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Jucélia:
Quando criei coragem para responder à mensagem, a primeira coisa que fiz foi perguntar onde ela tinha conseguido meu número. Quando ela disse que era a Karen, imaginei que provavelmente a Karen se aproximou de mim a pedido dela, mas não dei tanta importância a isso. A ideia de nos encontrarmos pessoalmente me parecia perfeita; eu queria esclarecer as coisas com ela para tirar aquilo da minha cabeça. Então, no sábado, fui encontrá-la.
Bom, lá estava eu, de frente com ela. Nossa, ela era mais linda do que eu tinha reparado. Quando nos cumprimentamos, notei que a mão dela estava tremendo um pouco. Menos mal que não era só eu que estava nervosa, mas o que ela me falou depois que nos afastamos mostrou que ela estava bem mais nervosa do que eu.
Day— Olha, Jucélia, eu gostaria muito de conversar com você, mas antes queria deixar claro que não sou lésbica e isso não é um encontro. Só quero conversar para esclarecer algumas coisas.
Ouvir ela dizer que não era lésbica foi uma surpresa para mim; afinal, foi ela quem, do nada, me beijou naquela boate. Mas essa informação me deixou mais tranquila, e procurei deixá-la mais à vontade também.
Jú— Me chama de Jú, por favor. Fico feliz em ouvir isso, porque é exatamente o que quero— conversar e esclarecer o que aconteceu. Em nenhum momento pensei que fosse um encontro, pode relaxar, ok?
Day— Desculpe, é que estou um pouco nervosa com tudo isso.
Jú— Tudo bem, eu também estou, mas vamos tentar levar isso numa boa. Se deixarmos o nervosismo tomar conta, vai ser complicado.
Day— Você tem razão. Bom, aonde vamos? Você tem algum lugar em mente?
Jú— Sinceramente, eu tinha pensado em te chamar para irmos ao shopping, mas como você está de saia, fica meio complicado, já que estou de moto. Então, pode escolher o local.
Day— Eu achei uma boa ideia ir ao shopping. Que tal você guardar sua moto aqui no estacionamento e a gente vai no meu carro?
Jú— Por mim, tudo bem.
Levei a moto para o estacionamento, esperei ela tirar o carro e saímos em direção ao shopping. Durante o trajeto, não conversamos praticamente nada, mas ela elogiou meu cabelo. Eu agradeci e sorri para ela; nessa hora, vi que seu rosto ficou corado. Achei tão fofo! O perfume dela era muito gostoso, e não deixei de reparar que ela tinha belas pernas. A saia dela era um pouco curta e, conforme ela movia as pernas para mexer nos pedais do carro, ficou mais à mostra.
Assim que chegamos ao shopping, decidimos ir a uma lanchonete, por indicação minha. Eu adorava uma porção de batata frita com bacon e queijo derretido que tinha lá, e ela gostou da ideia. Sentamos e ela parecia um pouco tensa ainda, então resolvi puxar assunto.
Jú— Me esclarece uma coisa: você disse que não é lésbica, então o que aconteceu para você, do nada, me parar e me beijar?
Day— Foi uma aposta idiota minha e da Karen, desculpe.
Nossa, me senti um nada naquela hora. Não sei explicar o motivo, mas aquilo me deixou triste.
Jú— Uma aposta, entendi...
Day— Por favor, não pense besteira. Você não era o alvo da aposta; não era sobre você. Era uma aposta idiota, na verdade.
Jú— Pode me explicar melhor?
Ela me explicou e, realmente, achei bem idiota, mas me senti menos mal por não ser o alvo. Eu só me tornei um por acaso e achei ela bem corajosa, na verdade.
Jú— Realmente achei meio idiota, mas você foi corajosa. Eu não teria coragem de fazer o que você fez.
Day— Beijar uma pessoa estranha?
Jú— Sim, ainda mais uma mulher!
Day— Espera aí, você não teria coragem de beijar uma mulher?
Jú— Não mesmo. Foi a primeira e única vez, eu acho.
Day— Mas você retribuiu o beijo. Achei que você era lésbica.
Jú— Retribui, não sei porquê. Na verdade, sei; o beijo foi bom, não vou negar, mas não sou lésbica.
Day— Sinceramente, achei que você era. Tipo, você me beijou e seu estilo... Resumindo, eu achei que era.
Jú— Na verdade, foi você quem me beijou, Daynna. Mas não vou tirar minha parcela de culpa, porque retribuí sim. Você beija bem e eu estava há muito tempo sem beijar ninguém. Bom, acho que juntou tudo e deu no que deu. Mas me explica melhor esse lance do meu estilo.
Day— Me chama de Day, por favor. Bom, você estava de tênis, calça jeans, boné, tranças e com o cabelo raspado por baixo. Desculpe se entendi errado, eu só pensei...
Jú— Eu uso calça porque sempre estou de moto. Estava usando meu cabelo daquele jeito porque uso capacete o tempo todo. Eu trabalho de office-boy em um escritório de advocacia, fica complicado para o cabelo não bagunçar, então uso assim. O boné é pelo mesmo motivo e acabou virando um costume.
Day— Eu não sabia, entendi tudo errado. Foi mal mesmo.
Jú— Tudo bem. Outra coisa que fiquei curiosa: você pediu à Karen para se aproximar de mim?
Day— Não! Na verdade, só fui saber que vocês tinham conversado na quinta-feira passada. Até então, não tinha ideia de que ela te conhecia e muito menos que vocês conversaram. Não sei por que ela se aproximou de você, mas juro que não tenho nada a ver com isso. Acredite.
Jú— Eu acredito sim. Eu não fazia ideia de que vocês eram amigas. Ela não falou nada, só me contou que viu o beijo, mas nem rendeu assunto. Acho que, meio que, ela fez isso tentando ajudar, mas isso só ela vai poder nos explicar.
Day— Acho que ela, no fundo, sabia que eu iria querer falar com você, por isso se aproximou para conseguir seu número. Karen é minha melhor amiga e me conhece muito bem. Ela é muito gente boa.
Jú— Eu gostei dela. Conversamos um bom tempo, ela é muito divertida e, no fundo, me ajudou também, porque eu queria mesmo falar com você e esclarecer tudo. Bom, no fim, deu certo.
Continuamos conversando e o papo fluiu. Ela me contou sobre o trabalho dela, família, estudos e a desilusão amorosa que teve. Nossa, que sacanagem o que o cara fez com ela! Fiquei com muita raiva dele; deve ser horrível ser traída assim.
Contei para ela sobre minha vida também. Com o tempo, fomos nos soltando; parecia que aquela tensão não existia mais. Os sorrisos já apareciam a todo momento. No final, sabíamos muito uma da outra, e notei que não tínhamos nada em comum. Éramos muito diferentes, mas algo nela me chamava muito a atenção, e no fundo eu fiquei um pouco decepcionada ao descobrir que o beijo foi só uma aposta.
Naquele tempo que estávamos ali conversando, nossos olhares se cruzaram algumas vezes. Eu estava encantada com os olhos dela e, pelo jeito, o alvo dos seus olhares era minha boca. Toda vez que aquilo acontecia, eu dava um sorriso amarelo e baixava o olhar. Notei que seu rosto ficava corado, mas meu pensamento era que aquilo iria passar. Sei lá, talvez a gente até pudesse virar amigas; ela me parecia ser uma garota gente boa.
Já estava ficando um pouco tarde, o sol já estava quase se escondendo. Eu disse que precisava ir embora. Dividimos a conta e voltamos para o prédio dela. Durante o caminho de volta, o silêncio tomou conta do carro; nem parecia que, há poucos minutos, estávamos no maior papo. Chegamos e, assim que saí do carro, dei a volta e a esperei sair. Queria dar um abraço nela para me despedir.
Ela saiu do carro e veio até mim, dizendo que tinha adorado a conversa e que, se eu quisesse, poderíamos marcar outras vezes. Eu disse que também tinha adorado o papo e que foi bom esclarecer as coisas; que a gente ia se falando por mensagem e marcaria algo novamente, com certeza.
Ela não esperou eu me aproximar, veio até mim e me deu um abraço bem apertado. Senti o corpo dela colado ao meu, seu perfume nas minhas narinas. O abraço ficou bem demorado. Ela se afastou um pouco e nossos olhares se cruzaram. Eu sabia que devia soltá-la, mas simplesmente não conseguia.
Estávamos ali, uma olhando nos olhos da outra. Ali, tive certeza de que tinha mentido para ela e para mim o dia todo. Não estava nada esclarecido; eu queria aquele beijo de novo. Queria ela para mim, mas não conseguia dizer nada, e ela quebrou o silêncio.
Day— Jú, aquele beijo não sai da minha cabeça.
Jú— Nem da minha. Eu não paro de pensar naquele beijo.
Day— O que a gente faz agora?
Jú— Eu sei o que fazer agora; não sei é como vamos fazer depois.
Day— Que se dane o depois! Faça o que você quer fazer agora.
Não esperei nem ela terminar de falar de novo e já colei minha boca na dela. O beijo começou intenso; nossas línguas brincavam uma com a outra. Nossa, o beijo dela era muito melhor do que eu me lembrava. Ela chupou minha língua, mordeu meus lábios e minhas mãos apertavam sua bunda com vontade. Eu estava louca de tesão e fui levantando sua saia, mas ela se afastou.
Day— Meu Deus, Jú! Você me deixa doida, mas pode chegar gente aqui!
Jú— Desculpe, Day, mas eu esqueci até onde estávamos.
Day— Vem, vamos subir para meu apartamento. Acho que devemos conversar direitinho, mas dessa vez sendo sinceras uma com a outra.
Jú— Tudo bem, você tem toda a razão.
Peguei meu capacete e subimos para seu apartamento. Assim que entramos, fiquei encantada com o lugar. Era pequeno, mas muito bem arrumado e aconchegante. Ela pediu para eu me sentar e assim eu fiz. Ela sentou ao meu lado e falou;
Day— Achou que omitimos algumas coisas uma da outra, né?
Jú— Tenho certeza que sim. Olha, eu juro que não menti para você em nada do que falei. Só omiti que eu te falei lá embaixo: eu não paro de pensar naquele beijo nem em você. E tem mais uma coisa: acho que estou totalmente apaixonada por você. Estou com medo, porque nunca senti isso por uma mulher. Eu nem nunca tive interesse em uma. Não sei o que vai acontecer daqui para frente. Só sei que não posso ser sua amiga; não vou mais conseguir me controlar perto de você. Você não tem noção do quanto está sendo difícil para mim ficar assim perto de você sem te beijar.
Day— Eu acredito em você e pode ter certeza que não menti para você também. Nunca na vida tive nenhum interesse por mulheres, mas a partir do momento que nossas bocas se encontraram, não consigo parar de pensar em você, no nosso beijo. Meu desejo por você está me deixando doida! Quase perdi o controle assim que você chegou aqui hoje e me abraçou. Mas não é só isso; eu quero você para mim. Até pouco tempo atrás, jurava amar uma pessoa, mas o que estou sentindo por você é tão intenso que comecei a duvidar se algum dia cheguei mesmo a amar essa pessoa. Não acho que estou apaixonada por você; tenho certeza disso!
Jú— Mas e agora, o que a gente faz, Day? Eu também quero muito ficar com você, mas você sabe que isso vai causar um impacto enorme, não só nas nossas vidas, mas também nas vidas das pessoas que convivemos.
Day— Eu sei disso, mas estou disposta a arriscar. Acho que meus pais aceitariam de boa; Karen iria amar. E o resto, sinceramente, não ligo. Mesmo se meus pais não aceitarem, estou disposta a arriscar. É sério, eu quero ficar com você. Quero, pelo menos, tentar. Aquele beijo que aconteceu lá embaixo me fez entender o que eu quero de verdade. Não estou mais confusa; eu quero você, Jú.
Jú— Eu acho que meus pais também aceitariam, mas não seria tão fácil, porque os dois são evangélicos. Meu pai é pastor de uma igreja e isso teria um impacto bem ruim para ele. Mas acho que ele nunca me impediria de ser feliz. E minha felicidade, no momento, depende de eu ter você comigo. Também não estou mais confusa e quero você para mim. Se você quer tentar, é o que vamos fazer, porque eu também quero. Mas vamos com calma por enquanto; não vamos contar a ninguém, pelo menos no início, pode ser?
Day— Claro, pode sim. Eu penso o mesmo que você; devemos ir com calma. Bom, então a gente está namorando? É isso?
Jú— Por mim, você pode pôr o rótulo que quiser, desde que esteja comigo.
Não tínhamos mais nada a dizer naquele momento. Ela se aproximou de mim e nossos lábios se encontraram mais uma vez. Nossa noite estava apenas começando.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper
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