<<<<Fabi>>>>
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Quando D° Luiza terminou de contar sua história eu senti um misto de tristeza e preocupação. Tristeza porque sua história teve várias partes felizes, mas o fim foi muito triste. Ver a tristeza nos seus olhos quando ela disse que só sobrou aquela carta ao final foi de cortar o coração. Eu também fiquei preocupada com a reação da Gabi. Ela sofreu muito com a separação dos pais, saber o motivo podia trazer alguma reação ruim com sua mãe. Mas não foi isso que aconteceu. Gabi não falou nada e foi novamente abraçar sua mãe que estava muito emocionada. E ouvi ela dizer várias vezes que iria ficar tudo bem. Dessa vez eu não me juntei a elas, deixei as duas ter o seu momento. Mas tinha algo que não saia da minha cabeça. E assim que D°Luiza e Gabi se separam eu falei.
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Fabi: D° Luiza eu posso fazer uma pergunta?
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Luiza: Claro Fabi, vocês podem perguntar o que quiserem.
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Fabi: Minha mãe sabia dessa história? Pelo que entendi ela não sabia quando você falou da Gabi ser lésbica, mas pelo que minha mãe nos contou a Srª não teria mais motivos para ter escondido depois que ela mudou seu modo de pensar. Ainda mais que ela é sua melhor amiga.
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Luiza: Você está correta em tudo que falou Fabi. Até aquele dia que saí da sua casa chorando depois da reação da sua mãe, ela não sabia. Sua mãe não contou a história completa porque ela quis proteger meu segredo. Quando saí da sua casa chorando não foi só por causa da Gabi, foi por minha causa também. Eu também era o "isso" que sua mãe disse de forma pejorativa. Quando ela veio atrás de mim e se desculpou, ela me pediu perdão por ter falado aquilo. Disse que amava muito Gabi e jamais quis ofender ela. Eu não sei o porquê. Talvez pela raiva ou tristeza que eu estava naquele momento, mas eu disse a ela que não era só Gabi que ela tinha ofendido. Eu falei com todas as letras que eu também fui ofendida.
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Claro que ela quis saber do que eu estava falando, falei para ela se sentar e contei tudo a ela. Acho que jamais ela imaginou isso e ficou bastante abalada. Mas de alguma forma minha história fez ela prometer que iria procurar aprender mais sobre pessoas gays. Que não tinha como isso ser algo ruim como a igreja pregava já que eu e Gabi éramos. Aquela conversa foi uma virada de chave no modo da sua mãe olhar pessoas como nós.
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Fabi me desculpe por ter guardado esse segredo de você. De ter feito sua mãe mentir para vocês para me proteger. Eu sinto muito mesmo.
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Gabi, minha filha, eu sei que errei com seu pai de certa forma. Uma das piores fases da sua vida basicamente foi culpa minha. Eu juro que nunca quis magoar ninguém, mas no fim acabei magoando você e seu pai. Desculpe.
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Fabi: Tudo bem, eu no fim só fui beneficiada por isso. Se não fosse pela Srª minha vida estaria bem complicada no momento. Na verdade eu só tenho a agradecer tudo que a Srª fez por mim.
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Gabi: Mãe, a Srª errou sim em não ter falado logo com meu pai, mas eu acho que é super compreensivo. Olha todas nós tinha nossos segredos. Basicamente passamos pelas mesmas situações de maneiras diferentes por causa de simplesmente amar alguém. Não mandamos nos nossos sentimentos, eu sou um grande exemplo disso. Se meu pai não ficou com raiva de você e te entendeu, quem sou eu para ficar com raiva ou magoada com a Srª? E outra, eu não tenho nem direito de te julgar. Só estou triste por você achar que te sobrou só essa carta porque isso não é verdade. Tem muita gente que te ama, principalmente eu que vou sempre estar ao seu lado, aconteça o que acontecer vou seguir te amando sempre mãe!
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Nessa hora nem eu me aguentei e derramei algumas lágrimas. As duas se abraçaram novamente e dessa vez o abraço e o choro durou algum tempo. Eu me levantei e fui até a cozinha. Peguei uma jarra de água, um copo e trouxe para o quarto. Fui ao banheiro e lavei o rosto. Quando voltei as duas já estavam menos emocionadas e bebendo água. Eu sentei novamente e Gabi veio até mim e me deu um beijo no rosto. Ela não falou nada, mas eu entendi o obrigado só dela olhar para mim. O clima foi melhorando. As duas também foram ao banheiro e lavaram o rosto. D° Luiza se sentou e perguntou se a gente queria saber de mais alguma coisa. Gabi foi mais rápida só que eu e fez a pergunta que eu iria fazer.
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Gabi: Mãe, a Srª° não escreveu de volta para a Joana? Ou procurou saber dela depois que se separou do meu pai? Porque para mim parece nítido que a senhora ainda a ama muito, mesmo depois de tantos anos.
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Luiza: Eu nunca escrevi de volta. Nunca tive coragem porque eu estava com o seu pai. Apesar de tudo eu devia respeito a ele. Depois que nos separamos eu pensei várias vezes em escrever de volta, mas desisti porque não sabia se ela ainda morava no mesmo lugar. Esse endereço da carta não é do sítio e sim de algum lugar na cidade. Eu também não sabia se ela estava com alguém, se tivesse eu poderia estragar a vida dela. Na verdade eu nem sequer sei se ela está viva filha.
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Depois de uns seis meses que seu pai foi morar em São Paulo, ele me ligou e disse que a procurou. Ele disse que foi até o sítio mas ela não morava mais lá. Os donos eram outros, mas confirmaram que compraram o sítio dela, porém não faziam a mínima ideia de onde ela estava depois de tantos anos. Bom aí eu desisti de vez mesmo. Resolvi esquecer isso de vez. Mas não consegui, mesmo depois de tudo eu ainda a amo. Mas aprendi a viver com as boas lembranças e suportar a dor que a saudade me trás às vezes.
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Gabi: Eu sinto muito mesmo mãe.
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Luzia: Tudo bem filha. Vocês ainda querem perguntar algo?
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Gabi disse que não e eu fiz o mesmo. Ela se levantou e disse que iria para seu quarto. Pegou a carta em cima da cama e guardou no envelope. Deu um abraço em nós duas e se foi com uma cara que era de dar dó. Gabi também estava muito triste, provavelmente não por saber do segredo da sua mãe, mas por vê-la tão triste.
Eu a abracei e tentei dar o máximo de conforto para ela. Mas parece que não resolveu muito.
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Gabi: Isso não é justo!!!
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Fabi: O que não é justo amor?
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Gabi: Minha mãe triste daquele jeito. Estamos todos bem e ela está nessa tristeza.
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Fabi: Isso é verdade. Sua mãe merece muito ser feliz, ela é uma pessoa incrível.
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Gabi: Mas parece que para ela ficar feliz de verdade é só se a gente trazer essa tal Joana para ela.
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Fabi: Então vamos tentar fazer isso amor.
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Gabi: Como assim? E você me chamou de que?
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Fabi: Vamos procurar a Joana para sua mãe. De amor, me desculpe, foi sem querer.
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Não sei o que deu nela, mas ela me deu um beijo tão gostoso.
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Gabi: Eu amei! Não se desculpe. Mas me explica esse lance de procurar a Joana para minha mãe.
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Fabi: Olha o Heitor me achou através do face e ele tinha bem menos informações do que nós temos da Joana. Ele só sabia o nome do meu pai e a cidade em que morava. Nós sabemos o nome completo da Joana, a cidade onde ela mora ou morava, sabemos mais ou menos a idade dela. Seu pai deve ter alguma foto dela ou então pode nos dar uma boa descrição dela. Se você não quiser perguntar para sua mãe, claro.
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Gabi: Gostei da sua ideia. Mas não quero perguntar para minha mãe não. Vai que dá errado, não quero dar falsas esperanças para ela não.
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Fabi: Você tem razão, seria muito ruim para ela ter uma decepção a essa altura.
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Aquela minha ideia foi assunto o resto da noite até a hora que dormimos. Até debaixo do chuveiro falamos sobre isso. Só não teve o assunto na mesa do jantar. Graças a Deus, D° Luiza estava com uma carinha melhor. Evitamos tocar no assunto Joana e ficamos sempre puxando assuntos aleatórios. Até que eu lembrei de algo que ainda era segredo.
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Fabi: Agora que lembrei que eu ainda tenho um segredo que ninguém sabe!
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Gabi: Como assim!?! Meus Deus tomara que seja uma coisa boa.
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Luzia: Amém!!! 🙏🏻
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Fabi: kkkkkk Calma gente, é uma coisa meio boba até, mas me lembrei que descobri e nunca contei a ninguém.
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Gabi: Fala logo Fabi, por favor!
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Fabi: Desculpe amor 🤭
Sabe a conversa no banheiro que eu ouvi e fez eu fazer aquela besteira?
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Gabi: Sim, das duas garotas falando da gente.
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Fabi: Então. Uma das garotas era a Carla.
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Gabi: Sério? 😳
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Fabi: Sim. Só que foi a outra que estava fofocando. Carla na verdade só dizia que não era da conta dela se fosse verdade. Mas ela que iniciou a conversa falando que queria dar uma beijos no Marcelo.
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Gabi: Você reconheceu ela pela voz?
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Fabi: Isso mesmo. No primeiro dia que Marcelo me apresentou ela. Mas não falei nada já que na verdade ela não falou mal da gente, nem rendeu assunto da fofoca. Aí deixei isso pra lá.
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Gabi: Será que ela se lembra disso?
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Fabi: Acho que não, mas vou perguntar a ela qualquer hora.
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Aquele assunto rendeu até o fim do jantar e depois voltamos para o quarto da Gabi. Já era pouco tarde e fora o cansaço físico porque ela tinha acabado comigo, ainda tinha o mental. Logo a gente dormiu. Acordamos cedo no outro dia e depois do café a gente foi às três para minha casa. Ajudamos a D° Luiza preparar o café e depois eu e Gabi fomos para o meu quarto. Lá começamos a executar nosso plano de achar a Joana. Enquanto combinavamos eu abri meu face e coloquei o nome dela completo nas buscas. Eu tinha visto o nome dela no envelope em cima da cama e era um nome relativamente fácil de guardar. Não foi difícil memorizar mesmo sem querer.
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Minha busca deu vários resultados, mas só 7 mulheres tinham o nome idêntico. 5 eu sabia que não era pela foto. Eram mais jovens. As duas outras eram mais ou menos na faixa etária da mãe da Gabi. 40 e poucos anos. Mas uma era bem branca, a outra era morena e parecia ser bem bonita na foto. Entrei no perfil e ela morava em Ribeirão Preto, mas era nascida em Itapecerica da Serra. Só podia ser ela.
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Gabi: Ei, você ouviu o que falei?
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Fabi: Não. Mas seja o que for, esquece. Acho que achei sua futura madrasta! 🤭
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Mostrei a tela do celular para Gabi e ela olhou por um tempo e arregalou os olhos.
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Gabi: Só pode ser ela. Pega uma foto e me manda no whats. Vou conferir com meu pai.
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Fiz o que Gabi pediu e logo ela ligou para o pai dela que não atendeu. Provavelmente está dirigindo ou ocupado. Ela mandou a foto no whats e um texto perguntando para o pai se ele conhecia aquela mulher. Depois de 10 minutos o pai dela ligou e ela atendeu. Pelo que ouvi era sim a Joana. Mas a ligação demorou muito porque o pai queria saber como descobrimos tudo. Aí Gabi contou todas as novidades para ele. No fim pelo menos ganhei a aprovação do sogro e os parabéns.
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Gabi desligou e confirmou que era mesmo a Joana. A gente vasculhou o face dela todo. Cada foto. Postagem ou algo que indicasse seu estado civil. Tudo indicava que ela era solteira. Que morava com um casal de amigos e o filho em um sítio. E o melhor, sabíamos a cidade e o nome do sítio. Gabi me olhou com os olhos de cachorro pidão e pediu para eu ir com ela de moto. Eu perguntei quando. E ela disse que só iria trocar de roupa. Que dava para ir e voltar no mesmo dia. Bom eu não ia dizer não para ela. Então antes das nove da manhã estávamos saindo sem levar nada além das nossas carteiras com documentos e dinheiro.
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A viagem foi tranquila e ao meio dia já estávamos em Ribeirão. O problema é que a cidade era enorme e não tínhamos nada além do nome do sítio e as fotos do face. Gabi foi direto para um posto policial pedir ajuda. Graças às fotos do face um dos policiais recolheu uma represa em uma das fotos. Ele nos explicou como chegar na saída para a área rural que tinha essa represa. Eu já estava meio preocupada porque eram quase duas da tarde. A gente só avisou que iria sair para andar de moto e talvez demorasse. Mas não falamos para onde. Mais quase vinte minutos de estrada e avistamos a represa. Gabi mostrou várias casas que tinha do outro lado. Parecia ser pequenos sítios ao redor da represa. Quando nos aproximamos pedimos informação a um senhor que transitava com uma carroça na estrada de frente aos sítios. Quando perguntamos onde a Joana morava ele ficou meio na dúvida. Aí Gabi mostrou a foto e ele reconheceu. A gente estava quase na entrada do sítio. Seguimos e paramos em frente a uma casa. Assim que chamamos saiu uma mulher. Pela aparência era a própria Joana. Quando ela se aproximou, ela começou a olhar para Gabi e foi arregalando os olhos. Ela foi dizer algo mas não saiu nada e ela simplesmente caiu no chão.
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper