Mais dois capítulos do meu novo conto: "Jaguar"
Para Luís, só um objectivo gere a sua vida sem rumo: procurar o homem com quem dormiu apenas uma noite. O homem que ele considera perfeito e cujo nome não conhece. Será que o amor precisa de nomes?JAGUAR - INSTINTO HOMOSSEXUAL 2
Capítulo 3
Mente Ocupada
À medida que conduzia o carro, os pensamentos de Luís voltavam sempre ao absurdo interrogatório. A fúria preenchia todas as células do seu corpo. Como podiam não acreditar nele?
Mas talvez fosse melhor assim. Luís faria o mesmo percurso nessa noite, sem a polícia a interferir. O mesmo bar, o mesmo hotel. Enquanto não fosse apanhado, aquele homem continuaria por ali. Luís desejava poder voltar a passar pela simples e inesquecível experiência que era ver a aquele rosto.
Por fim, Luís chegou ao seu destino.
A enorme casa de Pedro cintilava ao sol naquela tarde, as suas paredes brancas recebendo reflexos difusos das frescas águas da piscina. Aquele lugar parecia o paraíso… pelo menos, visto por fora.
Quando Pedro o recebeu à porta, ostentava o mesmo sorriso sedutor de sempre, que para Luís já não tinha o mesmo encanto de outros tempos.
– Entra. – Disse Pedro, conduzindo-o ao interior.
Até o interior da casa era enorme. Luís apercebia-se melhor disso de dia… apesar de estar lá mais vezes à noite.
– Não vieste cá ontem à noite – acusou Pedro.
Luís estremeceu com o sentimento de culpa a assolar-lhe a consciência, apressando a arranjar uma justificação.
– Estive… ocupado. – Pensou que seria melhor desviar a conversa, e reparou numa ausência conveniente. – O teu gato? Não está aqui?
Pedro sorriu-lhe com um olhar provocante e Luís observou os seus olhos azuis. Sentiu que não era o mesmo azul celestial de outros tempos. Não tinha o mesmo encanto.
– Ele fugiu, amor. Aquilo é um jaguar num corpo de gato. Tem um espírito muito… selvagem.
Pedro pronunciara a última palavra com uma entoação provocadora.
Com o seu sorriso maquiavélico, Pedro agarrou Luís pela cintura, com duas mãos que para ele não tinham mais significado que duas cordas a prendê-lo.
Uma língua sedenta de desejo mergulhou na boca de Luís, enrolando-se na sua, misturando salivas e sabores.
Os braços de Luís ficaram caídos ao comprimento do seu corpo, enquanto Pedro investia naquele beijo selvagem, agarrando o corpo dele, apertando-lhe as nádegas com excitação.
Por momentos, Pedro parou, estranhando a imobilidade de Luís. Os seus olhos azuis confrontaram os verdes de Luís. Mas, de imediato, o seu corpo voltou a mexer-se freneticamente quando começou a despir o ex-detective.
* * *
O quarto estava transformado num forno devido ao calor que aqueles dois homens, deitados na cama, libertavam.
Os seus corpos despidos brilhavam à luz do sol que entrava pelas paredes do quarto de Pedro: que não eram mais do que vidros transparentes.
Por cima de Luís, Pedro beijava todo o seu corpo, com uma suavidade carinhosa, apesar da intensidade sexual. Agarrando-o pela cintura, com movimentos bruscos e violentos, Luís fez Pedro sentar-se em cima de si e conduziu o seu pénis erecto para o ânus dele.
Os dois moviam-se numa dança rítmica, os seus corpos colados um ao outro, balançando à medida que o pénis de Luís invadia o corpo de Pedro, com a violência rude de quem martela um insignificante prego.
Os seus olhos azuis não tinham o mesmo brilho. A sua voz já não o atraía como um íman. Aquele corpo atlético e belo que dantes o atraía, não passava agora de um peso sobre o seu… e sobre a sua consciência.
E o seu pénis invadia o corpo dele, fazendo Pedro gritar no escuro à medida que se movia em cima de si.
Luís fechou os olhos enquanto entrava no corpo de Pedro. Fechou-os para que a sua imaginação pudesse ir mais longe… porque se o seu corpo estava com Pedro, a sua alma não estava.
As suas mãos agarraram as nádegas do homem que penetrava, acompanhando o seu movimento, desejando estar a tocar noutro homem que não Pedro.
O seu pensamento escapava a cada instante para aquele homem perfeito com quem passara uma única noite, para aqueles olhos de um castanho dourado em que se perdera na escuridão…
Os seus olhos abriram-se por instinto quando ouviu Pedro gritar de novo. Mas até o tom melodioso da voz de Pedro, para Luís, era agora dispensável. Os seus sonhos divagavam pela voz grave e masculina do seu homem perfeito.
Quando Luís acordou para a realidade novamente, Pedro estava com o seu pénis na boca, percorrendo com a língua cada milímetro da sua superfície.
Sentindo o seu membro a ser devorado, Luís fingiu gemer de prazer. Lançou a cabeça para trás, fechando bem os olhos.
E na escuridão da sua mente, viu o rosto do homem perfeito. Viu aquele corpo musculado e masculino. Reviveu aquela noite, como se ainda sentisse aquele pénis erecto nas suas mãos ou dentro do seu ânus.
Ao pensar no seu homem perfeito, ejaculou, enchendo a boca de Pedro com o seu esperma.
* * *
O detective Henrique olhava pela janela, admirando o pôr-do-sol. Mas os seus pensamentos depressa voltaram ao caso que investigava.
– Tens a certeza que este tal Luís Menezes está a mentir?
Ele falava para o interior do escritório, onde também se encontrava Mónica Vieira.
– Claro que está! Alguma vez o nosso criminoso iria dormir com um homem? É impensável…
Ela olhou para o seu colega; um olhar que era obviamente um pedido de explicações.
– É que eu não vejo razões para ele estar a mentir! – Argumentou Henrique.
Mónica passou a mão pelos seus compridos cabelos negros; levantou-se da sua cadeira e foi para o pé de Henrique.
– Até parece que não tens visto nos casos em que ele se tem metido… relações amorosas com criminosos que investiga, homicídios que ele diz serem acidentais. Ele está obviamente a ver se chama atenção. Quer ser notícia. Agora, Henrique, temos é de ignorá-lo, porque há muito trabalho sério a fazer!
* * *
Luís abriu os olhos. Ao seu lado, o corpo nu de Pedro estendia-se sobre a cama.
Através das paredes vítreas do quarto de Pedro, Luís viu o sol a cair no horizonte. O pôr-do-sol trazia a noite… e a noite trazia o seu homem perfeito.
Apressou-se a levantar-se da cama e a cobrir o seu corpo com a roupa que Pedro lhe despira há poucas horas, apagando os vestígios de uma tarde de sexo sem entrega sentimental… pelo menos, da sua parte.
Afastou da consciência o sentimento de culpa, e preparou-se para sair.
Ao tentar vestir-se rapidamente, acabou por fazer barulho e demorar mais tempo. Uma voz suave quebrou o silêncio, quase num murmúrio.
– Onde vais?
A pergunta de Pedro era muito simples. Mas a resposta de Luís era bem mais complicada.
Luís seguiu em frente a passos rápidos, fingindo não ter ouvido.
* * *
Entrou no carro e ligou a ignição. O carro rugiu.
Sabia o seu destino. O mesmo bar, o mesmo hotel da noite anterior.
Nas suas veias, o sangue, aquecido pela adrenalina que corria a alta velocidade, fervilhou de excitação.
Ia voltar a vê-lo. O seu homem perfeito.
Capítulo 4
Reencontro e Desencontro
As luzes cegavam-lhe os olhos. A música ensurdecia os seus ouvidos. Mas, se o encontrasse, ainda poderia sentir o seu cheiro, o toque da sua pele, o sabor dos seus lábios. Do seu homem perfeito.
Estava no mesmo bar, onde o vira pela primeira vez há 24 horas. O local era-lhe familiar, mas parecia-lhe confusamente estranho, pois a sua mente estava pronta a não interpretar nada que não estivesse relacionado com o homem que procurava.
Como um radar, a sua cabeça procurou rasto do seu homem perfeito.
Porém, tudo o que via era uma multidão de rostos nada familiares e indistintos. Corpos dançavam ao som da música ensurdecedora, outros bebiam sem parar.
Uma rotina que se repetiu por três longas horas. Não havia sinal do seu homem perfeito e o corpo de Luís já começava a pedir descanso.
A sua mente, como que dividida em duas, começou a discutir as hipóteses: ir embora ou ficar. O debate mental deteve Luís ali por mais duas horas, até que um dos lados ganhou a discussão e Luís tomou a decisão.
Dirigiu-se à saída. Tentaria noutra noite, talvez tivesse mais sorte.
Deitou um último olhar à multidão, preparando-se para sair. E foi então que o viu. Os seus olhos dourados brilharam com o reflexo das luzes e Luís reconheceu aquele olhar. Reconhecê-lo-ia no meio de mil.
O seu homem perfeito estava ali, agarrado a dois outros homens, beijando-os, tocando-os, tomando-os nos seus braços. Os dois homens acariciavam os cabelos negros do seu homem perfeito. Uma onda de ciúme percorreu o corpo de Luís.
Começou a mover-se na sua direcção, como se aqueles olhos fossem um íman para ele. A multidão fazia-lhe os passos mais lentos e por vezes tapava-lhe a visão. Até que ele desapareceu.
Quando Luís virou a cabeça, em pânico, procurando-o por todo o bar, viu-o a ir em direcção à saída, a passos rápidos. Empurrando as pessoas à sua volta, Luís apressou-se para se aproximar dele.
Ele tinha saído. Luís saiu atrás dele.
* * *
O homem dos olhos dourados abriu a porta do seu Jaguar negro, fazendo com que se acendesse automaticamente a luz no seu interior. Ao entrar, fechou a porta e a escuridão voltou a inundar o interior do carro.
Sabia que aquele outro homem, de olhos verdes, ia persegui-lo. Tinha de ser rápido e, acima de tudo, escapar.
Mas, de repente, a luz do carro voltou a acender-se, iluminando dois pontos verdes, e ele ouviu uma voz. Uma voz que só ouvira em gemidos, há 24 horas.
– Olá de novo. – Disse Luís, o homem dos olhos verdes, sentado no lado do passageiro.
Ele sorriu levemente. Finalmente estava frente-a-frente com o homem perfeito.
O homem perfeito não lhe respondeu. A mão de Luís atingiu-o com força na cara.
– O que ias fazer com esses dois com quem estavas no bar? – O seu homem perfeito acariciava o local em que tinha sido esbofeteado. – Ias usá-los só por esta noite, como me usaste ontem? E desaparecer depois?
Foi então que voltou a ouvir a sua voz quente e grave.
– Tu já sabes porque é que eu tive de desaparecer, não sabes?
A cabeça de Luís moveu-se, indicando que sim.
– Acredita que não queria ter desaparecido, mas tinha opção. Tu sabes que não… E és muito corajoso, por dares um estalo num assassino em série – disse ele, rindo, olhando Luís com os seus olhos dourados.
– Então, nunca mais podemos estar juntos?
– Não, claro que não. E agora, se não te importas, sai do meu carro.
Mas Luís não se mexeu. E o seu homem perfeito percebeu que teria de usar outros métodos… a sua mão deslizou para debaixo do assunto, tirando lá uma arma que reluzia com brilho metálico.
E apontou-a a Luís.
–Não me assustas – disse Luís, com a voz a tremer. Por momentos Luís pensou que estava assustado… mas mesmo que estivesse seria melhor convencê-lo que não temia.
– Não devias ter dito isso! – Rindo, ele atirou a arma para o banco de trás e o carro arrancou a toda a velocidade.
Luís sentia-se numa espécie de foguetão terrestre. O ruído provocado pela velocidade obrigou o outro homem a gritar.
– Coloca o cinto. – Luís abriu a boca para o contestar, pois ele também não tinha colocado o cinto dele. Mas estava mudo pelo impacto da rapidez. E o homem perfeito voltou a gritar-lhe. – Agora!
Luís não teve outra opção senão obedecer.
Depois de Luís ter colocado o cinto e de algumas curvas perigosas, o carro foi abrandando ligeiramente. O homem dos olhos dourados pôde falar num tom de voz normal.
– Espero que tenhas gostado da viagem.
– Eu não vou sair daqui. Não quero deixar-te – disse Luís. Agora estava mais seguro na sua fala, apesar de, no seu íntimo, estar a ser percorrido pelo medo de perdê-lo de novo.
Com um sorriso, a voz doce e grave do seu homem perfeito respondeu:
– Ninguém disse que tu tinhas de sair. Eu saio.
Mas não saiu.
Em vez disso, o carro voltou a seguir a grande velocidade. A cada segundo, a velocidade aumentava cada vez mais. A aceleração fez subir os níveis de adrenalina de Luís. Por momentos, sentiu que o carro ia levantar voo.
Em vez disso, não passou de um estrondo, bem mais rápido do que tinha parecido a Luís.
O choque foi breve e seco. Ouviu-se o ruído de metal a contorcer-se e de vidro a partir. O carro embatera contra um poste.
Luís ficara preso em segurança no seu cinto. Mas o seu homem perfeito tinha saltado para fora do carro… atravessando o pára-brisas.
Soltando-se do seu cinto, Luís correu para o exterior, olhando o corpo caído no chão, ensanguentado, rodeado de pedaços de vidro. Tinha de o levar a um hospital.
Na verdade, tinham chocado contra um poste, mesmo em frente a um hospital.
Luís foi a correr até ao interior do edifício, para pedir ajuda.
Nem reparou que no poste onde tinham embatido, estava afixado um cartaz. Neste, a sorridente cara de um tal de Álvaro Fernandes convidava todos a um discurso público que se realizava no dia seguinte.
* * *
O anfitrião clareou a voz e falou para as câmaras.
– Boa noite. E que noite… O convidado desta noite é, quer queiramos quer não, o homem do momento. Criticado pelos mais conservadores, é, ao mesmo tempo, o ídolo e a luz de toda a comunidade gay, lésbica e bissexual. Com as eleições a aproximarem-se, é mais que oportuno entrevistá-lo: o primeiro candidato abertamente homossexual às eleições no nosso país, Álvaro Fernandes!
Ouvir o seu nome, indicava-lhe que devia entrar no estúdio. Quando o fez, os holofotes ofuscaram-lhe a visão, as câmaras intimidaram-no.
Mas seguiu em frente, com o seu sorriso no rosto. Tinha uma missão a cumprirMais contos e novidades em:
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