Cap.5
NARRADO POR FELIPE CAVALCANTE (PRIMEIRA VEZ QUE ELE APARECE U.U)
- Felipe, pelo amor de Deus, você não vai estourar esse prazo, o pessoal da diretoria já está no meu pé, porque você não cumpre os prazos, desse jeito eu vou ser demitido- meu editor Adalberto era realmente um esporro.
- Tá, tá, eu não vou estourar o prazo, agora faz o favor de pegar o beco que eu estava no meu quinto sono- falei, o empurrando pra fora do apartamento.
- Você não dá a mínima né, Felipe, eu ainda não terminei !- falou, já lá fora.
- Tchauzinho pra você também- fechei a porta de uma vez. Eu ainda nem tinha acordado direito. Eu estava com tanta preguiça que nem consegui subir as escadas. Só fiz me jogar no sofá e lá mesmo eu fiquei. Tirei outro cochilo.
TEMPO DEPOIS
Acordei com um passarinho batendo na janela.
- Ai esses passarinhos, acho que eles ficam tão assustados com o reflexo que se batem, pra ver se algo muda- falei, me levantando e indo em direção a cozinha. Preparei um café bem forte, e dei uma golada. Olhei ao redor, não vi ninguém. Assim era a minha vida. Vazia. Um livro aberto. Eu realmente tinha tudo. Fama, dinheiro, poder, influência, milhares de fãs que caiam de quatro por mim, homens e mulheres. Não pensem que eu sou convencido, mas essa era a realidade. Mas eu nunca tinha amado realmente alguém. Ficado, quase sempre. O desejo carnal é enorme. E felizmente, eu sou muito bonito, e isso ajuda muito. Sou alto, branco, loiro de cabelos lisos, tenho olhos verdes claros que contrastam com todo o resto, e tenho um corpo malhado, por que costumo me exercitar. Realmente, eu não era feio. Então, porque eu nunca havia conseguido encontrar alguém que fizesse meu coração bater mais forte ? Pergunte isso ao destino. Eu já tentei com muita gente. Homens, mulheres, jovens, coroas, travestis. Nunca me apaixonei por ninguém. Era sempre do mesmo jeito. Ia pra cama, e depois da gozada final, cada um pro seu lado. Mas definitivamente, eu estava disposto a encontrar alguém. Não importa o sexo, cor, condição social, religião. Alguém que faça meu coração bater mais forte, que me faça sorrir apenas por ver, ou que me deixe louco de saudades enquanto está longe. Eu quero amar. Não aguento mais viver nesse apartamento sozinho. Eu sabia que não seria fácil. A maior parte daqueles que se aproximam de mim, só querem dinheiro, e mais dinheiro. Mas eu espero um dia conseguir, saber o que é o amor. De repente, o telefone toca.
- Alô- dizia eu
- Alô, nós somos do site xxxxxx e queríamos saber se você gostaria de gravar uma entrevista conosco.
- Liga pra minha assessoria e pergunta pela agenda de entrevista. Se tiver um horário eu gravo com você
- Ok. Tchau
- Tchau- eu não aguento mais isso. Mas 10 anos atrás não era assim. Eu não tinha estourado ainda.
FLASHBACK
Eu tinha acabado de sair da faculdade, com minha melhor amiga, Helena. Lá íamos nós, pra minha casa, no busão. Logo chegamos. Lentamente nós entrávamos no meu apartamento, típico de adolescente.
- Eu vou fazer uns sanduíches pra gente, tô morrendo de fome.
- Faz mesmo, eu vou esperar lá no seu quarto- ela dizia, indo em direção ao corredor
- Tá, só não vai bagunçar, você não sabe o suor que gastei limpando este quarto.
- Você gasta mais suor com outras coisas querido, não reclame- ri.
- Gasto não, eu sou santo- falei, colocando os pães na sanduicheira. Logo tudo estava pronto. Fui pra meu quarto, e quase jogo as bandejas no chão quando vi o que ela estava fazendo.
- Sério mesmo que você escreve tudo isso aqui ?- droga, porque fui deixar meus cadernos abertos. Joguei tudo em cima da cama, e corri atrás dela.
- Não, não leia isso, são péssimos- falei, tentando tira-los das mãos dela.
- Péssimos, que isso, são ótimos, maravilhosos- ela dizia, puxando- se você deixar eu publicar isso, você vai estourar. Isso, isso, é a melhor coisa que eu leio desde quando Jorge Amado lançou seu último livro.
- Deixa de mentir, são péssimos- falei, o soltando.
- Você pode fazer fortuna com isso Felipe, você não sabe o talento que tem.
- Acho melhor não. Devem ter muitos erros de português, e eu ainda nem decidi o título.
- Não tem problema, o título será, hum, Amor... Romântico. Isso mesmo, Amor Romântico.
No dia seguinte, estava publicado.
FIM DO FLASHBACK
Foi assim que a minha carreira começou. No início eu até gostei, das mordomias, das viagens, do luxo, da fama. Mas aos poucos, o meu deslumbre deu lugar a uma frustração terrível. Não podia viajar em fins de anos, por causa dos periódicos. E além disso, eram praticamente 10 jornalistas todo dia na porta do meu apartamento. E no início chegaram a ser 100, de todas as partes do mundo. A situação ficou tão crítica, que eu pedi pro condomínio fazer um corredor fechado a partir da garagem, que desse direto no meu apartamento. Só assim conseguia me livrar do assédio. Enfim. Eu tinha uma boa vida, mas não era plenamente feliz.
- Ai, nossa, já são 12h25- falei, olhando pro relógio- eu que não vou mais fazer comida agora- sai de casa e fui até o restaurante do outro lado da rua. Fiz o meu prato, leve, e me sentei. Olhava pra mesa, vazia. Eu preciso me livrar dessa solidão.
TEMPO DEPOIS
Estava eu, sentado na minha cama, todo embrulhado na minha cama, vendo Breaking Bad, quando de repente, me toquei.
- Droga, esqueci de pegar a minha roupa na lavanderia- falei, levantando e vestindo uma roupa decente. Peguei a chave do carro e sai. Um tempo nublado estava se formando- acho que vai chover depois- logo cheguei na lavanderia. Desci do carro e peguei as roupas, que não eram poucas. Coloquei tudo no banco de trás. Foi quando levantei o olhar, e vi um garoto cabisbaixo, andando lentamente, do outro lado da rua. Por algum motivo eu queria saber porque ele estava daquele jeito. Não entendia o porque. Lentamente atravessei a rua, com minha cabeça perguntando o por quê disso. Cheguei mais perto, o vento estava forte, e fazia meus cabelos loiros voarem. Vi que ele chorava, queria saber o porque. De repente, a chuva começou a cair. E eu ainda me perguntava o porque de não ter saído dali. Decidi então, falar com ele.
- Ei, você vai ficar ai, pegando chuva mesmo ?- perguntei, vendo ele erguer o rosto. Foi ai, que por algum motivo, meu coração bateu forte.
- Não se preocupe, eu estou bem aqui- falou, olhando pra mim.
- Não está não, vamos, eu ajudo a levar as suas coisas- falei, pegando as suas coisas e levando em direção ao meu carro.
- Ei, pra onde você vai me levar ?
- Pro meu apartamento.
- Hã ?
- Lá você pode se secar e tomar um banho- entrei no carro e logo em seguida ele entrou. Porque estou fazendo isso ? Eu mal o conheço
- Porque você me tirou de lá ? Não precisava se preocupar comigo.
- De nada pra você também, e tem mais, você podia pegar um resfriado, se é que já não pegou- falei,vendo ele espirrar.
- Mas você nem me conhece.
- Eu não deixaria você sozinho, ainda mais daquele jeito. Olha, não vou perguntar o porque de você estar chorando, mas depois se você quiser contar, estarei a todo ouvidos.
- Humrum- sai em direção ao meu apartamento. Quem era aquele garoto, e porque ele havia feito meu coração batucar desse jeito.
MINUTOS DEPOIS
Ele já havia tomado um banho, e estava seco. Depois de um momento super fofo com um chocolate quente e um bigode, decidi convensar com ele. Olhei pra ele, parecia acabado fisicamente. Seu nome era André, e ele já sabia quem era eu
- Então, agora eu tenho que ir embora.
- Porque ?- perguntei
- Porque você já me ajudou muito, eu não quero abusar mais.
- Mas, você nem me contou o porque daquilo. Eu posso ajudar você, pra qualquer coisa- falei, o puxando e fazendo ele sentar no sofá.
- Você não vai querer ouvir meus problemas, você nem me conhece direito- falou, olhando pro chão.
- Bem, se o problema é conhecimento, eu falo. Meu nome é Felipe Melo Cavalcante, tenho 30 anos- ele arregalou os olhos quando falei minha idade- peso 80 kg, meço 1,92, calço 40, gosto de azul, adoro romances, meu aniversário é no dia 25 de outubro, detesto cachorros, amo gatos, adoro lasanha, não gosto de ser pressionado, adoro carinho e... hum...acho que é só isso. Agora é sua vez- ele ameaçava dar um sorriso quando terminei.
- Bem, meu nome é André Nascimento da Silveira, tenho 22 anos...- ele falou cada item acima detalhadamente. Logo terminou.
- Pronto, agora nos conhecemos- ele estava com um sorriso de canto de rosto, e eu achando ele um fofo- e então, você vai se abrir pra mim- talvez ele não falasse nada, por ainda pensar que eu fosse um estranho, mas ele falou, meio receoso.
- Eu estou assim triste, porque... bem, eu fui expulso de casa- falou, baixando a cabeça- porque ? Porque eu sou gay- ele ergueu o olhar, estava com os olhos marejados- uma amiga minha contou tudo pra minha mãe, e ela me expulsou, do pior jeito possível, sem nem dar tchau, dizer adeus, tudo por causa de eu ser assim. Eu sei que nunca mudarei, ela não sabe- ele já deixava as lágrimas caírem novamente. Sem pensar, o abracei. Ele parecia querer carinho aquela hora- eu não sou um filho ruim- falou, retribuindo o abraço- pelo contrário, eu sempre me esforcei pra ser o melhor filho do mundo. Lutei pra passar na faculdade de Jornalismo, passei. Sempre ajudei ela, depois que o papai morreu, fiz de tudo pra que quando esse dia chegasse, ela não tivesse o que falar de mim. Mas ela acabou comigo, do mesmo jeito. E agora eu sou um sem teto, sem amigos, sem família, sem nada- falou, me soltando.
- Para de chorar, seu rostinho bonito não fica legal assim- tá, isso saiu involuntariamente. Mas ele pareceu não perceber. Limpei as lágrimas dos seus olhos, enquanto o fazia deitar em meu colo, momento íntimo esse nosso ein- sabe, se você quiser, você pode ficar aqui- falei, mexendo em seus cachinhos.
- Mas... Você nem me conhece direito.
- Eu sinto que você não é uma pessoa ruim.
- Porque você quer me ajudar, assim, do nada, sem nunca ter me visto antes ?
- Porque você fez meu coração bater mais forte- ops
Continua
Gostaram ???? Obrigado pelos comentários amorekos.