Eu Encontrei Você (Num Lugar Sem Esperança) - Cap. 5

Um conto erótico de Th£o
Categoria: Homossexual
Contém 1120 palavras
Data: 14/11/2012 19:39:28

Seria generoso demais comigo mesmo se dissesse que estou nervoso. Me sinto em pânico! A situação é toda complicada e anormal demais. Eu devia estar sentindo raiva por ele ter me assustado daquele jeito. E agora, aquele mesmo cara que estava possuído por algo indescritível no ônibus está disposto a devolver o meu celular quase “amigavelmente”. Minhas mãos continuam suando... Agora minha testa. Como eu devo cumprimentá-lo? Eu devo cumprimentá-lo? Seria mais justo eu fitá-lo com a cara fechada ou ficar em estado ‘blasé’? Não tenho tempo para ensaiar uma expressão de “más-vindas”, também não preciso olhar pra saber que ele está cada vez mais perto... Como se o seu corpo emanasse algum tipo de radiação... Radiação que me dá calafrios.

- Oi? – uma voz rouca surge por trás, me contornando até parar ao lado da cadeira à minha frente.

- Oi? – a voz sai embargada, pra variar. Observo-o lentamente. Está vestindo camiseta branca, calça jeans com buracos feitos industrialmente na região dos joelhos e um all-star com canos que vão até os tornozelos. Também usa uma pulseira que faz algum tipo de menção à Jamaica. Não olhei mais atentamente porque sua mão está dentro do bolso e eu não quero que ele ache (de novo) que eu estou olhando para a sua parte íntima. Está menos desordeiro que da outra vez, parece até um cara bonito de família rica. Ele continua parado à minha frente. Na playlist do meu smartphone começa a tocar “You’re Beautiful” de Blunt. Tiro os fones. Definitivamente, não preciso de trilha sonora pra isso. Aponto para a cadeira, timidamente. – Então... Você... – não sei o que falar.

- Tá aqui. – tira o celular rapidamente do bolso, como um ninja. A sua pulseira realmente faz menção à Jamaica.

- Ah... Claro... O celular! – vejo-o colocando o celular na mesa.

- Tinha esquecido?! – pergunta, esboçando um sorriso. A situação devia ser muito mais vergonhosa pra ele, entretanto, ele lida com ela infinitamente melhor do que eu, como uma criança ensinando o pai a jogar videogame.

- Hãm, não. – digo, abaixando a cabeça.

- Sei... – responde, em seguida acho que ele abaixa a cabeça, imitando o meu movimento. A conversa que teoricamente já seria escassa, agora está vazia. Levanto a cabeça, tentando pensar em algo que seja pertinente para ser dito. Novamente como um ninja, ele levanta a dele também, me encarando. Seus movimentos são sempre assim, rápidos, como se não quisesse dar tempo pros seus músculos descansarem. Nossos olhares se encontram mais uma vez. Posso notar que seu cabelo, agora descoberto, tem a cor de bronze. Lisos e desgrenhados numa sintonia perfeita. Ele interrompe o silêncio:

- Olha cara, eu quero me desculpar com você mais uma vez... Eu sei que eu não devia ter feito você passar por aquilo! Eu agi feito um bandido! Por incrível que pareça, eu não sou um bandido! Eu só tava estressado e... Cismei com você! – diz ele, disparando as palavras rapidamente, menos na última frase. Faço uma cara de “hã?”, em seguida ele responde (tenho certeza que é vidente) – Eu não sei explicar o motivo... Eu simplesmente tive vontade de falar com você - diz ele, abaixando a cabeça mais uma vez.

- De me roubar, você quis dizer! – as palavras saem no momento errado e no tom errado. Sua cabeça levanta e ele me fita, incrédulo. Em seguida as palavras de Vinícius vêm em minha mente “Ele machucou você?”. Se fosse outra pessoa será que ele teria machucado? Será que ele machucou aquela mulher no ônibus?! Ela deve ter ficado assustada, no mínimo. Um surto de raiva surge em meu corpo, como se tivessem encostado a ponta de um cigarro em mim. Abomino qualquer tipo de agressão, mesmo quando a mulher em questão não é nenhum tipo de exemplo humanitário. Aumento o tom de voz. – Olha cara, tudo o que você fez... Foi ridículo! Independente de você estar com raiva, estressado, drogado ou sei lá o quê, você agiu feito um marginal! – digo, dessa vez sendo mais rígido e arrogante que um crítico cinematográfico. Seu olhar passa da incredulidade para a impaciência.

- Olha cara, eu tô tentando me desculpar com você... E outra coisa, fala baixo comigo porque eu não sou surdo, babaca! Aquela mulher... – diz ele, arregalando os olhos.

- Eu? Babaca? – rio interrompendo-o, olhando pro lado – Realmente, eu ando cheirando e fumando muito! Sou um babaca! – digo, levantando uma sobrancelha, ironicamente.

- Cara, na boa, eu fui educado com você e você começou a me tratar assim não sei por quê. Pensei até que você fosse um cara legal, falou comigo numa boa depois de eu ter feito aquilo, mas tô vendo que você é um belo de um filhinho de papai cagão. Se a gente não tivesse aqui nesse mercado cheio de câmeras eu quebrava a tua cara! – diz ele, apontando o dedo em minha direção. Ele está quase chegando ao estado que o vi pela primeira vez.

- Ahh... Quebra então! Mostra que você não precisa de uma carreira de pó pra fazer merda – digo. Seu olhar passa da impaciência para a indignação, como se eu tivesse dito uma frase que incitasse algum demônio. Em seguida ele pega o meu celular da mesa e sai andando, como um verdadeiro trombadinha. Eu saio atrás dele, lutando comigo mesmo para não chama-lo de ladrão ou fazer qualquer escândalo. Ele atravessa o portão principal até que eu resolvo gritar:

- Devolve o meu celular! – Ele apenas olha pra trás e continua andando. Atravessa a rua pela faixa e eu tento acompanhar o seu ritmo de caminhada. As poucas pessoas olham em volta mais achando que parece alguma brincadeira, pois estou evitando correr e não quero mostrar que sou inferior a ele. Ele continua andando, dessa vez em direção às escadas de uma passarela. Ao chegar nela, sobe de dois em dois degraus e tropeça no segundo. Nesse momento eu corro mais rápido e o alcanço, segurando pela camisa.

- Pára de palhaçada! Devolve meu celular e cai fora antes que eu chame a polícia! – digo num tom ameaçador, quase não me reconhecendo.

- Chama então... Mostra que você não precisa do seu celular pra ser um filhinho de papai cagão! – diz ele, imitando meu tom de voz.

- Cagão é a tua mãe, seu drogadinho de merda! – aponto o dedo no seu rosto, pronunciando cada palavra lentamente, e, como se fosse um contra golpe, ele agarra o meu pescoço com uma das mãos e me pressiona contra o ferro gelado do início da escada. Nossos olhos se encontram... Furiosos... Duelando. Meu corpo queima de raiva e tenho certeza que o suor das minhas mãos está formando uma poça no chão. Um calafrio incontrolável vem de baixo pra cima... De excitação... De ódio... Depois vejo um breu... Não sei se estou no céu ou no inferno.


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Comentários

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Pelo visto as coisas estão se encaminhando de vez. Muito bom.

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Ai muito bom to amando aqui seu conto rsrs eu particularmente eu adoro ler toda hora no celular fico olhando pra se vc postou ja rsrsrs mais esta otimo nota 10.

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