Na Ordem do Caos 4

Um conto erótico de Hayel Mauvaisanté
Categoria: Homossexual
Contém 2354 palavras
Data: 18/10/2015 21:55:36
Última revisão: 19/10/2015 11:55:40

Na Ordem do Caos

Capítulo 4 - Tela Azul

===== Dia atual Casa 15 de Dezembro 17h21min =====

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Acabara eu tendo um sonho estranho, não conseguiria descrevê-lo, se tratava de mim, de Lourenço, outra pessoa e lembranças, não era ruim, era misterioso. Deparei-me que dormi no sofá e que estava junto de Lourenço em um momento bastante fofo. Demorava alguns minutos até repor meus pensamentos em ordem quando eu acordava, e percebi sua ausência.

"Cadê ele?", pensava eu procurando até meus olhos alcançavam.

— Lourenço? – chamei-o enquanto me levantava. — Está aí?

— Oi dorminhoco – surgia sua voz da cozinha se deleitando com um pote de sorvete que eu não sabia de onde tirou. — Dormiu bem? – perguntava ele se aproximando.

— Só eu dormi? – perguntei intrincado com a situação.

— Não, eu até tirei uma pestana no seu colo. – disse ele sorrindo enquanto tomava uma colherada de sorvete de morango. — Mas sabe como eu não durmo muito, logo já estava de pé – explicou me olhando.

— Certo. – arfei não postergando o assunto.

— É bonito ficar observando você dormir. – comentou ele indelicado.

— Sai. – ordenei jogando um travesseiro nele ao passo que logo fui buscá-lo.

— Não tem jeito mesmo... – comentou ele indiscreto. — Comprei sorvete pra você também, de chocolate. Não é vegano, é muito difícil achar essa raridade, sabe? Se não quiser tudo bem, vou deixar guardado – falava ele tomando o seu.

— O veganismo pode esperar mais – disse eu pegando o pote sorvete que ele guardou. — Você saiu mesmo – Cochichei.

— Sim, eu sai para comprar o sorvete – prontamente disse ele.

— Por quê? não Poderia? – Questionou Lourenço com a voz sumindo.

— Sinto que houve algo estranho...

Naquele instante ele foi e voltou da cozinha, e não pôde ouvir o que eu acabara de sussurrar.

— Seu talher, monsieur! – disse ele me oferecendo minha colher.

— Não precisa sempre ser irônico. – comentei ríspido lendo o pote.

— Se fosse outro, já teria te ignorado e te chamado de fresco – resmungou ele sensível enquanto tomava seu sorvete.

— Desiste. – rebati sarcástico.

Minha atenção voltou-se para o pote de sorvete. Uma das coisas que eu mais me entretia era ler rótulos de alimentos, procurava seu valor nutricional, gordura trans, carboidratos, etc... Enfim, peguei minha colher e abri o pote de sorvete de chocolate (meu preferido, sorvete já era uma maravilha, de chocolate ainda, era o manjar dos deuses) largar dos vícios é uma droga. Antes de ingerir, olhei para TV que estava com uma tela azul, não sabia porquê, estava somente. Aquele eletrônico mantinha contato extrassensorial comigo, onde despertou muitos pensamentos em mim. Fiquei hipnotizado com a tela por alguns segundos, e imaginando como minha vida tinha sido azul.

— Eu tive um sonho. – comentei bruscamente.

— Como era esse sonho? – Lourenço perguntou enquanto acabava com seu pote.

— Não consigo me lembrar direito. Mas nada importante. - disse eu tomando o meu sorvete. — Você estava lá – disse olhando para TV azul.

— Obrigado pela consideração - Rebateu ele indo jogar o pote no lixo.

Ele chegava dizendo algo, mas ficou prestando atenção em mim assistindo a TV com tela azul enquanto tomava meu sorvete de chocolate.

— Vou ao banheiro – dizia ele.

— Eu tava pensando – iniciei mexendo no pote. — Sobre minha vida. – murmurei com uma colherada.

— Especificamente? – questionou ele do lado da TV.

— Não é sobre uma coisa em específico. É sobre a minha vida em geral e todos que passaram por ela – disse tentando olhá-lo. — Fico pensando se mudasse um pequeno fato do meu passado, eu teria uma vida totalmente diferente hoje. E isso se aplica a todos que tive ao meu lado. – completei.

— Então é tudo uma vontade de mudar o seu agora? – indagou ele interessado.

— Não exatamente... – sussurrei. — É mais sobre como lidamos com mudanças e conflitos, como lidamos com a vida. E o desejo de mudança faz parte desse contexto da vida. Não há revolução sem esperança. – disse com a colher entre os dentes.

— Posso entender seu conflito. – Comentou ele, eu já não mais o olhava.

— Ainda que haja mudança, poderia estar mergulhado em um mar de insatisfação como estive tantas vezes, e não é uma maldição. É como eu lido com a vida. - disse respirando fundo. — Pensei sobre tudo que aconteceu na minha vida, desde minha antiga cidade com minha família perturbada. Em como desde pequeno eu era teimoso, cheio de pirraças e idéias incomuns para idade. E de como a minha mãe não sabia lidar comigo. E como por isso nunca nos damos bem – confessava concentrado.

— Você não tem culpa se teve uma péssima mãe. – dizia ele tentando me confortar ao meu lado.

— Podemos ter tido inúmeros conflitos, nós só interagíamos por xingamentos, discussões, ameaças e chantagens emocionais. Eu sou tão parecido com ela – eu levantava a colher para direção da TV. — Mas ao mesmo tempo, consegui ser melhor do que ela poderia imaginar ser – e coloquei de volta no pote.

— Seu complexo de Édipo se manifesta de modos incomuns. Inesperados – Comentou ele indiscretamente.

— Freud sabia de nada. – disse tomando meu sorvete. — A questão é minha relação com todos. Minha mãe poderia ser uma grande vilã, mas a vida dela também foi difícil. Todos têm suas passagens difíceis. Meu pai era ausente, e um alcoólatra violento e insaciável, imagino como era com minha mãe e irmãos. – disse apreensivo. — Minha mãe era incompreensiva, tento justificar por sua capacidade mental, mas mesmo assim ainda prefiro guardar minhas mágoas. Cada vez que fui visto como um louco, chamado de retardado, tratado de forma especial, toda situação que ela não teve astúcia de me ouvir e me entender, porque eu tinha "problemas". Vir de uma família desestruturada, em um lugar socialmente instável e violento te transforma. E pensar que meus parentes hoje estão em situações mais ruins que a minha, vistos de uma perspectiva mais comum. – ressaltei movimentando a colher. — Eu seria visto como o único que está numa maravilhosa situação hoje, mas estou mais destruído por dentro que qualquer outro. – disse olhando meu reflexo.

— Então está numa situação pior hoje... – sussurrou ele olhando para frente. E o olhei.

— Não é bem isso. Não é por sua causa. – disse tentando me justificar. — Talvez fosse muito mais difícil que eu pudesse imaginar sem você atualmente. – comentei sinceramente.

— Tudo bem. Mas não sei o que falar da sua família. - disse ele com os braços esticados.

— Nem esperaria. Sua família é perfeita. – afirmei ingerindo o sorvete.

— Não existe o perfeito. Toda família tem seus problemas. – rebateu ele concentrado.

Eu não sabia muito da família dele, eles me conheciam, mas nunca mantive muita conversa com os país. Pareciam distantes, mas sempre se demonstravam amorosos e presentes com a criação dele.

— E tudo se resume em problemas. Nunca em suas causas. O próprio ser humano. – comentei ácido. — Tudo o que tenho pensado é como tudo que fazemos, tudo que nos acontece, todos que presenciaram nossas vidas, cada palavra, cada atitude, cada falta nos formaram. E eu analiso seus resultados. Acaba-se tudo por eu me confranger em não ter conclusões ou respostas – disse com amargura. — Fico nesse embate em racionalizar a vida e tentar achar respostas de perguntas que talvez nunca terão uma, afim de me conhecer, claro, só eu posso me conhecer, para ter uma resposta a mim mesmo e resolver todos os espinhos que minha vida formou. Só claro, não há conclusão nenhuma. É uma aventura infinita onde você só tem a esperança e consciência da eterna insatisfação. Assim é a vida. – falei com pesar nos olhos. — Mas a vida, por consequência é também não desistir. - completei tentando me entender.

— Então tem uma resposta. – disse ele se levantando. — Devia largar esse existencialismo encrustado em você – comentou ele ao lado da TV de tela azul.

— Eu ficaria mais decepcionado se estivesse num estilo de pensamento niilista, talvez – murmurei olhando para o sorvete aguando no pote.

— Já me parece decepcionado ao máximo. – comentou ele severamente.

— Decepção é o que não falta. Meus amigos, os que eu pude dividir parte da minha vida, eu os estraguei um a um. – comentei triste. — Foi o que sinto que fiz a ele, foi o ápice de todo um ciclo destrutivo. - olhava para ele e para televisão.

— Então tudo isso é por causa dele? – indagou ele impaciente andando para um lado pelo outro.

— De fato, ele foi a fagulha tudo. Mas é só um na tela da vida. – Disse explicando situação e direcionando a colher para o azul. — Às vezes penso como pressionei tanto ele e os outros. Como fui negligente, impulsivo, machuquei de tanto amor. – suspirava triste.

Ele parecia desacreditado nas coisas que eu dizia.

— Por que essa mania de achar que você os pressionava? – indagou ele nervoso.

— Toda vez que eu era irritante, minhas perguntas constantes, minha irreversível carência, meu medo de perdê-los – disse eu triste olhando o sorvete derretendo. — Como eu obrigava ele a ficar comigo dando todo meu amor e amizade sem ter pedido nada. – completei.

Senti ele se aproximando de mim, logo sentia sua respiração, seu cheiro, sua apreensão, estava muito nervoso.

—Não há obrigação ou pressão quando se gosta de alguém. – rebateu ele me segurando forte nos ombros com um olhar assustador.

— Às vezes penso que você... – sussurava eu triste brincando com a colher no pote.

Ele me soltou, mas continuava apreensivo. E andando para um lado para o outro.

— Vou ao banheiro – disse ele saindo da sala.

Voltei-me ao meu entretenimento lúdico da Televisão de tela azul e meu sorvete de chocolate quase derretido. Foram uns 7 minutos e estava anoitecendo. Quando ouvi um som, era um ringtone de um celular. O som não era do meu, com certeza de Lourenço. E lancei minha visão com intuito de procurá-lo, percebi que continuava perto da Televisão.

— Lourenço!? – chamava eu. — Teu celular! – esbravejei chamando-o.

Ele parecia não vir. Então coloquei meu pote de sorvete no sofá e me posicionei para atender. Quando estava chegando perto, inesperadamente apareceu ele ofegante intervindo.

— Espera! Vou atender. – disse ele se pondo da minha frente e pegando o aparato.

— Alô!? Sim, sim... — cochichava ele ainda na sala. E depois saiu para o banheiro.

Poderia achar ele estranho. Porém era comum cada um ter sua privacidade. Apenas fiquei com meu sorvete, deliciando-me. Até que 3 minutos depois ele voltou apreensivo e arrumado.

— Era Lisa? – questionei ele tomando uma colherada de sorvete derretido.

— Não, nem nos falamos mais. – respondeu ele se acalmando. — Era meu pai – explicou ele.

— Desde quando? – Indaguei curioso.

— Desde quarta – respondeu ele seco.

— Pensei que ía pedí-la em namoro. – comentei enquanto mexia no sorvete derretido.

— E pedi. – revelou ele pegando suas coisas.

— Como assim? Nem me contou nada... – reclamei indignado.

— Você também não me conta tudo – respondeu ele vingativo. - E também foi porque terminei com ela no mesmo dia. – explicou ele apressado. — Vou ter que sair, mais tarde ou amanhã nos falamos. – avisou se aproximando.

— Beijo não! – dizia em protesto tentando me afastar dele.

— Não seja fresco! – disse ele me desarmando e beijando asquerosamente minha testa. — Tchau Tchau – despediu-se de mim indo embora.

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Enquanto tentava limpar minha testa, pensava em como Lourenço estava muito suspeito. Criaria hipóteses sobre isso, mas Cástor apareceu e se ajeitou no sofá, minha nova companhia. E para continuar com meu sorvete derretido e tentar entender porquê a tela da minha televisão estava azul, porque tinha preguiça de encontrar o controle.

— Deixe-me ir

Preciso andar

Vou por aí a procurar

Rir pra não chorar

Se alguém por mim perguntar

Diga que eu só vou voltar

Depois que me encontrar

===== Casa 19h57min =====

Estava terminando de arrumar a casa e dá ração para Cástor e Pólux, quando entrando no meu quarto ouvi um som de smartphone, desta vez o meu, e fiquei tentando me lembrar onde eu o deixara. Se eu não tivesse calmo, reviraria o quarto só para encontrá-lo. Mas era só pensar bem e seguir o som, e o aparelho estava bem debaixo do lençol. Poderia ficar horas me martirizando por isso, mas precisava ver o que era. Quando vi, era uma mensagem no aplicativo mensageiro WhatsApp de um número desconhecido entre outras 1000 não lidas.

"É ele", eu dizia mentalmente ao ver a foto.

A mensagem era um "Boa noite, Claus, sou eu Maurício", eu poderia responder no exato momento que visualizei, mas queria uma pequena vingança por todas as vezes que ele me fez esperar ou ignorou. Esperei meia hora para responder com "Noite, espero que não tenha hackeado meu celular", e ele respondeu dez minutos depois com "Sabe que eu não faria, peguei com a Paola", logo mandei outra perguntando o que ele queria.

E ele me manda um: "quero um encontro com você, pode ser?", coisa que eu tava sem paciência.

Só respondi: "Acho que já nos encontramos demais por um dia", E larguei o celular, também não visualizei a mensagem seguinte.

Ainda estava na minha arrumação, e o quarto era o último, Lourenço havia desarrumado de propósito. Foi quando olhei para porta daquele armário, bateu uma nostalgia. Fui abrí-lo depois de algum tempo. Eu guardava minhas últimas telas e desenhos naquele armário. Nem Lourenço sabia delas, estava sempre fechada com uma chave que escondo. Tirava cada uma e limpava da poeira, lembrando cada lembrança que haviam nelas.

Posicionei-as para que eu pudesse apreciá-las sentado abraçando meus joelhos. Um momento triste e de exaltação.

♪ We are only speaking from our conscience

He's gonna take us when he wants us

We only need a little piece

Somewheres in style

somewhere out of reach ♬

Meu celular tocava enquanto issso, tive de ir atender, era ele me ligando desta vez.

— Fala – respondia grosseiramente.

— Sei que deve tá chateado ou algo assim, mas eu realmente preciso me encontrar com você. Pode ser outro dia, se quiser – falava ele no outro lado da linha.

— Tá bom. Eu quero um encontro com você. – disse aceitando enquanto para um desenho na minha mão. — Mas vai ser no dia que eu escolher, tenho que ver dias livres na minha agenda. – disse impondo condições.

— Tá certo. Vou esperar. – disse ele concordando.

— Agora eu vou dormir. Noite. – disse encerrando a ligação.

Eu não tinha agenda nenhuma, e nem dormia aquele horário, muito cedo. Mas uma coisa era certa: Eu queria encontrá-lo e teria que ser do meu modo. E coloquei o desenho no meio dos outros e os trancafiei novamente.


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Comentários

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Está ja é a 2 vez que quase entendo o que há com o claus , e também é a 2 vez que acabo com um duvida maior ainda . O claus e peculiarmente obsessivo e é essa obsessão que eu adoro nele . Claus e Mauricio uma imensa incógnita , não comprendo mais apenas deduzo que seja um amor rompido que ainda há resquício de amor em ambos , mesmo claus negando para sí , lourenço é outro bem complicado de saber oque ele quer com claus. Beijos de sangue e fogo de um targaryen .

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Fico a pensar o que é de verdade essas relação entre Claus e Mauricio

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