Fui até o escritório que dividíamos, apesar de Alex estar utilizando o espaço com mais frequência, já que ele que lidava com as questões administrativas do restaurante. Bati na porta:
- Pediu pra me chamarem, Alex.
- Senta, Lucas.
- Estou bem de pé. Algum problema?
- Sim, claro. Mas acho que vou resolver.
- Pode falar.
- Vou vender a minha parte do restaurante. Não quero mais conviver com você aqui!
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- Como assim? É sério isso?
- Sim. Eu prefiro acabar com isso logo antes que a situação fique pior.
Estava atônito. Não conseguia raciocinar, nem criar uma estratégia diante disso. Tinha me pegado de surpresa.
- Alex, quem tem que sair sou eu.
- Por culpa?
- Não. Por justiça. Esse restaurante é seu. Eu sou só seu auxiliar e não faz sentido você abrir mão do seu sonho por minha causa. Se o problema é a convivência, eu dou um jeito de arrumar um emprego e saio daqui assim que possível.
- Lucas, eu tô tentando fazer isso da forma mais tranquila possível.
- Não, você está sendo um idiota. Não esperava isso de você.
- Também não esperava que meu amigo ia me usar do jeito que você fez.
- Tô me sentindo um lixo agora. Acho melhor eu ir embora. Agora sou eu que não consigo mais ficar olhando pra sua cara.
Segui andando para o banheiro a fim de me trocar. Precisava sair dali. Precisava respirar. Precisava chorar. Pior do que não lembrar da melhor noite da minha vida, era ser recriminado por ela. Será que eu viveria sofrendo por isso? Quanta injustiça. Eu não merecia isso.
Me troquei e estava na porta do carro quando senti sua mão tocar meu ombro.
- Eu ainda não terminei, Lucas.
- O que mais você quer? Quer acabar mais comigo? Quer jogar na minha cara tudo que fez por mim? Quer me humilhar mais? Eu não preciso disso, Alex. Se existe o mínimo de compaixão, acaba com isso por aqui.
Acho que ele sentiu o peso de suas palavras. Me olhou com certo... Carinho?
- Só a culpa que você deve estar sentindo já vai te fazer pagar pelo que fez comigo.
Entrei no carro como se não o ouvisse. Cheguei em casa, tomei um remédio para a dor de cabeça que sentia e dormi depois de chorar. Decidi não pensar muito. Ia ser pior.
Acordei com a campainha tocando. Demorei pra levantar e só o fiz pela insistência da pessoa que aguardava do outro lado da porta. Abri...
- Quase meio dia e você com essa cuequinha e cara de sono?
- Gabi... Saudades de você!
Minha grande amiga. Gabriela foi a pessoa mais próxima de mim, além do Alex, durante a faculdade. Há três meses estava viajando com o marido pra Dubai. Essa se deu bem! Arrumou um cara lindo, inteligente, bem sucedido. Mas também, nada mais justo porque todas essas qualidades, Gabi também possuía.
- Que bons ventos a trazem? Veio rever os meros mortais?
- Tava com saudade da minha amiga gay!
- Palhaça. Vem, toma café comigo.
- E as novidades, viado?
Conversamos bastante, rimos muito e a tarde foi super agradável. Contei tudo sobre Alex pra Gabi e ela, como sempre, ficou do meu lado. Gabi nunca se deu bem com Alex. Segundo ela, ele sempre ignorou a presença dele. Ele sempre disse que ela dava em cima de mim e por isso não gostava da nossa amizade. Essa picuinha rendeu pelos anos de graduação.
- Já te falava há anos que esse cara é um idiota, né?
- Ele tá se transformando em um sim.
- Nossa. Não sei como você aguentava... Mas é bom acontecer essas coisas pra gente descobrir como são as pessoas mesmo e...
- Eu gostei, Gabi.
- Gostou de que, garoto?
- Gostei da noite com ele, de transar com ele. Pra ser sincero, toda essa rejeição dele tá me fazendo mal, mas se eu for avaliar, posso dizer que valeu a pena.
- Você é louco!
Depois de gritos e tapas que levei, comemos bobagens e já era hora de ir pro restaurante. Mais uma vez me perguntava se eu devia ir ou não, mas decidi ir depois do incentivo fofo da Gabi.
- Você vai sim! Vai dar gostinho de vitória praquele tosco não. Vai de salto 15, sambando nas inimigas e eu vou com você. Quero comer de graça!
- Você é rica, amor.
- Mas não dispenso uma boca livre. Vamos logo.
Fui, sem salto 15, mas com a auto estima mais elevada. A presença de Gabi me dava coragem pra encarar o Alex.
Gastei menos de 20 minutos pra chegar ao restaurante e o salão já estava cheio. Com certeza meu “sócio” estava comandando a cozinha, afinal eu me atrasei. Gabi se acomodou em uma das mesas e eu segui para o trabalho.
Enquanto Alex dava instruções sobre os pratos, assumi outro lado da cozinha para que não houvesse atrito, mas não demorou muito para ser notado.
- Lucas, você tem um tempinho pra ir ao salão?
- Acabei de chegar, Alex. Assim que possível eu vou.
Não trocamos mais palavras. Meu atraso tinha prejudicado o andamento dos pratos, afinal grande parte do cardápio era criação minha, em especial o daquela noite. Apesar da expressão séria do Alex, me mantive bem disposto, de cabeça erguida, brincando com os funcionários da cozinha, enquanto sentia seu olhar sobre mim, como quem perguntasse o porquê da felicidade desta noite. Ignorei. Numa das brincadeiras...
- Dani, deixa que eu acrescento o creme dessa sobremesa.
- Ok, Lucas, mas faça com carinho.
- Linda, confia em mim.
Ainda que baixo, pude ouvir a voz de Alex:
- Cuidado, nem sempre dá certo confiar em alguém.
O bom humor estava indo embora. Enfim, terminei as sobremesas e me direcionei ao salão, sendo seguido pelo Alex.
Ele foi me guiando até uma mesa em que estava Maíra e um homem bem bonito. Moreno, de terno e com um rosto bem másculo que me chamou atenção de imediato.
Alex cumprimentou a companheiro com um beijo e o homem com um aperto de mão frio, logo imaginei não ser alguém íntimo, apesar dos sorrisos que trocava com Maíra.
- Rafael, esse é o Lucas, meu sócio. Lucas, esse é o Rafael.
- Prazer, Rafael.
- O prazer é todo meu. Imaginava você bem diferente. Me agradou bastante.
Não entendi bem o que ele quis dizer, mas estava mais preocupado em saber do que se tratava. Segurei, mas não me contive por muito tempo:
- Então, do que se trata esse encontro?
- Lucas, o Rafael quer comprar sua parte do restaurante.
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Bom, espero que estejam gostando mesmo. Comentem muito!
Tô adorando retomar a escrita e receber os retornos de vocês. Forte abraço!