Passei toda a viagem com um unico pensamento: O que eu havia feito de errado? Nada passava pela minha cabeça. Tudo parecia tão perfeito... Acho que esse era o problema. Nada é tão perfeito assim.
Cheguei em casa, com o rosto vermelho. Sorte que meu pai havia saido. Liguei para ele avisando que havia chegado e tive uma surpresa:
- Eu não to ai filho. Tentei te ligar, mas você estava na estrada...
- Oi?
- Eu tive que vir para São Paulo, lance do trabalho. Volto domingo bem a noite!
- Ah. Tá bom né...
- Juizo! Nick foi também?
- Não pai, ele ficou em Itajubá.
Sexta a noite eu fui em um barzinho, sozinho. Acho que foi a melhor e pior escolha que eu poderia ter feito. Minha cidade possui inumeros barzinhos bem legais. Gosto muito de todos, mas eu não imparcial na escolha do que eu ia.
Eu escolhi aquele em especifico pois eu sabia que era o favorito de Théo. E não deu bom essa minha escolha.
Estava eu, sentado no balcão. Um cara tocava violão. Tocava bem, mas não é sobre ele que eu quero falar. Eu estava sentado, cachaça vai, cachaça vem...
Alguns colegas meus chegaram e eu sentei com eles. Fingi uma falsa felicidade. Eles riram das minhas piadas, riam dos causos... Mas eu não... Eu só... Ficava ali. Sendo o palhaço da turma.
Théo não foi nesse dia no bar. Mas a noite estava só começando.
Era quase uma da manhã. Todos estavam meio alterados quando um deles falou:
- Ei, a Marina falou pra gente ir para casa dela. Ta tendo um churrasco lá. Vamos? – Minha espinha gelou. Marina. Eu não tinha falado com ela depois daquela noite. Mas como todos animaram, eu animei também.
Chegamos lá e qual foi a primeira coisa que eu vi? Théo. Ele estava triloco de bebado. Eu e meus colegas ficamos bebendo e conversando. Aparentemente Marina não guardava magoas de mim.
Eventualmente as pessoas começaram ir embora. Théo estava passando mal. Já tinha vomitado a alma dele na casa da Marina. Ela falou, educadamente para os amigos dele:
- Gente, leva ele pra casa... Ele ta muito ruim.
- Não! Ele vai gorfa no meu carro – Um deles falou. Os outros também pensaram em desculpas tipo: meu carro ta cheio e por ai vai. Eles foram embora e Théo ficou lá, passando muito mal de tanto beber.
Eu fiquei por ultimo. Quando todos já haviam ido, avisei Marina que levaria o Théo para casa. Coloquei ele no carro, no banco da frente. Ele chorava, não sei por que, mas chorava.
Levei ele para minha casa. Se os pais dele vissem ele nesse estado, ele estaria muito fudido.
Na hora que eu cheguei em casa eu percebi que sua roupa tava toda suja de vomito. Tirei a roupa dele, o deixando apenas de cueca. Coloquei o chuveiro no quente e dei um banho nele.
Pessoal, eu juro. Não fiz nada com ele. Apenas dei banho. Mas convenhamos, é muito dificil dar banho sem esfregar o corpo inteiro, né?
Mas eu dei banho, sequei. Mas esse dia estava frio. Então, pensando no bem dele (sem ironia) troquei a cueca molhada dele. Não vou comentar nada sobre a pica dele. Muito menos o corpo dele. Mas ele estava fazendo academia, isso era certo.
Coloquei uma roupa minha quente nele. Arrumei minha cama com um coberto que eu lembrava que ele me dissera que era o mais confortavel que ele já tinha visto. Era o meu favorito. Ele ficou todo encolhido na minha cama
- Você está bem? - Perguntei, não esperando uma resposta. Ele acenou muito fraco, tremendo de bebado e cachaça.
Quando eu estava saindo do quarto, escutei ele se levantando. Na hora que eu olhei, ele estava quase caindo, perto de mim. Segurei ele. Théo me abraçou.
- Dorme aqui comigo, Fer. Dorme do meu lado.
- Théo...
Sem mais nem menos, ele me beijou. Aquilo abalou comigo. Aquilo me fez tremer as bases. Aquilo... Me destruiu.
Deitei do lado dele e Théo dormiu me abraçando. Meu coração batia forte. Théo dormia tranquilo. Com muito pesar, levantei e sai dali.
Coloquei a roupa dele para lavar e fiquei jogando video-game a noite inteira. Não consegui dormir, não consegui fazer nada. Não consegui... Quase zerei assassins creed. Coloquei a roupa do Théo na secadora, no varal para tomar um ar.
Quase amanhecendo, passei ela, e deixei dobrada, em cima da mesa da sala.
Já era quase 10 horas. Fui para cozinha e fiz torradas. Théo acordou alguns minutos depois. Ele chegou na porta da cozinha, com uma cara de ressaca... Era até comico.
- O que aconteceu? – Ele perguntou, com a voz morrendo.
- Você passou muito mal ontem, muito mesmo. Se eu te levasse pra casa seus pais...
- Verdade, mas... E os meus amigos? Por que eu vim pra cá? – Não respondi. Ele percebeu que tinha acontecido algo e me perguntou:
- O que aconteceu? Conta!
- Eles não quiseram te levar por que você estava passando mal. Eles não queriam te levar para não sujar seus carros... – Ele sentou na mesa incredulo.
- Come!
- Não to com fome! – Ele falou.
- Cara, eu sei que você quando fica com ressaca, come igual um condenado. Eu fiz pra você, já comi antes – Coloquei as torradas com geleia de morango (favorita do Théo) na frente dele. Ele devorou as torradas.
Só depois que ele comeu, ele percebeu que as roupas que ele estava vestindo não eram deles.
- Minhas roupas...
- Estão lavadas e passadas ali em cima da mesa – Ele olhou dentro da cauça e viu que não era sua cueca. Ele me olhou desconfiado.
- Não se preocupe, essa cueca era nova. Pode ficar pra você! A sua tava molhada e você tremendo de frio... – Não respondi.
- Eu tenho que ir.
- Eu te levo
- Não. É perto. Você já fez muito.
Théo trocou de roupa e foi embora. Ele deixou a minha cueca. Assim que ele saiu, eu disparei a chorar. Chorei muito. Muito mesmo. Théo não se lembrava... Como eu queria que ele se lembrasse.
Enquanto isso, no meu celular, Nick mandava 8qmensagensligações. Nenhuma delas eu respondi.
Eu precisava pensar. Precisa de um tempo só meu.
Peguei meu carro e fui até minha arvore...
