“Não podia ser diferente. Tudo acontece por uma razão.”
Capítulo VII – “Eu amo você!”
O que eu estava fazendo? Isso é insano, absurdo. Isso é ruim!
- Sai daqui! – Empurrei-o com todas as minhas forças.
- Vai me dizer que não curtiu?
- Curtir? Você perdeu o juízo? Não é assim que funciona Miguel. Comigo não é assim. O que você ainda tá fazendo aqui? Sai daqui cara! – disse e sai para a Sala, abrindo a Porta e esperando a sua retirada. Que audácia!
- Você gostou eu sei... – disse ele passando por mim com um sorriso de canto de boca.
- Sai daqui mano! – e ele saiu.
O copo cheio de água sente medo da gota que o fará transbordar. Pensei que já tinha acontecido tudo naquele dia, já estava cheio. Talvez eu não esperasse, mas, era aquele o acontecimento que faltava para me fazer transbordar. Eu nunca esperava aquilo dele, mas mesmo gostando do beijo, me senti desrespeitado. Acho que o Miguel careceu de mais consideração pela minha condição. Estava frágil, e ele se aproveitou da minha situação. Cafajeste! Depois que tranquei a Porta, e ficar encostado nela pensando no que aconteceu, me assentei no sofá da Sala e comecei a pensar. Foi tudo muito rápido, e ele foi rápido, esperto, astuto e todos os sinônimos que vocês conseguirem encontrar para esses adjetivos.
Cheguei ao meu quarto e sentei na cama. Mãos no rosto, cotovelos encostados nos joelhos, e olhar fixo no chão. O beijo ocorrido há alguns instantes fez com que uma pergunta surgisse na minha cabeça: “Eu gostava de homens?” Pois, eu gostei do beijo do Miguel. Não! Eu não podia pensar aquilo. Minha mãe nunca iria me perdoar por eu me relacionar com outro igual a mim. Agora que tudo estava seguindo o seu rumo, tinha que aparecer mais esse conflito? Parece que minha vida agora seguia a bordo de uma borboleta, em que a mais branda brisa desestabiliza o voo.
Resolvi banhar e dormir. Aliás, tentar dormir, pois a minha cabeça estava com uma frequência de pensamentos impressionantes. E tudo era culpa... Não! Não era culpa dele. A água deslizava pelo meu corpo, mas parecia que eu nem estava debaixo do chuveiro. Sai do banho e me olhei no espelho. Ah! Que droga! Parece bobagem, mas se alguém que está lendo já passou por isso, sabe que não é fácil. No quarto ascendi uma vela para minha mãe e orei. Estava cabisbaixo em olhar para o seu retrato na escrivaninha. Olhei o celular, seu display dizia serem mais de 22h, além de mostrar que havia duas mensagens e três ligações perdidas. Sentei na cama e comecei a ler.
Vi a primeira mensagem, que era assinada pelo Miguel, assim versava: “Eu vacilei contigo mano. Eu esperei demais para fazer isso, tá ligado? Foi mal. Se cuida moleque.” Transcrevi sem as abreviações e erros de português, talvez porque fosse incompreensível. Foi isso que ele enviou. Logo ele, que parecia ser tão “machão”, mandando aquelas palavras, sinceras, diga-se de passagem. Exclui a mensagem e fui para a próxima, quem assinava era Anderson, meu amigão, dizia: “Oi Charles. Liguei para saber como você estava, mas você não atendeu. Boa noite! Abraços.” No momento que vi seu nome, me lembrei de não ter falado para ele que haviam prendido o algoz da minha mãe. Não pensei mais, liguei para ele.
- Oi! Anderson?
- Oi, Charles. Tudo bem?
- Tudo ótimo! – eu estava feliz em ouvir a voz daquele cara.
- O que aconteceu pro senhor está tão feliz? – deu uma risada.
- Você não vai acreditar... Prenderam o assassino da minha mãe cara!
- Fala sério? Cara que ótimo! Estou indo para o DP agora mesmo. É perto da sua casa não é? – com o fim da fala dele meu estômago embrulhou. Caramba! Eu esqueci de avisar para ele no momento da prisão.
- Er-er-er... Anderson, eu já estou em casa. Ele foi preso por volta das 19h.
- 19h? Como assim? E por que você não me avisou Charles?
- Eu esqueci completamente Anderson, eu fiquei tão eufórico com a situação que não lembrei nada...- Interrompeu-me.
- Nem do seu melhor amigo não é Charles? – sua voz tinha um tom triste agora.
- Ah! Anderson, eu não acredito que você vai ficar enraivado por causa disso. Eu estou ligando para você agora cara!
- E só agora... Mas tudo bem Charles, esquece. Eu disse para você que tudo iria se arrumar, e tudo está se arrumando.
- Desculpe-me Anderson. Não fique zangado comigo tá?
- Claro que não. Pelo contrário, estou muito feliz que esse safado vai pagar por tudo que fez. Você entrou recentemente na minha vida, mas já significa muito para mim.
- Para mim também Anderson, você é como um irmão. – quando eu disse isso um pensamento invadiu minha mente: “E o que o Miguel significava para mim?” – Agora irei dormir. Boa noite! Até amanhã!
- Até amanhã! Fique bem. Tchau.
Deixei o aparelho de lado e me deitei na cama. Virava de um lado para o outro e não conseguia dormir. Só conseguia pensar nas atitudes do Miguel, desde o beijo até a mensagem. Nunca esperava isso dele. Depois de tanto pensar, e cansar minha mente com isso, minhas pestanas ficaram pesadas e adormeci.
O dia chegou ofegante, e eu no embalo dele, me livrei da cama em um salto. Depois de tanto pensar, na noite passada, decidi que deveria manter o foco nos meus estudos e nos desejos da minha mãe, consequentemente. Deixaria o tempo agir, mas manteria o controle sobre a minha vida. Fiz minha higiene, preparei minha refeição e segui para o Curso.
Quando chego à Sala de Aula, sento perto da Sabrina que já estava lá.
- Bom dia! – sorri para ela.
- Bom dia Charles, como vai?
- Tudo bem! – Lembrei-me de informa-la que o delinquente que matou minha mãe estava preso.
[...]
- Charles que ótimo! Viu? Com o tempo tudo vai se arrumando. Tenho certeza que esse infeliz será condenado. A justiça será feita.
- Muito obrigado Sabrina! – sorri para ela.
- Nossa você tá muito bem vestido hoje! – ela me disse sorrindo. E nesse momento eu corei.
- Ah! São seus olhos. Você é que é linda. – sou “salvo” dos elogios de Sabrina graças ao Anderson que vem chegando. Levantei-me e o cumprimentei.
- Tudo bem amigão? – sorrindo ele pegou na minha mão.
- Tudo legal e você?
- Estou ótimo! Tudo bem Sabrina? – ele falou, forçadamente olhando para Sabrina, e sentando-se ao meu lado.
- Tudo ótimo gato! – respondeu com um sorriso fraco.
Depois disso o Professor chegou para ministrar sua aula. E a manhã passou ritmada, com a Sabrina sempre conversando comigo e o Anderson meio ranzinza e carrancudo. Acho que os dois não tinham combinavam muito, sempre evitavam se falar, e quando se falavam era para corrigir algo que o outro dizia. Não me sentia bem nessa situação, era como se eu estivesse sendo alvo de uma rixa. As aulas terminaram e estávamos saindo da Sala de Aula.
- Charles! – Sabrina me chamou.
- Oi Sabrina! O que houve?
- Agenda meu número. – ela me passou um papel, o qual estava anotado uns números.
- Ah! Claro. – dei um sorriso para ela. “Uma menina tão linda, dando bola para um cara como eu...” Nos despedimos e segui até o estacionamento com o Anderson.
- O que tinha naquele papel? – perguntou Anderson em tom sério.
- Ah! É o número de telefone da Sabrina, ela me passou. – ele balançou a cabeça em reprovação. – Oras! O que foi? O que você tem contra ela?
- Nada cara! Eu só não gosto do jeito que ela te trata. Ela é muito enxerida e antipática.
- Você fala isso, pois vocês vivem discutindo. – ele me encarou com mais raiva.
- O que? Você defendendo ela? Não acredito cara! Mas tudo bem... Fique com ela. – e saiu apressando o passo. Porém eu também acelerei e consegui alcança-lo antes dele sair na moto. Cheguei desliguei a máquina dele e tirei a chave do contato.
- Fala sério Anderson! Você tá com raiva por causa da Sabrina? – ele desceu da moto, tirou o capacete e veio em minha direção.
- Devolve a chave agora! – ele apontou para a chave.
- Não devolvo! Você vai ter que dizer o que tem contra ela agora! – ele então cruzou os braços e sorriu ironicamente.
- Então você quer saber não é? Tem certeza? – ele estava estranho, me encarava como se vasculhasse minha alma. Eu estava ficando nervoso com a situação. Então aspirei ao máximo o ar que pude e falei.
- Tenho certeza! Diga! – encarei-o esperando o que vinha.
- Ok! Você que pediu... – seus olhos transbordaram lágrimas e ele falou. – Eu amo você! Amo você desde a primeira vez que o vi! E não suporto a ideia de que você esteja com outra pessoa! – eu preferia não ter ouvido nada daquilo. Fiquei sem chão. Só conseguia olhar para ele paralisado e extasiado com aquelas palavras.
Continua...
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Pessoal, mais uma vez, muito obrigado! Vocês são demais! Um abraço para todos e para cada um de vez. Até logo!