Encontro de Vidas - Capítulo I

Um conto erótico de Lissan
Categoria: Homossexual
Contém 2379 palavras
Data: 08/09/2018 18:38:50

#LEIAM ISSO ANTES DO CONTO

Boa noite, faz já alguns meses que não posto histórias aqui. Gostaria primeiramente de cumprimentar a todos, costumava postar histórias aqui pelo usuário (LipM). Por motivos desimportantes decidir excluir aquela conta e continuar com essa aqui.

Sobre a história a seguir, não é uma história erótica convencional. Se você meu amigo, está atrás do erotismo mesmo, não o encontrara logo nessas primeiras partes. É uma história de relacionamentos gays, em épocas pouco humanistas em localidade também muito rígida, preso antes das relações de fato, nesse tipo de história pelo enredo. Provavelmente terei pouquíssimas leituras (kkkkkkkk) mas aqui no meu perfil existem outros contos com teor bem erótico, voltado exclusivamente para isso. Não é o caso aqui.

BOA LEITURA!

*******

I

A terra em Sertão fumega, e no meio do dia mais quente fica. Os cavalos relincham, de sede, fome, a temperatura amolece os homens mais moles e reafirma os mais fortes. O rio mais próximo de Sertão, só em Laranjais do Norte, região mais abastada com algum crescimento devido à exportação de Laranjas. Sertão dependia da agua de lá para o manejo do barro grosso, principal motor da economia local. A maior parte dos homens ia para as fabricas, os mais troncudos, de braços fortes e peitos largos, seguiam para as escavações, entrando no trabalho às cinco da manhã e deixando apenas às seis da noite. Vida sofrida, dos homens das escavações.

Ali mesmo no local de trabalho, viviam, em armações de estacas de madeira com muitos metros de altura e alguns de cumprimento. As pesadas estacas por sua vez haviam sido trazidas ainda anos antes, pelos escravos. Muitas daquelas madeiras estavam podres, e rangiam costumeiramente. Uma tarde, já no fim do dia, o estalido de uma estava fez todos pararem o que fazia, a tora partiu ao meio, e lá em cima ainda havia gente, apenas um dos homens correu para ajudar, e incrivelmente conseguiu suste-la com as forças dos braços e ombros, por alguns minutos, os outros logo vieram no socorro.

Situações assim ocorriam, com frequência, aquele lugar um dia fora fazenda, onde escravos arduamente trabalhavam e ali mesmo morriam, muitos foram os corpos e restos mortais achados pelos trabalhadores atuais:

- Retirem esse lixo, deem aos cachorros! – mandava Korsakov dono das escavações.

Os homens tinham respeito pelos seus ancestrais – apesar de não terem essa consciência a- de alguma forma lá no fundo sentiam como se fossem eles mesmo ali. Por isso, levaram os restos mortais dos escravos para uma parte distante muito distante, e lá os enterraram com alguma dignidade. Os dias de trabalho eram extenuantes, e permitiam raras folgas. Quando ocorriam tiravam as camisas podres de velhas, e se lavavam nas poças de agua encontrada no fundo da terra, muitas vezes era mais terra que agua.

Os músculos do corpo cobriam-se de barro recobrindo a pele completamente. Eram homens fortes, lembravam as esculturas gregas, mas bem mais largos e com rostos mais rústicos, homens feitos, chafurdando na lama como meninos. Guerreiros trabalhadores, cheios de sentimento nos corações, com suas esposas distantes, davam seu jeito. Por ali, havia algumas fazendas alguns bordeis e era neles que esses homens se libertavam de si mesmo.

- As muié cobra mai por nois se assim sujo de lama, as muié cherosa, cobra mais.

- Minha preta me espera em Sertão, mando todo o ordenado prela. Essas ai... é esgoto, nois só alivia nelas.

Conversavam alguns mais jovens, sobre isso quando tinham descanso. Os anciões da terra mantinham outros diálogos. Por serem mais velhos, já não pensavam tanto nisto, já não se importavam se comiam as ovelhas assadas, cozidas ou se com elas copulavam.

No retinir das enxadas, os galopes acoitavam a terra “Raaapá! Raaapá! Raaapá!”, as testas soadas as costas molhadas, os músculos das costas dos braços, das pernas todos em convulso movimento, a terra vermelha era lavada pelo suor dos trabalhadores, e dos mais velhos aos mais jovens uma seca canção trovejava de vozes empoeiradas:

Peão! Peão! Peão!

Trabalhas pelo pão!

Peão! Peão! Peão!

Tua vida vem do chão!

Peão! Peão! Peão!

Apaixona não! Peão!

Armadilha do coração!

Peão! Peão!

Só leva nois pro chão! Peão!

Korsakov Bronsky, de longe assistia o lamento dos trabalhadores, enquanto calculava com o lápis alguns os lucros e dividendos da empresa. Rendia bem o negocio, o envio do produto para outras cidades e de lá para outros estados era um sucesso, dificultava só a falta de um trem, que pudesse levar direto dali. Recostou na cadeira, com o papel na mão. O choque na porta, desviou sua atenção, era um toque firme continuo, só podia vir de Peão:

- Quem vem lá?

- Sinhô mandô chamá? – a voz rude do trabalhador, dizia da pessoa dele. Coberto de terra mal se via o rosto da criatura, era Tenencio. Os ombros assustavam de grandes, o rosto parecia revestido de uma mascara desumana.

- Se aprochegue... Não sente não, vai sujar a cadeira. Queria falar com você já tem um tempo mas tava no aguardo.

O homem olhava para Korsakov com sérios olhos sombreados pelo pó. Aquele olhar despertava angustia no outro. Uma angustia desconcertante, tanto que por duas vezes Korsakov concertou-se na cadeira:

- Sinhô diz, tem trabaio ainda.

- Trabalho espera, ser o dono disso tudo me dá algum direito – sorriu Korsakov - Tenencio, serei rápido, meu amigo delegado Clovis, pediu-me para lhe mandar a cidade por esses dias, ele quer saber de seu irmão pistoleiro.

O rosto severo de Tenencio, crispou-se deixando dele cair alguma quantidade de terra, ele se aproximou mais da mesa do chefe, apertando as pontas dos dedos a palma da mão, encarava o homem a sua frente, sem poder dizer, sem palavra suficiente que pudesse usar, enfim saiu um rugido:

- Eu tem nada quiso não! Sertão, num tem trabaio seu chefe...

- Bem, eu não posso fazer nada meu filho, Clovis precisa de sua presença na cidade. Seu irmão só tem você de parente vivo, então é com você mesmo. Se prepare, logo pela primeira hora do dia, você sobe com os carregadores.

Tenencio tentou falar, as palavras não vinham. Queria poder dizer ao homem a sua frente, queria mas não podia. Queria falar da sua falta de ligação com o irmão, não o via fazia muito, queria ser mais objetivo... Não ia voltar pra Sertão, lá nada tinha a sua espera, talvez a morte. Uma ideia surgia em sua cabeça, enquanto ainda estava na sala do chefe, esse incomodado ordenou:

- Já pode ir rapaz, esteja de pé cedo.

Tenencio baixou a cabeça, desceu a escadaria voltando para a fila de trabalhadores, a voz dos homens haviam sessado. As montanhas de terra, espessa, seca, iam crescendo continuamente, os trabalhadores continuavam com suas pás e enxadas. Escavando a terra, sangrando-o, apenas os clarões do sol rompiam as barreiras de terra. No meio de toda aquela nevoa, Tenencio andava como se nada houvesse a sua frente. Seus passos eram firmes, contínuos, aproximou-se de um homem curvado apertou o ombro deste.

- Arã! – gritou o homem de rosto entulhado.

Tenencio apontou para mais adiante o homem mascarado pelo trabalho, pela terra, pareceu ronronar uma confirmação. Tenencio seguiu para lá logo, enquanto o outro balançou a cabeça, continuando em seu serviço. Só deixou o que fazia para ir até onde seu companheiro estava, quando viu o monte de terra ao seu lado, era o bastante para esconder sua posição por algum tempo, meteu a enxada na terra e rastejou para trás de um monte de terra ainda maior, lá estava seu companheiro:

- Quê há? Não trabalha?

- Vo fugir...

O outro se aproximou mais, tentando expressar um sorriso preso pela quantidade de terra na face.

- Que foi? Malsinação foi?

- O rancho seu? Pode ajudar?

Uma rajada de vento, ergueu do chão grande nuvem de terra, recobrindo os dois com mais uma camada de terra. Quem eram aqueles homens? Não havia como saber, despidos da humanidade. Lembravam mais estatuas de barro com vida, bonecos, destoantes dos demais, Tenencio e o outro curvado, não poderiam jamais serem reconhecidos pelos seus familiares.

- Sim, mas como tu vai saber chegar? Tem carroceiro indo praquelas bandas semana pra vim...

- Não, vo de noite. Essa...

- Homi é perigoso... os cabras tão tudo doido por ai, cangaceiro não perdoa ninguém, faz miséria no Sertão, os macaco ainda mais.

- Temo não, so forte...

- É isso é... quem viu ocê aguentando o peso daquele troço... Eles é muito tu um só...

- Vo hoje de noite, tem jeito não.

- Ocê que sabe, vo falar o caminho...

Se demoraram ainda por um longo tempo, foi um dos peões, colega quem veio avisar da demora, logo era a hora da ração – comida – depois eles ainda tinham muita coisa para fazer até o fim do dia. Tenencio trabalhou com afinco, mas os pensamentos antes voltados para a cachacinha no escurecer do dia, e nas mulatas do bordel voltavam-se para sua partida. Era rumo ao desconhecido, nunca tiver medo, sempre fora bicho solto no mundo, sem dever nada a ninguém. Se fugia era por não querer ser preso sem culpa, como antes tinha acontecido.

Seu amigo, o curvado, parceiro de enxada o ajudaria dando guarita, o caminho para a casa dele não era fácil, podia bem perder-se no breu seco de Sertão. Morrer de sede e fome no meio do nada, mas se chegasse a casa do amigo, estaria livre de incômodos por um tempo. Descansou um pouco no momento de comer a ração guardou, encheu moringas com agua dos tanques. Trabalhou até o surgir da lua, e no inicio da noite fria seguiu em direção ao bordel.

- Um sujo, hoje né dia não – avisou-lhe uma das moças.

- Sei, Fatima...

A menina magricela, olhou-o de cima a baixo como quem investiga algo, um sorriso tomou-lhe os lábios quando percebeu reconhece-lo:

- Oh Fatima teu chamego sujo tá aqui... Vai pra fora, se chefe te vê aqui pode achar ruim.

Antes de sair, a miúda voz de Fátima o alcançou:

- Ei, pode entrar sim, é cliente...

Ele baixou a cabeça, dela caiu terra, entrou pra um quartinho bem ao fundo, tão sujo quanto ele. A morena se esfregou em seu corpo, não parecendo ligar para toda aquela terra que lhe impregnara. Ela avançou faminta, Tenencio a impediu:

- Vo embora... Onde tão as coisa?

- Embora? Pra onde? Com quem?

- Só... Chefe encrencou, tem de fugir... hoje.

Fatima abraçou-o, demorou-se com a cabeça em seu ombro sujo. Ele permitiu, sabia da solidão dela, era a mesma sua. Quando deitavam, dividiam a mesma emoção, demorou ainda alguns minutos, para ela se desvencilhar, olhou para ele e seu rosto estava como se estivesse com lama, eram as lagrimas dos olhos dela, com a poeira da camisa carregada de terra dele:

- Vai não Tenencio. Aqui bem o mal tem comida, nois recebe alguma coisa...

- Ah! As coisa, onde? Não, chora não morena, vo né por isso não... o chefe encrencou com eu... – as palavras não lhe vinham com facilidade, por mais que tentasse elas não saiam.

Sem conseguir expressar sentimento através de palavras, Tenencio abraçou a cintura fina de Fatima, mordeu a orelha dela, caiu por cima dela, imitando um equino macho no cio, devorou-a como bebia agua nos dias mais quentes. De fora quem pela porta passava, ouvia um estranho barulho para a casa... Era o prazer... As outras “damas” da noite não sentiam isso, ou pouco expressavam, aquela não era uma casa de prazer das mulheres, e sim dos trabalhadores fatigados. Fatima provava de algo especial, e ela sabia, tanto assim que mesmo depois do coito chorou:

- Eu vou contigo, me leva junto, eu vou, tenho mais dinheiro.

- Não, perigoso... Vo só, as coisa morena... Onde?

Ela emburrou-se virando para o lado, Tenencio se levantou, respirando pesado coçou a barba podre de terra, e a olhou do alto. Mostrava a impaciência, segurou ela pelo cotovelo, essa o encarou firme, era mulher da noite tanto quanto ele era homem da terra, duas criaturas brutas, primitivas:

- Larga... Espera lá na placa, naquela lá onde acaba a cidade, lá eu levo.

Tenencio, a olhou mais detidamente, uniu as sobrancelhas, coçando a barba:

- Só não, eu vo junto.

- Não, não – ela se ergueu – confie em mim, eu levo... Você vai, e eu levo agora... tenho de pegar no lugar onde escondi.

Tenencio assentiu, contrariado. Saiu do bordel, e quando já estava a alguns passos da casa de mulheres da noite, tomou de uma tora grande de madeira, e levou consigo para o local combinado.

Lá chegando, se afastou, permanecendo a uma distancia da placa, o céu brilhava uma branca e prateada luz. Clareando a estrada, tudo dando certo logo ele enfrentaria aquele mundo de estrada no caminho para o esconderijo. Do lado onde tinha vindo minutos antes, vinha Fátima, com uma roupa grande cobrindo o corpo todo. Na barriga tinha um volume, que antes não tinha. Tenencio a observou, ela girou em volta da placa procurando por ele, Tenencio então foi se erguendo quando percebeu um vulto próximo, estranhou, Fátima chamou por seu nome e ele a fitou bem, de onde estava só podia ver o vulto se se erguesse, mas não precisou, o vulto foi saindo da sombra, com uma arma em punho. Era o dono da casa... Tenencio, se esgueirou pelo chão, foi chegando perto como fosse um lagarto o homem apontou a arma para Fátima, disparou três vezes! Tenencio, se ergueu imediatamente e com uma braçada apenas derrubou o sujeito:

- Ah!... – arfou o homem.

E um instinto animal se apossou de Tenencio, esse ergueu mais uma vez o braço e acertou-lhe a cabeça uma segunda vez. Tenencio, arfou, soltando a estaca que estava em sua mão. Ele olhou para o corpo de Fátima ao lado, corpo tão quente em alguns minutos, agora totalmente inerte. Ele procurou no corpo dela, e achou um saco com seu dinheiro. Tenencio olhou para o céu, e sem saber a palavra sorriu! Não era riso de plena felicidade, mas agradecimento.

Agachou para junto de Fátima, mas essa não se mexia mais, ergueu-se com suas coisas num lado do ombro. Já ia alguns passos, quando teve uma ideia, aquelas roupas que estava vestido eram velhas e já apodreciam no corpo. Resolveu voltar, tirou a roupa do morto, e as vestiu, apertaram-no em todas as partes do corpo, mesmo assim sabia da necessidade o sol em Sertão não brincava:

- Diabo! – reclamou puxando a calça incomoda para baixo.


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Comentários

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Interessante tua narrativa. Avancemos.

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interessante. continua gostei bastante dessa abordagem. continua por favor.

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