Já sentiram como se o chão simplesmente desabasse sobre seus pés e você não pode fazer nada para impedir a queda que se aproxima, não pode fazer nada para parar de cair em um abismo escuro que tira o ar dos seus pulmões e você cai sozinho no abismo sozinho sem ninguém para te estender a mão? Bem, era assim que eu estava me sentindo.
— Já ligaram pra família dele? – Perguntou minha mãe enquanto estávamos sentados na sala de espera do hospital, eu estava meio que jogado na cadeira nada confortável de plástico azul devido ao calmante que haviam me dado para que parasse de gritar o nome do Arthur.
— Ele não tem pais – respondeu Carlos – mas já liguei pra irmã dele, ela mora em outra cidade aqui perto, mas já esta vindo.
— O que esse menino tem? – Indagou minha mãe.
— Não sei – respondeu Carlos, os olhos verdes estavam em um mar vermelho que denunciava que ele havia chorado – no tempo que passamos juntos ele me pareceu super saudável.
Ficamos os três ali mais um tempo, logo depois minha mãe se cansou e foi pra casa. Algum tempo depois uma mulher branca, cabelo preto amarrado em rabo de cavalo e olhos azuis chega em nos e pergunta:
— Vocês são os amigos do Arthur?
— Somos – respondeu Carlos percebendo que eu ainda estava incapaz de falar devido ao calmante.
— O que aconteceu com ele?
— Ele simplesmente desmaiou, sem nenhum tipo de aviso prévio – explicou o ruivo.
— Havia tanto tempo que isso não acontecia – disse ela.
— O que não acontecia? – Perguntei, os efeitos do calmante desaparecendo do meu corpo.
Ela se sentou e continuou:
— Quando Arthur estava no ensino médio ele foi empurrado da escada, no começo foi apenas um susto, mas alguns meses depois ele começou a desmaiar sem motivo nenhum, ele fez alguns exames e descobriu que tinha um coagulo no cérebro devido à queda e a cirurgia pra retirada do coagulo possui um alto risco.
Fiquei totalmente sem palavras, simplesmente sai correndo dali e fui para rua respirar um pouco de ar para ver se meus pulmões voltavam ao normal, meu corpo todo estava formigando devido ao remorso. Sentei em um banco no ponto de ônibus e comecei a chorar incontrolavelmente pensando no enorme mal que havia feito a Arthur, ainda mais por uma garota, queria me matar ali mesmo, mas sou fraco o suficiente ate pra isso, então levantei e enxuguei o rosto e fui em direção a um lugar que havia muito tempo que não ia.
Sabia que eles estariam la, pelo que andei ouvindo eles não faziam faculdade ou trabalhavam, então não tive surpresa quando Leonardo abriu a porta depois que toquei a campainha
— Otavio? Quanto tempo cara, entra ai – ele disse dando passagem para que eu entrasse
Os três estavam lindos, mas era uma beleza perversa, os cabelos loiros estavam arrepiados com gel deixando ainda mais em evidencia seus olhos claros e suas bocas rosadas, era como olhar para anjos que se rebelaram contra Deus e se tornaram demônios, mas ainda mantinham sua aparência angelical.
— Olha só quem veio nos visitar galera – disse Leonardo quando entrou no quarto onde os dois irmãos jogavam vídeo game
— Quanto tempo cara – disse Gabriel ou Andre, apesar de saber diferenciá-los era difícil fazer isso com a pouca luz que tinha no quarto.
— Vim falar sobre algo serio com vocês – eu disse indo direto ao ponto.
Gabriel e Andre pararam o jogo e viraram para me encarar.
— Lembram do Arthur?- Perguntei e pude ver a surpresa que o nome causara nos três.
— O Pardal? – Perguntou Leonardo
— Sim – respondi
— O que tem aquele lixo? – ele indagou e começou a rir e seus irmãos o acompanharam
— Primeiramente: sei que você realmente não o acha um lixo, todos vocês – disse olhando para os três – segundo: que jeito mais estranho de demonstrar amor, e não finjam que estou mentindo, pois sei que todos os três iam estudar com ele – os trigêmeos se encararam surpresos – e terceiro: graças a nos ele agora tem um serio problema de saúde, espero que estejam felizes.
Pela primeira vez desde que nos conhecíamos os trigêmeos ficaram mudos e de cabeça baixa, não sei se foi de vergonha que os irmãos soubessem seus segredos ou remorso. Depois de alguns minutos minha paciência acabou:
— Digam alguma coisa porra, ou pelo menos vamos ao hospital vê-lo – disse
— E porque iríamos la? – Perguntou Gabriel levantando o rosto e pude perceber que ele estava chorando
— Preciso responder? Vocês vão pedir desculpa.
Mais alguns minutos de silencio se passaram e então eles se levantaram ao mesmo tempo, como se compartilhassem seus pensamentos mentalmente, e saíram pela porta gesticulando para que eu os seguisse.
Pelo menos eles tinham carro, então a viagem ao hospital foi bem rápida, todos os três evitaram meu olhar durante o trajeto.
— Ele já acordou? – Perguntei a Carlos quando chegamos à sala de espera
— Já, o medico veio a algum tempo avisar que ele estava melhor – só então ele pareceu perceber os loiros atrás de mim – quem são?
— Algumas pessoas que devem explicações ao Arthur, você poderia levá-los ao quarto?
— Claro – disse Carlos já se levantando
Virei para os trigêmeos e disse:
— Sigam ele, e por favor não façam mais mal do que já fizeram, e tentem não cair pra trás quando vê-lo – disse com um sorrizinho.
Sem entender minhas ultimas palavras eles seguiram Carlos ate o quarto onde Arthur estava, sentei em uma cadeira nada confortável de plástico azul, eles devem colocar essas cadeiras pras pessoas terem que procurar um ortopedista depois – pensei.
Acabei adormecendo, mas fui brutalmente acordado com Carlos me sacudindo, e depois dos três segundos que você precisa para se lembrar das coisas quando acorda, disse:
— Cadê os trigêmeos?
— Foram embora, eles tiveram uma conversa muito bonita com Arthur, quase chorei junto com eles.
— Fico feliz que eles tenham se desculpado.
— A cara que eles fizeram quando viram Arthur foi impagável – ele disse rindo – alias, não entendi o motivo daquela surpresa, pra falar a verdade, da onde você e Arthur se conhecem?
Depois de uma versão muito resumida dos fatos, Carlos disse:
— Serio que você fazia isso com ele?
— Não era por mal.
— Bem, ele quer falar contigo, por isso vim te chamar
— Vamos la então – disse me levantando
Arthur estava mais lindo do que nunca, os cabelos cacheados estavam bagunçados e quase caiam sobre seus olhos, olhos que na minha opinião nunca estiveram mais azuis.
— Oi – eu disse sentando na cama dele.
— Oi
Começamos a conversar sobre os trigêmeos e no final ele disse:
— Foi bom perdoar eles, me sinto mais leve, apesar de que me arrependi depois
— Por quê? – Perguntei
— Carlos pegou o numero de um deles, não sei dizer qual – ele disse rindo e olhando para Carlos que nunca estivera tão vermelho – acho que fui trocado – e piscou pra mim
Vlw pelos comentarios e emails galera, adoro responder voces,