Quando cheguei pedi diretamente um táxi para o gabinete, sabia que naquele horário o expediente já teria acabado, mas ele ainda estaria lá. Normalmente era o último a sair. Tudo parecia tão tranquilo e em nada lembrava o ritmo imposto aquele ambiente no horário de trabalho. Encontrei a porta do seu gabinete entreaberta, caminhei. Entretanto ao observar o que se passava ali, parei. Não era possível continuar.
Capítulo 12
Estava paralisado, mas não era porquê queria dizer que o amava.
As fotos. Aquelas fotos nojentas. Era o mesmo cara, a mesma montanha de músculos, o agarrando e beijando-o. Meu namorado.
_O que diabos está acontecendo aqui?_ Não sabia de onde vinha à força para fazer qualquer coisa, porém podia estar destruído, mas ninguém ali perceberia isso.
O beijo terminou rápido. E aquele cara nojento, que agora estava ao vivo na minha frente, apenas me olhou com cara de “ops, aconteceu!”. Maldito.
Bernardo, no entanto, parecia desnorteado.
_Não é isso que você está pensando!_ Ele estendeu as mãos, quase em uma súplica.
_Não deve ser mesmo._ Disse incrédulo.
O gogo-boy maldito iterviu:
_Acho que vou deixar vocês discutirem._ Me olhou. _Mas eu, se fosse você, aproveitaria a energia que ainda resta nele para outra coisa que não discutir, ele é gostoso demais para isso._ E saiu andando.
Impedi-o quando passou por mim.
_Quer em trio? Que eu participe?_ Sorriu debochado.
_Não. Na verdade, eu vou embora agora. Quer dizer, antes..._
Dei um soco naquela cara nojenta. O ápice da minha raiva. Não gostava de partir para violência, mas minhas aulas de judô já foram muito úteis quando precisei. Como disse, estava quebrado, porém não perderia a compostura.
_Com licença._ E virei às costas.
Só ouvi o chamado abafado:
_Lipe!_
.
Estava perdido. Caí para dentro do táxi, parece que o motorista havia adivinhado em me esperar.
_Vamos voltar ao aeroporto._ Só consegui balbuciar isso. Se eu falasse mais, eu choraria. E um dia prometi que nunca iria chorar por ninguém.
Sempre cumpro minhas promessas.
Era difícil. Mas eu já havia passado por algumas coisas em minha vida. Superaria, esse era meu pensamento.
Solicitei a passagem à atendente da companhia aérea, que prontamente atendeu. O voo sairia em seguida. Logo, fui encaminhado ao check-in. Havia acabado de passar por isso quando sai da minha cidade, e nem mesmo abri minha mala. Grande perda de tempo. Tudo. Precisava me convencer.
_Senhor Felipe Gutiérrez, pode me acompanhar, por favor!_ Solicitou um sujeito barrigudo com um crachá que remetia a segurança aérea.
_O quê? Como assim?_
_Queira me acompanhar._ Ele disse estendendo o braço.
_O que está acontecendo aqui? Olha, provavelmente você está cometendo um terrível engano, e isso pode ser muito ruim para todos._ Disse enquanto acompanhava-o.
_O senhor está me ameaçando?_ Ele virou o rosto enquanto caminhava.
_O Senhor está no céu, e essas são suas palavras, não minhas._
_Por favor, aguarde outras instruções aqui nesta sala._ Pediu enquanto abriu a porta e apontou para dentro de uma pequena sala cheia de poltronas, todas vazias.
_Não, não, não. Só pode estar brincando, certo?_ Olhei para ele na esperança que me dissesse que aquilo não passava de uma piada de péssimo gosto.
Ele apontou para dentro da sala com o braço. Naquele momento conclui que não estava em posição de protestar. Quando estava entrando, ele chamou:
_Senhor! Seu telefone!_ E estendeu o braço novamente, agora com a palma da mão aberta.
_Inacreditável!_
Entreguei meu iPhone. Ele saiu e fechou a porta.
_Isso é um absurdo!_ Esbravejei.
Aquela sala, que provavelmente era menor que o meu banheiro, só não era mais sufocante, pois tinha uma janela com vista para a pista de decolagem. Olhei, um avião passou, subiu. Provavelmente eu deveria estar lá dentro. “Que merda toda era aquela?”, pensei. Eu não tinha nada demais. Será que não percebiam, eu era bonito como um modelo, e não como um golpista ou criminoso qualquer. Não era qualquer um com certeza. Minha outra certeza, era de que não sobraria pedra sobre pedra para aquele aeroporto, aquela companhia aérea e tudo que pudesse ter qualquer envolvimento com eu estar preso ali.
Certo, depois que alguns minutos passaram, provável que já tivesse passado mais de uma hora, comecei a me desesperar. Não tinha água, banheiro, nem comida – Deus! Minha nutricionista disse que precisava comer a cada três horas. Que seja, não iria conseguir comer mesmo. Acho que estava surtando.
Quando já estava prestes a socar aquela porta para tentar sair, ela se abriu. Dois homens de preto entraram carregando um, de cabeça baixa, a força. Espera aí, era o gogo-boy maldito. Fiquei em dúvida se pedia explicações ou se solicitava permissão para enforcá-lo com minhas mãos. Acho que fui racional.
_Estou confuso, que porcaria é essa?_
Ele levantou a cabeça.
_Seu namorado é um santo, ok? Era isso que eu precisava dizer?_ Ele perguntou visivelmente insatisfeito com a posição que estava. Estranho, quando estava nos braços do meu homem, não reclamou. Bitch!
Um dos homens de preto fez algum movimento, para que ele sentisse alguma dor. Percebi pelo gemido que ele deu logo em seguida.
_Merda! Pode apertar menos, está doendo!_ Ele reclamou. _Olha só engomadinho, fui eu quem procurou ele. Chantagem, já ouviu falar?_ Ele me chamou de “engomadinho”? Ah, sem dúvidas deveria socá-lo de novo.
Só não o fiz porquê Bernardo irrompeu a sala. Ele adorava entradas triunfais. Acho que isso estava no seu subconsciente.
_Ele estava me chantageando, ouviu isso?_ Ele perguntou me olhando. _E agora ele vai para cadeia. Não porquê chantagem é crime, mas porquê a ficha dele na polícia é mais longa que os cabelos da Rapunzel._ Ele virou o olhar para o bandido. _E mesmo assim ele não vai abrir o bico, primeiro, pois ninguém acreditaria nele, e depois porquê eu faria da estadia dele lá um inferno._ Terminou de falar estalando as palmas da mão, como quem finaliza um show. E ele estava finalizando.
Fez sinal para que os homens o levassem. E levaram. Ficamos sozinhos, trancados.
_Acho que aprendi algumas coisas sobre chantagem desde a última vez._ Ele avançou chegando mais perto.
Hesitei.
_Como vou saber que..._
Acho que não deveria ter dito isso.
_O que? É sério mesmo que você quer falar sobre confiança?_ Ele fez cara de irritado. _Justo você que virou as costas sem nem me deixar explicar? Sabe? Ainda que para mim isso seja diferente, no mundo real nem tudo é a seu respeito._
Ops! Acho que ele estava certo.
_Você disse que no seu mundo tudo é a meu respeito?_ Sorri. Precisava reverter a situação.
_Claro que você só ouviria essa parte. Tão típico._ Ele bateu com a mão na testa. _Acha realmente que envolveria um aeroporto e toda a segurança aérea se não te amasse?_
De novo, ele me desestruturou. Só ele sabia como fazer isso.
_Desculpa!_ Pedi e me aproximei quase boca com boca. _É essa história maldita de não ter relacionamentos saudáveis..._
_Essa história de autopiedade funciona para você?_
_Você sabe o quanto é difícil para mim..._ Tentei fazer um drama, mas fui interrompido.
_Cala a boca logo, casa comigo de uma vez e me beija!_ Sua língua invadiu minha boca.
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Ok, gente! Obrigado do fundo do coração pelos elogios! Espero continuar agradando.
Se tudo der certo, semana que vem tem mais...
Previsão: 06/04.