CAPITULO 18:JULIA
Depois de nove dias a Alexia acordou. Entrei no quarto com o andar vacilante, com medo do que me esperava. Ela me recepcionou muito bem, mas me "cortou" assim que tentei começar o meu tão ensaiado pedido de desculpas. Meu pai veio nos contar quem tinha atropelado a Alexia. Não me surpreendeu quando descobri que era a Fernanda. No fundo eu já sabia que ela tinha uma parcela de culpa. Mas o que me doeu muito, como se uma flechada tivesse atravessado o meu coração foi ouvir a Alexia dizer que eu era a sua ex. Quando ela saiu do hospital foi ainda pior. Ela não queria falar comigo de jeito nenhum, me evitava de todas as maneiras. Na faculdade, ela fingia que não me conhecia. Passava por mim e nem me olhava. Era como se eu fosse invisível. Acreditem, não tem coisa pior!
Aos poucos fomos perdendo o contato. Ela precisava de espaço, de tempo, ... E eu precisava recuperar a minha autoestima. Impressionante como a vida perde todo o sentido quando perdemos alguém que amamos. Eu precisava reconquista-la. Todos os dias quando eu chegava em casa depois de ser ignorada por ela, eu chorava. Olhava as alianças que o avô dela me entregou no hospital e me batia uma nostalgia.
Meu celular tocou. Era a Kamille. Estranhei ela está me ligando depois de meses sem me ver.
- Julia.
- Oi.
- Tudo bem?
- Sim. Na medida do possível.
- Você sumiu. Não deu mais notícias. Espero que o rompimento do seu namoro com a Alexia não tenha afetado a nossa amizade.
- Não! Claro que não! Eu sempre serei sua amiga. Você está aqui em Niterói?
- Estou sim. Podemos marcar para nos encontrar-mos. Está livre hoje?
- Livre eu não to não. Mas para você eu sempre arrumo um tempo. Podemos nos encontrar daqui a meia hora. Que tal?
- Ótimo. Me manda o endereço por mensagem.
- Ok.
Vi esse encontro com a Kamille como um sinal. Se tinha uma pessoa que podia me aproximar da Alexia, essa pessoa era a Kamille. Marquei com ela numa sorveteria, pois estava cedo e fazia muito calor. Ela chegou e nós nos cumprimentamos como sempre. Com um beijo em cada bochecha e um abraço. Uma coisa que não faltava quando eu e a Kamille estávamos juntas, era assunto. Falávamos de tudo um pouco e assim a conversa seguia boa e agradável. Não resisti e perguntei da Alexia.
- Como vai a sua irmã?
- Pra ser sincera... Nada bem!
- Como assim?
- Ela ta na maior deprê. To preocupadíssima. Ela sente a sua falta. Ela mesma já me disse isso inúmeras vezes.
- Sério? Mas ela me trata como se eu fosse invisível. Me evita. Me esnoba...
- Ela só faz isso porque esta magoada, mas ela te ama.
- Acho que você está enganada. Sua irmã não me ama. Nesse um ano que a gente namorou ela nunca disse que me amava.
- Julia sabe qual foi a última vez que a Alexia disse que me amava? A muito tempo atrás. A Alexia não é de falar. Ela demonstra seus sentimentos pelas suas atitudes. No jeito de olhar. Nos pequenos gestos do dia-a-dia. No jeito que ela te defende...
- Verdade.
- Se ela ia te pedir em casamento, pode ter certeza que ela te ama demais. E se eu fosse você eu iria atrás dela, me declarava e reconquistava a mulher da minha vida.
As palavras da Kamille me fizeram refletir. Eu precisava do meu amor de volta. Fiquei animada quando minha linda cunhadinha me contou o que ela tinha em mente. Levamos alguns dias para colocar nosso plano em prática.
Com a ajuda da Janaína consegui tirar meus pais de casa. Eu precisava da casa vazia para ter mais privacidade com a Ale. Preparei o jantar, vesti um roupa bem provocante e fiquei esperando por ela.
Quando a campainha tocou. Meu coração acelerou de uma certa forma que eu pensei que fosse enfartar. Abri a porta com as mãos tremendo. Ela estava parada na porta, linda como sempre.
- Oi, Ale. Entra.
Ela entrou meio desconfiada. Estava calada. Acho que processando tudo aquilo.
- Mas... A Kamille disse... Eu vou matar aquela garota.
- Ela só atendeu a um pedido meu.
- Ela mentiu pra mim.
- Claro. Se ela dissesse a verdade você viria?
- Não.
- Ninguém é perfeito, sabia? As vezes temos que quebrar algumas regras.
Silêncio. Não havia mais palavras. Somente olhares.
- Eu estava morrendo de saudade de você!
- Julia...
- Esses meses que ficamos afastadas não diminuiu em nada o amor que sinto por você. Eu te amo Alexia. Eu sei que errei. Eu só peço que me de mais uma chance. Minha vida não tem sentido sem você.
- Julia...
- Não quero continuar longe de você. Eu já não suporto mais essa distância.
- Julia...
- Não queria que a gente terminasse daquele jeito.
- JULIA! Posso falar?
- Desculpa. Eu falo muito quando estou nervosa.
- Eu sei. Eu te conheço, esqueceu? Eu só queria dizer que também sinto a sua falta.
- Jura?
- Juro. Podemos jantar? Estou morrendo de fome.
- Claro.
Ela disse que também sentia a minha falta. Isso, com certeza, era um bom sinal. Sentamos à mesa e nos servimos. Eu fiz strogonoff de frango, pois a Ale adora. Começamos a comer e a conversar. Acabei descobrindo que a Kamille tinha mentido pra mim. A Alexia não estava em "dreprê" coisíssima nenhuma. Muito pelo contrário, estava seguindo a sua vida. Vocês acreditam que ela começou a frequentar a academia? Me doeu saber que ela estava conseguindo seguir sua vida sem mim.
- Se você pensa que vai conseguir me comprar com strogonoff de frango, você esta absolutamente certa. -- Disse-me rindo. Eu amava aquele sorriso.
Ficamos nos encarando por alguns segundos sem nada dizer. Pra que palavras se tudo que precisávamos saber estava em nossos olhos? Deu pra ver que ela tinha se desarmado, me dando a oportunidade de se aproximar.
- E então Alexia? Como a gente fica?
- Pra ser sincera, eu não sei. Vamos com calma, ta ok?!
- Como você preferir. Mas posso te pedir uma coisa?
- Depende...
- Me da um beijo?
Nem esperei a resposta. Agarrei-lhe pela nuca e lasquei um beijo. Daqueles cheios de saudades. Quando as coisas começaram a esquentar, ela se afastou e disse que iria embora.
- Nos vemos amanhã? -- Perguntei.
- Te espero às oito.
Nesse dia fui dormir cantando. A felicidade não cabia dentro de mim. Eu conhecia a Alexia suficientemente bem para saber que ela queria tanto a nossa conciliação quanto eu. Finalmente eu teria o meu amor de volta.