No outro dia, na mesma hora que eu sempre acordei nos últimos três anos, acordei antes do sol. Fiquei mais tempo na cama, olhando para o teto, do que o comum. Me detestava, eu sou tão fraco. A única coisa que eu consigo fazer era chutar a barriga do anêmico do Fábio, mas eu nunca poderia fazer qualquer coisa contra Charles. Ele é forte, assustador, tem um olhar de mafioso e um manipulador nato. Eu não podia com ele, não sozinho.
Não compensava ficar pensando nisso, então eu decidi sair da cama. Quando chego no corredor vejo aquele ridículo dormindo, parecia um anjinho. Droga! Eu, definitivamente, não deveria fazer esta comparação com essa pessoa.
Olho no relógio e são 5:47 da manhã. O clima estava agradável e até um pouco claro, logo o sol iria nascer. Será que a loja de música estava aberta? Acho que vou aproveitar esse cartão de crédito sem limites que meu pai me deu. Depois eu me entendo com ele.
Vou até a cozinha, a Cici só vai chegar às 7:00. Então eu preparo sanduíches de presunto e um suco de laranja. 6:00 horas da manhã, me lembro de Fábio.
_ Acorda, Fábio. _ Eu o chamo. _ Acorda tripa seca!
Seu um chute, de leve, na bunda dele e ele abre os olhos.
_ O que foi? _ Diz ele sonolento.
_ Vai pra cama do quarto de hospedes.
_ Por que?
_ Vai logo, cara! Sua mãe vai me odiar ainda mais se souber que eu fiz o filhinho dela dormir no chão.
_ Tá bom!
Ele se levanta e vai pro quarto de hospedes. Morro de rir quando ele bate na porta de madeira. Lezado, deve pensar que é a Lince-Negra. Entro no meu quarto e troco de roupa, fico pronto para minhas andanças.
Andando eu acho uma loja de instrumentos aberta. O que é bem estranho, dada a hora. Comprei um lindo violão vermelho e uma capa azul. Acho que essas cores juntas são muito bonitas.
Então voltei para casa, ainda estava vazia. Então decidi estrear meu violão com uma música que eu pensava que combinava comigo, principalmente depois do dia negro:
()
“Em você e mim, há uma nova terra
Anjos em voo
(...)
Meu Santuário,
Meu Santuário yeah
Onde medos e mentiras se derretem,
Músicas podem nos prender
(...)
O que sobrou de mim,
O que sobrou de mim, agoraEu assisto você, adormecer rapidamente
Tudo que eu temo não significa nada
(...)
Em você e mim, há uma nova terra
Anjos em Vôo
(...)
Meu Santuário,
Meu Santuário yeah
Onde medos e mentiras derretem,
Músicas podem nos prender
(...)
O que sobrou de mim,
(...)
Meu coração é um campo de batalha
(...)
Você me mostra como ver
Que nada é inteiro
E nada é quebrado
(...)
Em você e mim, há uma nova terra
Anjos em Vôo
(...)
Meu Santuário,
Meu Santuário yeah
Onde medos e mentiras derretem,
Músicas podem nos prender
(..)
O que sobrou de mim,
O que sobrou de mim, agoraMeus medos
Minhas mentiras
Se derretem
Eu preciso de mais atenção do que você acha”
Quando acabo de cantar, estou chorando muito. “O que sobrou de mim? O que sobrou de mim, agora?”. Me viro para trás e vejo que estou sendo observado por quatro olhos atentos. Eu curvo a cabeça e espero eles saírem, não quero que me vejam chorar. Poxa, depois de tudo que eu passei, uma visita noturna daquele crápula não podia mexer tanto comigo.
O jeito era esquecer isso, o que agora ia ser mais fácil com meu novo companheiro. Meu antigo violão se quebrou quando eu o joguei na parede. Aconteceu depois que Pietro recuperou a memória e me chamou de... “Monstro”. Ele nunca vai me perdoar, o que é compreensivo depois do que aconteceu.
Bem, não adianta ficar pensando nisso, só ia me machucar. Canto mais duas músicas e decido sair da saleta só depois de estar sozinho. Ainda são só 8:00 horas e penso em ligar pra Karol, mas com certeza ela está dormindo. Preguiçosa.
Então o jeito é sair outra vez. Decido ir pra praia, fazia muito tempo que eu não ia. Chegando lá ela está vazia, como de praxe a essa hora. Mas, qual não foi minha surpresa, ao ver que os castelinhos em que eu costumava a brincar quando criança ainda estava lá.
‘My sanctuary, my sanctuary yeah, where fears and lies melt away...’ cantarolo, até pegar no sono. Eu não sou preguiçoso, mas basta ficar numa sombra, fechar os olhos e pensar numa música para eu dormir. ‘My fears, my lies... Melt away’, queria que Pietro estivesse aqui. Ele era um ótimo amigo. Maldita a hora em que eu aceitei em ser algo mais.
_ O cara, isso aqui é das crianças! _ Alguém diz isso me cutucando.
Quando eu abro os olhos, acho que preferiria estar dormido. Gustavo. Será que não existia mais pessoas nessa cidade não? Ou será que aqui é tão pequeno assim?
_ Que cê tá fazendo aqui?
Ele me aponta a camisa. “A serviço da Praia Paradiso, salve as Tartarugas”. Ele estava trabalhando.
_ Cumprindo serviço comunitário? _ Digo com a cara mais sínica que eu consigo. _ Bem a sua cara mesmo.
Adorei ver aquele sorriso que carrega para cima e para baixo sair da cara dele. Me senti um pouco culpado, mas o prazer foi maior.
_ Eu estou aqui por causa das tartarugas!
_ Bom pra elas, tem um ótimo salvador. Bem tô indo. See ya!
Depois que me afasto eu escuto um ‘Hey’ ...
_ Que é, hein?
_ Minha mãe estava traindo meu pai antes dele começar...
Hein???
_ Como que é? _ Pergunto confuso.
_ Meu pai começou a sair com Carlos depois que pegou minha mãe...
Viro de costas e começo a andar.
_ E o que isso tem a ver comigo?
_ Espera, eu quero pedir desculpas. Eu estava errado sobre os gays.
_ Ah, pedir desculpas por ter me estuprado? Ou por ter me humilhado na frente de toda a cidade?
_ Eu sei que é difícil, mas se eu puder fazer qualquer coisa para te compensar...
_ Não, não pode! _ Digo convicto. _ O que aconteceu naquele dia nunca vai poder ser reparado ou esquecido, mesmo se eu quisesse. Mas também não quero, que não é pra mim cair na lábia de outro babaca como você.
Ando um pouco e peço:
_ E por favor, finge que eu morri naquele dia e esquece que eu existo. Isso é um bom jeito de minimizar o que você fez.
_ Tudo bem, mas o que eu disse continua de pé.
Nem me dou ao trabalho de responder, eu nunca iria precisar dele. Nunca.
Bem, 4 dias se passaram. Meus pais chegaram e eu voltei a ver Gustavo outras vezes, entretanto ele não falou nada comigo. Só me olhava com pena. Garoto irritante. Então no quinto dia, do nada a campainha toca. E quem é?
_ E aí Dany? Como cê tá branquelo? _ Karol diz me abraçando por trás.
Ela invade meu quarto e eu não consigo ficar bravo com ela.
_ Karol, que surpresa. Veio antes do que eu pensava.
_ Surpresas é comigo mesmo seu bobo.
A gente se abraçou, rolou na cama. Fizemos muita algazarra, rolou até uma guerra de travesseiros. Parecíamos duas crianças, só paramos quando minha mãe veio saber se queríamos lanchar.
Claro, né? Estávamos famintos. E durante o lanche conversamos sem parar.
_ Ai amigo, posso te pedir um favor?
_ Claro que pode.
_ Será que eu posso ficar aqui, até arranjar um lugar para ficar?
_ Bem, eu tenho que pedir pro meu pai, mas acho que ele não vai se opor a isso. Então sim, né.
_ Obrigado Dany!
Ela me abraçou tão forte que eu fiquei sem ar. Como eu previ, meu pai não fez objeções quanto a estadia dela aqui em casa. E na janta mesmo apresentou ela a Cecilia, que ficou espantada quando viu nossas mãos juntas. Parecíamos namorados, mas só seriamos amirmãos, mesmo.
E os dias foram passando, logo eu estava acordando para um dia muito importante, primeiro dia de faculdade. Karol estava tão nervosa quanto eu, porque ela não conhecia ninguém. Ela estava se sacrificando por mim, todo mundo da nossa escola ia para mesma faculdade. Ela iria se sentir menos deslocada lá. Como não amar?
Quando chegamos na faculdade logo caçamos um lugar vazio para nos sentarmos. Ficamos um tempinho e vejo que ela está quase chorando então eu a abraço e dou um beijo na testa dela. Ela sorri pra mim, mas o olhar dela se afasta para alguém atrás de mim.
_ O que ele está fazendo aqui? _ Ela fala tirando seu sorriso.
Resolvo olhar para direção que ela está olhando, então eu o vejo. Ele está tão bonito, os mesmos olhos cor-de-âmbar e cabelos curtos agora. Ele está com a banda dele, e ele parece meio perdido e olha para todo lado só para quando me ver.
Pietro!
( do autor:) Mais um capitulo quentinho gente. Adoro escrever para vocês e adoro ler vocês brigando pelo Dany ser tão bunda mole (rs). Aguente firme gente e continuem lendo. Garanto que não vão se arrepender. E Samye, não estraga a surpresa do povo que não estão percebendo as pistas, mas acho que você já acertou sobre a primeira surpresa do conto. Shhh, hein garoto! E acompanhem o blog que eu postei coisas novas hoje: />