Cap. 1 – Sentimentos Indefinidos.
- Você leu os jornais Lara? – Perguntou me David meu fiel amigo de infância. – Fênix ataca novamente e desta vez levou como refém o Dr. Marck Peterson, ganhador do premio Nobel de Química da semana passada. – Entregou o jornal em minhas mãos e continuou andando de um lado para o outro.
Ao olhar a foto de Fênix na primeira página do Times não pude deixar de sentir um arrepio por todo o corpo, sempre ocorria quando a via nas paginas dos jornais desde seu primeiro ataque em que assaltou o banco central de Nova York há dois anos atrás. Levou o equivalente á três milhões de dólares. Agia com cautela e totalmente invisível, deixava sempre uma pena branca no local do crime. Seus ataques vinham acontecendo com mais freqüência nas sofisticadas joalherias e misteriosamente laboratórios científicos da cidade quando voltou á ativa há dois meses, mas em nenhum momento deixou feridos ou fez reféns.
David então parou á minha frente do outro lado da mesa e apoiou o corpo sobre as mãos inclinando se e fitando meus olhos. Disse calmamente:
- Acho que está na hora de ALGUÉM fazer alguma coisa para impedi-la não acha? – esse alguém á quem se referia seria provavelmente Fire, a qual andei evitando todo esse tempo, mais precisamente três anos.
- Sim! Com toda certeza a POLICIA cuidará disso. – Respondi com um sorriso cínico e enfatizando a palavra “Policia”. – Afinal é pra isso que servem.
David Ohara era um homem alto e jovem nos seus vinte e sete anos, sempre com a aparência impecável e seu dialeto cordialmente indiscutível. Moreno dos olhos azuis e a pele clara. Sua face apesar de transmitir calma e serenidade agora era inteiramente coberta por uma súbita impaciência, á qual deixou transparecer na voz rouca:
- Eu não acredito que depois de todos esses anos você ainda insiste em se esconder de Fire. Como pode ser tão egoísta Lara? Logo, logo essa louca vai estar matando por ai. E você? Vai continuar sem tomar nenhuma atitude? – Perguntou com a face rubra de raiva provavelmente.
Neste momento o telefone tocou me salvando daquela situação constrangedora á qual me encontrava diante do olhar inquieto de David.
- Sim Cloe?... Tudo bem o Sr. David já está de saída. – Disse á secretária olhando nos olhos de David. - Sim! Claro, peça que aguarde um minuto e poderá entrar está bem?!
Coloquei o telefone no gancho.
- David! Peço que continuemos esta conversa mais tarde tudo bem? Por hora, preciso fazer o meu trabalho e deixar que os demais façam os seus. – Disse me referindo aos policiais e acompanhando meu bom e velho amigo até a porta dando lhe um beijo na face me despedindo.
- Pense bem Lara. Te encontro hoje á noite no jantar de executivos. – Disse correspondendo ao beijo e se despedindo. Já se afastando piscou com o olho esquerdo. – Não se atrase Lara.
Logo abri passagem para o Sr. Jean Barreille cliente antigo do escritório de advocacia em que eu era sócia junto com alguns colegas da universidade de direito de Boston onde me formei há cinco anos.
Mais tarde em minha casa resolvi tomar um banho relaxante na banheira, não podia demorar muito, pois já eram cinco da tarde e o tal jantar era ás oito. Deitei me na banheira e submersa na água espumosa e perfumada recostei minha cabeça na borda e fechei os olhos. Logo a imagem de Fênix me tomou os pensamentos. Desde a primeira vez que vi a foto daquela mulher exótica e atraente nos jornais há dois anos não parei mais de pensar em como seria enfrentá-la escondida sob a mascara de Fire. Então as palavras de David vieram em meus pensamentos. Seria mesmo egoísmo de minha parte deixar esses criminosos nas mãos da policia e cuidar da minha própria vida? Meu medo ainda não havia sido superado. Eu não conseguiria retornar ás ruas, era doloroso de mais.
Perdi meus pais há seis anos em um acidente quando um vazamento de gás explodiu nossa casa carbonizando os de maneira impetuosa. Ao voltar da universidade no fim da tarde a casa estava em chamas e eu podia ouvir os gritos de mamãe agonizando, não tive reação alguma, meus músculos se retesaram e não me movi, não chamei os bombeiros nem gritei. Apenas fiquei ali assistindo meus pais morrerem sem que eu pudesse salva-los, meu pavor pelo fogo não deixou que eu os ajudasse, vivi corroendo a culpa dentro de mim por não ter sido mais forte que meu próprio medo.
David ficou todo esse tempo ao meu lado me confortando tentando me convencer de que a culpa não era minha, mas no fundo eu me sentia sim culpada pela morte dos meus pais. E assim talvez para compensar a falta de coragem naquela tarde me escondi em Fire para ajudar inocentes das mãos de bandidos me tornando uma justiceira.
Voltei aquela ultima noite em que me vesti de Fire há três anos atrás. Na tentativa de salvar os reféns do terrível Mister Magic, que usava seus truques de ilusionista para roubar bancos e joalherias. Logo que derrotei o mágico conhecido como Richard Campbell entregando o nas mãos dos policiais fui informada de que ainda havia um ferido no prédio em chamas devido a bomba de M. M. que explodiu. Voltei aos escombros para localizar a vitima e quando o encontrei caído ao chão provavelmente desmaiado e asfixiado pela fumaça toneladas de concreto caíram fazendo desabar parte do chão entre nós. Não havia como salva-lo a não ser que enfrentasse o meu pior medo: o fogo... Nem tempo de voltar e chamar os bombeiros, pois o prédio logo desabaria então covarde como fui o deixei me afastando lentamente andando para trás me odiando por não poder salva-lo. Mais uma vez o meu medo me venceu.
Depois daquela fatídica noite não mais me arrisquei á bancar a heroína. Desisti de tudo e voltei á minha pacata vida de Advogada. Lara Foster uma mulher de vinte e nove anos tentando a todo custo viver como qualquer outra.
Deixei que meus pensamentos me levasse até a excêntrica Fênix. Onde estaria agora? Porque me invadia tantas vezes por dia os meus pensamentos?