*Valeu meninos pelos comentários, fico muito feliz em saber que vocês curtem esse gênero de leitura e meu modo de escrita!!! Neste capítulo, como os dois personagens estarão juntos, vou ficar intercalando entre eles*
Assim que viu Delvin parado na porta, Bran começou a sentir o nervosismo tomar conta de si, mas após raciocinar por uns instantes e pensar “vamos agir como se ele fosse um cliente normal”, o que era verdade, em partes, o controle foi voltando aos poucos. O jovem meio-elfo entrou, os dois se cumprimentaram cordialmente, com um pouco de nervosismo, e então Delvin, após tentar erguer a peça, e falhar, pediu:
- Bran, será que você pode me ajudar a levar isto? Sozinho eu não dou conta.
- É claro, pode deixar que eu carrego. – Bran pegou a peça e a ergueu como se não fosse nada, pois para ele, o peso era pequeno.
- Só preciso deixar isso na torre, antes de irmos pra a taverna. E aqui está o pagamento!
Bran pegou o saquinho de moedas e o entregou a Nolgrin, que não precisou de muito esforço para contar, pois as moedas já estavam separadas. Vendo os dois se acertando e indo embora, o ferreiro decidiu avisar:
- Bran, não se esqueça que amanhã você trabalha, então nada de voltar muito tarde. E você – o anão olhou sério para Delvin. Com uma das mãos, ergueu os dedos indicador e mínimo, apontou para seus olhos e depois na direção de Delvin, como se avisando que estava de olho – quero meu ajudante inteiro de volta.
Na mesma hora Bran corou, sem saber onde enfiar a cara. Delvin sentiu um calafrio na espinha, como se o anão pudesse quebrá-lo em dois, caso algo de ruim acontecesse ao seu ajudante, e pela força que ele tinha, provavelmente poderia.
- Sim senhor. – Delvin limitou-se a responder.
Rapidamente ambos estavam do lado de fora, antes que pudessem receber mais recomendações vergonhosas e/ou ameaçadoras do anão. Começaram o seu caminho em silêncio, mas assim que se sentiu mais tranquilo, Delvin começou a conversar com Bran, pedindo sobre como havia sido o dia, falando um pouco sobre o seu. Conforme iam caminhando e conversando sobre trivialidades do dia-a-dia, Bran foi se soltando. Em pouco tempo, os dois já estavam fora dos muros da cidade e próximos da torre.
- Nós só precisamos deixar essa peça no salão principal, na entrada. – Falou Delvin, torcendo para que nenhum de seus colegas estivesse por perto para importuná-lo.
Bran acenou com a cabeça, animado por poder entrar na torre de um feiticeiro. O Salão estava vazio, Delvin apontou o local para deixar o objeto e Bran o colocou lá, enquanto olhava ao redor, admirado com a beleza do ambiente.
- Uau, esse lugar é muito bonito, toda torre é assim?
- Não exatamente, os quartos e a cozinha são mais simples, mas outra hora eu te mostro, vamos indo.
Delvin pegou no braço de Bran e o levou para fora, quase arrastando o outro jovem, olhando para as escadas e rezando para todos os deuses que ninguém aparecesse. Bran ainda ficou observando o local, mas percebendo a pressa do seu parceiro, o seguiu para fora. Andaram um pouco em silêncio, mas assim que estavam um pouco distantes, Delvin falou.
- Desculpe por aquilo, não queria ter te arrancado de lá de dentro. É só que, não tenho uma boa relação com os outros aprendizes.
- Hum, vocês brigaram?
- Não, é que…, na verdade eu não sou um bom estudante. – Delvin soltou um suspiro. – Eu estudo aqui há 4 anos, só no começo eu me dei bem, mas agora eu estou cada vez pior. Não consigo me concentrar. Teria que ler livros gigantescos, participar de algumas aulas sentado quietinho na minha carteira, mas isso não é pra mim. As aulas práticas até são legais, mas como eu não sou bom nas outras, acabo ficando pra trás nelas também. Desculpe, eu não queria falar sobre isso hoje, mas é que isso me atormenta, porque eu não sei o que fazer se deixar o aprendizado de feiticeiro de lado.
- Tudo bem, às vezes a gente só precisa de alguém pra por essas coisas pra fora. Alguém que nos escute. Eu tenho o Nolgrin, mesmo que, tanto eu quanto ele sejamos fechados, quando precisamos, a gente fala um com o outro e se resolve. Você pelo jeito não tem ninguém.
- Verdade, eu estou sozinho. Engraçado, eu não costumo falar desse tipo de coisa com os outros, ainda mais com pessoas que conheço a pouco tempo, mas parece que você emite uma aura tranquila, me deu vontade de me abrir. Não sei explicar.
Os dois continuaram conversando, principalmente Delvin, explicando os motivos que o faziam se sentir fora dos trilhos em relação à feitiçaria até que chegaram à maior taverna da cidade. O Sonho de Halberd, construção de quatro pisos, sendo que o primeiro, onde ficam o balcão e as mesas, era tão alto como se fosse dois, pois possuía um mezanino com mais mesas e visão para um palco, no térreo, onde bardos e outros apresentadores faziam shows periodicamente. Nos outros 3 andares haviam quartos de diversos tamanhos para se alugar. Comandada por um meio-orc que ficava o tempo todo na cozinha, vários atendentes de todas as raças que anotavam os pedidos dos clientes e os serviam com as bebidas disponíveis, o Sonho era de longe a mais movimentada taverna da cidade, porém não a mais luxuosa.
Assim que os dois encontraram uma mesa e se sentaram, um grupo de 3 bardos subiu ao palco e começou uma apresentação. Bran notou que nas costas de um dos membros havia um alaúde, e se lembrou de seu sonho, no qual Delvin possuía algo parecido em suas costas, por isso perguntou:
- Delvin, você toca alaúde?
- Hoje em dia, não, mas antes de vir para cá sim. Em casa eu aprendi a tocar, mas meu pai e meu irmão mais velho me repreendiam, pois de acordo com eles isso não é coisa que nobres façam.
- Que engraçado. – disse Bran, sem querer
- Por quê? Na verdade, não era nem um pouco engraçado.
- Desculpe, não foi isso que quis dizer. É que eu sonhei com você noite passada. E no sonho você estava com um daqueles nas costas. – Bran apontou para o rapaz, que agora tocava uma animada música
Achando um pouco estranha o rumo que a conversa tinha tomado, Delvin nada respondeu, mas chamou um dos garçons e ambos pediram bebidas. Bebendo e aproveitando a música, os dois conversaram sobre suas origens. Bran contou que fora adotado muito novo por seu mestre, que vivia nas ruas desta cidade, assim como outras crianças abandonadas que ainda existiam por ali. Delvin contou que sua família era nobre, mas como ele era o quarto filho, nada herdaria e também como demonstrou magia logo cedo, foi enviado pra cá para aprender. Acabou contando também que suspeitava que sua família o tinha mandado para longe para se livrar dele e que só mandava o dinheiro para pagar os seus estudos enquanto estudasse. Imaginava que assim que terminasse ou largasse os estudos, o dinheiro da família também acabaria.
Antes que pudesse perguntar sobre namoros, preferências e afins, Delvin percebeu uma movimentação estranha ao lado do parceiro e viu uma criança cabeçuda se afastando rapidamente.
- Ei, você aí, volte aqui. – Delvin falou alto para ser ouvido. Muitas cabeças se viraram na direção dele, mas a garotinha apressou o passo dirigindo-se para a saída.
Bran se virou para a direção que o meio elfo havia falado, e viu a tal criança se afastando, mas antes que pudesse dizer algo, Delvin falou novamente:
- Confira suas moedas, acho que aquela criança te roubou.
Já se levantando, Bran pôs a mão na sua bolsinha de moeda e constatou que o cordão fora cortado e ela não estava ali. Começou então a correr na direção da saída, atrás da ladina. Delvin deixou algumas moedas na mesa, para pagar a conta, e correu junto do seu parceiro. A tal criança, apesar de diminuta, era bem ligeira e assim que os dois saíam pela porta, ela virava uma esquina. Bran e Delvin começaram a correr na direção da criança. Ela era rápida, mas não conseguiu despistar os dois rapazes e no final ambos a encurralaram num beco sem saída. Vendo que ela não tinha escapatória, Delvin, cansado da correria, falou:
- Menina... devolve... o dinheiro.... do meu... amigo.
A menina se virou, e revelou-se, não uma criança, mas sim uma gnoma, e pela segunda vez naquela noite, Bran se lembrou de seu sonho, pois a ladra era exatamente igual à gnoma de seus sonhos.