No colo dos cowboys - VI
(PARTE 6/7: SURRA DE PAU POR SEGURAR O PAU ALHEIO)
JOAQUIM, NUMA tarde assim, avistou aquele novo peão, o Gustavo, entrando pelo curral lá distante. O rapazola ainda não tinha esquecido o que tinha visto no dia do rio. Correu para onde ele estava, ia só puxar assunto, estreitar a amizade. Chegando, porém, flagrou o peão num canto abrindo zíper. Ia mijar, com certeza, e só não o fez porque Joaquim apareceu na hora.
— O que cê vai fazer, peão? — o rapaz perguntou, curioso.
— Ia só dar uma olhada no bezerrinho que a gente trouxe no outro dia.
— E esse zíper aí, aberto?
Gustavo sorriu. O patrãozinho era observador...
— Não é nada. Ia fazer um negócio, mas aí o senhor chegou, decidi deixar pra depois.
— Ué, por que não faz?
— Deixa quieto, patrão. Ia só mijar...
— Pode mijar, peão! — o rapazote cutucou, risonho. — Ou tá com vergonha de mim?
Não havia mesmo como não perceber. E Gustavo percebeu o olhar de Joaquim rondando baixo no seu zíper aberto.
— Fora que eu já te vi lá no rio — Joaquim continuou —, então não tem que ter vergonha. Né?
— É — Gustavo sorria.
Mas o sorriso era mais de embaraço que de educação. O garoto era mesmo o que havia pensado, e isso deixou o peão sem jeito. Gustavo não entendia muito aquela natureza. Joaquim gostava de homem. Era um rapaz até bonito, inteligente, com todo jeito de namorador, mas não queria saber de fêmea. Estava ali espiando a sua braguilha com ar furtivo, medroso. Curioso. E Gustavo pensou no que havia de bem em deixa-lo assim, curioso? Mas foi só um pensamento de momento.
Joaquim foi quem suspirou baixo:
— Eu posso — estendeu a mão — segurar?...
Mas via-se que logo ficou vermelho, como arrependido de dizer o que acabava de dizer. E Gustavo teve pena. O que havia de bom em deixar o rapaz assim, todo desconsertado? Gustavo não quis ser mau, embora o seu jeitão de homem o mantivesse quase inexpressivo.
— Ô, patrão — ele riu, dessa vez, abrindo de novo o zíper. — Já que quer... Mas olha, fica de bico, hem! Vê se não conta isso aí pra ninguém!
Ali perto, alguém ouvia o cochichar dos dois. Era Jorge. Aproximou-se sorrateiro, viu de relance o filho junto do novo peão. Muito junto... Não pensou muito, o fazendeiro. Lembrou da noite passada no mato. O pênis grande de Jean, o pênis grande de André, o pênis grande de Gustavo. Todos balançando diante dos seus olhos, da sua inveja. Um maricas, é o que ele é! O homem sentiu a pele do corpo todo ferver. Só havia um jeito de corrigir aquilo.
Passou a mão no primeiro pedaço de pau que achou pelo caminho e se dirigiu para o curral. Se Joaquim estivesse fazendo o que pensava que estava, ah, então ia tomar a maior surra da vida. Com certeza ia. E quando flagrou os dois criminosos lá no cantinho do curral, mijando enquanto um segurava o pau do outro, explodiu. Como um vulcão, a erupção do ódio, cuspindo fogo por todos os poros:
— Mas o que é isso, Joaquim?
O garoto perdeu toda a cor. Quis se esquivar, mas não pôde escapar da paulada que Jorge lhe mirou. Atingido, saiu correndo, as costas vermelhas do golpe, na carne viva. Jorge recuperou a ripa, mas o filho já estava longe. O alvo agora era o peão novato.
— Quem tu pensa que é, cabra? Mal te contrato, te confio a minha hospitalidade, e te pego aí, aprontando uma dessas?
Vagabundo sem-vergonha. Desgraçado. Agora iam se entender. E cada vez que Jorge falava, era um golpe que desferia em Gustavo. Como é que se dá o pinto para um moleque como Joaquim segurar? Sem-vergonha. O de Jean, o de André, o de Gustavo, o de Joabe, todos grandes demais. Todos sem-vergonha. Uns maricas! Mas Jorge não recuava de sua desforra, sua raiva. Gustavo se defendia, o pênis ainda pendurado fora da braguilha, balançando, balançando. Grande, grande. Um grande sem-vergonha.
Entre um golpe e outro, Jorge foi desarmado. Desabou no chão, devastado. Finalmente os sangues se esfriavam. Sangue que também escorria dos antebraços inchados de Gustavo. O peão, porém, nada disse. Apenas encarou o patrão por uns longos segundos antes de ir embora. Ia cuidar das feridas, do orgulho ferido. Cuidar para não se meter mais em encrenca.
Ao mesmo tempo, já em casa, Joaquim batia a porta do seu quarto e mergulhava na vergonha da cama. A mesma cama onde havia dormido com André. Seu choro veio desolador, inevitável. Desceu pelas bochechas com fúrias de cachoeira. Um choro, porém, para ninguém ouvir. Baixinho. De vergonha. De vergonha por estar chorando.
Gustavo também não estava mais no curral. Entrou pela cozinha, os braços vermelhos das contusões, pingando sangue. Foi Joana quem o viu primeiro. “Oh, meu Deus!” Nisso, moça Nina já corria para o quarto de Joaquim. O baque da porta tinha estremecido o seu coraçãozinho preocupado.
— Vá embora! — grunhiu o garoto lá dentro, com raiva, quando a ouviu bater.
Mas Nina entrou ainda assim. Não disse nada, não fez perguntas. Tudo o que dissesse seria inútil. Não era para isso que estava ali, então apenas sentou-se na margem da cama.
— Nina — Joaquim se encolheu mais entre os lençóis —, você me acha uma aberração?
Ela sentiu a pergunta como uma punhalada. Direto no peito, fundo na alma.
— Querido, eu amaria e admiraria você de qualquer jeito. De qualquer jeitoAS SEMANAS MAIS TARDE...
NADA COMO deixar o tempo correr.
Era uma sexta-feira, tarde dengosa. Alguns dos peões descansavam a sesta nas cadeiras de balanço da varanda, as mãos atrás das cabeças, os chapéus sobre o rosto. Jorge já se havia desculpado com Gustavo. Não queria contendas com seus subordinados, mas o proibiu de ficar de muito papo com os seus familiares. Sobretudo com Joaquim, que era mesmo um caso perdido...
A propósito, o próprio Joaquim, que estava prestes a voltar ao Rio, sem o conhecimento do pai, tomava o seu último banho de ribeirão com o peão André. Até o convidou para ir ao Rio, mas sabia que para André, um homem xucro, era o mesmo que para um peixe ficar no seco.
Nina, um dia desses, vira Joabe nu. De relance, mal deu para gravar detalhes na memória. Ele estava de costas, mas bastou para que ela continuasse alimentando suas fábulas eróticas e qualquer esperança. Janete, também, mantinha seus encontros com Jean. E, diferente de antes, Jorge não precisava mais estar longe. A mulher descobriu o quão o perigo era estimulante, viciante. Passou a se encontrar com Jean na cozinha, na sala, na suíte, no curral. Qualquer lugar perigoso, qualquer lugar onde Jorge pudesse aparecer a qualquer momento. Isso não quer dizer que o próprio Jorge não soubesse do que acontecia. Pelo contrário: sabia tanto que fazia vista grossa. Joana chegava a jurar de pés juntos que ele até pagava Jean para dormir com a sua esposa. Que era mais que corno manso. Para você ver: nada como deixar o tempo correr. O fato é que o marido sabia que não a satisfazia mais. Sabia qual era o seu lugar agora.
Na noite daquela mesma sexta-feira, Joaquim esteve propondo algo novo a André, que, nunca hesitante, atendeu outra vez o jovem patrão. Moça Nina, cansada de amargar à solidão da cama, vestiu uma camisola, desceu pelo lado de fora da janela do seu quarto, atravessou o quintal na ponta dos pés e bateu à porta de Joabe. “Oi. Sou eu. Será que posso entrar?” No quarto de Janete, Jean, nu das roupas de baixo, saltou na cama da patroa como quem salta na água: esparramando-se. A dona Joana lá na cozinha, coitada, ralava o milho do angu. Gustavo, no seu dormitório, em frouxas roupas de dormir, jogava xadrez sozinho. Na sala de estar, Jorge folheava A Manhã Mineira.
Joaquim já estava sem a roupa, meio frio e tímido da exposição, enquanto André o observava lá da cama, silencioso. “Quero ver tu assim também, peão!” E então foi a vez dele. André saltou no chão e tirou primeiro a camisa, botão por botão. O garoto assistia, atento. Depois desceu as mãos até a braguilha, e soltou a fivela e o botão. A calça desceu enquanto Joaquim sentia uma coisa subir pela espinha dorsal, um arrepio. Já tinha imaginado um milhão de vezes como seria aquele momento. Nenhum deles, porém, era tão bom, tão claro quanto a realidade. Nada o impediria, dessa vez. Nada.
Ele se aproximou do peão, deixou a palma da mão correr pelo seu peito. As ruas do corpo, as ondas dos músculos. “Olha, eu nunca...” Mas Joaquim não precisou terminar a frase, André já a sabia. E sabia tanto que guiou o rapaz exatamente para onde ele queria ser guiado. “Confia em mim.” E Joaquim assentiu, confiou.
André se deitou, confortável e nu, a mão direita atrás da nuca. Indicou que Joaquim o segurasse, o explorasse. “Pode pegar nele, sem medo.” E com as duas mãos, o rapazola o apertou com cuidado, como segurasse um filhote de pássaro, uma coisa frágil. André gemeu quando ele esticou o seu prepúcio deixando a glande exposta, latejante, vermelha e quente. “Ponha na boca”, o peão pediu, a voz era como um sussurro morno. E Joaquim assim o fez, com as delicadezas do iniciante, até André estar duro o bastante.
O peão agora estava de joelhos sobre a cama. Joaquim, na sua frente, de quatro, indefeso, o rosto baixado nos lençóis, sentia arrepiado o pênis desse outro roçar livre nas suas pernas. Um arrepio de apreensão que a cada toque de André fazia o seu corpinho se contrair todo de expectativa. Mas o arrepio virou brasa sob a pele quando André se encaixou nele, e um gemido de dor escapou da sua garganta.
Entrementes, lá no dormitório dos peões, Nina e Joabe conversavam.
— E foi assim mesmo que eu e ela nos conhecêmo — o peão ria ao lembrar da velha história. Falava da sua primeira paixão. — Mas eu tinha muito respeito por ela, demais da conta. Era ela quem fazia eu rir, foi com ela que eu conheci essas coisas de namorado e namorada...
E quanto mais Joabe falava, mais Nina se contorcia toda daquela intimidade. Não desgrudava os olhos dos olhos dele, da boca dele. Boca risonha de piadista. Mas também carnuda e quente de homem sedutor. Ela até umedecia entre as pernas, rubra de nervosa, extasiada daquela proximidade, daquela cumplicidade, daquele calor. Nunca antes havia tido o jovem peão tão perto, tão nítido.
Ela nem percebeu as alças da camisola que caíram dos ombros.
— Oh, que desajeitada eu!
Mas os olhos de Joabe também caíram sobre aquele pedaço de ombro à mostra — tão branco, tão macio que mais parecia de algodão. E moça Nina já não lembra bem como ele foi parar na boca carnuda e quente do jovem peão... por toda a noite.
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E aí? Suposições para o final? Será que Joaquim fica na fazenda? E Jorge? Será que acaba por entender o filho?
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