TINHA QUE SER VOCÊ - 23: NEM TUDO SÃO FLORES (JOÃO)

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 1711 palavras
Data: 11/04/2024 02:25:08

CAPÍTULO: NEM TUDO SÃO FLORES

NARRADOR: JOÃO

***

A vida é como uma montanha-russa, cheia de reviravoltas, subidas emocionantes e quedas inesperadas. E para mim, essa metáfora nunca pareceu tão precisa quanto nos últimos meses.

Desde que descobri a traição do Mauro, o meu ex-namorado, e me envolvi com o Hector, as coisas tomaram um novo rumo. Jamais imaginaria que o fim de um relacionamento me levaria a encontrar o amor nos braços do namorado do amante do meu ex. Mas o destino adora nos surpreender, né?

Porém, a coisa mais surpreendente foi a descoberta de que eu e meu irmão gêmeo, José, fomos adotados. A família que nos acolheu, Josué e Esther. Eles são pessoas simples e amáveis. Os dois nos ensinaram a lutar e perseverar pelos nossos sonhos. Agora, somos herdeiros de uma das famílias mais ricas do Rio de Janeiro, e tudo parece novo e deslumbrante.

No entanto, a alegria desta nova vida foi interrompida abruptamente quando fui sequestrado a mando da minha própria avó, Viviane Telles, uma mulher cruel e perigosa. Nove meses se passaram desde que enfrentei o terror de um cativeiro.

Tive que redobrar os meus cuidados com o Hector, que conseguiu recuperar 100% de seus ferimentos físicos. Não foi fácil, mas com a ajuda da Nataly, o meu namorado estava estável e longe de qualquer vício. Espero que as cicatrizes deste passado não estejam latentes dentro dele.

Atualmente, a minha atenção estava 100% no estágio que ganhei dentro da Empresa Telles. A equipe de TI é super bacana comigo e não me tratam de maneira diferenciada por ser neto do dono. Quem se deu bem foi o José, que conquistou todos os trabalhadores do setor administrativo.

Eu me encontrei no setor de TI, cercado por computadores e códigos. É reconfortante trabalhar em um ambiente onde me sinto valorizado e respeitado pelo que sou, sem julgamentos ou preconceitos. Talvez ajude o nome do nosso avô estar em todos os lados, principalmente na fachada do prédio.

Porém, a vida não se resume apenas ao trabalho. Tenho que equilibrar meu relacionamento com Hector, que é o meu eterno herói. E ainda preciso encontrar tempo para me dedicar à faculdade, mesmo com todas as outras áreas da minha vida lotadas.

— E como está sendo a auto-escola? — o Hector me questiona, enquanto descansa a cabeça em meu colo. Estamos em um dia preguiçoso e só queremos assistir séries de teor duvidoso.

— Tranquilo. Em breve, você vai perder a vaga de meu motorista particular. — brinquei, acariciando os seus cabelos.

— Não. — ele protestou mostrando o beiço inferior. A minha única reação é esticar o meu corpo e beijá-lo.

— Eu te amo, Hector. — falei.

Sim. Estou na auto-escola. Agora, que tenho condição de ter o meu próprio meio de transporte achei melhor vencer o meu medo de dirigir. Não estava sendo uma missão fácil, mas o professor é agradável e me passou diversas dicas para que eu não morra no trânsito. Enquanto isso, o meu irmão José já conseguiu a sua carteira provisória, tanto para carro, quanto para moto.

— Mano, cunhadinho. — o José apareceu só de sunga na sala. — Vamos tomar um banho? Eu chamei Nataly.

— A Nataly? — perguntou Hector, levantando e se espreguiçando. — Vamos? — olhando para mim.

— Tudo bem. Vou colocar uma sunga.

O sol dourado banhava o jardim, enquanto José e Hector já estavam na piscina deixando a tranquilidade da tarde para trás. O cheiro do cloro me deixava com uma sensação de tranquilidade. Descansei a toalha em cima de uma das mesas próximas a piscina e corri na direção deles. Com um salto, entrei na água. Mergulhei e fiquei nadando em volta deles.

Não demorou muito e a Nataly chegou. Ela se juntou a nós e ficamos curtindo aquele domingo preguiçoso, perfeito para relaxar e deixar os problemas do dia a dia para trás. Mas havia uma questão pendente pairando sobre a minha cabeça: em breve, o José e eu, vamos completar 19 anos e a mamãe queria fazer uma festa para celebrar.

— Estou pensando na festa. — falei, mergulhando na água e emergindo com os cabelos molhados escorrendo no rosto. — Precisamos decidir o que fazer.

— Sim, — concordou José, se inclinando para trás em uma boia com o formato de donut, os olhos fixos no céu azul. — temos que encontrar uma maneira de agradar a todos.

A dualidade das nossas famílias - a biológica e adotiva - adicionava uma complexidade extra à situação. De um lado, Jayme e Patrícia, queriam dar uma festa na mansão, enquanto a mamãe pensava em algo menor, após a exposição que tivemos com o sequestro.

— O que você acha de fazer na casa dos Telles? — sugeriu José, ainda com os olhos vidrados no céu. — Eles têm espaço de sobra e seria uma forma de honrá-los, afinal, vai ser o nosso primeiro aniversário ao lado deles.

— Bem. — ponderei a proposta por um momento, mas logo uma expressão de preocupação se formou em meu rosto. — Mas e se os nossos pais se sentirem excluídos?

— Verdade. — assentiu José, agora virando para a minha direção e percebendo a hesitação.

— Que caras são essas? — perguntou Hector, chegando com dois copos nas mãos.

— Dilema de aniversário. — respondi, antes de pegar um dos copos em suas mãos.

— Os Telles querem fazer a festa na casa deles, mas a mamãe não está tão segura, principalmente depois do sequestro. — explicou José, pegando um dos copos das mãos de Nataly, que sentou na beira da piscina.

— As festas deles não são nada discretas. — afirmou Nataly, que contou sobre o dia em que Fernando Telles contratou um elefante para uma festa com temática indiana.

— O João está certo. Precisamos incluir todos. — disse José, tomando o suco em um único gole.

De repente, uma ideia começou a ganhar forma na minha mente. Sugeri fazer a festa na casa dos nossos pais adotivos, uma maneira de mostrar a eles o quanto valorizamos as suas vidas. Enquanto o pai e a mãe podem ficar responsáveis pelos doces. José sorriu, reconhecendo a solução perfeita.

Os dias passaram voando. Infelizmente, uma onda de calor elevou os termômetros em todo o Brasil. Claro que no Rio de Janeiro, a temperatura ultrapassou os 40 graus. Por causa disso, Patrícia e Jayme decidiram colocar uma barraca climatizada no meio do grande jardim. A dona Esther chegou com um lindo bolo e colocou no centro da mesa.

Eu estava sentado na varanda, observando o vai e vem das pessoas no salão. Ao meu lado, José mexia no celular, distraído.

— Você já parou para pensar em como tudo mudou, José? — perguntei, olhando para ele. O meu irmão ergueu os olhos do celular e sorriu.

— Todo o tempo, João. É como se estivéssemos em um daqueles filmes de drama, não é?

Concordei com a cabeça, olhando para a paisagem à nossa frente. Havia uma avalanche de emoções dentro de mim naquele momento. Descobrir que éramos adotados foi um choque, mas também trouxe uma nova perspectiva para nós. Sabe o lado bom? A união das duas famílias, Telles e Guimarães.

Enquanto estávamos conversando, a dona Esther saiu da casa com uma bandeja de doces caseiros. Ela tinha um sorriso radiante no rosto. Um sorriso que não via há muito tempo. Era inevitável não sorrir de volta. A mamãe sempre foi a personificação do amor e da bondade para mim. Afinal, ela nos acolheu quando éramos apenas bebês e nos deu todo o cuidado que uma mãe poderia dar.

Do outro lado, tinha a Patrícia, que cuidava de todos os detalhes da decoração. Como acalentar o coração de uma mãe que teve o sonho interrompido? Graças a Deus, que passamos da fase do estranhamento e a vivência se tornou harmônica. E, sim. Eu já a amava. O Jayme também. Os dois se esforçavam demais para nos agradar.

— Estão gostando, meus amores? — perguntou Patrícia, que usava um vestido com estampas florais.

— Sim. — afirmei, levantando e abraçando. — Obrigado por tudo, mãe.

— Eu que agradeço. — soltou Patrícia, talvez ainda processando o fato de eu lhe chamar de mãe.

A dona Esther apareceu e estava igualmente elegante. Olhei para ela, impressionado com a maneira como as duas mães estavam se dando bem. Era como se nunca tivessem sido estranhas uma para a outra.

Enquanto as duas mães conversavam animadamente, olhei para José e sorri. Sabia que estávamos pensando a mesma coisa: como éramos sortudos por ter duas famílias maravilhosas que nos amavam incondicionalmente.

Conversas animadas. Risos que preenchiam os espaços. Pouco a pouco, os convidados começaram a chegar, trazendo consigo uma atmosfera ainda mais festiva. Entre eles estava o meu namorado, Hector, que chegou carregando dois presentes embrulhados com cuidado.

— Hector! — exclamei, correndo para abraçá-lo. — Você veio. — ele sorriu e me abraçou com dificuldade, entregando um dos presentes.

— Não é todo dia que o meu namorado faz 19 anos, né? — ele deu uma piscadinha. — Feliz aniversário, amor. Espero que goste.

Nataly, que se tornou uma grande amiga da família, também apareceu, trazendo sua energia contagiante. Nos cumprimentamos com abraços calorosos e sorrisos animados, prontos para aproveitar ao máximo o dia especial.

Recebemos diversas homenagens dos nossos pais e do Sr. Fernando Telles. Era incrível ver como as duas famílias celebravam unidas. No entanto, a felicidade da festa foi abruptamente interrompida, quando a querida vovó, Viviane Telles, que estava foragida, apareceu e deu uma de Malévola.

O silêncio caiu sobre os convidados quando todos viraram para encara-lá, horrorizados com a cena que se desenrolava diante de nós. Meu coração começou a bater descontroladamente no peito enquanto flashes do meu sequestro voltavam para me assombrar. Ao lado dela, o filho preferido, Jorge, que também estava escondido. O que eles queriam?

— O que você está fazendo aqui? — questionou o meu avô, que também estava surpreso ao ver a sua ex-mulher.Ele recuou quando a Viviane sacou uma arma.

A avó não respondeu, seus olhos cheios de uma raiva insana me deixaram sem reação. Ela se aproximou de nós, a arma apontada diretamente para mim e José.

Sem hesitar, Jayme interveio, tentando proteger seus filhos a todo custo. Ele se colocou na nossa frente, em um ato de coragem inabalável.

Um estrondo ensurdecedor ecoou pela varanda quando Viviane puxou o gatilho, e um grito de angústia escapou dos lábios de Patrícia. Jayme caiu ao chão. Então, o Hector ficou na minha frente. Eu só assisti tudo. Assisti tudo sem reação.


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