Minha adaptação na casa da Carla foi muito melhor do que eu pensava. Acho que eu ter gostado do lugar ajudou muito, mas me sentir bem vinda ali foi sem dúvidas fundamental para eu me sentir à vontade. Paula ajudou muito nisso, ela era uma garota muito gente boa e tínhamos algo em comum. Ela tinha acabado de começar seu curso de direito, ao contrário da mãe, do tio e dos avós, ela não quis fazer medicina. Eu e ela em poucos dias já viramos tutora e aprendiz. Ela tinha fome de conhecimento nessa área e eu tinha muito a ensinar. Nós nos tornamos muito parceiras, algo que gerou até algumas reclamações de Carla no início. Ela dizia que as duas mulheres da sua vida estavam dando mais atenção aos livros de direito do que a ela. Claro que era brincadeira, já que tanto eu quanto Paula a amávamos muito e nunca deixamos de demonstrar isso.
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Já tinha se passado um ano do meu acidente, eu nunca imaginei que algo tão ruim poderia me trazer coisas tão boas. Sinceramente se eu pudesse voltar no tempo até o momento que eu estava na beirada daquela calçada, eu não evitaria aquele acidente, provavelmente eu me jogaria na frente daquele carro. Eu sei que quase morri por duas vezes, que o primeiro mês de recuperação foi horrível e que eu preocupei muitas pessoas. Mas o resultado final foi tão perfeito que eu não teria dúvidas em passar por tudo aquilo de novo se o resultado final fosse o mesmo. Foram muitas coisas boas que surgiram depois daquele acidente.
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Meu namoro/casamento com Carla só foi se fortalecendo com o tempo. Decidimos não mudar nada em nosso status oficialmente. Nós vivíamos como esposa e esposa e nós nos tratavamos assim. Não tínhamos aliança ou anel para ser um símbolo da nossa união. Nem um papel assinado para oficializar nosso casamento. Acho que nem eu e nem ela ligavamos muito para aquilo. A gente se amava cada vez mais e vivíamos juntas em uma harmonia tão perfeita que achamos melhor não mudar nada para não correr o risco de atrapalhar. Mas nem todos os casais pensavam como nós.
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Marina e Carol estavam noivas e de casamento marcado. Marina cumpriu o que falou e fez o pedido em um jantar lindo na sua casa. Ela organizou um dos jantares mais bonitos que já vi até hoje. Tinha tudo e mais um pouco, o pedido foi feito ao som de violino e na frente das famílias e amigos das duas. Carol chorou muito nesse jantar, ela realmente não esperava ser tratada como uma princesa como ela foi. Carol é de família humilde, seus pais se sacrificaram muito para poder dar condições dela estudar. Mas valeu a pena, hoje ela é uma grande profissional e vai se casar com uma das mulheres mais ricas da cidade. O investimento que os pais fizeram nela valeu a pena. Fora que criaram uma mulher educada, de caráter e de bom coração. Até mesmo o pai que não aceitou bem sua sexualidade no início, hoje tem orgulho da filha que tem e a trata como todos os pais devem tratar seus filhos, com muito amor, carinho e respeito.
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Carol e Marina além de se darem super bem é um dos casais mais bonitos e amorosos que já vi. Só de ver elas juntas e como se tratam, fica nítido o amor que existe entre elas. Com certeza logo vão estar casadas e iniciaram sua família, já que as duas querem ter filhos. Eu já me candidatei para ser madrinha de todos, mas se eu for do primeiro já está ótimo, se eu não for, teremos um problema sério na nossa amizade. 🤭
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Outro casal que vai muito bem é Michele e Fernando. Os dois reataram o casamento para a felicidade da Rafaela. Ela não aceitou muito bem que eu e sua mãe não iríamos mais ser um casal. Ela não brigou, não deu nenhuma crise de choro, nem nada disso. Mas ficou estampado na sua cara que ela não ficou feliz com aquilo. Ela sempre tratou Carla muito bem, até porque Rafael gostava dela. As duas se dão muito bem e Rafaela diz que quer ser médica igual a tia Carla. Porém as vezes em conversas comigo ou com sua mãe ela deixava escapar o desejo que ela queria que nós três morassemos juntas como antes. Infelizmente esse desejo dela não tinha como ser realizado. A gente passava muito tempo juntas, principalmente nos finais de semana que Rafaela e Michele passavam o domingo todo na minha casa. Michele e Carla acabaram virando boas amigas, a convivência comigo acabou aproximando muito as duas. Carla nunca demonstrou ciúmes ou coisa do tipo e Michele sempre deixou claro que não tinha nenhuma intenção de atrapalhar nosso relacionamento. Ela fez questão de conversar sozinha com Carla na primeira vez que ela veio nos visitar com Rafaela. Ela quis deixar claro que a única coisa que ela queria era poder conversar comigo e trazer a filha para ver a mãe que ela adotou.
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Rafaela ficou muito feliz quando os pais reataram. Isso aconteceu logo após Michele sair da clínica. Ela não tinha para onde ir e até considerou voltar a morar no meu apartamento. Eu ofereci para ela já que ele estava vazio, mas ela realmente não queria morar lá novamente. Acho que ela ficou mais traumatizada com o lugar do que eu, mas como ela não tinha outra opção disse que iria aceitar. Porém Fernando ao saber disso, achou melhor que ela voltasse a morar na antiga casa deles, pelo menos até ele achar uma casa para alugar para ela perto da sua. Era algo temporário, mas com os dois na mesma casa, velhas chamas se reacenderam. Os dois acabaram se envolvendo de novo e reataram. Eu fiquei muito feliz por isso quando Michele me contou. Dava para ver que ela estava feliz com isso e ela me confessou que só fez isso porque realmente aquele amor que ela sentia por ele voltou. Os dois estavam felizes com aquilo, eu também. Mas Rafaela com certeza foi a que mais ficou feliz. Seus pais estavam juntos novamente, felizes e morando juntos. Ela realmente estava explodindo de felicidade com aquilo.
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Minha vida se tornou quase perfeita depois que saí do hospital, mas nem tudo são flores. Tive que dar meu depoimento no último julgamento do meu irmão. Ele já tinha sido julgado e condenado pelos outros crimes. Ele tinha mais de trinta anos de detenção para pagar para a justiça, 20 deles fechado. Com a sentença que ele poderia pegar no processo que eu estava envolvida como vítima, ele poderia pegar mais quase 12 anos, 8 deles fechado. Ter que ficar na mesma sala com meu irmão não era algo que eu queria. Então fiz um pedido para que ele não estivesse no recinto e com a ajuda do meu advogado eu consegui que o juiz atendesse o meu pedido. Dei meu depoimento tranquilamente sem a presença dele, mas mesmo assim reviver aquilo tudo não foi legal.
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A última audiência foi marcada para dois meses depois, mas essa audiência nunca aconteceu. Meu irmão foi achado morto dentro da sua cela. Alguém colocou uma caneta no seu ouvido e bateu até a caneta quase atravessar seu cérebro ao meio. Ninguém sabe quem foi, os outros presos juraram que estavam dormindo. Ninguém viu ou ouviu nada na noite da sua morte. E sinceramente acho que a polícia não se esforçou muito para descobrir quem foi que o matou, para eles só foi um bandido a menos. Acho que a única pessoa que ficou triste com esse acontecimento foi minha mãe que também veio a falecer por causa de um infarto, três meses depois. Não fui no velório de nenhum deles, paguei os custos do da minha mãe para que ela fosse enterrada com dignidade, mas não fui e não derramei nem uma lágrima. Sei que fui julgada por algumas pessoas da minha família, mas não ligo. Eu não iria no velório fingir que estava triste por causa da morte de alguém que eu não tinha sentimento algum.
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Eu retornei ao meu trabalho um mês após sair do hospital. Segui trabalhando no escritório como antes. Marina passou o apartamento para o meu nome, mesmo eu deixando claro que não iria voltar a morar lá, ela me deu ele. Hoje ele está alugado e me rendendo um dinheiro extra todo mês. A justiça me passou todo o dinheiro do Lucas e bens que estavam bloqueados. Não era muita coisa, mas pelo menos recuperei um pouco do que ele me roubou. A casa da minha mãe também ficou para mim e a vendi logo que o inventário ficou pronto. Estou longe de ter o dinheiro que eu tinha, mas tenho uma boa grana guardada novamente. Carla voltou a trabalhar durante o dia e Carlos continuou trabalhando durante o dia também. Eles decidiram deixar a parte da noite para outro médico da confiança deles. Carlos resolveu focar mais na administração do hospital e Carla na parte de medicina. Os dois estão trabalhando menos e com mais tempo para a família. Eu e a Catarina ficamos muito felizes com isso.
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Eu nunca deixei de fazer minhas sessões com minha psicóloga, Catarina foi diminuindo a frequência aos poucos e depois de seis meses eu só ia uma vez por mês. As sessões realmente me fizeram muito bem. Eu saia daquela sala renovada depois de cada sessão. Michele também passou a fazer sessões com Catarina. Mesmo hoje ela trabalhando na clínica que ela ficou para tratar seu distúrbio, ela resolveu fazer as sessões no hospital. Ela fez uma vez por indicação minha e nunca mais parou. Graças a Deus ela hoje só faz uma por mês também. É incrível como ela superou tudo que ela passou, se livrou do seu vício, se curou do distúrbio e se tornou uma pessoa boa em tempo integral. Ela hoje é uma ótima mãe, esposa e ainda trabalha e estuda. Ela resolveu terminar sua faculdade e nós todos apoiamos. Logo ela terá seu diploma de administração e já tem uma vaga de emprego garantida na empresa da família da Marina.
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As pessoas que surgiram na minha vida após aquele acidente acabaram de alguma forma se aproximando das pessoas que já faziam parte dela antes dele. Hoje somos uma grande família que se apoiam uns nos outros. Sempre nos reunimos na minha casa aos domingos para almoçar, tomar um banho de piscina ou então fazer um churrasco que Carla adora. Quando não é na minha casa é na casa da Marina nos sábados à noite, ou é um jantar, ou então alguma festa para comemorar aniversários ou a conquista pessoal de alguma de nós. Sempre são basicamente as mesmas pessoas. Marina, Carol e suas famílias. Eu, Carla e a família dela. Maria e sua família. Michele, Fernando e Rafaela. Nos divertimos muito nesses momentos. Não tem aqueles problemas de fulano não gostar de ciclano, todos se dão bem e convivem em harmonia.
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Minha amizade com Michele funcionou incrivelmente bem, ela só não se tornou minha melhor amiga porque Marina é uma amiga fora do comum. Mas hoje posso dizer que estou muito bem de amigas e Marina pode dizer o mesmo. Não é só nós duas mais, hoje tem a Michele, Carla, Maria, Catarina, Paula e Carol. Temos amigas para todos os gostos, assuntos e conselhos. 🤭
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Eu e Carla não diminuímos o ritmo das nossas noites de sexo e amor que iniciamos no quarto daquele hospital. Na verdade, com mais privacidade e sem o medo de sermos pegas, ou ouvidas, as coisas até melhoraram. Eu nunca soube o motivo de eu só lembrar da sua voz, ou dela ter se apaixonado por mim mesmo quando eu estava em coma. Mas também não me importo, o importante é que aconteceu. Também não sei o motivo do meu irmão ser obcecado por mim, tem várias possibilidades, mas sinceramente também não me importo. Eu resolvi deixar essas coisas no passado e aproveitar ao máximo as coisas boas que elas me trouxeram. No mais, não tenho necessidade de saber os motivos.
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Eu só sei que naquele dia do acidente o impacto maior não foi do carro no meu corpo, mas sim no que aquele acontecimento iria causar na minha vida e na vida de tantas pessoas. Um impacto que mudou e transformou várias vidas e para os que sobreviveram a ele, mudou para melhor. Eu por exemplo ganhei um amor, novas amizades e uma nova chance de viver. E é isso que vou fazer. Viver intensamente essa minha nova vida ao lado da mulher que amo e sem dúvida nenhuma, ser feliz, muito feliz!
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FIM!
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper