Capítulo 6: Vamos brincar de pega-pega?
Estava apavorado, apavorado mesmo. Estava tentando ao máximo controlar a minha respiração, vai que o invasor ouvisse, então era melhor não correr o risco. Depois do barulho inicial eu não escutei mais nenhum outro, mas eu sabia que tinha alguém ali comigo, sabe aquela sensação de formigamento que você sente no pescoço? Quando todos os pelos daquela área ficam arrepiados? Bom, eu estava sentindo isso elevado a décima potência. Procurei apurar os meus ouvidos, fiquei paralisado na cama e para complicar as coisas a minha cicatriz da barriga estava latejando e pontadas de dor se espalhavam pelo meu corpo cada vez que eu respirava. Escutei um barulho e fiquei ainda mais assustado, era barulhos de pegadas... que se aproximavam do meu quarto! Minha cabeça rapidamente chicoteou na direção da janela que tinha ali. Será que eu conseguiria pular a janela sem fazer nenhum barulho? Definitivamente não, para eu pular a janela eu teria que ter apoio em alguma coisa, mas não podia arrastar nada para me dar esse apoio e mesmo que eu conseguisse fazer isso como eu correria? Minha perna já estava melhor, mas ainda não estava totalmente recuperada. É, eu estava morto.
Senti a presença da outra pessoa do outro lado da porta e fiquei ainda mais apavorado. Fechei os olhos quando eu vi e ouvi o trinco girar e a porta se abri lentamente. Antes eu puxei o cobertor até o meu pescoço e virei o rosto para o outro lado. Meu coração martelava as minhas costelas de maneira dolorosa, sangue rugia nos meus ouvidos e corria apresado pelas minhas veias. A presença era tão forte que estava difícil eu fingir que estava dormindo. As passadas, mesmo em um tom baixo, eram audíveis por causa da proximidade que ele se encontrava de mim. Comecei a tremer e fiz uma prece para que o cobertor fosse grosso o bastante para esconder a minha tremedeira, também agradeci o meu corpo de estatura pequena. A pessoa nem parecia uma pessoa mesmo, e vai que não fosse, e se fosse alguma coisa do mundo do além buscando algo aqui? Com esse pensamento eu gemi internamente. O medo é o pior defeito do ser humano, ele te deixa paralisado, faz você pensar que nunca sentiu medo de verdade até que você sinta o verdadeiro medo. Eu nunca fui um garoto que se autodenomina corajoso, muito pelo contrário, era medroso além da conta.
Já vi vários autores, atores, cantores que exaltam o medroso a patamares astronômicos, fazendo do medroso o ser mais corajoso do mundo em seus versos e interpretações. Mas eu não ousaria a me comparar com um ser corajoso. Vamos pegar o exemplo do Lion, a maior parte da motivação que me fez fazer aquilo tudo por ele foi puro egoismo e medo. Queria ter alguém que pudesse me ajudar a sair dali, acho que foi por isso que eu também salvei aquela garota, por egoismo. Mesmo que sem querer eu fiz aquilo, peguei duas pessoas, salvei as duas e uma delas me ajudou a sair daquela situação. Como eu era mesquinho, podre! Lembrei-me daquelas cenas que eu desejava com todas as forças esquecer, a sangue, o osso quebrado de Lion, a minha fraqueza extrema. Quando dei por mim já estava chorando, lágrimas silenciosas desciam pelo meu rosto. Escutei um barulho mínimo vindo da esquerda de onde eu me encontrava, rapidamente eu procurei me lembrar do que tinha naquele lado do meu quarto. Tive que morder os lábios para não arfar de pavor, ele estava mexendo no guarda roupas. O lugar onde eu guardo absolutamente tudo, menos o celular, esse dormia comigo.
Eu tinha que fazer alguma coisa, o que ele estava procurando ali? Pensei em mandar uma mensagem instantânea para meus irmãos ou algum conhecido, mas se eu desbloqueasse o celular a luz da tela acessa denunciaria meu estado de acordado. Ainda estava chorando e estava mais apavorado do que nunca. Não sei o que eu fiz depois foi um ato digno de uma letra de música ou versos de um poema, só sei que fiz. Me virei, esticando todos os meus músculos rígidos e virei para o outro lado, puxei o cobertor um pouco mais para cima, esperei que ele acreditasse que eu ainda estava dormindo, que só me virei durante o sono. O barulho em meu guarda-roupa parou, e continuou parado por um bom tempo, e eu lá, parado fingindo dormir, controlando a minha respira para que ele não percebesse o quão assustado eu estava. Não sei como cheguei a conclusão que a pessoa que estava em minha casa era um “ele” poderia muito bem ser uma “ela”, mas na minha cabeça só vinha a imagem de um homem, um homem de meia idade, que camufla sua voz emaçadora em um tom mais brando e amigável, um homem mesmo com a idade avançada se movia bastante rápido.
Não sei por quanto tempo nós ficamos assim, eu parado feito uma estátua e ele me imitando. Sabia que ele ainda estava ali, quase do meu lado, as vezes, quando os sons da floresta ficavam mais brandos eu conseguia escutar a respiração dele, e eu tinha que redobrar os meus esforços para que a minha parecesse normal. Sentia a presença cada vez mais próximo de mim, e estava ficando cada vez mais difícil para disfarçar o meu terror. Quem era essa pessoa? E o que ela queria comigo? Deus, me ajude! Mais perto, mais perto, na minha frente! Quando eu pensei que ele ia fazer alguma coisa comigo, quase desmaio de alívio quando senti ele fazendo o caminho inverso, fechando a porta calmamente. Segundos depois que ele saiu eu empurrei a coberta e joguei no chão, depois pisei sobre o tecido, aquilo ajudaria a abafar o som das minhas passadas. Eu estava apenas de cueca. Qualquer outra coisa fazia um comichão enorme na cicatriz da minha barriga, então eu aboli o uso de qualquer outra peça de roupa na hora de dormir. Andando como se estivesse patinando no gelo, só que sobre um pedaço de tecido, eu fui até o meu guarda-roupa, peguei uma calça de moletom e uma camisa de manga comprida que pertencia ao um dos meus irmãos e vesti. Peguei o primeiro tênis que achei e calcei-os.
Na ponta do pé, literalmente falando, eu fui até a porta e fechei-a. Foi só eu fazer isso para que algo ou alguém se chocasse contra ela. Pulei assustado para trás, novamente o impacto e a porta chacoalhou.
— Eu sei que você está acordado! — Gritou uma voz que eu não conhecia. Deus! Que loucura era aquela?! A porta tremeu novamente e um dos parafusos que prendiam-na a parede caiu no chão, rolou pelo chão e parou a centímetros do meu pé esquerdo. Corri até a janele, arrastei a cadeira que estava próxima a minha escrivaninha e abri a janela, acho que fez barulho, por que logo depois a pessoa (Um homem! Ahá, eu tinha acertado!) gritou: - Chaves! Lago! O garoto está fugindo, cerquem a casa!
Pulei a janela antes dele completar a frase, me embrenhei na floresta negra e densa. O barulho da porta caindo, estilhaçada, no chão do meu quarto foi alto o suficiente para que eu escutasse. A minha perna reclamava bastante, mas eu conseguia correr em um ritmo relativamente grande. Agradeci-me mentalmente por eu ter colocado roupas quentes antes de pular a janela. Continuei correndo, pedindo que eles seguissem a trilha, que eles achassem que eu fosse estúpido o bastante para sair correndo pela trilha. Não sabia onde aquela parte da floresta daria, mas ali estava eu, correndo de pessoas malucas que queriam me pegar por um motivo que eu desconhecia. Corri, pulei, desviei de galhos baixos de algumas árvores, tropecei algumas vezes e nessas tropeçadas sentia pontadas de dor nas minhas cicatrizes. Deus! Não era para eu está correndo, eu tinha feito uma cirurgia a apenas um mês, um mês! E estava correndo como um doido, não sabia qual seriam as consequências dessa minha corrida. Mas também não pararia e pesquisaria no Google quais eram as consequências para tal ato mal pensado. Cheguei até o rio, e fiquei confuso, o rio não era na outra parte da escola? Que eu saiba eu estava correndo para o fundo de todo aquele terreno, mas, mesmo assim, ali tinha um rio. Escutei um barulho, estava ficando paranoico com esses barulhos, mas dessa vez era um barulho que eu devia temer. Eram passos, passos e vozes, passos, vozes e luz. Merda! Por que eles não me tomaram por um garoto burro e seguiram a trilha principal? Nem tinha cara de uma pessoa esperta!
Não fiquei pensando por muito tempo, tinha que atravessar aquele maldito rio. Mas eu me molharia todo, congelaria rapidamente naquele frio dos infernos e era provável que eu morresse sozinho ali no meio do mato. Por isso que tirei a calça, a camisa, a cueca e os sapatos, amarei-os em uma trouxa apertada, peguei impulso e arremessei-os até a outra margem do rio. Fiquei pelado ali, e não era bonito de olhar, não mesmo. Eu era bastante franzino e aquele frio era um martírio. Coloquei o pé esquerdo na água e quase imediatamente o tirei de lá, a água estava congelante! Eles estavam mais próximos e para piorar a situação eu estava chorando, agora era um chorro desesperado, amedrontado, cheio de tremores, arfares e arquejos. Meu choro se intensificou quando eu, lentamente, fui submergindo meu corpo naquela água. Me surpreendi quando notei que alcançava o fundo lamacento do rio. Agulhadas de dor foram desferida por todo o meu corpo enquanto eu atravessava o rio. Já do outro lado eu ainda fiquei bastante tempo sem vesti as minhas roupas, deu uns pulinhos, fiz polichinelos, agachamentos, abdominais. Tudo isso para a água escorrer do meu corpo e para que o sangue voltasse a circular pelo meu corpo. Vesti toda a minha roupa e sai correndo, foi tão reconfortante sentir o tecido quente de novo que quase voltei a chorar. Parei, me escondi atrás de uma árvore com o tronco groso e me encolhi o máximo que podia. Minha respiração era rasa, superficial, parecia que eu não conseguia encher meus pulmões completamente. Uma nesga de luz passou bem do meu lado, prendi a respiração e me encolhi ainda mais.
— Você tem certeza que ele veio por aqui, Lago? — Aquela mesma voz horrível do chalé falou. Aquela voz definitivamente era de um cara mal, era poderosa, rouca e ao mesmo tempo com uma pitada de sotaque, ele puxava demais o r – Se você fez eu me molhar naquela água dos infernos por nada você vai me pagar! Escutou, Lago?!
— Sim senhor! — E outra voz, essa era um pouco menos rouca, um pouco menos altiva, um pouco menos refinada, mas, ainda assim, muito assustadora – Escutei, senhor! Mas ele veio por aqui, senhor! Eu estava seguindo as pegadas, senhor!
— Sim, Lago! — Aquela mesma voz, o som de um trovão foi a única comparação que eu achei naquele momento de pânico. Eles estavam se aproximando de onde eu estava escondido – Você viu o tamanho daquele garoto, Lago?! — Deu para escutar quando o outro, Lago, se preparou para falar, mas o outro continuou a falar com a sua voz grave – Ele era minúsculo, Lago! Minusculo! Essas pegadas provavelmente devem ser nossas!
— Marvo, por favor não seja tão duro com o novato – Era uma voz feminina! Tinha uma mulher no meio daqueles doidos! A voz dela tinha um timbre que mesmo eu, escondido e bom, sendo gay, fiquei encantado. Era tão sedutora aquela voz que eu quase sai de onde estava escondido, mas ai eu me lembrei que eu gostava da mesma fruta que ela e que aquela voz não deveria me atingir daquela maneira – Eu também vi as pegadas e definitivamente não eram nossas. As pegadas eram pequenas até para o tamanho do meu pé.
Eu me senti seriamente ofendido com o que ela disse, também que eu calço 36, mas não precisava humilhar. E que mulher é essa que tem o pé maior que o meu? Gente, é uma mutante! Amaldiçoei-me mentalmente por ter deixado tantas pistas, por que eu não pensei nessas malditas pegadas? Bom, deve ser por que eu estava bastante assustado. Mas o que eles queriam comigo? Eu não tinha muita coisa para dar e se eles estavam pensando em me sequestrar para pedir resgaste depois eles que tirassem o cavalinho deles da chuva. Não deixaria que ninguém me pegasse contra a minha vontade, a não ser que esse alguém me pegasse e me beijasse, ai eu podia até repensar. Os passos estavam cada vez mais perto e eles continuavam a discutir sobre a minha posição. O que mais falava era o tal de Marvo, o cara da voz de trovão, depois a que especulava mais sobre o meu paradeiro era a Chaves e por último estava o novato, Marvo, que mais parecia uma calculadora e uma biblioteca humana. Cada vez que algum dos outros dois pedia para ele calcular alguma coisa, segundos depois ele tinha a resposta. Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram quando senti uma pressão na minha perna, depois a pressão ficou um pouco mais forte. Olhei para a minha perna e quase tenho um treco. Uma cobra, toda rajada, estava se enrolando ali. Meus batimentos cardíacos ficaram frenéticos, minha respiração mais ruidosa e meus olhos estavam prestes a pular fora do meu rosto. Não sabia se aquela espécie era venenosa, mas o que fiz depois foi completamente estúpido e impensado. Me levantei em um pulo e chutei o animal com mais força que podia, depois sai correndo. Não tinha notado que tinha gritado até na hora que eu vi que um dos feixes de luz fez contato com o meu corpo. Chicoteei a minha cabeça na direção que vinha a luz e vi os três, que segundos depois começaram a correr atrás de mim.
Eles gritaram palavras de ordem e eu corri mais rápido. Minha perna machucada gritava em protesto. Olhei para trás e vi que eles estavam cada vez mais próximos, próximos mesmo. Gritei quando a mulher quase pegava em meu braço, senti seus dedos molhados e gelados em minha pele. Vi um galho que estava meio solto, corri um pouco mais rápido, pulei sobre uma pedra e depois me impulsionei em outra pedra maior um pouco mais a frente. Quase que eu não conseguia pegar o galho, mas consegui pegar. Enterrei meus pés bem fundo na terra quando posei, virei apenas o meu tronco, girei o galho que eu estava segurando com as duas mãos e acertei na pessoa que me seguia. O som de madeira se chocando contra carne foi repugnante. Vi que não tinha acertado a mulher, ela estava vindo mais atrás, olhei para baixo e vi que tinha acertado um homem. Soltei o galho e voltei a correr, mas não fui muito longe, minutos depois eu estava rolando ribanceira abaixo com outra pessoa, eu já estava todo ferido, cheio de marcas, ainda em recuperação e mesmo assim eu estava me machucando cada vez mais.
Quando enfim chegamos ao fim do declive eu já estava chorando, gritando, me debatendo. Gritei como eu gritei na queda da cachoeira. Tinha um cara me prendendo ao chão, ele pesava uma tonelada e estava apoiado bem sobre a minha cicatriz cirúrgica. Era o cara que eu tinha acertado com o galho, do seu nariz descia vários filetes de sangue e seu rosto. Comecei a chorar incontrolavelmente, ele apertava meus pulsos com força. Ele gritou para que os outros se apressassem e não demorou muito para que eles aparecessem
— Você quebrou o meu nariz! — Ele rosnou, literalmente falando, o homem tinha quase o triplo do meu peso e quase o dobro da minha altura. Ele era bonito, mesmo na penumbra e com o nariz quebrado – E você me paga!
— Sai de cima de mim! Sai! Sai! — Gritei, ele estava me machucando muito, a minha cirurgia estava incomodando demais. Minhas lágrimas não paravam – Sai! Por favor, sai.
Mas ele não saiu, ao contrário, ele ficou em cima de mim por um tempo muito grande. O chão molhado já tinha empapado toda a minha roupa e o frio se apossava do meu corpo. Depois, não sei de onde ele tirou, ele amarrou as minhas mãos e meus pés com uma corda. Quando eu já estava amarrado igual a um porco pronto para ir pro abate ele me jogou por sobre o seu ombro. Não tinha mais forças para ficar me debatendo, a única coisa que fazia era chorar. Eles andaram por bastante tempo, nesse meio tempo a mulher do grupo tinha dado um pano para o homem que me carregava. Seu nariz ainda escorria sangue e ele limpava com o pano. Eles não falaram mais nada, ficaram em completo silencio e eu ficava balançando de um lado para o outro, a altura dele era bastante distante do chão para o baixinho como eu, então já estava com uma tontura vertiginosa. Eu tinha que sair dali. Mas quando ia tentar uma fuga desajeitada, entramos em uma clareira e segundos depois várias outras pessoas estavam ao meu redor. Pessoas que eu nunca tinha visto na vida.
O local era bem iluminado, luzes brilhantes queimaram meus olhos quando eu entrei ali, tive que piscar várias vezes para que meus olhos se acostumassem com aquela luminosidade toda. Vários trailers estavam estacionados ali, mesmo estando de cabeça para baixo eu pude ver também que ali se concentrava uma quantidade bastante grande de tendas. A cacofonia de sons depois de toda aquela mata fechada e silenciosa foi quase insuportável. Sem aviso nenhum o homem que estava me carregando no ombro me jogou no chão, jogou mesmo, cai de uma altura de mais de um metro e cinquenta. Fiquei sem ar quando minha costa se chocou com o chão duro, minha cabeça chicoteou também e eu fiquei zonzo. Não adiantaria mais correr, gritar, espernear, ou qualquer outra coisa. Quem quer que essas pessoas fossem elas poderiam fazer o que quisessem comigo. Tinha 17 anos, mas estava mais marcado do que um cara que arruma confusão por tudo. Parei até de chorar, não adiantaria mesmo, eu só queria saber o porquê daquilo está acontecendo comigo antes que eles fizessem algo. Estranhamente a ameaça do diretor não me passou pela cabeça, eu não tinha feito nada para que ele cumprisse com o que falou.
— O que foi com o seu nariz, Marvo? — Não sei quem foi que perguntou e nem queria saber, meu rosto estava virado para apenas um lado e daquela posição eu não pretendia sair, a sensação da terra molhada e gelada na pele do meu rosto era até boa – Vá procurar um médico! Está sangrando bastante.
— Eu aguento, Oliveira – O voz de trovão respondeu, depois me deu um chute forte nas costelas. Eu gritei e me encolhi como uma bola – Foi essa peste que quebrou o meu nariz! Não vi quando ele pegou aquele pedaço de pau.
— E quem é esse? — A mesma voz, a que perguntou se o voz de trovão estava bem. Estava choramingando, deitado, no chão duro. Matem-me logo! — Aquele que o outro falou?
— Sim, esse é o... o... — Ele parou de falar, senti quando ele se agachou ao meu lado e depois pegou meu rosto brutalmente e ficou me encarando. Mesmo sem querer eu notei que seus olhos eram azuis – Como é o nome desse daqui, Lago?
— Evan, senhor – O outro respondeu.
— Seu nome é Evan?
Num átimo de coragem acarretada pelo medo em excesso em meu corpo, eu respondi:
— Não, meu nome é: Vá tomar no cu, seu babaca!
Ele me deu o mais violento tapa que já recebi na vida. Minha pele ficou em brasas, meus ouvidos começaram a zunir e eu senti sangue inundar a minha boca. Não sei como não gritei, apenas lágrimas desciam por meu rosto, o único som que saiu da minha boca foi um choramingo de dor. Por que eles estavam fazendo aquilo comigo? O homem que me estapeou, chutou, amarou e várias outras coisas se levantou bufando de raiva e foi para perto dos outros. As cordas estavam machucando os meus pulsos e os meus tornozelos, eu sentia a ardência naquelas partes, provavelmente já estava ferido. Não sei por quanto tempo eu fiquei ali largado no chão. Eu olhava para um dos trailers sem realmente ver alguma coisa, mas uma movimentação estranha exatamente para onde eu estava olhando. Duas pessoas mais altas e mais fortes estavam com uma menor e mais magra no meio deles. O menorzinho se debatia freneticamente e um dos mais altos deu um soco em seu estômago que o fez arquejar de dor e se encolher a procura de abrigo. Levantei a cabeça milimetricamente quando notei uma coisa no mais baixo, um dos braços dele estava imobilizado.
— Lion?! — Gritei e imagine a minha surpresa quando ele olhou para mim, meu coração pulou assustado, o que ele estava fazendo ali? Ele começou a se sacudir com mais força até que de alguma forma ele conseguiu se desvencilhar dos outros homens e veio correndo na minha direção. Nem tinha notado que nesse tempo que eu estava paralisado olhando para um local apenas, eu, no modo automático consegui desatar o nó da corda que me prendia. Sai correndo e nos encontramos no meio do caminho. Dois baixinhos e magros se chocaram em um dos abraços mais estranhos de todos os tempos. Minhas mãos ainda estavam amarradas e um de seus braços estava no gesso – O que você faz aqui? Deus! O que eles fizeram com o seu rosto?
— Me desculpa, Evan. — Foi só ele falar para que nós fossemos separados bruscamente. Eu fui atirado novamente no chão, Lion também – Ele não sabe de nada! Acreditem em mim! Evan não sabe de nada, eu posso contar o pouco que sei. Soltem-no, por favor!
— Cala essa boca! — A voz de trovão ecoou por toda a clareira e instantaneamente tudo ficou em silencio. Levantaram-me com mais brutalidade do que quando me jogaram no chão – Vocês dois estão envolvidos até a cabeça com aquela gente! Aquele bando de bandidos!
— Eu não sei do que você está falando! – Gritei frustrado, eu estava bastante dolorido, cansado, amedrontado e várias outras coias mais – Eu fui raptado, perseguido, amarado e várias outras coisas que me machucaram bastante e não faço ideia do por que disso!
— Não sabe?!
— Não!
— É bem simples – O voz de trovão estava bastante próximo – O seu namoradinho e o dele – Apontou para Lion – Junto com toda aquela corja que finge gerir uma escola são um bando de bandidos. E aquele “diretor” - O escarnio era palpável em sua voz – Misturando seus capangas com todos aqueles alunos inocentes. E vocês dois vão nos ajudar a derrubar aqueles canalhas do poder e libertar aqueles inocentes dali.
— Mas nós não sabemos como fazer isso! — Gritei, meu nariz estava tocando no dele. Sua raiva era tão forte que eu estava sentindo-a – Nem sei se isso que você está falando a verdade.
— Claro que estou!
— Prove!
Ele deu alguns passos para trás, começou a apalpar os bolsos de trás e de lá tirou um celular. Destravou a tela, passou o dedo até que achou o que queria. Virou o celular para mim e fotos começaram a passar pelo aparelho. Várias mulheres, homens de diversas etnias, cores, idades. Arfei com susto quando vi uma foto que me chamou atenção, pedi para ele parar a apresentação e parar naquela foto. Era uma mulher, magra, alta, extremamente bonita, com os olhos azuis esverdeados e... aquela era a Ana! Sem sombra de duvidas, era a Ana, mas muito mais magra e bonita. Enquanto me recuperava do susto mais fotos estavam rolando pela tela, reconheci alguns alunos e me surpreendi quando vi professores também. Na próxima foto não só eu, mas Lion também, ficamos em choque. Era James e Júnior, usando ternos, supergostosos e muito mais adultos. Depois disso eu não falei mais nada, minha mente estava trabalhando em uma velocidade muito lenta.
— E então? Acredita? — Ele perguntou – Pode dizer o nome das pessoas que você reconheceu?
— Ana, James e Júnior – Respondi em um fio de voz.
— Então são esses nomes que eles estão usando agora? — Guardou o telefone novamente – Quando eu os conheci se chamavam Mackenzie Johnson, Fabian Alvares e Aidan Arantes.