Almas de Estorninhos parte II (final)

Um conto erótico de L. Amaral
Categoria: Gay
Contém 3783 palavras
Data: 02/06/2024 15:20:49

— Até quando vai continuar me ignorando? Eu juro que não entendo.

— Mãe, eu não vou viajar com o Wade — falei, bravo.

— Sim! Você vai. E já cansei de te dizer que a natureza vai te fazer bem. O ar puro, o campo, o lago — Ela deu um sorrisinho.

Fiquei quieto, sentado em minha cama, enquanto a minha mãe me olhava de pé.

— Por favor, vamos encerrar isso. Viaje com o Wade.

Já que ela insistia tanto para que eu saísse de férias com o homem dela, respirei fundo e, enfim, disse:

— Está bem. Eu vou viajar com o Wade.

A minha mãe finalmente conseguiu o que queria, mesmo assim, ficou surpresa:

— Ethan, é sério?

— Eu também já estou cansado disso. Eu vou tentar me dar bem com ele — acrescentei.

Então, a minha mãe veio me abraçar, toda contente.

— Você vai ver. Será uma viagem maravilhosa. E sabe, o Wade é tudo bom, filho.

— Tá — Eu ri.

Sim, ele era tudo de bom. Os seus lábios passeavam pelo meu corpo.

— Oooh, Wade...

Um enxame de estorninhos dançava como um cardume de peixes sobre o crepúsculo. Eu podia ouvi-los cantar e também o som das milhares de asas batendo — parecia uma árvore numa ventania.

— Vocês vão se dar bem, filho.

Wade.

— Incrível, não é?

— É, é sim — respondi.

Ele era tudo de bom.

— Eu te amo, Ethan!

O Wade é tudo de bom.

— Wade!

— Ei, calma, calma. Você só estava sonhando.

— Wade?

— Sou eu, o Frank. Quem é Wade?

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Capítulo 7: Uma morte ao nascer do sol

Por um momento eu me recusava a acreditar onde eu estava, me recusava acreditar no que via.

— O que é isso? — Olhei para o Dylan, em seguida para o Frank. — Por que ele está aqui?

Então, caminhei rapidamente até a porta. O Dylan logo me segurou.

— Calminha, aí.

— Dylan, o que você fez? Como conhece o Frank?

— Ele é meu amigo?

— O quê? Por favor, me deixe ir — pedi, quase chorando.

E foi quando Frank disse:

— Te deixar ir? Você acabou de chegar. E depois de tanto tempo. Ethan, vira pra mim.

Dylan e eu nos encaramos por quase um minuto.

— Então, você realmente me enganou.

Ele não me respondeu. Me olhou mais um pouco, depois, abaixou o olhar.

— Ethan, por favor, olha pra mim — Frank pediu novamente, logo em seguida.

Engoli em seco, então, me virei para o Frank .

— Oi, Ethan.

Ele estava há uns três metros de mim.

— O que você quer?

— O que eu quero? Não é óbvio — Ele se aproximou. Suas mãos estavam dentro do casaco.

Um metro de mim agora.

— Eu quero você — acrescentou.

Por um minuto inteiro ele me olhou, e não desviou o olhar quando falou para o Dylan:

— Você já pode ir agora.

Olhei para o Dylan.

— Você fez mesmo isso comigo? — indaguei.

— Isso tinha que acontecer. Por favor, não dificulte as coisas.

— Dificultar as coisas? Então, vocês pretendem me matar? — eu dei uma risada nervosa, quase chorando.

Então, Frank tirou as mãos do casaco e segurou o meu rosto.

— Não, não, não — disse ele. — Por favor, não pense isso. É claro que eu não vou te matar.

— Mas também não vai me deixar ir?

Nos olhamos por quase um minuto.

— Não. Eu não vou deixar você ir. Pelo menos, não antes de jantar comigo — Ele sorriu.

— Se eu jantar com você, então, poderei ir?

— Isso mesmo — falou. Olhou para o Dylan e acrescentou: — Eu te acompanho até a saída.

Nesse momento, eu tentei escapar pela porta, mas o Dylan me segurou outra vez.

— Ei, calminha. Vai ficar tudo — disse ele. — Está tudo bem.

— Dylan, por favor, não me deixa aqui — pedi.

— Vai ficar tudo bem — repetiu ele. — Não precisa ter que gritar. Ninguém vai te ouvir aqui.

Então, já do lado de fora, enquanto Frank segurava a porta, ouvi Dylan dizer:

— Lembra do que combinamos. Não machuca o garoto, em?

— Adeus, Dylan.

E Frank trancou a porta e tirou a chave também. Virou para mim e sorriu, enquanto eu estava lá parado.

— Vamos — disse. Segurou a minha mão e me levou até a cozinha. — Aqui. Isso.

Me sentei na cadeira que Frank puxou para mim.

— Vamos, coma. Isso, bom garoto.

Era macarrão. Frank abriu uma garrafa de vinho e encheu duas taças.

— Está gostoso?

— Sim — fiz uma ligeira pausa e perguntei: — Como conhece o Dylan?

— Ele é aquele amigo que te falei que tinha no Toca do Lobo, lembra? Eu sempre fui ao bar, mesmo depois do que aqueles caras fizeram comigo. Você se lembra também? Não, você fugiu enquanto aqueles desgraçados estavam em cima de mim. Demorou para eu voltar ao Toca do Lobo. Olha pra mim!

O rosto dele agora era mais magro e com barba. Uma cicatriz na testa e sobrancelha.

— Olha o que fizeram comigo.

— Eu sinto muito — falei.

Frank bateu na mesa e me encarou.

— Isso não importa mais. O importante é que você está aqui comigo. E agora podemos recomeçar.

— Recomeçar? Depois de todo esse tempo?

— Claro. Precisávamos desse tempo para poder... Recomeçar de outra forma. Tempo para esquecer o que aconteceu.

— Então, você sempre planejou em voltar pra mim? — aventurei.

— Eu nunca te esqueci, Ethan — Ele sorriu. — Eu nunca deixei de te amar.

Abaixei o olhar, comi mais um pouco e tomei um gole de vinho. Então, falei.

— Está ficando tarde. Acho melhor eu ir agora.

— Mas você nem comeu direito.

— É que eu tomei sorvete no shopping.

Frank demorou um minuto inteiro antes de falar:

— Tá. Mas antes eu quero te mostrar uma coisa.

Ele limpou a boca com o guardanapo, em seguida se levantou. Parou na minha frente.

— Sente como está duro. Não quer sentir ele? Vamos, ele é todo seu.

Fiquei parado olhando pra ele, com lágrimas nos olhos.

— Vai, prova a sobremesa. Vai!

Com as mãos trêmulas abri o zíper e tirei o pau do Frank para fora.

— Só um pouquinho. Aí eu te deixo em casa.

— Você promete? — perguntei.

Frank sorriu e balançou a cabeça. Depois acariciou o meu rosto.

— Olha, como você me deixa. Já está babando — Frank disse, suavemente. — Vai. Isso. Ahhh. Como você chupa bem. Não sabe como esperei por isso. Ah!

Ele tirou o pau da minha boca e me beijou, me tirando da cadeira e me apertando em seus braços.

— Calma, está tudo bem. Não precisa ter medo de mim. Vamos, eu vou te levar pra casa agora.

Frank me deu mais um beijo e levantou as calças.

— Vamos.

Calado e tremendo, andei com o Frank atrás de mim. No meio da sala, olhei para o Frank e o vi escondendo algo atrás dele.

— O que é isso? — indaguei.

— Nada — Ele sorriu.

Ficamos ali parado por quase um minuto inteiro. Eu podia ouvir a respiração dele e ele a minha. Então, num instante olhei para o lado e vi um quarto. Eu poderia me trancar lá e usar meu celular. Foi o que tentei fazer, mas o Frank me pegou.

Pela segunda vez, achei que ia morrer imobilizado. Só que não tinha mãos em meu pescoço. Um pano com clorofórmio, deveria ser isso. Não desmaiei tão rápido como nos filmes. E isso foi terrível.

Acordei em um pequeno quarto. Papel de parede de esquilos coloridos, um abajur na escrivaninha, livros e uma orquídea branca. E um banheiro, sem porta. Era muito confortável ali, porém, eu não podia sair.

Não vou dar muitos detalhes do que aconteceu, porque acho melhor assim. Não imaginei que minha vida ficaria ainda mais sombria. Depois de todos os meus chiliques e tentativas de fuga, um dia o Frank sentou ao meu lado na cama.

— Eu quero tirar sua virgindade, Ethan — Ele beijou o meu ombro.

— O quê? — Eu ri. — Isso nunca vai acontecer.

— O quê? Claro que vai. Estamos aqui e…

— Você nunca vai tirar a minha virgindade porque alguém já fez isso.

— Não. Você não fez isso.

— Eu não sou mais virgem — ri novamente.

— Quê?

Então, senti a mão pesada em minha face.

Continuei rindo:

— Já me comeram. E sabe, eu o amo. E isso você nunca vai ter de mim. O meu amor.

E mais outra bofetada.

Então, o Frank saiu do quarto, batendo a porta ao trancá-la.

Pela janela eu dava para saber quando era dia ou noite. E na noite daquele mesmo dia, acordei gritando pelo Wade.

— Wade!

— Ei, calma, calma. Você só estava sonhando.

E o Frank estava lá.

— Wade?

— Sou eu, o Frank. Quem é Wade?

Fiquei quieto, e me afastei dele.

— Você às vezes fica sussurrando o nome dele quando dorme — Frank tossiu e disse: — Ele é. Foi com ele que você ficou, não foi?

Não respondi.

— Ficou com outros também?

— Só o Dylan — falei.

— O Dylan? Não, ele só me ajudou a ter você de volta.

— Acho que não era só isso.

— Como assim? Aquele dia ele tocou em você? — Frank indagou, surpreso.

— A gente se beijou. E antes eu chupei ele no carro — falei, sorrindo.

— Não, ele não fez isso.

Eu dei uma risadinha.

— Isso não importa, depois eu me resolvo com ele — Frank engoliu em seco e acrescentou: — Você esqueceu o que tínhamos?

Ele estava bravo.

— Antes de você estragar tudo? — falei.

— Foi você que estragou com esse seu drama. E quer saber? Até agora eu tentei fazer do seu jeito, não queria forçar nada, mas eu cansei.

Então, o Frank pulou em cima de mim e começou arrancar as minhas roupas, enquanto eu me debatia e gritava.

— Vem, cá! Não importa se não é mais virgem. Você agora é meu. Todo meu!

— Mãe...

— Pai...

— Wade...

— Por favor, coma. Por favor, abra a boca. Está quentinha.

O Frank tentou me fazer comer uma sopa.

Então, me resignei a ele, pelo menos, tentei entrar no jogo dele. Me fazer de difícil só iria piorar as coisas. Fazer com que o Frank de alguma forma acreditasse que sentia algum carinho por ele, isso poderia me ajudar em sair dali um dia.

Era o momento ser esperto. Chega de me martirizar. Abri a boca e aceitei a sopa.

— Você gostou?

Ele era tão solícito, apesar de tudo.

— Sim — respondi, estendendo as mãos para pegar o prato e a colher.

Frank abriu um grande sorriso. E foi assim em diante. Ele me acariciava, e eu tentava mostrar que estava gostando — sorria, agradecia pela comida.

Ele não ficava o tempo todo, é claro.

Pelo que sabia, ele era engenheiro. Passava a noite e saia pela manhã. Aos finais de semana ficava sempre lá. Com as investigações ao meu sumiço, o Frank deve ter sido procurado, mas não encontrado. Frank. Apenas um nome que a polícia deveria ter.

O lugar onde eu estava era muito quieto. Me lembrava a fazenda dos Mason, da minha viagem com o Wade.

Wade. Como ele estava? Como a minha família toda estava?

— Vamos sair, o dia está lindo lá fora.

Às vezes o Frank me levava lá fora, quando via que eu poderia morrer a qualquer momento de depressão.

O vento gelado arrepiou-me. Eu tremi.

— Sinta a terra. O vento. Respire. Consegue sentir a energia? — disse Frank.

Capim seco, árvores nuas. Uma casa no meio do nada. Mato em todo o redor e uma estradinha de terra. Só isso.

E ficamos sentados em duas espreguiçadeiras, tomando sol.

O tempo que estive lá, muitas vezes pareceu que estava num pesadelo. Não sabia quanto tempo já tinha se passado, anos talvez. Nem tanto.

— Olha o que eu preparei pra você!

Frank riu, então, tirou as mãos dos meus olhos.

— Feliz aniversário!

Um bolo com 18 de velinhas em minha frente, na mesa da sala da casa.

— Não achou que eu fosse esquecer.

— Hoje é o meu aniversário?

— 28 de novembro, não é?

— Sim. Eu só... não sabia que era hoje.

— Vem, senta.

Ele me deu os parabéns, tocando a canção clássica num violino.

— Oh, não. Não chore, por favor. Vamos, assopre.

Funguei e, então, assoprei as velinhas.

— Aqui. Para você, Ethan. Feliz aniversário! — E beijou o meu rosto.

Frank me deu uma caixinha num embrulho dourado e com um laço. Ao abri-lo, encontrei uma correntinha com um pingente de uma pedra violeta.

— É uma ametista. Ela vai te proteger.

— Ah... Obrigado.

— Deixa eu colocar em você.

Ao terminar, ele beijou o meu pescoço.

— Por que você é assim, Frank? Se não tivesse me tratado daquele jeito poderíamos estar juntos e bem.

Frank sentou ao meu lado e disse:

— Eu... Eu sinto. Você acha que sou um psicopata? Acha que eu não saberia se fosse?

Fiquei quieto.

— Vou te manter aqui até você me amar, tanto como eu te amo. Fomos feitos um para o outro. Agora, vamos comer. O recheio é de morango.

E comemos o bolo. Depois fomos para o quarto. Na cama sentados, eu não sei quando começou mas, de repente, eu esqueci de toda a minha situação e me lancei nos braços do Frank. Eu estava tão cansado daquela merda.

Deitei na cama, enquanto o Frank beijava o meu pescoço e apalpava o meu corpo. Tirei a camisa dele e ele logo abaixou o a minha bermuda e chupou a minha bunda.

— Ahhh, Frank — eu gemi.

Ele tinha um peito grande e um abdômen quase sarado, cheio de pelos.

Que se dane o Wade. Aquele maldito me abandonou! A minha família também, eles só me fizeram sofrer. Agora eu tinha um psicopata que me amava de verdade.

— Eu quero te chupar.

Quando falei isso, o Frank arrancou suas calças, então eu chupei aquele grande pau rosado. Depois, ele lubrificou meu cuzinho e me penetrou.

— Isso, Frank. Ahhh. Isso!

— Você é meu, Ethan. Você é meu.

— Sim!

Lá fora caia um temporal, em contraste com o quarto onde estávamos. Quentinho e suado. Frank e eu, transando com o meu consentimento.

E assim foram os meus próximos dias. Já que estava preso, por que não transando, gozando? Assim, por vários dias. Eu nem pensava mais em alguma possibilidade de escapar. Em casa tudo estava tão confuso. Ali era só o Frank e eu. Como num conto de fadas. A Bela e a Fera, talvez. Não tinha nenhuma preocupação.

O Frank me levou mais lá fora, mas eu preferia ficar lá dentro. Era mais quentinho. Dormíamos juntos, cozinhávamos juntos, até dançamos ao som de músicas antigas.

E foi assim por mais dias, até quando acordei com um barulho de tiros. Então, Frank chegou.

— Vem, vamos!

— O que foi?

Ele estava com um revólver na mão. Pegou no meu braço e me levou com ele.

— O que está acontecendo?

Ele não disse. Deu uma olhada lá pra fora antes de abrir a porta dos fundos. Então, corremos para a caminhonete vinho ali perto.

Ainda segurando o meu braço, Frank abriu a porta do passageiro e falou para eu entrar. Depois, ele correu para o outro lado, assim que ele abriu a porta eu o ouvi gemer. Um tiro atingiu o peito dele. Frank deu outros dois tiros antes de entrar na caminhonete. Rodou a chave e, então, saímos rapidamente pela estrada de terra até uma pista.

— Frank?

— Eu estou bem.

A respiração dele estava alta e rápida. Uma mão segurava o peito, e a outra no volante. Enquanto eu, encolhido no canto, tremia. Íamos a quase 80 km/h.

— Frank? — repeti.

— Estou bem!

Ele começou a tossir. Baixou o vidro da janela deu uma cusparada de sangue para fora do carro. Limpou a boca e deu uma risada. Parecia assustado agora, olhou brevemente para o retrovisor, em seguida, deu outra cuspida.

O vento gelado entrava forte na cabine, balançando nossos cabelos e roupas. Olhei para o horizonte e vi a alguns raios dourados atravesarem a neblina no campo, e chegarem até nós.

Então, a caminhonete foi perdendo velocidade até parar no meio da estrada. Frank abriu a porta.

— Venha comigo — disse.

Eu estava imóvel.

— Venha aqui fora comigo, por favor.

Ele parecia estar com dificuldade de manter os olhos abertos.

— Ethan. Eu só quero sentir o sol.

Então, eu saí também. Ao longe, carros de polícia vinham até nós. Passei pela frente da caminhonete e assim que cheguei ao Frank, ele caiu em meus braços. Estava agonizando agora, com sangue escorrendo pela boca e pelo nariz.

— Acabou, Ethan — tossiu. — Agora não serei mais um problema em sua vida.

A cabeça dele estava em meu colo. Tudo o que sentia naquela momento era tristeza e algum tipo de compaixão por ele. Lágrimas escorreram dos olhos dele.

— Me desculpa, Ethan. Eu nunca soube como amar alguém, por isso estou sozinho e... vou morrer assim. Sozinho.

— Eu estou aqui. Não está sozinho, eu estou aqui, Frank.

Ele acariciou o meu rosto, e eu o dele. Enquanto isso, o barulho das sirenes das viaturas aumentavam.

— Eu estou aqui — repeti. — Eu… eu… eu te amo — E começei a chorar.

— Tá tudo, Ethan. Obrigado.

Então, Frank sorriu brevemente e, um minuto depois, três viaturas chegaram. E policiais correram até mim.

— Ele está morto — falei. — Ele está morto.

Olhei para o horizonte. Uma morte no nascer do sol.

Eles abaixaram as armas, em seguida, me levaram para longe do Frank. Perguntaram como eu estava, analisando o meu corpo.

— Estou bem... Estou bem — falei baixinho, bem baixinho.

Eu estava sentado no banco de uma das viaturas, com a porta aberta. Olhei para longe. Respirei o ar gelado e observei o vento sobrar a campina à frente.

Um homem de meia idade, que não usava uniforme preto, como os outros policiais, se aproximou de mim. Ele deveria ser um investigador. Se abaixou em minha frente e me agasalhou com o seu paletó azul.

— Eu já avisei os seus pais que o encontramos. Logo, logo estará com eles — disse. Tirou um lenço do bolso e acrescentou: — Deixa eu limpar isso.

Com uma garrafinha de água, molhou o lenço, em seguida, limpou o sangue do Frank no meu rosto.

— Prontinho. Está com sede?

Assenti com a cabeça e estendi a mão para pegar a garrafa, porém, não consegui segurar, pois eu tremia muito.

— Espera — Ele sentou ao meu lado e me ajudou a beber.

— Obrigado — falei, em seguida. Agarrei o braço dele e pousei a minha face em seu peito.

— Obrigado — repeti com a voz chorosa.

— Está tudo bem. Está tudo bem agora — Ele me consolou.

— Como me encontraram? — perguntei depois.

— Tivemos ajuda de um homem chamado Dylan. Ele confessou o que tinha acontecido e nos deu algumas informações de onde o Frank poderia ter te levado.

— O Dylan? Ele está preso?

— Não. Ele... estava internado no hospital depois de ter levado alguns tiros. Quando acardou ele só aguentou o suficiente para dizer o que tinha acontecido.

— Então, ele está morto?

O investigador engoliu em seco e disse que sim.

— Mas não vamos falar mais disso. Vai ficar tudo bem agora — acrescentou ele.

Cerca de cinco minutos depois, uma ambulância chegou. Então, fui para um hospital ali perto.

A minha mãe estava com cara de quem não dormia direito, e o meu pai também. Mais de dois meses longe deles.

Eles vieram correndo e chorando para me abraçar. Teve aquela comoção toda. Como eu estava feliz em vê-los.

Ficaria mais um tempo ali no hospital. Precisava ser observado mais um pouco, tomando soro e esperando o resultado dos exames e não sei mais o que. Contei um pouco do meu cativeiro, só um pouco. Não queria tocar logo naquele assunto.

— Vai ficar tudo bem — disseram os meus pais, tentando conter as lágrimas. Tentando não imaginar o que eu passei.

O meu pai não aguentou e foi chorar olhando pela janela do quarto.

Os dois ficaram comigo o tempo todo. Os meus avós também apareceram, junto com alguns parentes. E outra pessoa também.

— Ethan. Tem uma pessoa que veio te ver — disse a minha mãe.

— Ethan! — disse Wade, quando entrou com minha mãe.

Ele estava agitado, parecendo conter as lágrimas, sem desviar os olhos de mim.

— Eu quero falar sozinho com ele.

Os meus pais estranharam um pouco, mas logo saíram. Assim, o Wade veio logo sobre mim na cama. Chorando e me apertando em seus braços. Eu não segurei as lágrimas e também o abracei forte.

— Ethan, eu sinto tanto. Eu sinto tanto — dizia. — Eu preciso tanto de você.

— Não. Você não precisa de mim — Empurrei ele. — Se está aqui porque se sente culpado por alguma coisa, não sinta.

— O quê? Eu estou aqui por você. Ethan, eu te amo.

— Então, por que me abandonou?

— Não precisamos falar disso agora.

— É claro que precisamos.

Wade enxugou o rosto e sentou ao meu lado. Após uma pausa, começou:

— Eu não estava mais aguentando aquela situação, em ter que ficar com você e a sua mãe. Porque o que sinto por você se tornou tão forte e... Eu precisava decidir alguma coisa. E... eu escolhi você. Eu só queria ficar com você, Ethan.

— Isso não é o bastante. Você já deve ter arrumado outra pessoa. Por isso terminou com a minha mãe e comigo.

— O quê? Eu terminei com a Isabelle porque eu queria ficar com você. Eu só queria ficar com você, Ethan. Isso nem ao menos passou pela sua cabeça? Como pode pensar que eu poderia ter outra pessoa.

— Você mentiu, não. E ainda assim você me deixou — zombei.

— Eu fiquei com medo do que aconteceria. Do que iam pensar. Eu namorando a Isabelle e ficando com você, isso é — ele fez uma ligeira pausa e acrescentou: — Mas agora eu não tenho mais medo. Agora eu só tenho medo de te perder.

Fiquei quieto. Wade acrescentou:

— Eu achei que precisava me afastar um pouco. Não queria que você soubesse que eu tive uma recaída na bebida. Ainda mais depois que você sumiu.

Ele parecia mesmo acabado.

— Eu achei que precisava ficar sozinho. Que conseguiria sozinho, mas não. Eu preciso da sua ajuda. Você pode me ajudar a ficar bem? Pode ficar comigo?

— E a minha mãe?

— Caralho, você não ouviu o que eu disse? Eu quero ficar com você. Só com você. Eu não tenho mais nada com a sua mãe. Quando eu estou com você eu sinto que realmente sou amado de verdade. Ethan, fica comigo.

— Pra quê? Eu não quero mais ficar às escondidas com alguém.

— Você não vai. Eu enfrento isso com você. Pra gente ficar junto, como deve ser. Só você e eu.

Eu não sabia o que pensar. Mas naquele momento eu me sentia tão frágil e sem direção.

— Você promete, Wade?

— Eu prometo.

Um minuto inteiro se passou. Eu toquei no rosto do Wade, enquanto ele acariciava o meu. Como um anseio em finalmente encontrar alívio. Nos enlaçamos aos beijos.

Em seguida:

— Ethan? — disse a minha mãe.

Rapidamente eu e o Wade nos viramos para ela, que estava ao lado do meu pai. Eles nos olhávamos, em choque, perto da porta.

Acabou o segredo. Não achei que seria tão rápido, mas já estava na hora.


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Comentários

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Não gostaria de ver o ethan e o wade juntos, não gosto do wade e por mais que o ethan seja errado por dormir com o marido da mãe dele, o wade não o merece.

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