Coração Indeciso - Capítulo VI

Um conto erótico de Arantes, Henrique
Categoria: Homossexual
Contém 2205 palavras
Data: 13/12/2013 01:51:44
Última revisão: 26/02/2014 05:39:53

Boa Leitura!

Ele estava em pé, de costas e foi se virando aos poucos, segurando uma prancheta. “Ah, meu Deus, será que essas coisas só acontecem comigo?”. Tapei minha mão com a boca, ele estava olhando uns papéis. Quando o olhei não acreditei. Ele deveria ter uns 1,85 m, um gigante perto de mim, que tenho 1,69m.

— Boa tarde, sente-se na maca. — ele disse, desvirando uma página, mas ainda olhando para a primeira sentou-se na sua cadeira de couro estofado, preto, onde descansava seu jaleco, branco como a neve.

Sentei-me lá, na maca e amarrei minhas mãos umas nas outras. Estava páliderrimo e com certeza, frio como um mármore, eu não poderia me ver, mas sabia que sim, eu estava! E muito!

“Por que estou tão nervoso? É só um cara! Alto, mas um cara ¨”, pensei.

Ele estava com uma camisa social, branca, enrolada até o inicio do antebraço, com uma gravata verde; sua calça jeans de tecido grosso e escuro, com um cinto de couro negro com uma fivela grande. Usava também um sapato social afivelado. Jogou os papéis em cima da mesa e foi até a minha direção. Ele me olhou, esfregou os olhos. Ele pegou seus óculos.

”Não! Não! Ele não é só um cara! Meu Deus, ele também não acredita nessa fatalidade terrorista da vida!” Pensei.

Ele colocou seu ray-ban com bordas em preto; que combinava com seus alargadores, pequenos e igualmente negros. Seu cabelo era aloirado e estilo corte militar um pouco alto, tinha um projeto de barbicha loira nascendo.

“Meu Deus, vou morrer!”, pensei “O que era aquilo que estava sentindo? Adolescência, você é tão louca!”.

— Bom, conte-me o que estás sentindo e, o porquê de estares aqui. — Ele iniciou.

— Bom, bom — Meio que gaguejei. Ele não esboçou nenhuma reação. Engoli em seco. — Eu tropecei e cai da escada, só isso. — Também encerrei frio.

— Só isso? — falou incrédulo, estarrecido, com minha naturalidade ao me referir à queda — E só machucou o pé? Uou, sorte sua, viu? Essas quedas são muito perigosas! — disse, um pouco mais com humor.

— É, ‘tô’ sabendo ¨¨ — falei desinteressado.

— Você veio só? E veio de sapato? — indagou-me, meio que surpreso, em retórica. Com um sorriso. Ajoelhou-se e tentou tocar em meu pé.

— Ai! — exclamei quando ele fez menção de me tocar. — Sim. — respondi meio sem graça. Quando ele estava me olhando ajoelhado.

— Calma! Ainda nem te toquei! — ele falou.

— Ainda bem, pois iria doer mais. — disse, olhei com uma cara de dor para ele.

— Fecha os olhos. — ele falou com um sorriso no rosto.

— Para quê? — perguntei.

—Para não me veres te tocar e fazer um escândalo! — ele falou.

— ‘Tá’, mas eu posso me deitar? — perguntei meio que acuado.

— Tudo bem, contanto que eu consiga de te analisar. — falou ele.

Calei-me e deitei-me. Fechei os olhos. Senti-o tirar meu sapato, minhas peúgas. Senti seu toque, ah, tão calmo, encantador, ele me transmitia um desejo com seu cuidado. Parecia não querer me machucar.

Começou a cantar a música da Katy Perry na minha cabeça. E eu e o “Dr. Augusto” no cenário de “Hot 'N Cold”. Meu Deus que, que ¨¨¨ Que dorrrrrrrrrr!!!! Abri os olhos quase chutando-o. Ele segurou minha perna e disse:

— Uou, quase perco meu nariz! — Soltou um sorriso e me olhou, me derreti. Por que tão fácil, Senhor?

— Desculpa! Desculpe-me mesmo! Doutor Augusto ¨¨ — Falei com cara de cachorro molhado.

— Não, eu desculpo. Mas não desculpo o “Doutor Augusto”. Augusto, por favor. — Continuou — E bom, agora você vai ir comigo ali no raio-x e na ressonância, você é o último mesmo. Seu pé está meio inchando — falou se virando. Ele foi pegar seu jaleco, algumas canetas se bateram. Eu ia calçar meu sapato, ele me olhou e colocou seu jaleco no ombro sendo segurado somente por um dedo. Ele curioso, perguntou-me:

—O que estás fazendo?

— Calçando meu sapato, Doutor. Algo de errado?— Queria provocá-lo a me corrigir.

—Por que você não pede logo para amputar seu pé? — ironizou ele.

— Tudo bem, eu tiro. — falei, “inconformado”.

Ele me ajudou a descer da maca e me deu seu “ombro amigo”, mas o rejeitei:

— Tudo bem, eu consigo andar sozinho e só com um pé de sapato. — respondi com um sorrisinho.

— Ok — falou ele levantando as mãos e me fazendo rir.

—Tudo bem! Apoio-me em seu braço! — Não resisti.

Sim, ele era forte, mas menos que Ricardo, muito menos. Sua pele era quente e tinha alguns pelinhos em seu antebraço, era gostoso de pegar.

Acho que ele estava percebendo meu interesse por ele, ainda mais quando eu me lembrava daquela imagem semi desnuda. Não tinha mais ninguém só a atendente do posto médico. “Meu Deus que rápido”, pensei.

—Dr. Augusto, o senhor quer que eu chame um enfermeiro ou enfermeira, para atender este paciente.

— Não, não. Ele é o último, não é? — indagou-a.

— Sim. — falou ela, em um triste disfarçado.

— Vai ser rápido. Você vai ficar mais meia hora comigo. — disse ele, de um jeito muito carinhoso para mim. Estranhei, nem tanto ¨¨

— Ah, não, droga! — falei baixo, mas ele percebeu.

—Juro que vai passar rápido — falou meio cabisbaixo.

Comecei a rir dele, que estava ficando puto de raiva.

— Ah, não, não é com você. Esqueci-me de me despedir de um amigo (Ana). —falei, mais uma vez em meio aos meus joguinhos.

—Amigo? Que amigo? — perguntou.

Pensei “Meu Deus, ele caiu!” #maligníssimo.

— Da escola, mas já é bem intimo, sabe?— falei.

— Chegamos ao raio X, você vai ter que vestir uma batinha. —disse ele, meio que tarado.

— ‘Tá’, tudo bem. Estou em jejum, só para constar— falei.

— Queres ajuda? — falou, senti um tom de safadeza em sua voz grossa, que me excitava.

— Não, obrigado — Sorri tipo Eu-Sei-Que-Estás-Pensando.

Antes de vestir a bata pensei “Gente, o que esses caras viam em mim? A bunda!” confuso e estático, meio que revoltado.

Vesti a bata, depois deitei naquela maca, fria, muito fria. Augusto conversou com o radiologista e estaria pronta em 5 minutos, a chapa. Nem pude trocar-me, pois, ia fazer ressonância e tive que ir lá. Na ressonância meu médico querido me posicionou era uma máquina de ressonância tipo campo aberto e, foi uma coisa tipo “Um, dois, três estatua!” e ficar em ‘estatua’ de 10 a 15 minutos, da cintura para baixo.

Fiquei lá pensando quanta coisa estava acontecendo na minha vida desde o início do ano. Esse dia, esse ano, tudo estava sendo tão louco!

Depois que tudo estava pronto, fui me trocar. Claro que estava mais difícil me vestir do que me despir. Quando sai do ‘provador’ ou sei já lá como diabos se chama aquilo. Ele estava encostado na parede, com sua bolsa-carteiro no ombro, seu jaleco enrolado no antebraço e imprensado contra seu abdômen. Segurando minha chapa de raio-x, ele fala:

— Bom, só torceste o pé mesmo, Henrique, nada grave. Mas diante de uma queda deste gênero, não me admiraria estar com algo muito mais grave em sua bagagem. Sua receita e suas chapas. — desencostou-se da parede.

— Ah, tá ok então, boa noite. — Já deveria ser 18h00 e papai ainda não aparecera por lá! Virei-me e fui em direção à escadaria. Senti aquele mesmo toque de desejo, me fez vibrar.

— Agora que não estou mais de serviço posso te perguntar. Tu estudas no Colégio Católico Francisca Augusta de Jesus? — perguntou-me

— Por quê? — perguntei, sabendo o motivo daquela.

— Porque já ouvi meu irmão falando de um Henrique.

— Teu irmão? — Empurrei a porta da escadaria.

Os leds já estavam ligados, iluminando cada andar da escadaria. A noite estava linda, cheia de estrelas.

— Ora, por que não vais de elevador? — Augusto

“Será que ele só sabia perguntar-me as coisas?”, pensei.

— Não me agrada.

— Por quê?

— Porque nada me agrada, inclusive este hospital!

— Por favor, motivação? Razão?

— Sei lá tenho medo só isso, vai que o elevador despenca, surge uma bactéria nova no caso do hospital. Simplesmente não vou com a cara de ficar nesses “entra e sai” desse cubículo segurado por cabos e, injeções me afastam dos hospitais. Pelo amor, não pense que sou claustrofóbico e nem que tenho medo de tudo! Mas por que a pergunta?

— Ah, sim. Não, não. Só que eu estranhei o fato de alguém mancando preferir escadas. Mas tu já veio com um texto.

“Tu? Ãn? Que liberdade é essa?”, pensei.

— Putz, essa tava na cara, não? Tanto para ti quanto para mim. — Ri apoiado na barra. — Bom, até agora só eu falei de mim, e você me perguntou só respondi da próxima vez não respondo mais. E você ¨ DR AUGUSTO, que escondes? — tapei meu nariz e imitei a atendente, já que minha voz é finérrima.

— Pois é ¨ — disse ele meio que envergonhado, com as mãos nos bolsos. — Eu sou um mistério.

Tínhamos chegado ao térreo, ele pausou perto da porta. Hmmmm. Dava para ver a cor da sua cueca, graças a suas mãos nos bolsos, sua faixa era preta, e dava para ver que era estilo preta com finas faixas brancas intercaladas.

— Aff, sério, então “Sr. Dr. Augusto Carrão Mistério”, eu já vou. ‘Tou’ cansando de mistérios e aventuras na minha vida. Tchau!

De vez em quando me dava uma “EPPP” — “Estressado Pós/Pré-Paixonite-Paixão”.

Ele segurou meu braço e, tudo caiu no chão. Empresou-me contra a parede e beijou-me, sua boca macia e mufina* com sua barba a arrastar-se contra minha pele. Ele me deu um selinho, mas ele ¨ Ele queria mais, pude sentir. Afastei-lhe e efetuei um tapa, este ressoou por toda a escadaria.

— Au! Por que você fez isso? — Olhou-me, se fazendo de desentendido.

— Você não tinha esse direito! — respondi com raiva.

Alguém estava a descer do terceiro andar e muito rápido. Era uma garota, médica, tinha o jeito de ser uma interna, toda patricinha, nada amadurecida. Era morena, tinha o cabelo castanho, solto e com uma franja. Juntei tudo e fui com ela para o térreo.Fui até o balcão, ele veio atrás de mim.

— Boa Noite! Será que eu poderia telefonar daqui da recepção? — Perguntei a uma médica, deveria estar de passagem por lá.

— E ai, Clá! — falou ele.

— Claro que sim, querido. Fique à vontade. — disse ela, colocando o telefone em cima da bancada. Esta era branca, com olheiras igual as minhas, mas estas deveriam ser de cansaço. Tinha nariz afilado e cabelo desgrenhado.

—E ai, Guto, tudo numa boa? — respondendo a ele.

Tentando ignorar sua conversação, dele com “Clá”, que deveria ser Clarisse. Digitei o número de mamãe, este estava fora de área ou desligado. De papai encaminhado para caixa de mensagem.

— Pai, já fui consultado. Estou indo para casa. Até mais. — Desliguei.

— Muito obrigado e boa noite ¨ — Olhei para seu crachá. —, Clarissa.

“Quase acerto!”, pensei.

— De nada ¨ ? — indagou-me estendendo a mão.

— Henrique! — Respondi.

— Tchau. — Despedi-me, acenando.

Lá estava aquele homem de quando eu cheguei, parei-o e perguntei:

— Boa noite, o senhor poderia chamar um táxi para mim, por favor?

— Claro — falou ele se dirigindo até a entrada do hospital, lá ficavam muitos.

Logo ele voltara:

— Seu táxi já vem.

— Ah, muito obrigado mesmo.

— De nada.

Atrás de mim aquele mesmo ser que tentara me agarrar ¨ Meu Deus será que ele não desiste?

— Por que tão rude comigo? — perguntou ele.

— Porque me violastes! — disse impaciente.

— Uou!, nunca tinhas beijado ninguém?

— Haha — imitei uma risada sem graça. — Não, não sou como pensas!

— Não era isso o que teus olhos me disseram ontem. — Fazendo-me relembrar dele em sua varanda e eu a mexer no celular.

— Vai se ferrar!

— Mas já parte para outra, deixa eu te levar em casa, vai? — Com cara de pidão. Ai, meu Deus aqueles olhos verdes claros que se transmutam com o reflexo da luz, sua carinha. Mas¨¨

— Não!

— Sabia que eras tu o estranho garoto do celular.

“Estranho?? Como assim caralho ?!! E ele me fala isso na cara dura!! ”, penso.

— Se sou tão estranho, por que me persegues? — Ignoro-o, saio da recepção e vou até onde o táxi está. Entro e digo o rumo. Vejo seu rosto através do retrovisor.

Chego em casa, pego o dinheiro do potinho da cozinha e pago o táxi. Tomo um banho, me troco. Tento ligar para meus pais, mas de nada adianta. Ligo para a farmácia e encomendo tudo que me havia sido receitado com mais algumas besteiras, coisas básicas.

Comecei a ler a receita

“Compressa de gelo por 30 minutos aguardar 15 min. (pausa) e novamente compressa de gelo por 20 min.

Para fazer atadura de gase para curativo e cataflan gel (medicação) Atenção: Se massagear com o cataflan gel e enfaixar com a atadura, aguardar 4- 5 horas para fazer compressa com gelo.

- Se estiver insuportável a dor, comece a fazer o uso da medicação Diclofenac 50 MG 1 comprimido a cada 8 horas ou de 12 em 12 horas por 5 dias.

- Levante o pé deixe o alto com auxilio de almofadas para que não inche ainda mais.”

Quando vou pegar meu computador, ouço o barulho de moto, olho para o relógio, prevendo o que seria. O relógio marcava 21h00, tocam a campainha. Penso “As 'compritchas' chegaram”. Olho pela varanda e vejo uma moto, deveria ser do garoto de entrega. Desço a escada. Quando abro a porta ¨¨Tchan, tchan, tchan. Suspense! HA!

Gente, agora é sério, me desculpem por esse dia sem fim, mas juro que já, já ele irá acabar. Muitos beijos!


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