Marcus - A aula

Um conto erótico de A Escritora
Categoria: Heterossexual
Contém 1390 palavras
Data: 14/07/2015 00:25:38

Acordei as 7h, me arrumei depressa e voei para o trabalho. Fazia estágio em um hospital local, depois de muito esforço, é claro. A rotina de um estagiário é desgastante, mas tudo aquilo seria recompensado assim que eu concluísse o curso.

Naquele dia presenciei uma das situações mais difíceis da minha vida, uma mãe dava a luz no meio do corredor da ala da maternidade, me choquei ao ver o corpo tentar expulsar o feto, médicos e enfermeiros se uniram numa cena emocionante, o único trabalho que a equipe teve foi segurar o bebê e cortar o cordão umbilical. Depois de ambos serem examinados e constatarem que estavam perfeitamente saudáveis, consegui conversar com a mulher que contou ter tentado vaga em dois hospitais públicos antes de chegar naquele, me emocionei ao perceber o quanto aquela jovem, que aparentava ter pouco mais de 23 anos, tivera sofrido para dar a luz.

Passei a tarde toda lembrando-me da cena, o como a saúde pública anda abandonada.

Saí do hospital por volta das 14h15 e fui direto para a academia. Eu não costumava ir aquele horário, as vezes preferia ir um pouco antes de ir pra faculdade pois já saia direto, mas aquela tarde eu precisava espairecer, e pegar peso é uma ótima forma de esquecer todos os problemas.

Pedi que o professor caprichasse no treino, e acho que ele entendeu que era pra tentar me matar, depois que finalizei perna não conseguia andar. Fiz drama e pedi pra que o professor me ajudasse a sentar.

"Minha panturrilha não existe mais, professor. Acho que ela morreu" choraminguei.

Daniel riu de minha pequena encenação e colocou a mão no meu ombro.

"Sem dor, sem ganho, Lili." Falou por fim, me deixando sentada enquanto ia repassar a ficha de treinos da semana.

"Amanhã vamos treinar braço, você tem evitado treinar braço a uma semana, isso não pode"

"Ah! Eu não gosto, meus braços ficam parecendo dois pesos enormes de cada lado do corpo depois do treino" rebati chateada.

"Mas você não tem que gostar, se fosse pra gostar de alguma coisa estaria fazendo ballet e não treinos em uma academia de musculação"

Liberei um sorriso amarelo e voltei a atenção a minhas pernas que agora pareciam partir.

O professor me deixou ali e seguiu em direção a outro aluno que chegava. Peguei o celular e visualizei algumas conversas no whatsapp, um número desconhecido havia me deixado uma mensagem.

*Estou ansioso pela aula, por favor não falte. Bjs, Marcus*

Quase engasguei com o gole de água que havia sugado da garrafa. Como aquele 'zé mané' conseguiu meu número? O grupo da sala, claro.

"Que saco!" Praguejei

"Falando sozinha, amor?" Virei rapidamente ao reconhecer aquela voz tão familiar. E quase esqueci das dores na perna quando vi aquele garoto magro a minha frente, tive vontade de me atirar em seus braços mas não queria chamar atenção dos outros alunos.

"Lucaaaasss! Eu não acredito. O que faz aqui?" Circulei o banco onde estava e o abracei com força.

"Também morri de saudades de você. Estou aqui pra malhar ué" disse rindo. Dei um soquinho em seu ombro e ele cobriu o lugar com a mão.

"Voltei pra cidade a dois dias, tentei ligar para você mas não consegui, não tenho seu endereço, então..."

"Ah! Não se preocupe te darei meu novo número e te passo meu endereço pelo whatsapp. Mas acho que agora você tem muita coisa pra me contar, vem, vamos tomar um suco."

Arrastei Lucas para uma lanchonete ao lado da academia e conversamos sobre nossas vidas. Lucas fora meu amigo desde a alfabetização, crescemos juntos, inclusive foi com ele que dei meu primeiro beijo, mas acabamos nos tornando amigos, melhores amigos, até que ele decidiu ir morar com o pai em Portugal, mantivemos contato por alguns meses, depois simplesmente paramos de nos falar.

Terminamos o papo mas sem antes fazê-lo prometer que iria me visitar. Nos despedimos e parti para casa. A aula começava as 18h então eu ainda tinha algum tempo para relaxar.

Arrumei-me e separei alguns livros que julguei ser necessário para as aulas de Marcus. Saí de casa rumo ao campus, normalmente eu daria carona a Jessica mas ela ainda não havia voltado da casa do namorado.

Cheguei em pouco tempo, o trânsito estava livre e o clima ameno, recolhi os livros e a mochila e segui rumo a primeira aula.

O professor tentava esclarecer a dúvida de um garoto, olhei o relógio e já passara das 20h, Marcus ainda não tinha chegado e eu já estava ficando nervosa com sua falta de compromisso.

"Hoje vocês não terão aula nos últimos dois tempos pois haverá uma reunião de professores. Próxima aula teremos uma atividade em grupo que valerá 1 ponto. Boa noite a todos"

Um ponto pode parecer pouca coisa, mas pra quem está em uma faculdade aquilo era como ganhar na loteria. Recolhi meus livros e saí da sala, atravessei os corredores do prédio, agradecendo por ter mais horas de descanso, sorri com a ideia mas logo meu sorriso se desfez ao ver o homem de braços cruzados encostado na pilastra na lateral do corredor.

"Droga!" Falei entre dentes.

Marcus desfez a pose e sorriu em minha direção.

"Oi, achou que eu não viria né?" Perguntou pegando os livros de minhas mãos. Prestativo, só que não.

Caminhamos em silêncio até a entrada da biblioteca, Marcus fez questão de escolher uma mesa isolada aos fundos do lugar, depositamos os livros a mesa e nos acomodamos num silêncio assustador.

Ele me analisava e eu me mantinha focada em separar o material que me auxiliaria na aula.

"Acabou?" Marcus me olhava sério agora.

"Acabei o quê?"

"Essa palhaçada de ficar me ignorando, fingindo que está procurando algo pra não me dar atenção"

Me senti mal, ele pediu reforço e eu estava bancando a revoltada. Coloquei o livro grosso que usariamos a sua frente e empurrei para que ele pegasse, estavamos de frente um para o outro e agora nos olhavamos esperando que um de nós iniciasse a conversa.

"Comece a atividade da página 159, são questões importantes que provavelmente caiam na prova, separei algumas respostas e algumas páginas que iremos usar para você procurá-las, quero que comece a responder sozinho e me alerte quando tiver dúvidas"

Marcus parecia uma criança aprendendo a ler, ele nem tentava resolver, simplesmente fazia questão de que eu repetisse todas as explicações, pus a cadeira ao seu lado e me concentrei em respirar fundo e não perder a paciência com meu aluno mais difícil. Repeti um capítulo inteiro em explicações e observações, já eram quase 21h30 quando decidi que era melhor continuarmos na quinta-feira, Marcus pareceu chateado com a ideia mas aceitou.

Ainda estávamos de ombros colados quando ele segurou meu queixo e sorriu satisfeito.

"Adorei sua aula, você é uma professora excelente, mas ainda é cedo, que tal uma cerveja?" Seu hálito invadia minhas narinas e acariciava meu rosto.

Respirei fundo controlando algo que fazia meu estômago se revirar.

Girei a cabeça para o lado cortando o contato visual.

"Acho ... Acho melhor não, amanhã trabalho e não ... Não acho que seja uma boa ideia"

Levantei depressa recolhendo os livros da mesa, coloquei alguns na mochila. Marcus me olhava com muita atenção esperando algum sinal de desistência.

"Duvido que você saia de casa, uma cerveja só não vai fazer mal, estou te ajudando a sair da rotina, me ajude a tirar você dessa cúpula que você vive"

"O que você quer dizer com isso?" Falei um pouco alto demais, alguns alunos me olharam com reprovação e a atendente da biblioteca quase me mandou calar a boca. Fitei-o descontente.

Marcus se aproximou de mim me olhando nos olhos, em pouco tempo aprendi que a arma que ele mais usava era o contato visual, também era de se imaginar o porquê, afinal com olhos daquele qualquer um se encataria de imediato.

"Qual é?! Você sabe que é verdade. Adora fazer esse estilo Madre Teresa, toda boazinha, mas também age como uma guerreira romana afastando todos de você. Se veste como uma noviça, mas passa as tardes numa academia, deixa sempre o cabelo preso nesse rabo de cavalo e esse óculos antigo no rosto, mesmo sendo uma mulher de uma face linda. Do que você tem medo? De mim ou de você mesma? Ou do que você pode fazer com os homens"


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