ONDE AS SOMBRAS ACABAM - CAPÍTULO 6: FLAGRANTE

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 1507 palavras
Data: 29/07/2023 04:51:29

NARRAÇÃO - ETHAN

Quem diria: eu estou namorando. E de quebra fiz uma amiga. Quer dizer, a Betty parece um fantasma ao meu redor. Ela quase não interage, pois quase sempre está com um livro em mão. O tema favorito da minha amiga é bruxaria. Se os meus pais descobrirem as minhas duas últimas aquisições eu vou direto para o centro de cura gay.

A Betty parece não se importar com os comentários que as pessoas fazem sobre as suas roupas e jeito de ser. Eu deveria fazer a mesma coisa, não é? Pena que sou um covarde. Estamos aproveitando um tempo livre no jardim da escola. Os dois jogados na grama, aproveitando o sol, já que não é todo dia em que o clima fica agradável neste lugar.

— Oi, pessoal. Tem espaço para mais um? — pergunta Jimmy nos pegando de surpresa.

— Oi, Jimmy. — digo, ficando em pé de tão nervoso.

— Se joga, parceiro. Só não quero muito barulho. Estou no capítulo de troca de corpos. — a Betty diz sem tirar os olhos do livro.

— Senta. — peço, sentando junto com Jimmy.

Que coisa estranha. Eu nunca tive um namorado. Eu pergunto sobre o clima agradável? Melhor não. Então, voltamos a atenção para Betty e fazemos algumas perguntas sobre bruxaria. Pela primeira vez, a minha amiga mostrou interesse em interagir com outros humanos. Ela explicou sobre a Wicca, que é uma religião baseada em práticas pagãs.

Na minha vida, eu fui ensinado que o único caminho é Jesus, porém, a Betty fala com tanta propriedade sobre a magia Wicca, que me deixa interessado em pesquisar sobre o assunto. De acordo com a minha amiga, a Wicca enfatiza a conexão com a natureza e o respeito pela Terra. Eles acreditam na dualidade divina representada pela Deusa e pelo Deus, que são vistos como aspectos complementares do divino.

— E você já lançou algum feitiço? — questiona Jimmy, que está de fato interessado na magia.

— Faço coisas pequenas. — revelou Betty, abrindo o livro e mostrando a imagem de uma moça sendo reverenciada pelos quatro elementos. — É mais sobre o nosso Estado de espírito do que outra coisa e...

— Ei, Jimmy! — Trevor grita pelo melhor amigo. — Vem cá!

— É o Trevor. — Jimmy me olha, antes de acenar para o melhor amigo. — Eu preciso ir. Betty, valeu pela aula. — levantando e indo em direção ao Trevor.

— Ele deve ter virado a escola de cabeça para baixo. — comenta Betty, pegando o livro e voltando para a sua leitura.

— Como assim? — questiono.

— O capitão do time de futebol com a desajustada e o menino gay. Isso é estranho, né? — ela joga a pergunta de volta para mim.

O menino gay. Ela disse que eu sou um menino gay. Será que ela sabe de algo? Eu devo desmentir? A Betty continua olhando para o livro. Ela nem deve saber o que se passa dentro de mim agora. Eu quero vomitar. Eu quero desaparecer. Todos vão saber a verdade sobre mim.

— Ah, e sobre você ser gay, relaxa. Eu não sou a porra de uma homofóbica. E se alguém mexer contigo, eu vou lançar um feitiço para matar o desgraçado. — ela avisa, ainda concentrada no seu livro.

Era para a frase me deixar aliviado, mas nada me tira da cabeça que todos vão descobrir e serei obrigado a ir para o centro de conversão gay. Eles farão uma lavagem cerebral e não serei mais eu no comando, mas sim a personalidade que os meus pais vão escolher.

*******

NARRAÇÃO - JIMMY

— Você tá doido? — questiona Trevor, colocando a mão no meu ombro.

— Sai fora. — digo o afastando. — Qual é a baboseira da vez?

— Você andando com os esquisitões. Vai querer a Bettany no nosso grupo também? Já não basta o crentinho de araque. — comenta Trevor me balançando.

— Eles são gente boa, cara. Qual é, Trevor. Esse é o nosso último ano aqui. Eu cansei de seguir o que as pessoas ditam como certo. — afirmei batendo três vezes no ombro dele. — Precisamos de mudanças, meu amigo. Vou pro treino. — correndo na direção do estádio.

Após a cirurgia, o meu pai sumiu de casa. Ele continua arredio e evita conversar comigo. Eu não reclamo. Espero que ele tenha aprendido a lição. Se eu tivesse morrido? Enfim. É melhor focar nos treinos e nas provas que se aproximam. Eu também tenho que conseguir um trabalho para juntar dinheiro.

Eu quero viajar para um lugar distante. Esquecer essa vida de cachorro e focar em crescer. Talvez eu faça faculdade de educação física e ache alguma escola para lecionar. Eu sou o responsável por treinar a maioria dos novatos, ou seja, ensinar é a minha praia.

Recentemente, recebi um email de uma universidade comunitária que adorou o meu perfil. Nunca fui pirado em entrar em uma universidade de renome. Qualquer uma que me aceitar e for a mais de 10 mil quilômetros dessa cidade, eu aceito.

O treinador é outro que está pegando leve comigo. As minhas participações nos treinos são mínimas. Eu observo os meus colegas e faço apontamentos do que funcionou ou não. Confesso que é muito chato. Não sabia que ia sentir falta do campo e de me sentir necessário.

Os encontros com o Ethan são mais suaves do que eu gostaria, mas da última vez que transamos eu senti uma dor desconfortável no abdômen, então, achei melhor sossegar o facho. Só os lábios do meu namorado conseguem me manter satisfeito, por enquanto.

No intervalo, peguei uma comida leve, mas não achei nenhum amigo meu. Em uma das mesas, avistei o Ethan e a Betty. Sem pensar duas vezes sentei com eles. De repente, todos os alunos começaram a nos olhar de maneira engraçada, alguns comentavam, outros só observavam.

— O que é isso no seu prato? — pergunto a Betty, que me encara de maneira engraçada. A sua comida parece ter sido atropelada por um caminhão.

— Macarrão de abobrinha vegano. — ela responde. — Pode ter certeza que é melhor do que essa comida industrializada. Mas, quem está julgando, né? Se o futuro é a morte.

— A Betty sempre positiva e esperançosa. — o Ethan comenta e nós dois abrimos um sorriso.

***

NARRAÇÃO - ETHAN

Hoje um orientador foi até o colégio. Nós passamos por um teste vocacional e tenho perfil para escritor. Na verdade, eu tinha um espaço online onde publicava os meus textos e contos, mas, com certeza, os meus pais não aprovariam o estilo de escrita. Um radiante Jimmy apareceu e mostrou o seu resultado.

— Educação física? — questiono ao ver o papel.

— Sim.

— Pensei que o teu sonho fosse ser jogador de futebol ou algo do tipo. — comento, pois realmente achava isso.

— Sei lá, eu gosto de futebol americano, só não é algo que eu me imagino fazendo a longo prazo. — ele explica e me pressiona contra a parede. — Mas tem algo que eu gostaria de fazer a longo prazo. — ele confessa me beijando no pescoço, então deixo a mochila cair no chão. — E isso também. — me beijando na boca.

No início do semestre, o Jimmy e eu encontramos uma sala abandonada no porão da escola. Tivemos que limpar um pouco, porém, o local se transformou em nosso motel particular. Dizem que uma garota foi assassinada pelo zelador no porão, por esse motivo, a direção decidiu lacrar a área, mas o Trevor conseguiu uma cópia da chave.

Como o melhor amigo do Jimmy não tem muitas namoradas, ele acabou pegando a chave e usamos a sala desde então. Eu adoro beijar o meu namorado. A sua boca é deliciosa e hipnotizante. É como se fosse um imã que me puxasse para perto dele.

De repente, eu senti uma fisgada. Eu não sei como aconteceu, mas em um momento eu beijava o Jimmy e aos abrir os olhos quem me beijava era a Betty.

— Que está acontecendo aqui? — pergunta o diretor, que está acompanhado de alguns homens. — James? — ele questiona ao ver Jimmy ao nosso lado.

— Opa. — solta Betty fazendo cara de debochada, enquanto limpa o seu batom preto que está em minha boca. — Desculpa, diretor. Eu tava mostrando ao Ethan como é que se beija de verdade. Espero que não tenha problema.

— Os três para a diretoria! Agora! — grita o professor ao apontar para a porta. — Desculpem, senhores. Esses alunos estão cada dia mais fora do controle.

Vamos subindo os três em silêncio. O diretor continua a fazer companhia para os homens estranhos. Eu quero morrer. Será que ele viu o meu beijo com o Jimmy. No meio do caminho, a Betty explicou que já usava aquela sala para tentar convocar a aluna morta e estava dormindo quando nos viu chegar.

— Vocês são muito lentos. Eu vi a silhueta do diretor abrindo a porta e não tive outra reação. Inclusive, Ethan, você beija bem, hein. — ela pisca na minha direção. — Pensando pelo lado positivo, a fuinha do diretor não viu o amasso de vocês. E não se preocupem comigo. Para quem eu vou contar? Para a aluna morta?

— Obrigado, Betty. — eu digo, mas o meu coração parece que vai sair pela boca. É a primeira vez que vou para a diretoria. O que vai acontecer?


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