Oi, pessoal, boa noite.
Desculpem pela demora em postar, mas nessa semana perdi a mulher da minha vida. Minha avó, mulher que cuidou de mim desde que perdi minha mãe. a primeira mulher que soube da minha orientação sexual, enfim, uma mulher a frente do seu tempo. Hoje eu não vou responder aos comentários porque nem os li.
Desculpem.
Boa leitura
D.
Os Verões Roubados de Nós
Capítulo 36
Narrado por Enzo
Após um pouco mais de 4h de viagem Fernando estaciona na garagem da casa dos meus pais em Paraty. Enquanto ele pega nossas malas vou abrir a porta e acender as luzes. Está tudo em ordem e as lembranças voltam com força. Dou um suspiro e seguro o choro. Agora não é o momento para drama.
Volto e ajudo Fernando com as coisas e ele também observa tudo em volta.
— Incrível este lugar! – ele elogia – Muito bem decorado, Enzo.
— Se eu disser que tudo isso foi ideia da minha mãe, você acreditaria? – pergunto.
— Sim e diria que você herdou o talento dela. – ele sorri – Eu vi algumas sugestões suas em uns projetos. Roberto me mostrou.
Fico encabulado.
— Obrigado... – digo tímido – Bom... Você deve estar cansado... Vem, vou te mostrar o quarto de hóspedes.
Subimos com ele elogiando cada detalhe da casa e com certeza minha mãe iria adorar esses elogios.
— É aqui, Fer.
— Fer? – ele pergunta sorrindo.
— Desculpa. – fico vermelho – Escapou.
— Relaxa, Enzo. – ele fala – Eu não ligo. Somos amigos... Não somos?
— Você ainda não provou ser merecedor da minha amizade, mocinho! – resolvo brincar e sorrio.
— Ah!!! – ele coloca a mão sobre o peito e finge dor – Isso machuca meu coração... O que mais eu preciso fazer para provar, Sr. Espertinho, além de tirar do velório, ajuda-lo a fugir dirigindo por mais de 4h até chegar aqui, hein?!
Ele se aproxima e me faz cócegas. Rimos muito e resolvo ceder.
— Ok. Ok... – digo entre risos – Você é meu amigo. Satisfeito?
— Muito. – ele para e me encara – Ver você rir é muito bom.
— É, mas eu ainda estou de luto. – aponto para o quarto – Há toalhas no banheiro e minha mãe sempre deixa um kit de higiene lá... – faço uma careta – para o caso de esquecermos o nosso.
— Tudo bem. Obrigado. – ele diz – Onde é seu quarto?
— Última porta à direita. – respondo – Vai ficar bem aqui?
— Vejamos... – ele finge pensar caçando o queixo – Tem uma cama, banheiro, toalhas limpas... Serviço de quarto está incluso? – eu rio – Se estiver, quero morar aqui para sempre!
— Não conhecia esse seu lado palhaço! – falo para ele.
— Com o tempo você irá conhecer e até ficará enjoado dele. – Fernando responde.
Observo Fernando pegar sua mochila e dela tirar um shorts e começar a se despir. Fico estático quando ele se vira e me olha.
— Enzo... Por mais que eu ache excitante me exibir, acho que já passou da hora da criança estar na cama! – ele me empurra delicadamente para fora do quarto – Portanto, já pra cama! Boa noite. – ele fecha a porta para abri-la em seguida – É bom dia... Fui. – e fecha a porta novamente.
Dou uma risadinha e vou para o meu quarto. Estou literalmente morto de cansaço então, apenas tiro minha roupa e arrumo a cama para cair nela praticamente já dormindo.
*******
Ouço o som de gaivotas e abro meus olhos lentamente. Estou deitado numa espreguiçadeira e uma música suave toca. Espreguiço-me e sento olhando em volta. Estou debaixo de palmeiras e uma brisa suave vem do mar. Sorrio e olho para água e meu sorriso aumenta. É Gabe vindo na minha direção sorrindo também. Ele estava nadando. Seu rosto está barbado o que me deixa excitado, pois ele fica lindo de barba. Fica gostoso.
— Demorei muito, amor? – ele pergunta ao chegar.
— Não... eu estava dormindo.
Ele se aproxima e se deita sobre mim e começamos a nos beijar suavemente e aos poucos os beijo se torna intenso nos deixando em fôlego. Suas mãos percorrem meu corpo até chegar em meu pescoço. De repente, o que era uma caricia torna-se um aperto querendo me sufocar. Abro meus olhos e não é mais Gabe e sim Ítalo que sorri de forma insana.
— Eu vou te matar, Enzo! – ele fala e continua apertando meu pescoço.
Tento me libertar, mas não consigo e ao tentar gritar sinto o ar deixar cada vez mais meus pulmões e acabo desmaiando.
*******
Abro meus olhos de repente e me sinto perdido. Estou morto? Não. Minha memória retorna. Estou em Paraty no meu quarto. São e salvo. Que sonho horrível. Quando eu achei que faria amor com Gabe tudo muda e vejo Ítalo tentando me matar.
Acredito e confio na minha intuição com relação a ele. Começo a raciocinar sobre as últimas horas. Ítalo controlando a saída de Gabe, querendo saber do restaurante... Que estranho! Ou não? Lembro-me do documento de transferência que eu trouxe pensando em lê-lo mais tarde. A curiosidade me fez trazê-lo. Minha intuição está em alerta total. Estou com dúvidas e o fato de Diego dizer que pode ter sido armação também não ajuda. Suspiro e jogo as cobertas para o lado me levantando. Faço minha higiene e finalizo com um banho. Estou com fome e Fernando ainda deve estar dormindo.
Desço e para minha surpresa ele está na pia preparando algo junto com Zenaide, nossa caseira.
— Bom dia. – cumprimento os dois.
— Menino Enzo! – ela vem ao meu encontro e me abraça apertado – Meus sentimentos pelo menino Gabriel.
Abraço Zenaide e olho para Fernando que sorri cordial. Ela nos conhece desde sempre.
— Obrigado, Naide... – perceberam que eu apelido todos? Adoro...
— Vem... Senta aqui. – ela me puxa – Sr. Fernando fez café e bolo, então eu fui comprar pães coisas que você gosta.
Sinto-me mimado e sorrio.
— Obrigado de novo, meu amor. – seguro suas mãos – Naide, posso pedir um favor? – ela assente – Não avise aos meus pais e nem a ninguém que estou aqui, está bem? Pelo menos por enquanto...
— Pode deixar, menino lindo. – ela sorri e acaricia meu rosto – Mas não se pode fugir do destino, viu? Nem da vida...
Apenas suspiro concordando.
— Quer que eu vá no supermercado para vocês? – ela pergunta – É só fazer a lista que vou com o João, tá bom?
— Está bem, meu amor... Veremos aqui e depois te falo. – e pisco para ela.
Zenaide sai e nos deixa a sós.
— Ela ama vocês. – Fernando fala sentando ao meu lado.
— Eu sei... Eles trabalham aqui desde que eu era criança... – digo a ele – Ela nos viu crescer.
— Acredita que em 30 minutos de conversa ela praticamente arrancou a história da minha vida? – ele sorriu triste – E disse que sou um idiota por deixar tudo acabar assim...
— A Naide te chamou de idiota?! – pergunto chocado.
— Não... Disse que sou ingênuo... O idiota foi por minha conta! – ele faz uma careta me fazendo rir.
— Dormiu bem? – pergunto enquanto como.
— Sim... A cama é melhor que a minha. – ele ri – E você?
— Em parte sim... – respondo – Tive apenas um sonho estranho...
— Quer conversar sobre ele? – Fernando pergunta sério.
Pela primeira vez me sinto seguro par conversar com alguém sobre meus temores.
— Converso, mas com uma condição. – digo a ele – Promete não me julgar e nem me achar louco?
— Prometo.
Sorrio e aponto para a comida a nossa frente.
— Então vamos comer e sair para caminhar. Daí te conto tudo.
— Beleza!
Tomamos nosso café da manhã e libero Zenaide da ida ao supermercado dizendo que vamos ficar fora por um tempo.
Saímos pelos fundos da casa, pois há um portão de acesso direto a praia e iniciamos nossa caminhada em silêncio. Não há sol, apenas um mormaço leve e um vento constante que balança meus cabelos.
— E aí? – ele pergunta após um tempo – Quer me contar agora?
Olho para ele e suspiro. Então, decido começar:
— Eu sempre fui intuitivo, Fer... – faço uma careta de riso por causa do apelido – Desde muito pequeno... Eu nunca liguei muito, sabe? Mas de uns tempos para cá, eles se tornaram constantes e tive sonhos também. – faço uma pausa – Eu não queria que Gabe fosse viajar na terça-feira sozinho, mas ele já havia adiado demais e isso poderia comprometer o funcionamento do restaurante. – suspiro e passo a contar tudo para ele. Os sonhos, sobre a suspeita de Diego, sobre Ítalo. Sobre meu medo do futuro. – Enfim, agora tudo se acabou... Ele se foi para sempre. – limpo algumas lágrimas teimosas.
Percebo então que chegamos ao acesso a prainha.
— Vem comigo! – eu o puxo pela mão e adentramos a mata até sair onde quero – Dá uma olhada nisso!
— Uau! – Fernando está ao meu lado e sorri – Enzo, que lugar lindo!
— Este era o nosso refúgio. – conto a ele – Quase ninguém vem aqui por causa da parte da mata fechada. – aponto para a praia – Vamos?
Descemos por um caminho estreito até chegar à praia.
— Caralho! Lindo demais... – Fernando sorri – Obrigado.
— Por quê? – pergunto confuso
— Por compartilhar do seu refúgio comigo. – ele me olha e se aproxima – Por compartilhar desta beleza natural comigo.
Fernando acaricia meu rosto e me dá um selinho. Ficamos nos olhando até que ele diz:
— Não!
Faço uma careta.
— Não mesmo! Não dá liga. – rimos e eu me sento na areia – Sonhei com ele duas vezes...
— Sério? – ele pergunta – E como foi?
— No primeiro sonho ele me disse para ser forte e que iria voltar para mim. – falo encarando-o – E no segundo, que foi hoje estávamos nos beijando e ele começou a me sufocar... Quando abri meus olhos não era ele e sim o Ítalo e ele dizia que iria me matar.
Fernando me olha seriamente.
— Enzo...
— Eno! – digo para ele – Pode me chamar de Eno... Você é meu amigo, Fer.
— Eno... – ele sorri – É bom tomar cuidado com Ítalo. Quando a intuição fala devemos ouvir... Vou ficar com você até tudo se ajeitar, tudo bem? – eu não sei porquê disse isto, mas meu instinto me manda protege-lo.
— Tudo bem... Obrigado, Fer. – agradeço de coração.
— Devemos ouvir nossa intuição e nosso coração... Ou pagamos o preço por nossas escolhas...
— Está falando da moça grávida do restaurante? – pergunto direto.
Fernando me olha surpreso, mas desvia o olhar para o mar e cruza os braços sobre os joelhos.
— Sim... – de repente ele chora – Eu perdi o Vítor por causa de uma chantagem... E por minha culpa também.
— Quer conversar sobre isso? – pergunto amável.
— Meu Deus, Eno... Você é quem sofre a perda do seu amor e ainda me oferece ombro amigo? – ele sorri e chora ao mesmo tempo – Você é o primeiro amigo que tenho depois do Vítor...
Sorrio e em agradecimento.
— Vou te contar como chegamos até aqui.
E assim passamos o tempo. Falando sobre nossas vidas, medos e esperanças.
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Narrado por Tati
Juro que minha vontade ao falar com Diego ao telefone era de manda-lo tomar naquele lugar que não bate sol. Juro. Ele simplesmente some e depois liga como quem não quer nada e quando conto os acontecimentos da tarde ele acha que pode proibir as pessoas de frequentarem minha casa? Que viagem!
As horas passam e como não consigo dormir vou retomar um pouco da minha vida profissional. Monto algumas aulas, trabalhos e provas porque o final de semestre se aproxima. Estou tão concentrada que levo um susto quando ouço a campainha. Abro a porta e dou de cara om um ramalhete de rosas. Diego.
— Ahn... Flores? – pergunto irônica – O que você aprontou?
Ele abaixa o ramalhete e vejo seu olhar triste.
— Nada, mas quero me desculpar por não estar ao seu lado quando você mais precisou de mim. – ele fala.
— Strike 1, Diego! – dou passagem e ele entra.
— Tati, me perdoa... Mas o motivo foi muito sério. – ele diz e antes que eu possa perguntar – Não foi com a Julia e nem com meus pais. Foi com Fabíola.
Sinto o bichinho do ciúmes me mordendo e faço uma careta.
— Ah é? – falo cínica – O que ela aprontou desta vez?
— Ela está presa. – ele responde e sorri – A casa caiu para ela e o namorado.
— Ai, meu Deus! – penso em Julia – O que eles aprontaram?! E a Julia?!
— Ah... O de sempre... – ele responde irônico – Sequestro, cárcere privado... coisas do cotidiano deles.
— É impressão minha ou você está feliz com isso?! – pergunto surpresa.
Ele se aproxima e me abraça sorrindo.
— Meu amor, a Julia é minha... Definitivamente! – ele fala e percebo sua felicidade – Nunca mais vou preocupar com Fabíola e suas ameaças. Acabou.
Eu o abraço. Realmente a ex dele era um tormento e agora eles ficarão em paz. Pelo menos por um bom tempo.
— Amor, você me perdoa? – ele me pergunta e agora s expressão é séria.
Olho para ele confusa.
— Por que todos resolveram me pedir perdão hoje? – minha curiosidade aguça – Diego... O que está acontecendo? Eu percebi você todo cheio de segredinhos com meu pai e um senhor que não fui apresentada no velório. Quem é ele, hein?! Porque sinto que tem algo no ar que não saquei ainda o que é! Enzo foge após eu ouvir uns gritos dele, meu pai me pede perdão, você some e aparece com flores... E me pede perdãotambém.Vai me contar? Sim ou não? E pense bem na resposta porque pode ser a última vez que você vai me ver! – falo tudo de uma vez.
Ele arregala os olhos e fica perdido depois desta enxurrada de palavras.
— Ah... Da minha parte... Não... Calma, amor... É... – ele está tropeçando nas palavras – Ai, meu Deus!
— Olha aqui, Diego Antunes... – aponto o dedo para o peito dele – O Enzo eu perdoo porque ele está sofrendo de uma forma diferente, pois perdeu o amor da vida dele e eu meu irmão... Mas você e meu pai já estão demais nisso! O que que é?! Eu enterrei meu irmão hoje e meu coração está despedaçado! – começo a chorar – Meu pai me acompanha e faz um discurso de arrependimento e diz que nunca mais irá nos perder... Nós quem, caralho?! Porque o Gabe já se foi...
Eu me sento não sustentando minhas pernas e passo a chorar descontroladamente cobrindo o rosto. A sala fica num silêncio mortal e quando levanto meu olhar vejo que Diego está no celular.
— É sério?! – pergunto frustrada e ele me olha confuso, mas não para de fala
— ... Acho melhor vocês virem agora... Sim! – ele ouve – Minha namorada não pode mais chorar assim e se todos aí já sabem agora é a vez dela! – saber do quê?! – Ok. Vou contar 1 hora a partir de agora e se não estiverem aqui neste período, eu conto tudo. Tchau! – e desliga.
— Amor... – ele se senta e me abraça – Há algumas coisas que você precisa saber!
— O que está acontecendo?! – pergunto séria.
Ele segura meu rosto entre as mãos.
— Confia em mim? – ele pergunta.
— Diego...
— Apenas responda, por favor.
— Sim. – e confirmo com um aceno.
— Eu amo você! – ele sorri – E se por ventura você ficar cm raiva de mim hoje ou qualquer outro dia, lembre-se que eu te amo muito. – e me dá um selinho – Apenas lembre-se, ok?
— Eu te amo também, Di! – eu o abraço e nos beijamos.
Um tempo depois a campainha toca novamente e Diego vai atender, pois estou ajeitando minhas rosas num vaso. Ouço vozes e dentre elas reconheço a do meu pai e tio Pietro. Volto para a sala e vejo o senhor que ficou o tempo todo ao lado de meu pai.
— Filha! – meu pai sorri e em ao meu encontro.
— Oi, querida. – meu tio me cumprimenta também.
— Oi... – cumprimento a todos com cautela – Boa noite.
— Ótima noite! – olho assombrada para o meu pai quando ele fala isso – Vem cá, quero apresentar um amigo!
Aproximo-me do senhor. Ele sorri amável.
— Este é Antônio, querida, ele e Diego trabalham juntos. – arregalo meus olhos diante da informação do meu pai.
— Olá, Tatiana... – ele pega minha mão – É um prazer conhece-la. Diego fala muito de você.
Fico vermelha e sorrio tímida.
— Obrigada, senhor.
— Apenas Antônio, por favor... Sou jovem ainda – ouvimos Diego resmungar e rimos.
— Ok. Antônio.
Meu pai sorri, mas vejo seriedade em eu olhar.
— Diego me ligou. – ele diz – Precisamos conversar e...
Levanto minha mãos parando-o.
— Nem vem! Se for para fazer discurso de arrependimento e perdão e blá blá blá... Estou fora! – retruco.
— Meu amor, não é isso. – Diego toma a palavra – Sente-se aqui que o assunto é sério. Por favor.
— Sério com meu pai com esse sorriso parecendo uma hiena?! – pergunto sarcástica – Alguém aqui se tocou que meu irmão está sendo cremado neste momento?!
Vejo o sorriso do meu pai morrer e meu tio que até agora estava em silêncio resolve falar.
— Chico, melhor você falar agora. – e olha para mim.
Meu pai suspira e senta-se na poltrona a minha frente.
— Tati... Seu irmão... Está vivo...
Meu queixo cai. Juro. Acho que meu pai pirou de vez, só pode.
— Não é mentira, amor. – Diego fala – Resgatamos ele hoje.
E assim, eles passam a relatar tudo o que aconteceu desde o acidente, o reconhecimento do corpo, a rapidez com que tinham que agir. A participação de Ítalo, de Fabíola e seu namorado. Eu passei da incredulidade para ansiedade extrema. Antônio conta a parte do resgate para mim e fico impressionada com ele. E confesso que admirada também. O homem não brinca em serviço.
Assim que eles terminam o relato levanto-me e vou para o meu quarto.
— Tati! – Diego vem logo atrás de mim – O que você está fazendo?
— Quero vê-lo agora! – digo apressada – Só acredito vendo-o.
De repente eu estanco lembrando de algo. Fiz merda.
— Meu Deus, Di! Eu entreguei os documentos do restaurante ao Ítalo! – me desespero.
— Calma, amor...
Saio do quarto rapidamente.
— Pai... O Ítalo está de posse dos documentos do restaurante! – digo aflita – Eu entreguei porque ele veio com uma conversa. – fico com raiva ao me lembrar de sua cara fingida – E eu cai direitinho. Aquele filho da puta!
— Filha...
— Tatiana... – Antônio interrompe meu pai – Fique tranquila. Estamos na cola dele... E sabendo disso agora fica mais fácil decifrar esse enigma.
Olho para ele confusa. Minha cabeça gira, mas no momento só consigo pensar em Gabe. Só quero ver meu irmão, sentir seu cheiro, tocar nele.
— Meu Deus! O Enzo... – falo e olho para meu tio – Temos que avisa-lo.
— Não sabemos onde ele está. – meu tio esclarece – Pelo menos ainda não. Ele não foi para Paraty. Zenaide disse que eles não apareceram por lá.
Algo me diz que meu primo mentiu para todos nós. Volto ao meu quarto e pego a carta.
— Tio, entregue para tia Alice, ok? Está endereçada a mim, mas acho que irá conforta-la também. – eu o abraço – Ele está bem.
Eu me afasto e coloco meu casaco procurando as chaves do meu carro. Preciso ver Gabe.
— E então? – pergunto a eles – Quem irá comigo? Quero vê-lo... E eu quero agora!
Vou saindo, mas Diego me segura.
— Vida, vamos amanhã? Pode ser que você não consiga entrar por causa do horário.
— PARA! – grito – EU CHOREI POR ELE E QUANDO DESCUBRO QUE MEU IRMÃO ESTÁ VIVO VOCÊ QUER QUE EU ESPERE?! – me solto dos seus braços – EU VOU!
— Tati...
Ouço a risada de Antônio seguido de um elogio.
— Essa tem personalidade! – ele zomba de Diego – Você está fudido! Kkkk...
— Pai... Avisa seu amigo que estou indo e que quero entrar! – aciono o elevador – Quem ficar por último feche a porta, por favor!
E saio deixando os quatro sem ação. As portas do elevador se abrem e Diego entra logo atrás de mim e meu tio também e ouço os resmungos do meu pai e as risadas de Antônio.
— Foda-se o que vocês irão fazer com Ítalo, mas mantenha meu irmão a salvo daquele mostro.
— Pode deixar, amor. – Diego responde.
Nos despedimos de meu tio e Diego pega as minhas chaves.
— Eu dirijo. – ele diz e seguimos para a clínica.
No caminho algo ainda me intriga.
— Qual o real motivo dele fazer isso tudo contra o Gabe? – pergunto curiosa.
Diego me olha sério.
— Eu já me perguntei isso milhares de vezes, mas só saberemos quando ele for preso. – ele suspira – Os comparsas dele estão sendo interrogados, então será uma questão de horas até seu mandado de prisão ser expedido pelo juiz.
— Acha que há mais alguém próximo a nós envolvido nisso? – pergunto e observo sua reação. Ele nada fala. – Diego?
— Desculpa, amor... Mas não posso falar mais nada. – ele se cala.
No momento isso não me interessa. O que me interessa e ver meu irmão novamente, mesmo que ele esteja dormindo.
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Narrado por Gabriel
Após o resgate.
Ouço vozes ao longe e sinto mexerem no meu corpo. Tento abrir os olhos, mas eles parecem colados. Por mais que eu queira, não consigo. Adormeço com o som de um bip.
Algum tempo depois as vozes voltam. Por que não consigo abrir meus olhos? Antes eu estava com frio, mas agora sinto meu corpo aquecido e aconchegado. Alguém mexe em meus cabelos e fala comigo. Tati? Novamente tento abrir meus olhos e nada. Nem me mexer eu consigo. O sono vem e durmo de novo ao som do bip.
Silêncio. Abro meus olhos lentamente. Agora sim. Olho em volta e não reconheço o lugar. Ouço novamente o bip, mas desta vez eu não durmo. Movo minha cabeça lentamente e vejo um aparelho com duas mangueiras saindo dele e conectando-se ao meu braço. O outro esta enfaixado ou com gesso. Não sei dizer. Tenho me mexer e sinto uma dor horrível. O que aconteceu comigo?
Estou tão cansado. Meu corpo está dolorido e percebo que estou sozinho neste quarto. Ouço o barulho de uma porta se abrindo e vejo uma moça de branco passar com uma bandeja por ela e se aproximar de mim.
— Que bom que acordou, Gabriel! – ela sabe meu nome – Meu nome é Carla e sou a enfermeira que cuidará de você agora a noite.
Enquanto ela fala troca com agilidade as bolsas vazias por novas e injeta algo numa seringa dentro da bolsa.
Tento falar, porém não consigo. Minha garganta está seca.
— Fique calmo e não tente falar ainda. – ela sorri – Vou chamar o médico. Só um instante.
Meus olhos pesam novamente e acabo adormecendo antes do médico vir.