Pouco a pouco, eu fui me assumindo bissexual, finalmente. Parei de usar maconha, por causa dele, apesar de a vontade vir todo dia me atormentar. Ok. Mas eu ainda teria que me assumir pra minha mãe, que, resolveu se casar com meu pai, que foi viver em casa, de novo, com a gente.
Esperei o tempo certo, a hora certo e o dia certo (quarta-feira, 15 de agosto deh40 min, aproximadamente.) . Tudo pronto. Chamei o Matheus, que começo a frequentar a minha casa, e virou um segundo filho para eles, pra vir comigo e fazer logo o pacote: SURPRESAS DOIS EM UM.
¬¬—OI pai, oi mãe. Lembram-se do Matheus?
—claro que sim. Quem não lembraria? Vocês vivem colados. Parecem unha e carne. —disse a minha mãe.
—claro que lembro, filho. Eae rapaz, tudo firmeza? —disse meu pai.
—tudo sim, seu Arnaldo. E o senhor? Tudo bom?
¬—pois é. Então... eu tenho algo pra contar pra vocês.
—tu engravidou alguma menina do colégio, né? —perguntou meu pai, brincando.
—não. A coisa é simples. Eu sou bissexual e eu o Matheus estamos namorando a dois meses.
Ambos ficaram brancos feito papel. Matheus nem se moveu, me olhando.
—EU NÃO TENHO FILHO VIADO! NUNCA TIVE, E NEM VOU TER! — gritou, meu pai. Minha mãe nem conseguia articular uma frase inteira, de tão assustada e surpresa.
—pois eu gosto de homem e de mulher, e to namorando um homem sim!
Foi uma discussão infernal. Fiz o Matheus ir pra casa, e por pura implicância, fiz questão de dar um beijo nele na frente deles. Mamãe chorava. Meu pai virou as costas e foi se trancar no quarto. Fui pro meu quarto, tomei banho, jantei e dormi. Um clima pesado preenchia a casa, e nenhum dos dois me olhava nos olhos.
As semanas seguintes se passaram lentamente, comigo indo mais cedo que o costume pra escola, e ficando lá até a hora que conseguisse, pra evitar brigar com alguém. Passei a não olhar mais nenhum dos dois como pais, e sim como estranhos que tentavam acabar com a minha felicidade de qualquer jeito. E discutia com eles do modo mais grosso e rude que conseguia. Mas mesmo assim, minha mãe ainda me tratava do jeito mais normal que conseguia. E em um dia de discussão acirrada, fui expulso de casa pelo meu pai.
—eu, nunca na minha vida, vou aceitar ter um filho viado.
—eu não sou viado, caralho! Me respeita se quer ser respeitado.
—NÃO PRECISO SER RESPEITADO POR VIADO NENHUM! Aliás, eu odeio viado. O que significa que eu te odeio também.
—isso não me importa nem um pouquinho com isso, FILHO DA PUTA! Nunca esteve aqui quando eu precisei de ti, desgraçado. POR MIM, PODIA TER MORRIDO!
—eu te quero agora mesmo fora da minha casa! Eu não vou mais dividir teto com alguém que adora dar o cú!
—VAI TE FODER!
Arrumei minhas roupas em duas mochilas, chamei o MEU THEUS, e fui morar com ele em um apartamento pago por ele próprio, com dinheiro de uma mesada que recebia da mãe, que morava em Manaus, e com o dinheiro da loja que trabalhava.
Minha mãe chegou em casa na hora que eu estava saindo.
—meu filho, pra onde você tá indo?
—vou morar com o meu namorado. O filho da puta que a senhora chama de marido me mandou ir embora. Vai lá se resolver com ele. Eu to indo. Sabe onde me achar, quando quiser.
Me cortou o coração. Mas tive de deixar ela chorando, no meio da rua, enquanto eu me encaminhava pro carro que um amigo do Theus tinha emprestado, com ele no volante. Dei um beijo no meu gato, e fui chorando pro apartamento dele.
Dividíamos como um casal de verdade, tudo. A cama, algumas roupas, a escova de dentes... eu estava feliz, enfim. Morava com quem eu amava e que também me amava, apesar da grande diferença de idade. Ele tinha 16 e eu tinha acabado de completar 13.
Todos sabiam que nós éramos um casal, ali naquele conjunto de apartamentos. E justamente por isso, muita gente não falava conosco. Mas, dos poucos que falavam, todos nos ajudavam de algum modo. Fosse comida, ou qualquer outra coisa.
Dois meses se passaram, estudávamos na mesma escola, no mesmo horário, então, entrávamos juntos e saíamos juntos. Tudo era perfeito. Tudo mesmo.
Mas, como em todo namoro, surgem as briguinhas bobas e discussões, por causa de fofocas. Rolava uma história de que ele estava ficando com um garoto da sala dele, chamado Marcos, e, consequentemente, me traindo. Resolvi tirar a história a limpo.
—Matheus, que história é essa de você estar de amasso com outro cara na sala?
—amor, deixa de besteira. Você sabe que eu nunca ia te trair. Acredita em mim?
—acredito. Mas vou ficar de olho em você, espertinho.
—rsrsrs. Bobo. Sabe que eu te amo. Num sabe?
—tenho certeza. Sei que eu sou lindo. Hahahaha —brinquei.
—kkkk. Convencido que eu amo de paixão...
Enfim, acabou o ano letivo, ambos passamos com folga, e tivemos nosso natal juntos, onde, havíamos concordado que o natal seria o nosso dia de consumar o namoro, enfim. Mas nada ocorreu como se esperava que ocorresse.
Nesse dia (24 de dezembro de 2007), resolvemos comemorar a data saindo pra um jantar num restaurante. Era estranho ver dois adolescentes jantando juntos. Verdade. Mas todos ali sabiam que éramos namorados mesmo. Então, não era tão estranho assim. Mas não demonstrávamos afeto em público. Guardávamos tudo pra casa, onde satisfazíamos um ao outro com sexo sem penetração, com boquetes e simulações a sexo (meter entre as coxas, masturbar um ao outro, etc). Jantamos, tomamos uma fanta laranja, e saímos, andando lado a lado, como amigos.
—então, lu, o que tu achou da janta?
—tava melhor que a tua comida... hahahah
—ah, nem vem que tu também não cozinha tão bem. Hahaha
—EI, SEUS VIADOS! - foi o grito que ouvimos do outro lado da rua.