*Primeiramente eu queria agradecer a todos pelos comentários! Muito obrigado pelo incentivo! Adoro vocês!*
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Daniel ria baixinho enquanto eu trancava a porta e saia do gramado da sua casa.
Fomos juntos até a minha casa com ele rindo da minha cara e eu louco pra rir com ele. Mas não fiz! Meu orgulho não deixou!
-Já disse que não teve graça, Dani! -bufei, quando entramos em minha casa e nos tranquei lá dentro.
Pronto! Agora eu o tinha só pra mim!
-Tem sim, senhor Lopes! -ele afirmou, balançando a cabeça. -Você acharia muita graça se visse sua própria cara quando esbarrou no gato do vizinho.
-Eu tenho alergia à gatos! -retruquei. -E, aliás, o que o gato do vizinho fazia na sua casa?
-Ah, eu cuido dele. O senhor Fagundes tem Alzheimer e se esquece de dar comida e água pro pobre bicho.
Sorri pra ele que tinha um olhar super sério.
-Você é tão lindo... -murmurei.
Ele corou fortemente e negou com a cabeça.
-Sei que não sou. Por favor, não faça isso pra me agradar.
-Não estou fazendo isso pra te agradar, Dani!
-Está sim!
-Não estou!
Ele baixou a cabeça e suspirou.
Fui até ele, pensando em uma saída rápida pra situação. O que havia de errado com esse garoto?
Então a resposta veio tão rápido quanto a pergunta: tudo. Havia tudo de errado.
-Vi os desenhos no seu "quarto". -fiz aspas, porque aquilo era uma dispensa, não um quarto.
-Viu?! -ele se alarmou.
-Vi. Você desenha muito bem. -lembrei do meu desenho e ia abordá-lo sobre isso, mas ele falou primeiro:
-É só um passatempo. Às vezes meu pai me tranca lá por horas e então eu tenho que fazer algo pra passar o tempo. -ele riu baixinho, da própria piada.
-Daniel! Não ria como se fosse algo normal! Seu pai é um doente, psicótico! -o sacodi, com irritação.
-É normal pra mim, senhor Lopes. -ele sorriu, fracamente. -Eu vivo com ele desde sempre. Minha mãe sumiu e eu não tinha escolha! Tive que aguentar tudo que o envolvia. Ele me ameaça, senhor Lopes. Me bate. Me maltrata... estou habituado. -passou a mão no meu peito, causando-me um arrepiu. -Não tenho raiva dele. -finalizou.
-Não tem?
-Não. O compreendo. Sinto pena dele. Compaixão.
-Como pode dizer isso, Daniel? Que estupidez! -rosnei.
-Ele ainda a ama e eu sou um símbolo do abandono dela. Minha mãe. Tive sorte dele não me matar quando eu era menor.
O tirei do chão, o pegando no colo e o abracei. Com força! Ele correspondeu ao meu abraço, enterrando seu nariz no meu pescoço e inspirando profundamente. Fiz o mesmo com ele.
-Não vamos falar nisso hoje, tudo bem? -ele pediu baixinho, enlaçando suas pernas na minha cintura.
-Claro, Dani... claro. -o apertei em meus braços.
Podia passar a eternidade ali, com meu rosto enterrado naquele pescoço.
Seus cabelos eram um pouco grandes e transbordavam um aroma tão delicioso quanto o exalava do seu pescoço.
Me excitei, apesar de meu consciente dizer que aquela não era a melhor hora pra fazer sexo com ele.
-Por que você desenha a si próprio? -retornei com o assunto enquanto eu caminhava pra cozinha com ele ainda no meu colo.
-Desenhar é uma espécie de terapia pra mim, senhor Lopes. -ele falou sorrindo, quando o depositei em um banco perto da bancada de mármore e fui preparar algo pra nós comermos. -É uma chance de me expressar de diversas maneiras, usando o objeto que eu mais conheço: eu mesmo.
-Você me parece muito adulto pra sua pouca idade. -sorri pra ele, que riu pra mim.
-Sou só mais um de tantos adolescentes comuns.
-Não! -afirmei. -Você é especial.
Ele corou e sorriu.
-Quer ajuda pra fazer isso? -ele questionou.
-Não, obrigado.
Eu estava fazendo a única coisa que eu sabia fazer na cozinha: batata-frita.
O resto eu deixava pra empregada que deixava tudo pronto, sendo que só precisava esquentar no micro-ondas.
-Você vai botar fogo na casa, senhor Lopes. -ele riu, enquanto via o azeite ferver com um punhado de batatas picadas.
-Vou nada! -franzi a testa, quando um pingo de azeite quente respingou em mim.
Depois de algum tempo, estávamos nós dois no meu quarto, deitados na cama com um pote cheio de batatas-fritas, refrigerantes e várias besteiras por todo lado.
Um filme muito chato passava na televisão, que o Dani assistia fascinado e conversava comigo.
-Então você já namorou, senhor Lopes? -ele questionou, enquanto tomou um gole de Coca-Cola. -Eu amei essa coisa!
Fiquei surpreso quando ele me contou que nunca havia provado refrigerantes. Na verdade, eu não deveria ficar.
-Sabia que ia gostar. -sorri. -E respondendo a sua pergunta, já namorei uma mulher. Tenho vinte e nove anos e se eu não tivesse namorado alguém, as pessoas iam desconfiar.
-Desconfiar? -ele pareceu confuso.
-É. Que sou gay.
-E qual o problema nisso? -ele voltou a olhar pro filme e tomou mais um gole de refrigerante.
-Não gosto que os outros falem de mim. Não quero ter que aturar olhares feios. Imagina? Ser taxado de "gay"?
-Senhor Lopes, isso é tão triste.
-Triste?
-É. -ele olhou pra mim, claramente irritado com minha atitude. -Você deve algo a alguém?
-Não, mas...
-Alguém paga suas contas?
-Não! Mas, Dani...
-É a pior bobagem que eu já ouvi, desde que meu tio falou que meu pai havia dado minha virgindade a ele. -ele praticamente cuspiu as palavras em cima de mim.
Pisquei surpreso, não sabendo com reagir àquele pequeno tormento de fúria.
Pensei em tocar nele, mas ele estava tremendo... tremendo de raiva.
-Por que está bravo?
-Porque você está abnegando sua felicidade só porque os outros acham errado! -ele gritou, com os olhos cheios de lágrimas. -Você não sabe o que é as pessoas te olhando feio! Todos te desprezando porque você é "aquele que o pai abusa, assim como qualquer um que querer!" Você não tem ideia do que é isso! Não ser amado! Você só quer manter uma aparência falsa pra que os outros estejam felizes enquanto você está infeliz! E sabe por quê?!
Ele nem deixou eu responder.
-Porque você é um covarde!
Essa palavra me atingiu feito um soco. "Covarde... covarde... covarde..." ficou ecoando nos meus ouvidos.
-Dani... -sussurei, pasmo demais pra fazer qualquer outra coisa.
Ele chorava baixinho, todo encolhido em um canto. Não sabia o que fazer!
-Meu anjo... -fui até ele o abracei. Ele se enroscou em mim, sussurando entre lágrimas vários "perdão" e "desculpe".
-Tudo bem. Tudo bem... -beijei sua testa e ele murmurava desculpas entre o meu pescoço.
-Tudo bem, Dani. Não precisa se desculpar.
Assim que ele se acalmou comecei a arrumei a cama para deitarmos devidamente.
Tirei tudo dali de cima e coloquei para uma mesinha perto da janela.
Voltei pra cama, já me despindo e sorri fracamente enquanto aquele guri na cama me assistia atentamente.
-Gosta do que vê? -provoquei, quando fiquei só de cueca. Queria quebrar aquele clima gelado que havia se instalado entre nós.
Ele sorriu, com vergonha, e continuou me olhando. Dei um suspiro aliviado, ao ver que aquele momento entre nós havia passado. Entretando o seu rosto estava um pouco inchado, dado seu choro recente, mas ele continuava lindo.
-Por que não tira essa roupa? -aconcelhei. Aquelas roupas enormes pareciam tão desconfortávais.
-Agora? Na frente do senhor? -ele pareceu confuso.
-Dani, tenho planos para esta noite e com você de roupa eles não serão realizados.
Ele sorriu com divertimento, me deixando paralisado com a beleza daquele sorriso.
Que menino lindo!
-Tudo bem! -ele concordou. -Mas você não vai gostar do que irá ver.
Ele levantou-se e tirou aquele enorme casaco. Logo depois virou-se de costas pra mim e foi desabotoando a camisa. Tirou sua calça e depois deixou cair sua camisa no chão.
Ele estava só de cueca e seu rosto corado significava que ele estava com vergonha.
Mas, vergonha de quê?
Ele era perfeito... em todos os sentidos.
Ele era lindo! Perfeitamente lindo!
Seu corpo era magro e pequeno, mas muito forte. Havia até o famoso "tanquinho". Seus braços eram cheios e suas cochas torneadas... sua pele incrivelmente branca.
Só havia um defeito: as marcas.
Havia marcas rochas por todo o corpo dele. Marcas de mordidas e de agressões físicas...
Então meu sangue sumiu da face.
Fui até ele e toquei no seu peito.
-Daniel, que merda é essa? -gritei, apontando pra umas marcas escuras no seu peito.
-S.senhor Lopes... -ele gaguejou. -Isso é marcas de cigarros...
-Cigarro... -repeti, incrédulo. -Já chega!
-C.chega?
-Aquele filho da puta jamais vai te ver de novo. Você é meu, agora! Só meu!