meu peito com muito carinho.
Agora eu percebia o quão imaturo eu tinha sido e até ria das minhas próprias bobagens.
Quando eu participei do meu primeiro concerto pelo conservatório de música, o Carlos estava lá bem na primeira fila.
Mamãe gostava muito dele e tio João também.
No colégio minhas notas estavam cada vez melhores. A convivência com ele me inspirava a estudar. Eu queria ser tão bom quanto ele em tudo e nós dois decidimos que íamos tentar fazer vestibular pra medicina juntos, quando estivéssemos no terceiro ano.
A Marília terminou o namoro com o grudentinho em junho do nosso segundo ano, logo depois de completar um ano de namoro.
Já eu e o Carlos comemoramos nosso um ano de namoro em casa com as nossas famílias.
Foi um momento muito incomum... E vai ser um dos momentos que eu vou lembrar por toda a minha vida...
O Sorriso do Carlos, as palhaçadas do irmão dele. A bênção do pai dele...
- Dificilmente dois jovens conseguem ter uma relação tão construtiva nessa idade, independente da opção sexual. Vocês dois, pra mim, são um exemplo!
Mamãe estava muito feliz, por me ver feliz! E claro que por respeito à família dele, nós dois nunca nos beijávamos ou trocávamos carinhos mais ostensivos na frente deles. E nesse dia nada disso fez falta.
Nossa relação havia chegado a um ponto onde simplesmente sabíamos que amávamos um ao outro, e todo gesto, olhar e carinho dizia isso sem palavras. Esse para mim tornou-se o verdadeiro sentido do “More Than Words”..