Amor nas Alturas - Capítulo 07: Filósofos e Poetas

Da série Amor nas Alturas
Um conto erótico de Th1ago-
Categoria: Gay
Contém 1696 palavras
Data: 01/12/2024 22:07:27

Pedro estava deitado na cama do quarto de hóspedes da casa do irmão, os olhos fixos no teto, mas sua mente em um lugar bem distante. Desde que chegara de viagem, não tinha pensado em voltar para sua própria casa. Achou melhor ficar por ali, afinal, o casamento seria logo no dia seguinte, e a casa do irmão parecia oferecer alguma sensação de acolhimento que ele tanto precisava.

Mas a verdade era que ele não encontrava paz. Cada tentativa de ligar para Luiz resultava no mesmo som frustrante: caixa postal. Aquele som monótono parecia zombar de suas esperanças. Pedro não sabia o que pensar. Será que Luiz havia desligado o celular? Será que ele tinha bloqueado o número? Ou pior, será que ele simplesmente desistira de tudo?

Ele rolava na cama, inquieto. O que eles tinham vivido dentro daquele avião parecia tão real, tão palpável. Mas agora, o silêncio do outro lado da linha fazia tudo parecer uma ilusão. Pedro só queria uma resposta. Mesmo que fosse um "não", ele precisava de algo que o ajudasse a seguir em frente.

Quando estava prestes a desistir, ouviu uma batida leve na porta. Antes que ele pudesse responder, a noiva de seu irmão, Sofia, entrou com um sorriso suave.

— Pedro, tá tudo bem? Precisa de alguma coisa? — perguntou ela, mas seu sorriso se desfez ao notar o olhar abatido de Pedro.

Pedro suspirou, sentando-se na cama.

— Não... Não precisa se preocupar.

Sofia cruzou os braços, sem se convencer.

— Você tá com uma cara péssima. O que tá acontecendo?

Pedro hesitou por um momento, mas havia algo no jeito acolhedor de Sofia que o encorajava a desabafar.

— Eu não sei, Sofia... Eu só... — Ele passou a mão pelo cabelo, frustrado. — Conheci alguém no voo pra cá. Alguém incrível. Foi... diferente de tudo que já senti antes.

Sofia se sentou ao lado dele, interessada.

— E isso é ótimo, não é?

Pedro balançou a cabeça.

— Seria, se eu conseguisse falar com ele. Desde que chegamos, eu tento ligar, mas só dá caixa postal. Não sei se ele desligou o celular ou se simplesmente decidiu me bloquear.

Sofia o olhou com empatia.

— E você acha que ele faria isso? Assim, do nada?

Pedro respirou fundo, tentando organizar os pensamentos.

— Eu não sei. A conexão foi tão intensa, mas ao mesmo tempo... Sei lá, a gente mal se conhece. Talvez eu esteja sendo um idiota por pensar que algo tão forte poderia surgir tão rápido.

Sofia sorriu levemente.

— Pedro, às vezes as coisas mais intensas acontecem sem aviso. O amor, ou o que quer que isso seja, não tem um manual. Ele simplesmente acontece.

Pedro encarou o chão por um momento, antes de levantar o olhar para ela.

— Eu nunca fui bom com isso, sabe? Sempre vivi sozinho, depois que minha mãe morreu, eu meio que me fechei pro mundo. Mas Luiz... Ele me fez sentir algo que eu nem sabia que ainda podia sentir.

Sofia colocou a mão no ombro dele.

— Isso é lindo, Pedro. E é exatamente por isso que você não pode desistir.

Pedro sorriu, mas ainda havia um brilho de tristeza em seus olhos.

— Eu tô disposto a tentar, Sofia. Pela primeira vez em muito tempo, eu quero abrir meu coração. Mas e se ele não quiser o mesmo?

Sofia pensou por um momento antes de responder.

— Você só vai saber tentando. O amor não é sobre garantias, Pedro. É sobre se arriscar, mesmo com medo.

Pedro assentiu, absorvendo as palavras dela.

— E você e o meu irmão? Como vocês lidam com isso? Com as incertezas?

Sofia riu levemente.

— A gente tem nossos altos e baixos, como todo casal. Mas no final do dia, sempre voltamos um pro outro. O amor não é perfeito, Pedro. É sobre estar disposto a lutar, mesmo quando as coisas ficam difíceis.

Pedro olhou para o celular novamente, como se esperasse que ele magicamente começasse a tocar.

— Você acha que eu tô sendo bobo?

Sofia balançou a cabeça.

— Acho que você tá sendo humano. Amar é uma das coisas mais corajosas que podemos fazer.

Pedro sentiu uma onda de alívio ao ouvir isso.

— Obrigado, Sofia. Eu precisava ouvir isso.

Ela sorriu e se levantou.

— Sempre que precisar. Agora tenta descansar, tá bom? Amanhã vai ser um grande dia.

Pedro assentiu, mas sabia que o sono seria difícil de encontrar. Enquanto Sofia saía do quarto, ele ficou ali, sozinho com seus pensamentos, ainda segurando o celular como se fosse um fio de esperança. Por mais difícil que fosse, ele sabia que não estava pronto para desistir. Não ainda.

Enquanto isso, em outro canto da cidade, Luiz fechou a porta do quarto de hotel e deixou-se cair na poltrona próxima à janela. O céu de Roraima escurecia lentamente, e as luzes da cidade começavam a se acender, como pequenos vaga-lumes urbanos. Ele suspirou, a mente agitada, o coração inquieto. Não tinha celular para se distrair, nem força para ler os artigos que trouxera consigo. Tudo o que restava era o silêncio do quarto e a companhia de seus pensamentos.

Ele ligou a TV, mas logo desligou. Não havia nada ali que pudesse competir com a tempestade de emoções que o dominava. Levantou-se e foi até a janela, observando o movimento lá fora. Cada carro que passava, cada pessoa que caminhava pelas calçadas, fazia-o imaginar onde Pedro estaria naquele momento.

“Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”, murmurou para si mesmo, recordando as palavras de Hamlet. E não era verdade? Como explicar o que sentia por Pedro, alguém que conhecera há tão pouco tempo, mas que parecia preencher um vazio que ele nem sabia que existia?

Ele se recostou na parede, os braços cruzados, a mente perdida. Era absurdo pensar que duas pessoas pudessem se conectar tão profundamente em poucas horas? Ou será que ele estava se enganando, confundindo o desejo de não estar sozinho com algo mais?

“O amor é uma fumaça feita com o fumo dos suspiros”, lembrou-se da descrição de Romeu em sua trágica história com Julieta. Seria esse o tipo de amor que ele e Pedro compartilhavam? Algo fugaz, intenso, mas fadado a desaparecer com o tempo?

Luiz balançou a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos. Mas era impossível. A ansiedade o consumia. Será que Pedro estava tentando ligar? Será que ele, do outro lado, também sentia essa mesma inquietação?

“O inferno são os outros”, disse em voz baixa, ecoando Sartre. Ele sabia que o verdadeiro inferno, no entanto, não eram as pessoas, mas a distância. Aquela barreira física que tornava tudo mais complicado. Eles moravam em mundos diferentes, separados por milhares de quilômetros. Quem estaria disposto a sacrificar sua vida pelo outro?

Luiz deixou escapar um riso amargo. Ele sempre acreditara que o amor era uma questão de probabilidades, uma equação a ser resolvida. Mas Pedro... Pedro bagunçava todos os seus cálculos.

“De todas as formas de cautela, a cautela no amor é talvez a mais fatal para a verdadeira felicidade”, lembrou-se de Bertrand Russell. E não era exatamente isso que ele fazia agora? Tentava racionalizar o que deveria ser sentido, tentando proteger-se de algo que já o havia atingido em cheio.

Ele passou a mão pelo rosto, frustrado. Fez um esforço para se convencer de que tudo isso era apenas uma aventura passageira. Afinal, quanto se pode realmente conhecer alguém em algumas horas de voo?

“Amar é admirar com o coração. Admirar é amar com o cérebro”, ele citou Theophile Gautier, pensando no quanto admirava a coragem de Pedro, sua capacidade de se abrir e sentir sem medo. Luiz, por outro lado, sempre fora metódico, fechado, preso em suas próprias defesas.

Mas, se o amor não era algo que se podia medir ou calcular, então o que ele estava esperando? Luiz sentiu o peso da dúvida novamente. E se, por algum milagre, eles realmente tivessem encontrado algo raro? Algo que, mesmo com todas as probabilidades contra, valia a pena lutar?

“E, quando ele morrer, cortai-o em pequeninas estrelas, e ele fará o rosto do céu tão belo que todos se apaixonarão pela noite”, murmurou, lembrando novamente de Romeu e Julieta. Talvez o amor, assim como as estrelas, só pudesse ser apreciado à distância, mas sempre brilharia, mesmo na escuridão.

Luiz voltou para a poltrona, os olhos voltados para o céu agora totalmente escuro. Ele sabia que, no fundo, queria mais do que apenas memórias de um voo. Ele queria Pedro. E se isso significava desafiar a lógica, a distância e até mesmo o tempo, ele estaria disposto a tentar. Amanhã, com sorte, teria seu celular de volta. E com ele, talvez, uma chance de lutar pelo que realmente importava.

Ali, em Roraima, sob o mesmo céu estrelado, Pedro e Luiz estavam separados por ruas, prédios e circunstâncias. Pedro deitado na cama do quarto de hóspedes da casa de seu irmão, e Luiz na poltrona do quarto de hotel, ambos perdidos em pensamentos e sentimentos que mal conseguiam compreender.

Cada um, em seu canto, acabou se voltando para a mesma fonte de consolo: as estrelas. Pedro levantou-se, abriu a janela e deixou o ar fresco da noite invadir o quarto. Luiz, já na janela, permanecia observando o céu, a mente girando em torno de uma única pessoa.

As estrelas brilhavam intensamente naquela noite, como se o universo quisesse recordar-lhes de que, apesar de tudo, havia beleza e esperança no mundo. Então, quase que ao mesmo tempo, ambos avistaram uma estrela cadente cruzar o céu.

No silêncio de seus quartos, fizeram o mesmo pedido, sem saber que o outro fazia exatamente o mesmo: encontrar o amor de suas vidas.

Enquanto o rastro da estrela se apagava, ambos sentiram um leve alívio, como se o universo tivesse ouvido suas súplicas. Um sorriso discreto se formou no rosto de Pedro, e Luiz suspirou profundamente, o coração um pouco mais leve.

“Se o meu coração não sentir amor, que nunca se abra; se eu for perjuro, que o fogo me queime.”

Era um juramento silencioso que faziam à noite, ao destino, às estrelas. Mesmo separados, cada um acreditava que, de alguma forma inexplicável, seus caminhos estavam destinados a se cruzar novamente. E quando isso acontecesse, eles estariam prontos.


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