No dia seguinte, João resolveu levar Davi para tomar café em uma padaria que gostava muito, no Leblon. Davi adorou a ideia. Na hora de ir embora, Davi resolveu levar uns doces e foi ao balcão escolher, enquanto João Paulo, ao seu lado, mexia no celular. Nisso entrou uma atriz famosa, vestida de maneira discreta e se dirigiu a João.
- João Paulo! Como você está? Quanto tempo que não te vejo! - disse a atriz.
- Bom dia, Cláudia! Realmente tem um tempo, mas eu te vejo sempre, na TV. - respondeu rindo. Cláudia era ex-modelo e se tornou atriz de sucesso, era amiga de Anaya desde a época que desfilavam e sempre foram muito unidas. Davi percebeu e reconheceu a atriz e ficou totalmente tímido e manteve-se na dele, como se não estivesse com João.
- Como vai sua mãe? Anaya está sempre me dizendo que vem ao Brasil, mas está demorando dessa vez! Ela disse estar bem satisfeita com a empresa, que você está conduzindo muito bem, meus parabéns! E você continua lindo, a beleza da sua mãe e o charme de Adam! Não vou te chamar para sair porque sei que você é avesso às badalações de famosos, então espero seu convite para um jantar naquela cobertura deslumbrante que você mora, é uma maneira de matar as saudades de Anaya e a gente pode marcar uma conversa de vídeo como ela, ela vai adorar! - completou Cláudia.
Após ouvir a conversa, Davi pagou a conta e saiu. João já estava atordoado, pois sabia que Davi devia ter escutado grande parte da conversa. Despediu-se da atriz e saiu apressado. Na rua, encontrou Davi encostado no carro. Sem falar nada, João abriu as portas e eles entraram.
- Posso ver sua identidade? Seria invasivo? Se não quiser, não tem problema. - perguntou Davi. João pegou a carteira e entregou para ele.
Davi olhou atentamente o documento e leu em voz alta:
- João Paulo Ajala Walker, filho de Adam Walker e Anaya Ajala Walker. João, você é o dono da empresa! Você é o dono da loja, você é o dono de tudo! Você é o filho de Anaya Ajala, está escrito aqui! Como eu nunca tinha percebido! Sua beleza, seu requinte, um certo mistério… você é um príncipe de verdade! Me diz, o que que eu estou fazendo aqui? O que um plebeu pode estar fazendo na sua vida? - disse Davi, falando mais alto, com um misto de surpresa e revolta, - Por que você nunca me disse? Cobertura deslumbrante, carro luxuoso do amigo… por que você não me contou antes? Queria me testar? Eu estou confuso, você é o dono! - falou Davi em um misto de surpresa, raiva e indignação.
- Eu posso explicar…
- Eu sei que você pode explicar, mas, não precisa. Eu já imagino, não vamos perder tempo.
- Então está tudo bem?
- Vou saber depois, mas vai ficar. Vamos para Copacabana, vou pegar minhas coisas e vou para minha casa. Segunda eu peço demissão e minha vida segue, diferente, mas, segue, e a sua vai continuar na mesma…
- Você tá doido? Uma coisa não tem nada a ver com a outra!
- Eu preciso digerir isso. É tudo muito diferente… muda muita coisa.
- Seu sentimento por mim também? Se eu for o príncipe de verdade como você disse, você vai deixar de me amar? Que amor é esse então, Davi? - João estava confuso també, e com medo de perder seu amado.
João contou como foi desde a primeira vez que o viu na Lapa e que se apaixonou. Disse que tinha voltado e procurado por ele várias vezes, pois sabia que era o amor da sua vida e que, quando descobriu que ele trabalhava na empresa, ficou preocupado, mas que o que sentia falou mais alto e resolveu arriscar. Como Davi nunca tinha percebido e nem desconfiado, ele preferiu omitir tudo, já que pensava que não ia fazer diferença, mas uma hora ia ter que contar. Explicou, também, que a família prefere não aparecer, por isso não é perturbado por paparazzi ou pessoas, não querem sair em matérias na internet. Somente a mãe é quem dá entrevistas e participa de eventos e para divulgar a loja, por uma questão pessoal da família e por segurança pessoal.
- Você anda com seguranças e eu nunca percebi? Quando transamos dentro do carro tinha gente esperando, tomando conta? - perguntou Davi.
- Claro que não, é justamente o contrário disso. Preferimos e optamos por liberdade, por isso poucas pessoas sabem. Entro e saio na empresa pelo elevador privativo para evitar, inclusive. Claro que meu carro tem localizador, é blindado e tal, meu celular tem rastreio especial, para evitar ter seguranças. Eu achava que você poderia ficar confuso com tudo e por isso deixei a situação fluir porque estava tão gostoso… não queria espantar você…
- Você me deixou em casa várias vezes, podia ter sido perigoso…
- Eu amo você e não tinha perigo algum. Queria me aproximar, conhecer sua família, ainda mais depois que você foi contratado e falava tanto da sua mãe!
- Você me contratou por causa da nossa relação, então… não foi pelo meu talento, que vergonha!
- Claro que não! Eu tinha sabido por outra fonte que você é um profissional promissor e Mariana veio me falar também, e já que estava na minha empresa, por que não o contratar logo? Claro que levei para conhecimento do escritório de publicidade de Nova York, porque esse tipo de contratação tem que ser apreciado por lá. Minha mãe e a supervisora aprovaram. Foi assim. Mesmo que eu não conhecesse você, você seria contratado. Não depende de mim.
- Sua mãe sabe da gente?
- Nem imagina. E não sei como vou fazer. A regra é que não haja envolvimento com funcionários da empresa.
- Claro, né, o príncipe tem que se relacionar com outros príncipes, um plebeu iria desestruturar a família…
- Não é isso, Davi. Você é muito novo, não sabe como funciona… se alguém descobre, vai achar que você está sendo favorecido, vai gerar fofoca, climão, enfim… o funcionário que era para ser solução, viraria um problema. Isso em qualquer área da empresa. Não sei como vou fazer com minha mãe, mas vou dar um jeito. A única coisa que não vou fazer vai ser renunciar a você, nem que eu tenha que sair da empresa.
- João, é muita coisa na cabeça. Eu nunca iria imaginar isso tudo. Como um cara como você namora um cara como eu? Mais novo, pobre, simples e que não liga para esse glamour que você vive?
- Eu amo você. Só por isso. A energia que você passa, a sua simpatia, seu caráter, tudo isso. E eu também não ligo para esse glamour… vamos tentar, vai? A gente continua sem ninguém saber, vamos poder fazer mais passeios, agora vamos poder aproveitar da minha casa de verdade, você vai gostar da vista, do céu, de tudo. Ou não! Sei lá. Fica comigo, vai?
- João, é muita informação, mentiras... Você mantinha o apartamento para encontros casuais, né?
- Sim, era isso. Mas depois de você, foi só para a gente se amar, lá que passamos momentos maravilhosos. E agora vamos viver esses momentos na minha casa.
- Um apartamento para foda que é o dobro do tamanho da minha casa… realidades tão diferentes… como pode dar certo? E o espelho de chão…
- Para, Davi. não complica mais. A vida começou depois de você, nada de antes tem valor. Vamos ficar juntos, vai dar tudo certo.
- João, eu amo demais você, você mudou minha vida, mudou a mim, mas, me dá um tempo.
- Tá bom, amor. Já mandei o endereço da minha casa, vamos nos ver lá. Não demora, eu não aguento muito tempo sem você…
Ficaram dois dias sem se falar e Davi mandou uma mensagem para João, preferindo agir como se nada tivesse acontecido. Era uma tentativa de “naturalizar” a situação.
Passaram alguns dias e eles tentam suprir as diferenças, agora expostas. Davi já não se sentia tão feliz, não lidou bem com tudo o que tinha acontecido e com a vida real de João Paulo. Ficou inseguro em se encaixar naquele universo. João, por sua vez, sentiu a distância de Davi e precisava se sentir seguro e desejado e logo pensou em sua vida de solteiro. Amava Davi demais, mas precisava de um escape, eles estavam ficando distantes e a “adaptação” de Davi estava demorando e o deixando ansioso.
Em um final de semana, Davi disse que ia ficar sábado em casa, para ajudar a mãe em um serviço que ela ia fazer. João ligou para Lucas e foram dar uma volta. Conversaram bastante e como Lucas tinha um date, foi embora. João ficou pensativo e entediado e viu que, pela hora, devia estar começando a “Orgias de Sábado” na casa de Marcelo, e foi para lá.
E agora?
CONTINUA