Caio (Parte 2)

Um conto erótico de Miguel Thomaz
Categoria: Homossexual
Contém 1038 palavras
Data: 28/01/2014 14:22:48

No dia seguinte acordei com muita dor de cabeça, parecia que estava de ressaca. O despertador em nada ajudou tocando seu alarme infernal. Definitivamente eu estava de mau humor. Estava um frio do Alasca e sair debaixo das cobertas quentinhas não foi uma tarefa fácil. Somente à muito custo consegui levantar e ir me arrumar.

- “Bom dia mãe. O pai já foi?” – disse, na porta do quarto de meus pais.

- “Já”. – disse sonolenta, deitada com o cobertor cobrindo-lhe o rosto.

Se não fosse o bastante ter que ir para escola com tamanho frio, morrendo de ressaca psicológica, ainda acabara de perder a carona e teria que ir de ônibus. Ótimo. Eu estava muito bravo neste dia, saí de casa cuspindo fogo por não poder faltar naquele dia, devido a uma maldita prova de literatura.

Estava no ponto de ônibus, com meus fones de ouvido, esfregando as mãos numa tentativa frustrada de me aquecer, quando um carro pára do outro lado da rua e buzina. Era Laura. Uma menina insuportavelmente carente que insistira em grudar em mim. Ela era irmã mais nova de um amigo meu. Conhecia-a há muito tempo, mas só começamos a nos falar quando ela entrou na minha escola. Ela era do 1º ano. De início a achei uma garota muito simpática e inteligente. Só de início. Laura grudou em mim como chiclete. Meus amigos diziam que ela estava afim de mim, eu só dizia que ela era um pé no saco.

- “Miguel! Vêm! Eu te dou uma carona”. – gritou Laura, que estava no banco da frente, ao lado de sua mãe, que parecia partilhar minha ressaca tamanha a feição de impaciência.

Atravessei a rua, a contra gosto. Tudo bem que a carona seria muito bem vinda, ter de ir de ônibus naquele frio realmente não era agradável, porém a escola não era tão perto assim – como eu disse para Caio, com o intuito de, educadamente, recusar sua carona –, e ter que aguentar Laura falando em meu ouvido era um atentado ao resquício de bom humor que em mim habitava.

- “Bom dia dona Helena, bom dia Laura. Obrigado pela carona”.

- “Não é por nada Miguelzinho. Está muito frio né? Acho que vou aí para trás com você só para irmos abraçados, preciso de calor humano!” – disse Laura, rindo.

Durante o trajeto, Laura foi me contando - em detalhes, é claro - os preparativos de sua festa de 15 anos que seria no final do ano, e ainda me convidara para ser seu príncipe. Era só o que me faltava.

Chegamos à escola e dei graças a Deus por me ver livre daquela mala. Nossas salas ficavam em andares diferentes, e podia dar essa desculpa para não acompanhá-la.

Minha dor de cabeça e meu mau humor só aumentaram. Cheguei à minha sala, e não cumprimentei ninguém. Ia para meu lugar, com a maior cara de merda do mundo, quando olho para lá, e quem está sentado no lugar à frente ao meu? Caio. Seu lugar era no lado oposto extremo da classe, junto de seus amigos do time de futebol, porém ele estava ali, no lugar de uma de minhas amigas, ao que parece me esperando.

- “E aí cara, tudo certo?” – disse, me cumprimentando.

- “Tudo sim, e contigo?” – eu disse, fazendo uma nota mental de futuramente pedir a ele para não apertar minha mão com tanta força. Aquele garoto era forte mesmo!

- “Tudo sim” – e sorriu. Nossa, o sorriso dele me desarmava de qualquer dor de cabeça e mau humor. – “Então, como já vamos fazer um trabalho juntos, pensei em ligar história à literatura e fazermos a prova hoje também. O que acha?” – disse mantendo o sorriso.

- “Ér, então Caio, na verdade eu já tenho dupla, a Natália”. – disse totalmente desconcertado.

- “Eu acho que ela não vai vir hoje”.

- “Por quê?” – disse o olhando com estranheza, me sentando.

- “O portão já fechou, e a prova é agora na primeira aula. Se ela chegar só entra na segunda”. – disse, sorrindo. Quando ele falava comigo, o que mais me encantava era seu sorriso. Não era um sorriso malicioso, irônico, tampouco de segundas intenções, era puro, sincero. Um sorriso lindo.

- “Tudo bem, você venceu”. – disse retribuindo o sorriso – “Senta aí”.

Nossa professora de literatura costumava aplicar provas em dupla, nas quais as questões eram mais elaboradas, com uma maior exigência de interpretação, geralmente tiradas de vestibulares. Fizemos a prova normalmente. Bem, na verdade, eu fiz. Caio bem que tentou, mas no fim o peso ficou para mim. Se ele tirou vantagem disso, por saber que eu ia bem na matéria eu não sei, mas fato é que eu gostei de poder estar ao lado dele, como amigos.

- “Obrigado Miguel, você salvou minha cabeça. Com certeza eu ia rodar se fizesse a prova com algum dos moleques” - disse ele, ao entregarmos a bendita prova.

- “Tudo bem. Amigos são para isso não é mesmo?” – Amigos?! Comecei a falar com você ontem! Aquele meu comentário saiu tão automático que nem me dei conta do quão forçado ele ficara.

- “São sim. Conta comigo caso precise de algo”. – ele disse, se levantando da carteira e em seguida saindo da sala.

Odiei-me pelo meu comentário impensado, sempre repugnei pessoas que forçam amizade (um exemplo disso é Laura). Mas consegui me livrar da culpa facilmente devido a minha dor cabeça que voltara mais forte do que antes.

A aula de literatura acabara e a segunda era aula livre, o professor de biologia havia faltado. Aproveitei para cochilar, definitivamente não estava bem. Fui acordado com o sinal do início da terceira aula, e constatei que minha dor de cabeça só piorara.

Neste momento, Caio voltava para sala, acompanhado de um de seus amigos, Lucas. Neste momento notei que havia dois Caios. O que fez a prova comigo - educado, simpático, de bons modos e dono de um sorriso lindo; e o outro ao lado dos amigos - escrachado, que fala e ri alto, totalmente imaturo (o que eu havia me acostumado a ver). Não havia dúvidas: eu preferia o primeiro.

Com este pensamento na mente, arrumei minhas coisas, e desci para diretoria para ir embora. Passei em frente a mesa de Caio, que conversava com seus amigos, e percebi seu olhar me acompanhar, mas não me virei para me despedir. Fui embora.


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