COMO SEMPRE ALERTANDO: Violencia física e psicologica ocorrem com certa freqüência nessa historia. Caso esse tipo de conteúdo o desagrade ou não o interesse, recomendo a não continuidade da leituraCapitulo 8 – Adestrando Betão
A situação era exatamente assim na casa dos Mattos:
Dentro da residência apenas as empregadas responsáveis pela limpeza, arrumação e cozinha. Todas chefiadas pela Governanta Senhora Francis, na verdade Franciele mas ela achava mais chique ser chamada de Francis, mas isso não tem a menor importância nessa história. A governanta era de extrema confiança dos Mattos, a mais de 22 anos trabalhando com a família cuidava da casa com mão de ferro. Nenhum empregado deveria dirigir a palavra as residentes a não ser que estes puxassem assunto. Discrição dos assuntos era uma obrigação, ninguém pagava tão bem na região quanto os Mattos, por isso ninguém queria perder o emprego ali, mas uma única palavra sobre a vida dos patrões dentro ou fora dos muros, se descoberta, a demissão era sumaria e o empregado nunca mais encontraria emprego na região.
Já na área externa ficavam o motorista, jardineiro e o caseiro, todos sobre comando do chefe segurança, um homem estranho, que era velho conhecido de Senhor Cristóvão, Fred. Sempre a serviço do patrão ele ia além da simples segurança da morada e dos moradores. Na verdade ele comandava duas classes diferentes de homens. Os que cuidavam da residência geralmente de boa aparência, sempre bem vestidos em seus ternos e muito educados. E os capangas, um pequeno grupo de marginais que serviam aos propósitos de Cristóvão. Ele também tinha autorização dele para utilizar Betão como uma peça chave. Betão quando sobre comando do avô ou de Fred era extremamente violento. Parecia isento de emoções e de vontade própria. Na verdade a crueldade não emanava dele, mas sim daqueles que o comandavam. Ele não tinha naturalmente a ideia, de por exemplo, quebrar o braço de uma vitima, ele o fazia obedecendo ordens. Quando não havia estas ordens e na presença de ambos ele se mantia parado, congelado, como que m robô, aguardando por instruções. Esse adestramento de Betão começou anos atrás.
Ainda na primeira infância Betão foi levado do pai. Cristóvão queria o que não conseguiu de Raul. A total e completa submissão. Raul nunca amou a esposa, casou-se porque o pai o obrigou, era a chance deles entrarem na carreira política, pois os seu novo sogro era. Um conhecido capitão anda região. Os protestos da mãe contra a retirada do seu primogênito de nada tocou o coração de Cristóvão e seu filho embora não tão submisso quanto ele queria, era submisso o suficiente para não enfrenta-lo.
Betão cresceu basicamente na base da pancada. Bastava um olhar que o avô não gostasse para que a mão pesada do velho recaísse sobre ele, o que acontecia diariamente no inicio. Betão tinha dificuldades em aceitar a distancia da mãe e constantemente enfrentava o avô. Mas a violência dele crescia exponencialmente, com o tempo ele passou a apanhar sem saber o motivo. Betão começou a acreditar que o motivo eram seus pensamentos contra o avô. Então para uma criança o poder daquele homem era grande demais para ser desafiado, dessa maneira, conforme ele foi se deixando domar, as surras diminuíam, a ponto de ter dias sem apanhar.
O avô também o educava. Betão frequentou os melhores colégios, escolinhas esportivas, o velho cuidava da sua alimentação e educação, ele mesmo. E foi assim que ele mudou as duas personalidades de Betão. A do garotão, playboy, que curtia a noite, andava bem vestido, sedutor e pouco puxado para o "Pit boy" devido seu constante treino em artes marciais, e a outra personalidade, impiedosa, insensível e altamente dominada por Cristóvão. Com o passar dos anos Betão foi ficando maior e mais forte. Os tapas de Cristóvão não surtiam mais efeito naquela montanha de músculos, então os castigos, com ou sem motivos, começaram a ficar mais pesados e mais cruéis, até que apareceu Fred, amigo vindo ninguém sabe de onde, de Cristóvão. A única coisa que se sabia ao certo era da sua passagem pela prisão, mas o motivo desta era ignorado por todos. Dessa história toda estava a incrível coincidência de que quando Cristóvão voltou com o seu soldado pronto para morar com a família, logo após uma briga com o coronel que até então mandava na cidade, no dia seguinte a sua volta 4 homens da segurança dele apareceram mortos e o coronel desaparecido até os dias atuais. Nunca se soube o que realmente aconteceu.
Não foi com espanto que os empregados da casa assistiram Fred atravessar do fundo a garagem da propriedade com aquele monte que misturava o branco da pele e o vermelho do sangue sobre o ombro. Caminhava calmamente e assoviava tranquilamente, indo em direção a camionete, aonde arremeçou Betão totalmente destruído sobre a caçamba como que joga um saco de esterco. A pancada fez que Betão recuperasse a consciência. Mas não atreveu a se mexer, ficou caído na posição que estava, por experiencia, sabia que se Fred o percebesse acordado voltaria a apanhar mais.
Fred fechava a tampa da carroceira quando ouviu o seu nome ser chamado. Era Cristóvão.
Cristóvão: -E então?
Fred: -Tudo no esquema. To levando agora pro doto colar os cacos.
Cristóvão olhou para a mão dele e viu o sangue, se aproximou e olhou por cima da camionete e viu Betão envolto no próprio sangue.
Cristóvão: -Tem certeza que não exagerou?
Fred: -Agora, depois de quase 10 anos você se preocupa com a surra ué dei nele? O coração tá ficando mole?
Cristóvão: -Minha única preocupação é perder meu soldado modelo. Foram 20 anos para deixar ele no ponto que esta hoje. Não quero meu investimento.
Fred: -Calma, ele tá vivo e vai ficar bem, o problema é que o rapaz tá ficando bruto. Pra machucar ele to precisando usar mais força. O moleque tá fortes pra caramba.
Cristóvão: -Ok, eu confio em você, como você disse são dez anos. Ah! Traz os remendinhos de minha nora, ela começou a me encher por causo do filhinho novamente.
Fred seguiu seu caminho para deixar Betão no concerto.
Enquanto isso o clima fechava no quarto de Ana na roça da família de Ricardo.
Ana gritando com Ricardo: -O QUEELE FEZ COM O MEU NOIVO!!!???? É SÓ O QUEME INTERESSA!!!!
Ricardo tentando acalma-lá, ele não esta morto, eu te garanto isso. Não foi Betão que o mandou embora, pelo menos não diretamente.
Ana ainda nervosa: -Como você pode saber disso!?
Ricardo: Porque Betão me garantiu e escareio nele.
Ana parecendo finalmente acreditar no primo: -Como você sabe que ele nao mentiu para você?
Ricardo sorrindo levemente: -Porque eu sei.
Ana: -Porque ele disseque Carlinhos não servia mais como homem?
Ricardo achava que quem devia contar se quisesse para Ana e não ele, por isso achou mais conveniente naquele momento mentir: -Porque ele apanhou de Betão, esqueceu?
Ana: -Mas se apanhar dele tira a hombridade então metade da cidade não é mais homem.
Ricardo riu: -Betão nunca apanhou em uma briga dessas pela cidade?
Ana enxugando o rosto: -Não que eu saiba, mas de vez enquanto ele aparece com um olho roxo ou coisa assim. Mas acho que é dos treinos malucos dele.
Ricardo: -O que você sabe do avô dele.
Ana: -Não muito. Só que ele é o novo dono da cidade desde a morte de Coronel Jacinto, o pai da nora dele.
Ricardo: -E da relação dele com Betão?
Ana: -Ate onde sei eles se dão bem. Porque dessas perguntas todas?
Ricardo respirou fundo: -Eu descobri um segredo digamos podre da família.
Ana com ar assustado: -Então esqueça! Ninguém descobre alguma coisa deles e sai impune.
Ricardo: -Ana eu não posso esquecer. Envolve Betão, e acho que se eu fizer tudo certo eu posso ajudar ele e tirar eleva situação que ele vive.
Ana: -Que situação? De riqueza? De vida boa?
Ricardo esqueceu que ninguém sabia o que ele sabia de Betão: -Esquece, descansa prima.
Beijou a testa da prima e deixou o quarto. Ele sabia que era perigoso, arriscado, mas algo que nem ele mesmo entendia, compelia ele a ajudar Betão, por isso que após 3 horas andando de um lado para outro no curral naquela noite a espera de Betão o preocupou tanto.
"Será que ele não conseguiu fugir?"
"Teria ele dito para o avô sobre ontem e o castigo piorado?"
Eram essas e tantas outras perguntas que o perturbava. As 23hs ele decidiu ir atrás de Betão. Entendia os riscos, mas ele precisava de alguma noticia. Foi por pura sorte que na metade do caminho o motorista da casa dos Mattos o encontrou no caminho.
Motorista: -Aonde você tá indo rapaz a essa hora?
Ricardo: -Para a chácara, preciso de noticias de Betão.
Motorista: -Entra ai rapaz.
Ricardo entrou no carro o motorista fez o retorno.
Ricardo: -Para onde você esta me levando?
Motorista: -Eu não sei qual a relação doida que você tem com o Betão, mas sei que tem algo ai e eu não quero saber. Mas se você tanto quer te levo até ele, mas ninguém pode que fui eu.
Ricardo: -Ninguém vai saber, promessa. Você sempre soube das coisas que o avô dele faz?
Motorista: -Sempre, mas morro dizendo que é mentira, não quero me envolver nessa história. Já vi muita gênese dar mal nela.
Chegaram até uma das praças da cidade cercada de casas.
Motorista apontando para uma das casas: -Aquela é a casa. Se quiser realmente ver ele vai ter que pular o muro do fundo e ir até a janela. E janela você vê ele. Não vou te esperar. Você vai ter que voltar andando.
Ricardo: -Tudo bem e obrigado?
Ele fechou a porta do carro e fez a volta na casa e com muita dificuldade pulou o muro, deu em um quintal escuro, encontrou a janela. Esta estava aberta. Ao olhar por ela viu Betão deitado na cama, com o cobertor e com soro no braço. Decidiu não acorda-lo, já tinha o visto era o que importava, quando ia sair ouviu.
"Entra ai cara, não precisa ter medo"
Ricardo: -Você tá acordado?
Betão: -Claro né? Já viu gente dormindo conversar?
Ricardo abriu mais a janela e pulou por ela: -Você tá sozinho aqui?
Betão: -Não, a enfermeira ta lá dentro mas essa não acorda fácil, já é velha conhecida minha. Uma vez passei mal aqui tive que gritar muito pra ela acordar.
Ricardo: -O que aconteceu com você.
Betão fez uma longa pausa parar responder: -Eu mereci, mas tá tudo bem, eu queria ir levar a grana pra você e tu não me obrigou a nada. Eu que quis ficar lá, comer lá, eu também falhei, tinha que ter evitado o jornal, tudo foi culpa minha e eu mereço tudo isso.
Ricardo assustado: -Do que você essa falando.
Betão: -Do meu castigo.
Ricardo: -Você contou para seu avô que foi lá para casa?
Betão: -Não, nem precisava, (olhou para porta e para janela), ele sabe as coisas que penso. Eu não sei como, mas ele sempre sabe.
Ricardo: - Betão isso é ridículo!
Betão não respondeu nada, apenas ficou calado.
Ricardo então foi até o interruptor e acendeu a luz. O rosto dele estava praticamente deformado, o olho esquerdo de tão inchado e roxo não abria e o direito, roxo e com sinal de um derrame, ou seja, a parte branca manchada de vermelho.
Ricardo espantado: -Meu Deus! Quem foi o ser humano capaz de fazer isso com você!
Betão: -Nem importa cara. Deixa lá. Como eu disse, eu mereci.
Ricardo: -Betão ninguém merece ser tratado assim. Ninguém rapaz. Porque você permite que isso aconteça?
Betão mantendo sempre um ar sério: -Não tem jeito cara, eu não posso fazer nada.
Nem Ricardo entendi e nem Betão conseguia explicar o que compelia ele ao domínio do avô. Era algo completamente incompreensível para os dois. Ricardo não falou mais nada e nem Betão. Ele se sentou ao lado da cama e ali ficou sentado a noite toda. Ninguém dormiu, ninguém falou. Apenas ficaram ali, fazendo companhia um para o outro. Experiencia pela qual nunca Betão tinha passado na vida. E mesmo sem nada dizer, sem um único olhar que o denunciasse para Ricardo, ele esta feliz de ter levado aquela surra, sem ela, eles não estariam ali.