O garoto não se importava mais. Desistiu de tudo e quis esquecer que Pedro também tinha as suas próprias vontades e que precisavam ser respeitadas. Com dois passos para frente, Igor o abraçou de volta e o beijou, mas Pedro fugia com os lábios.
- Não, Pedro!
Deram mais um passo, sendo que Pedro o deu para trás e Igor para frente. E caíram na cama. O gesso do braço de Igor caiu como uma pedra em cima do peito de Pedro, fazendo-o imediatamente abrir a boca para respirar. Foi, sem querer, a oportunidade de Igor, que sem convite introduziu a sua língua naquela boca e o beijou. As pernas de Igor se moviam com rapidez e logo entrelaçou as de seu companheiro de quarto. Mesmo sendo mais forte fisicamente, ele não conseguiu se desvencilhar daquele ataque e, então, lhe restou a rendição. Seus braços voltaram a envolver o tronco do garoto e seus dedos deixavam marcas avermelhadas naquela pele, que além de fria, estava vulnerável a qualquer toque.
Mas com o braço engessado de Igor, aquela posição era quase impraticável. Então ele se levantou de pronto e, de pé, em frente ao corpo abandonado de Pedro sobre a cama, inclinou-se sobre ele e começou a abrir a sua bermuda.
- Não, Igor, pare, por favor!
- Nenhuma garota vai fazer isso, Pedro. Nunca mais!
Abriu finalmente o zíper e, ao ver aquele pênis ereto, quase escapando da cueca, sentiu que realmente não poderia parar. Sua mão esquerda atacou aquele pequeno pedaço de pano e expôs todo o membro de Pedro.
- Não faça isso, Igor!
Mas era tarde. Igor havia se ajoelhado e, de leve, passou a ponta de sua língua sobre todo o pênis, parando na cabecinha.
- E agora, Pedro, você quer que eu pare?
Então ele, que ainda estava deitado, finalmente levantou o seu tronco, ficando sentado. Igor estava ali, ajoelhado aos seus pés, com o cabelo desarrumado, um braço engessado, destruído pelo inicio do dia, sujo e fedido. Sua boca estava aberta e ele sabia que ali dentro havia uma língua suja com o suor de seu próprio pênis. Ele sabia que Igor queria se sujar ainda mais. Ele sabia que Igor não era de confiança. E por fim, sabia que nunca nenhuma garota o deixou daquele jeito, pronto para querer se sujar e sujar o outro ainda mais. Instintivamente, pegou o cabelo de Igor e o puxou para perto de seu membro. Igor sorriu seguindo também o seu instinto. “Eu o venci!”. E prometeu para si mesmo não desapontá-lo. Sua língua não parava e sua boca massageava cada centímetro de pele. Igor estava matando a sua sede com saliva e suor. O peito de Pedro, por sua vez, inflava e murchava ainda mais rápido. Não conseguia acompanhar nem mesmo a velocidade de sua própria respiração e, por vezes, perdia o fôlego. Seu cérebro as vezes parecia que não estava sendo oxigenado, provocando-lhe tonturas.
Não era possível que uma simples boquinha pudesse fazer aquilo. Não era normal. Os dedos de suas mãos pareciam ter perdido toda a sensibilidade e isso o fez ter medo. Então quis provar para si mesmo que ainda poderia sentir. Agarrou os cabelos de Igor mais uma vez e puxou para cima, fazendo-o cair sobre seu corpo e o beijando ainda mais forte que antes. Era mais uma vitória de Igor, que não conseguia parar de rir. Estava ele tão feliz que finalmente tinha se desprendido de toda a sua moral e que ele podia, sem vergonha de si ou de Pedro, poder fazer amor com aquele corpo e com aquele homem. O resultado era o seu sorriso, que mesmo chupando ou beijando, não saiam de seus lábios. Igor buscava racionalmente uma tal liberdade, mas que só foi alcançada quando ele parou de pensar e começou a agir. Igor estava livre, livre, muito livre. Igor enfim tinha o que queria e nem mesmo sabia que era isso.
Seus lábios então se movimentaram até o pescoço de Pedro e o chupou com velocidade, mas com muita leveza. Pedro não conseguia abrir os olhos e enxergar o teto com nitidez. Ele tinha que piscar os olhos várias vezes até se situar. Os lábios de Igor eram insistentes e provocavam inveja em seus próprios lábios. Por isso, Pedro não o deixou muito tempo em seu pescoço e logo tratou de convidá-lo a um novo beijo. Mas, como já sabiam, aquela posição era impraticável. Igor sentou em cima do quadril de Pedro e começou a puxar sua camisa.
- Deixa eu te mostrar como faz!
Após retirar a camisa, exibiu o troféu diante dele.
- Viu? É assim que se tira uma camisa!
Levantaram-se da cama e Pedro, com muita pressa, tentou tirar a bermuda, que ainda estava presa na altura de seus joelhos.
- Pegue a camisinha.
- Eu não tenho camisinha.
- Você continua o mesmo virgenzinho de sempre!
- Sim, continuo. – disse sorrindo.
Pegou então a carteira, que estava na bermuda que vestia, e tirou um preservativo. Igor não sabia o que fazer, pois o gesso em seu braço atrapalhava tudo. Enquanto respirava fundo para recuperar o fôlego que havia perdido, sentou-se na beira de sua cama, com as pernas abertas. Com a habilidade que tinha, em questão de segundos, Pedro já estava com a camisinha posta e não esperou por uma posição adequada. Aproximou-se de Igor e abruptamente levantou suas duas pernas, segurando-o pelos calcanhares e fazendo-o se deitar por completo na cama. Pronto, eis uma posição adequada! Quando Igor sentiu que começaria a ser invadido, jogou a cabeça para trás e, com um sorriso seguido de um suspiro, fechou os olhos e em sua mente implorou para que Pedro fosse o mais malvado que conseguisse ser. Da forma como aqueles corpos se encaixavam, não havia nada que impedisse Pedro de se movimentar da forma como quisesse, então não esperou que o ritmo certo chegasse aos poucos. Acelerou o seu quadril com movimentos muito rápidos. Igor já não conseguia conter a felicidade em si, sorrisos não eram suficientes para expressar a sua felicidade em estar liberto. Deixou-se invadir, não só pelo pênis e pela força de Pedro, mas também por todas as sensações que seu corpo conseguia captar.
Pedro empurrou o corpo de Igor um pouco mais com seu quadril, fazendo com que ele subisse a cama. Agora havia espaço para os dois. Então o rapaz se deitou sobre o garoto e uniram seus corpos ainda mais. Aquilo era muito perigoso, pois Igor já não era mais o mesmo. Tendo o tronco de Pedro ali tão próximo, o agarrou com o braço esquerdo e puxou rapidamente para um beijo. Foi tão forte que os movimentos cessaram.
- Não para, Pedro, não para.
- Não consigo com você me agarrando desse jeito.
- Não me importa, Pedro. Faça, vamos faça!
E aquele rapaz não poderia ter a sua virilidade desafiada.
- Igor, se eu fizer, eu vou ter que fazer com mais força.
- Faça!
- Você vai se machucar.
- Faça. Eu sei que você consegue.
E ele fez. Igor sentiu dor pois estava sendo ainda mais invadido. Mas gostou disso, embora a dor fosse obvia. Beijou Pedro e se deixou levar. A sua liberdade dependia disso. Já o rapaz não deixou por menos e retribuía o beijo com a mesma intensidade de seus movimentos de quadril. O suor já era tanto que não se reconhecia mais nenhum cheiro, pois tudo estava misturado: suores, cerveja, perfume e desodorante. Mas não conseguiriam se manter tanto tempo naquela posição. Logo Pedro ergueu um pouco o tronco, abandonando a boca de Igor. Um pouco ajoelhado na cama, continuou a se movimentar com rapidez e passou a olhar o rosto de seu amante. Igor por sua vez adorou a nova posição e se agarrou ao lençol. Gemia com uma voz grave, não era mais aquele garotinho que se entusiasmava com uma simples masturbação. Ele sabia o que queria de seu corpo e sabia que queria explorá-lo, mesmo que sentisse dor.
Levou sua mão esquerda ao seu pênis e se masturbou enquanto Pedro o estimulava com seu próprio corpo. Não precisou tantos toques. Igor logo ejaculou e, com um desespero inimaginável, buscou fôlego com a boca e gritou. Era um novo Igor, definitivamente. Não se podia mais chamá-lo de garoto. O garoto morreu!
- Espera, para, Pedro.
- O que houve?
Pedro se afastou um pouco e Igor, rapidamente, para não perder o ritmo, subiu ainda mais a cama e se deitou de bruços, abrindo as pernas. Sem convidar, Pedro entendeu e subiu em cima de Igor. A cama agora estava tomada por aqueles dois corpos, que a fazia ranger. A boca de Pedro estava próxima ao ouvido de Igor e, assim, ele pôde ouvir facilmente o seu amante se desfazendo em gemidos brutos. Se divertiu ainda mais. Só que não era só isso. Igor queria sentir a temperatura e o peso dele. Ele se sentia preenchido por todos os lados. Estava imprensado pela cama e por Pedro. Estava imóvel. E que bom que estava, pois, se ele pudesse se mexer, sabe-se lá a loucura que surgiria em sua mente agora livre.
Com o corpo relaxado, livre de tensões e cobranças, Pedro se deixou ejacular. Suas pernas automaticamente adormeceram, fazendo com seu corpo caísse ainda mais em cima de Igor. Naquele momento, Pedro soube exatamente o que queria e o que o faria feliz durante o resto de sua vida. O problema é que ele ainda tinha medo disso e queria não querer. Levantou-se e ficou sentado em cima da cama, olhando para as costas de Igor. Este, por sua vez, se virou e olhou Pedro com um sorriso.
- Deveríamos ter feito isso há muito mais tempo.
- Não.
- Não?
- Não, pois agora vai ser muito mais difícil deixarmos de ser quem somos!
Igor não era mais um garoto. O mesmo não poderia ser dito sobre Pedro.
Eles ainda tentavam recuperar o fôlego. Na cama, nus e dormentes, seus corpos passavam por um processo de relaxamento intenso. Em compensação, aquelas mentes borbulhavam e provocavam reações imediatas. Igor não conseguia entender como ele poderia ter se entregue daquela forma e Pedro, ao que tudo indicava, dava um passo para trás.
- De deixarmos de ser o que?
- Isso.
- Isso o que?
- Isso, Igor, isso o que somos, disso que a gente gosta.
- Você está dizendo que será difícil de deixarmos de sermos gays?
- É... Mas eu não sou gay... Acho que... Eu não sei...
- Você está dizendo que não devemos mais ficar porque você não é totalmente gay, ou que pode deixar de ser, ou que ainda há tempo de não ser... É isso?
- É... Mais ou menos isso.
- Sei... Entendo.
- E você também. Se você se esforçar, pode ser que você ainda possa ser hétero.
- Sei... É, vou pensar no assunto.
Igor continuou deitado, enquanto Pedro, envergonhado, sem saber o que fazer, punha as pernas para fora da cama, sentando-se na borda. Com a cabeça baixa, olhando para o chão através de suas pernas, não conseguia pensar em nada. Igor o olhava com curiosidade, mas também nada fez.
- Eu vou tomar banho e me arrumar. Ainda dá tempo de jantar com os meus pais.
- Isso. Faça isso!
Pedro, sem coragem de olhar para Igor, levantou-se e seguiu para o banheiro. Da cama, o ex-garoto o vigiava com olhos de águia e com uma enorme vontade de fazer Pedro se perder e se confundir ainda mais. Seria uma forma divertida de se entreter depois da vitória contra o seu pai. Pedro lhe surgia como um brinquedo, uma peça de tabuleiro, onde no final, quem bagunça mais a cabeça do herói, ganha.
- Oi Igor.
- Eu preciso de uma resposta rápida: você vai estar ocupado hoje à noite? Pode dormir aqui comigo?
- Posso... Mas por quê?
- Daqui a pouco eu te ligo de volta para explicar melhor. Tchau.
Com o pouco de força que ainda restava em seus músculos, ele começou a procurar sua cueca e a vestiu. Cobriu-se até a cintura pelo lençol e esperou que Pedro saísse do banho. Enquanto isso, ele debaixo do chuveiro, tentava limpar a pele de toda miscelânea de cheiros que Igor havia lhe deixado. Mas o sentimento em relação ao seu corpo era diferente e até um pouco bobo. Enquanto se massageava com o sabonete, sabia que cada centímetro de sua derme tinha gostado do toque abrupto de Igor minutos atrás. Mesmo assim, Pedro queria insistir consigo mesmo que não era saudável imergir nessa viagem. Seria uma grande perda de tempo, mas talvez fosse algo que ele precisasse naquele momento. Afinal, descobriu sua sexualidade em muito pouco tempo e já conseguia visualizar Igor e alguns outros rapazes como pessoas desejáveis. Talvez um ponto e vírgula fosse o mais sensato.
Ao sair do banheiro, esforçou-se para não olhar para Igor, que continuou calado e deitado no mesmo lugar. Rapidamente caçou uma roupa na cômoda e se vestiu no banheiro. A camisa ficou parcialmente molhada nas costas, devido a água que ainda escorria de seus cabelos. Pegou a chave da van e desceu sem se despedir. Igor, agora sozinho, também tomou banho, vestiu uma cueca e uma camiseta e, com o telefone na mão, desceu para a cozinha, onde começou a fazer um sanduíche.
- E ai, você vem?
- Igor, o que raios você quer comigo, hein?
- Rafa, por favor, vem, vem, vem. Ajude um amigo!
- Ajudar a fazer o que?
- Ajudar a me distrair. Preciso te contar o que aconteceu hoje no jogo.
- Não é só isso...
- É sim, é sim. Vem, Rafa, por favor!
- Tudo bem, eu vou. Mas olha, se você me aprontar alguma coisa...
- Êba! Trás também uma coisa bem gostosa pra gente comer, viu?
- Mais alguma coisa, amo?
- Não, só isso, bondoso escravo.
- Até mais.
- Vê se não demora.
Minutos depois, Rafael estava no casarão com alguns tabletes de chocolate e um travesseiro. Imediatamente Igor o puxou pelo braço e o arrastou escada acima.
- Espera, Igor, eu vou cair.
- Vem, sobe logo.
Já no quarto, Igor parecia ainda mais animado. Estranhamente animado. Rafael percebeu que aquele humor não era uma felicidade genuína.
- Por que você está tão empolgado?
- Não sei, na verdade. Mas deve ser a forma como eu estou tentando superar o que houve no jogo com meu pai.
- E o que houve?
O sorriso de Igor se desfez enquanto as palavras lhe acusavam. Rafael, por sua vez, se surpreendeu com o evento, com a reação do amigo, mas principalmente com o humor de Breno em relação ao filho. Durante o resto da noite, aqueles dois continuaram a fazer mimos um para o outro, se acariciavam enquanto assistiam televisão e entrelaçavam as pernas. Conseguiam perfeitamente dividir as intimidades de seus corpos sem nenhum tipo de conotação sexual. Aliás, eles eram assexuados um para o outro, o que lhes permitia realizar qualquer tipo de toque.
Mais tarde, Pedro voltou ao casarão e, em seus ombros, carregava o peso de sua recém descoberta sexualidade e sobre o causador de todos os seus arrepios, que se encontrava no andar de cima. Rafael, que por vezes já havia presenciado as grosserias de Pedro, temeu pelo fato de estar no quarto. Logo que ouviu os passos, sentou-se na cama, estrategicamente posicionado atrás de Igor.
- Rafael? A essa hora aqui?
- É, Rafa vai dormir comigo hoje.
- Dormir aqui? Onde? Nem temos colchão sobrando.
- Vai dormir comigo na cama.
- Mas a cama só cabe uma pessoa.
- Besteira, a gente dá um jeito.
Pedro achou que seu momento de tortura psicológica seria desgastante só pelo fato de ter que retornar ao casarão e encontrar com Igor. Mas a novidade sem dúvida era ainda pior. Com olhos de desconfiança, ele tentou se acalmar e reagir com naturalidade. Seguiu para o banheiro e voltou de lá vestindo uma outra bermuda, mas usava apenas ela agora. Não ficaria só de cueca na frente dos dois. Em contrapartida, Igor e Rafael estavam apenas de cuecas, meias e camisetas. Já com as luzes apagadas e deitados, Pedro tentava dormir, mas não conseguia não pensar... Aliás, também não conseguia parar de ouvir.
- Rafa, vai um pouco mais pra lá.
- Espera. Você está me incomodando com o cotovelo.
- Está fazendo cócegas...
- Safado!
- Rafa, você já reparou onde você está pegando?
- O que é isso?
- O que você acha que é?
Havia um misto de emoções dentro de Pedro. Naquele momento, ele não sabia se odiava Igor, se odiava Rafael, se odiava a ambos, se os invejava, se sentia ciúmes... Não sabia, mas tinha vontade de estar na cama com eles dois. Às vezes também queria que Rafael não estivesse naquele quarto. Pensava somente que não queria se sentir daquela forma, mas não sabia como não se incomodar com aquela situação. Igor, de fato, conseguiu bagunçar ainda mais a razão de Pedro, que já não sabia mais como corresponder ou amputar os desejos de seu corpo. Enquanto sua testa se franzia e seu estômago se embrulhava, suas pernas, que sempre estavam abertas pelo conforto, se fechavam. Seu pênis endurecia dentro da cueca, mas não tanto a ponto de se perceber a excitação. Suas mãos queriam aliviá-lo, mas não se masturbaria. Não por causa de dois rapazes.
Próximo das três horas da manhã, finalmente conseguiu dormir.
- Rafa, acorda!
- Hum...
- Acorda, Rafa, vamos.
- O que houve?
- Shiiiii!
- Que horas são?
- Umas três. Anda, levanta.
- Espera...
Em minutos, Rafael estava dentro de um táxi, rumo a sua casa. Igor voltou para a cama e dormiu o resto da noite com um grande sorriso nos lábios. Pela manhã, ao acordar, Pedro percebeu que nenhum dos dois estava no quarto. E mais uma confusão se fez em sua cabeça. Não sabia se gostava daquilo ou se sentia remorso por não ter participado da brincadeira. Enquanto descia as escadas, sentiu o cheiro do café sendo feito. Era Igor que já estava acordado, preparando a primeira refeição do dia. Pedro de bermuda e com os olhos ainda pesados, entrou com vergonha e se encostou na pia, olhando Igor de costas, fazendo misto-quente.
- Ah, já acordou?
- Sim.
- Quer um misto?
- Depois eu como. Vou subir.
- Espere, não vai tomar café?
- Vou sim. Apenas vou vestir uma camisa.
- Por quê? Eu gosto assim! – disse com um sorriso.
Pedro não imaginava aquela afirmação, que lhe atingiu em cheio no estômago e o fez corar a face. Sem dizer palavra, deu as costas para o ex-garoto e subiu. Na cozinha, Igor tentava segurar o riso, enquanto esquentava o queijo e o presunto. No quarto, Pedro se vestiu e quis gastar seu tempo ficando na varanda, longe de Igor. Os pedreiros começaram a chegar para o expediente e ocuparam quase todo o casarão, transformando radicalmente mais uma vez a rotina de seus dois únicos moradores.
Enquanto olhava a rua, imaginou como seria seu futuro como um gay. Como conceber isso em sua cabeça? E como conceber isso na vida real? Não seria possível nesse mundo dois homens se beijarem e transarem. Era anatomicamente errado e socialmente ridículo. Pedro estava em erupção. Em tão pouco tempo se descobriu homossexual e já temia as pedras que lhe seriam atiradas.
Quando o relógio já anunciava que a hora de se preparar para a faculdade havia chegado, Igor seguiu para o banheiro e deixou a toalha na varanda. Molhou-se um pouco e se lavou rapidamente com o sabonete. Em sua mente piscavam pequenas maldades e nos lábios, sorrisos de muito gozo. Depois que tirou a espuma do corpo, saiu do box e seguiu na ponta do pé até a porta do banheiro.
- Pedro! Pedro!
- O que é?
- Me trás a toalha ai na varanda, por favor!
Ele pegou a toalha e se dirigiu para o banheiro. Igor estava apenas com a cabeça e o braço de fora. Quando Pedro chegou, ele saiu de detrás da porta, nu.
- Na verdade eu ainda não acabei o banho, só queria a toalha.
- Certo, toma, toma. – disse Pedro querendo dispensá-lo.
Igor se enrolou rapidamente na toalha, prendo-a na cintura.
- Toma banho comigo?
- O que?
- Vem, Pedro, toma comigo. Me ajuda a me lavar. Meu corpo está tão sujo.
- Não, Igor. Está louco?
Igor o abraçou pelo pescoço, puxando-o para perto, enquanto o próprio Pedro se desfazia daquelas mãos, tirando-as de cima de seus ombros.
- Vem, Pedro, por favor.
- Você pirou? Não vou tomar banho com você.
Mas Igor não desistiria. Conseguiu ficar ainda mais próximo do rosto de Pedro e, com a boca próxima a sua orelha, sussurrou suas súplicas.
- Pedro, vem, esfrega as minhas costas.
- Igor, a casa está cheia de gente.
- Ninguém vai entrar aqui.
- Meu pai... Ou o seu... Podem chegar a qualquer momento.
- Eles não vêm.
- Para, Igor, me solta...
Eles continuaram juntos, abraçados, mas dando passos tortos naqueles quartos. Pedro não queria, tentava fugir, mas Igor ainda não tinha investido todo o seu desejo naquele convite. Percebendo que poderia perder aquela oportunidade, agarrou-se ainda mais ao pescoço e lambeu a orelha de Pedro.
- Eu não vou conseguir fazer isso sozinho, Pedro. Eu preciso que você esfregue minhas costas. Por favor, Pedro, não foge agora. Vem, toma banho comigo. – sussurrou.
Como resistir? Seria isso possível? O corpo de Pedro não resistiria. Sentindo seus movimentos e sua lucidez indo embora, como se estivesse se embriagando, abraçou Igor pela cintura e deixou que suas pernas o conduzissem para dentro do banheiro. Seus olhos se fecharam e Igor o puxou de leve. Com a porta já trancada, se beijaram em um longo abraço e, aos poucos, o ex-garoto tirou as roupas de Pedro. Igor estava ainda mais excitado que no dia anterior, pois agora já tinha consciência do que queria. Queria aquele rapaz e não desistiria.
Caminharam juntos para o chuveiro e molharam seus corpos, facilitando ainda mais as carícias. Igor ainda estava agarrado ao pescoço, enquanto Pedro sentia seu peito ser lambido. Seu pênis estava tão duro, que tocava a barriga de seu amante. Logo, não conseguiria ficar tão passivo naquele momento. Puxou Igor pela cintura e o beijou com força, sugando o ar de dentro daquela boca. Estavam entregues um para o outro. Era fato! Não havia mais como negarem a si próprios. Se odiaram muito, mas agora queriam rasgar a pele um do outro com dentadas, tamanho era o desejo que tinham.
Igor não conseguia conter os gemidos e os arrepios que sentia só de perceber que Pedro o apertava com força. Sentia seus pulmões murchando naquele abraço. Ele queria muito aquele corpo. Suas mãos começaram a acariciar com certa fúria as costas de Pedro e desceram para as nádegas. Como se tivesse tocado um interruptor, aquele toque desligou a Pedro, que imediatamente despertou daquela ilusão e empurrou Igor com força.
- NÃO!
Igor deu um passo torto para trás e se chocou contra a parede. Não teria doído tanto se sua cabeça não tivesse batido nos azulejos e suas costas não tivessem encontrado a torneira do chuveiro.
Foi tão inesperado que Igor nem teve tempo de reagir. Em um segundo estava delirando com a força sensual de Pedro, espremendo seu corpo por inteiro; em outro segundo sentiu seu corpo sendo arremessado para o nada, até que se chocou com agressividade contra a parede. Mas a dor foi ainda maior em suas costas, quando sua coluna foi atingida (ou atingiu?) a torneira. Assim como um soco no estômago, ele se recolheu e caiu no chão, embaixo do chuveiro. Pedro, ao vê-lo caído, despertou mais uma vez e percebeu a gravidade de seu ato. Um soluço rompeu sua garganta e seus olhos se arregalaram.
Pedro se curvou com rapidez e pôs suas mãos embaixo das axilas de Igor, para levantá-lo.
- Igor, você está bem? Igor!
- Estou, me deixe... – disse calmamente.
- Vem, levanta.
- Tudo bem, tudo bem... Me deixe aqui.
- Igor, me desculpe... Eu...
- Tudo bem, tudo bem. Eu entendo, eu entendo...
- Igor...
- Pedro, saia, por favor. Sério, saia. Me deixe aqui.
- Deixa eu te ajudar.
- Não, saia, por favor, por favor. Saia! – ainda calmamente.
- Igor, eu não queria...
- Eu já entendi, Pedro, eu já entendi. Agora saia, por favor, saia!
Não havia mais nada para ser feito, mas Pedro não queria abandoná-lo ali no chão. Porém, não tinha escolha. Com a culpa que já o consumia pela sua agressão, ele abriu a porta do box e saiu do banheiro; seguiu para a varanda e pegou sua toalha. Amarrou-a em sua cintura e se sentou na cama, de frente para a porta do banheiro. Esperou com muita ansiedade pela saída de Igor, para que pudesse se desculpar ainda mais e desfazer o mal estar que, com certeza, se criaria (ou se recriaria) entre eles. Pedro já não sabia quem era ou o que queria, pois uma hora desejava seu companheiro de quarto, mas depois revia seus antigos valores e se confundia. Pedro se perdia.
No chuveiro, Igor tentava entender a cabeça de Pedro, mas de fato, mesmo não gostando, ele entendia. Sua dor nas costas não o deixava pensar direito e, por isso, decidiu esquecer o que tinha acontecido. Levantou-se e terminou seu banho com lágrimas nos olhos. Enxugou-se e se olhou no espelho. “Por que tudo pra mim é mais difícil?”. Amarrou a toalha na cintura com dificuldade devido ao braço engessado, respirou fundo e abriu a porta. Pedro levantou a cabeça ao ouvir o ruído da maçaneta se movendo, então, Igor, ao dar o primeiro passo, se assustou levemente com aquela presença. Pedro se levantou e caminhou até ele.
- Igor, me desculpe. Eu realmente não queria te machucar, mas eu não consegui me controlar.
Pedro se esforçava em suas súplicas enquanto Igor andava pelo quarto, se dirigindo para a sua cama. Com ele de costas, Pedro pode ver melhor o machucado que havia provocado. Havia uma mancha avermelhada, que começava a arroxear, na pele de Igor.
- Tudo bem, Pedro. Tudo bem!
- É que... Eu não sei mais o que está acontecendo aqui...
- Pedro... – e virou-se para ele – eu entendo perfeitamente. Sério. Por favor, pare de falar. Não precisa se desculpar, tudo bem. Se você quiser, se é importante pra você, eu te perdôo. Agora me deixe me vestir.
- Suas costas... Está doendo? Quer que eu busque gelo?
- Pedro. Eu não quero mais ouvir a sua voz hoje. Por favor, cale a boca e me deixe em paz!
Ele então segurou as palavras dentro da boca e respirou fundo. Igor, que se esforçava em não penalizá-lo, começou a se vestir e desceu as escadas para almoçar. No quarto, sozinho, Pedro buscava entender os últimos acontecimentos. Não queria se sentir gay, mas era inevitável não ser. Bastava pensar em Igor e seus desejos íntimos saltavam para fora de seu corpo.