Obsessão. Parte 12.

Um conto erótico de Lukinha
Categoria: Heterossexual
Contém 6961 palavras
Data: 10/02/2025 15:08:06

Miguel:

O relógio marcava cinco minutos para as quatorze horas, quando ouvi a campainha tocar. Respirei fundo, ajustando a gola da camisa antes de ir até a porta. Meu advogado sugeriu que eu evitasse contato visual prolongado, que não me deixasse levar pelas provocações, mas era difícil. Mina sempre soube como testar meus limites.

Atendendo ao meu pedido, entendendo que era do interesse de todos, o juiz designou que as visitas supervisionadas fossem acompanhadas por uma profissional competente, designada pelo conselho tutelar. Aquilo evitaria qualquer tipo de atrito entre Mina e eu.

A assistente social, uma mulher na casa dos cinquenta anos, com óculos de armação grossa e um olhar analítico, me cumprimentou com um aperto de mão firme. Logo atrás dela, Mina apareceu.

Vestida de forma impecável, com um suéter creme e jeans ajustados, ela sorriu ao me ver. Não o sorriso largo e debochado que eu já estava acostumado nos últimos meses, mas algo ensaiado, quase angelical. Os olhos brilharam ao passear pelo ambiente.

— Bonita casa, Miguel. Bem diferente da nossa, mas me parece aconchegante.

Ignorei o comentário e me virei para a assistente social.

— Podem entrar.

Ela deu um passo à frente, puxando uma prancheta de dentro da bolsa e anotando algo. Mina entrou logo depois, analisando cada detalhe do ambiente. Os móveis, os quadros, o tapete. Tudo parecia alvo do seu julgamento silencioso.

Levamos poucos segundos para ouvir passos apressados no corredor.

— Mamãe!

Minha filha surgiu correndo, os bracinhos estendidos. Mina se abaixou no mesmo instante, recebendo a menina com um abraço apertado.

— Meu amor! Eu estava com muita saudade!

A pequena encheu o rosto da mãe de beijos, sorrindo de orelha a orelha. Doeu vê-la tão feliz com a presença da Mina, mas eu sabia que não podia interferir. Por mais difícil que fosse, aquele momento era importante para ela.

— Eu também, mamãe! Muito, muito, muito!

Mina fechou os olhos e suspirou, dramatizando a cena. Quando os abriu, olhou diretamente para mim.

— Queria poder te ver todos os dias, sabia? Como sempre foi ... — A voz embargada, a expressão vulnerável.

Fiquei em silêncio, cruzando os braços. A assistente social registrava tudo na prancheta, mas não parecia notar o verdadeiro jogo que Mina estava fazendo.

Ela afagou os cabelos da nossa filha, ainda mantendo o olhar em mim.

— Mas às vezes, pessoas más fazem coisas ruins e nos separam daqueles que mais amamos.

Meu maxilar travou e a fúria já tentava tomar conta de mim. A assistente social ergueu os olhos, levemente confusa.

— A senhora quer dizer ... o sistema judicial?

Mina suspirou de novo, com um ar de resignação.

— Ah, não, claro que não. A justiça faz o que acha correto. Mas para uma mãe ... — Ela fez uma pausa dramática, olhando para a menina. — ... nada é pior do que ter seu próprio filho arrancado dos braços.

Minha filha a abraçou mais forte.

— Mas agora a gente vai se ver de novo, né?

Mina sorriu, acariciando seu rosto.

— Sempre que o papai permitir, meu amor.

Olhei para a assistente social de imediato.

— Você está ouvindo isso?

Ela piscou, voltando a atenção para mim.

— O quê? — A mulher me encarava confusa.

— Mina está insinuando que sou eu quem impede o contato entre ela e a filha.

Mina arregalou os olhos, fingindo indignação.

— Miguel! Que absurdo! Eu jamais faria isso. Eu só estava explicando para nossa filha o quanto sinto falta dela.

A assistente social ajeitou os óculos.

— Senhor Miguel, eu entendo que a situação é delicada, mas o convívio materno é fundamental. É natural que a Sra. Guilhermina expresse suas emoções.

Mina baixou a cabeça, como se estivesse magoada.

— Eu só queria um pouquinho de empatia. Estou tentando reconstruir a relação com minha filha, apenas isso.

A assistente social concordou com ela.

— Recomendo que ambos tenham paciência. Isso é novo para todos.

Mina me lançou um olhar discreto, triunfante. Nossa filha pegou sua mão e a puxou.

— Mamãe, vamos brincar no meu quarto? Quero te mostrar meu castelo novo! É da Barbie.

— Claro, meu amor. — Ela passou por mim, roçando de leve no meu braço.

Antes de sumir pelo corredor, sussurrou baixinho, apenas para que eu ouvisse:

— Ainda estou aqui. Você nunca vai me apagar.

Cravei as unhas na palma da mão, tentando me controlar. A guerra com Mina estava longe de acabar.

Observei as duas sumirem pelo corredor, minha filha empolgada, puxando Mina pela mão. Meu coração pesava no peito. A sensação de impotência me corroía, porque, por mais que soubesse que Mina era uma manipuladora nata, minha filha não via nada daquilo. Para ela, a mãe era apenas … a mãe.

A assistente social ajeitou os óculos novamente, consultando suas anotações antes de me encarar.

— O senhor parece tenso.

Soltei um suspiro longo, coçando a testa.

— Porque estou mesmo. Mina não está aqui por amor à filha. Ela está jogando, como sempre fez.

A mulher me encarou, impaciente.

— Eu entendo sua preocupação. Mas, até o momento, o comportamento dela não fugiu do esperado. Muitas mães, ao perderem a guarda principal, reagem com sensibilidade. É um processo difícil para todos os envolvidos.

Tentei ser direto com ela, lhe mostrar a verdade.

— "Sensibilidade"? Mina não tem um pingo de sensibilidade. Ela sabe exatamente o que está fazendo. Cada palavra, cada pausa, cada olhar ... tudo é planejado.

A assistente social me estudou por alguns instantes, depois tornou a olhar suas anotações.

— Eu sei que o senhor tem uma história pessoal complexa e dolorosa com a Sra. Guilhermina. Mas preciso que separe sua mágoa da situação presente. Meu papel aqui é garantir que a criança tenha um relacionamento saudável com ambos os pais.

Ainda tentei, fazendo um último esforço.

— E se eu estiver certo? E se isso for mais do que drama materno?

Ela me repreendeu com o olhar, mantendo a postura firme.

— Se a Sra. Guilhermina ultrapassar os limites ou prejudicar a criança de alguma forma, tomaremos providências. Mas, até agora, não vi nada além de uma mãe emocionada por estar perto da filha.

Balancei a cabeça, frustrado. Mina era boa naquilo. Boa demais.

A risada da minha filha ecoou pelo corredor, e, segundos depois, Mina reapareceu, apoiada no batente da porta, me observando com um sorriso presunçoso.

— Você ainda faz aquele café forte que me dava arrepios?

Ignorei.

— Não temos café pronto.

Ela sorriu mais.

— Ah, Miguel ... sempre tão fechado. Mas tudo bem, entendo. Você deve estar muito ocupado com sua nova vida perfeita.

A assistente social pigarreou, chamando a atenção.

— Sra. Guilhermina, vamos nos ater ao que é importante. Você tem mais uma hora com sua filha.

— Claro, claro. — Mina ergueu as mãos, fingindo inocência. — Não quero desperdiçar um segundo sequer.

Ela voltou ao quarto, mas não antes de me lançar um último olhar cheio de segundas intenções.

Eu queria gritar. Esmurrar alguma coisa. Mina estava jogando veneno nas entrelinhas, e a assistente social, por mais profissional que fosse, não enxergava o que estava acontecendo debaixo do próprio nariz.

Me sentei no sofá, tentando controlar a frustração. Sabia que Mina não pararia por ali. Aquela era só a primeira de muitas visitas, e, pelo que parecia, ela já estava vencendo algumas batalhas.

Mas eu não deixaria que ela ganhasse a guerra. Decidi me acalmar e esperar o tempo passar.

A assistente social olhou para o relógio e se levantou do sofá, indo até o quarto da minha pequena.

— Sra. Guilhermina, nosso horário terminou.

Mina suspirou dramaticamente, abaixando-se para abraçar nossa filha.

— Ah, minha princesa ... Mamãe já tem que ir, mas logo estaremos juntas de novo, tá bom?

A pequena abraçou a mãe com força, o rostinho afundado no ombro dela.

— Não quero que você vá, mamãe ...

Meu peito apertou. Por mais que eu soubesse quem Mina era, ver minha filha sofrendo daquele jeito me fazia sentir um nó na garganta. Mina percebeu e, como sempre, soube usar a situação a seu favor.

Ela afagou os cabelos da nossa filha e, então, ergueu o olhar diretamente para mim, com aquela faísca de provocação nos olhos.

— Eu também não queria ir, meu amor. Mas, infelizmente, nem sempre podemos fazer o que queremos, não é? Às vezes, algumas pessoas acham que têm o direito de decidir quem pode ou não ficar perto de você ...

Seu tom era doce, mas a alfinetada era óbvia. Cerrei os punhos ao lado do corpo, respirando fundo para não cair na provocação.

A assistente social franziu a testa, observando Mina com atenção.

— Sra. Guilhermina, eu já alertei sobre esse tipo de insinuação.

Mina abriu um sorriso inocente.

— Insinuação? Eu só estou explicando para a minha filha o quanto sinto falta dela. Isso não é um crime, é?

— Não, mas manipular a criança emocionalmente para servir aos seus interesses pessoais pode ser muito prejudicial.

Mina recuou, surpresa pela firmeza no tom da assistente.

— Manipular? Eu jamais faria isso! Eu sou a mãe dela!

— E, justamente por isso, deveria ter mais cuidado com suas palavras. — A assistente social fechou sua prancheta e a segurou firme. — Todo o excesso será registrado e encaminhado à justiça.

O sorriso de Mina desapareceu por um breve instante, antes dela recompor sua máscara de mulher injustiçada.

— Claro ... Compreendo. Só estou sendo sincera sobre meus sentimentos. Mas entendo que certas pessoas preferem me pintar como vilã.

Não respondi. Apenas observei enquanto ela se despedia da nossa filha, lançando-me um último olhar de desafio antes de seguir até a porta.

Quando ela saiu, minha filha fungou baixinho e olhou para mim com os olhos marejados.

— Papai ... você não pode deixar a mamãe ir embora de novo.

Engoli seco e me abaixei para ficar na altura dela.

— Meu amor, a mamãe sempre vai poder te ver. Vocês vão se encontrar de novo, eu prometo.

Ela desistiu, mas o brilho nos olhinhos dela estava apagado. A assistente social se aproximou, com expressão neutra.

— Sei que não é fácil para vocês, Sr. Miguel. Mas mantenha-se firme. Qualquer nova irregularidade será levada ao tribunal.

Me resignei, sem responder. Porque, no fundo, eu sabia que Mina não tinha mostrado todas as cartas ainda.

{…}

Leandro:

O garçom havia acabado de servir o vinho quando Mina sorriu e estendeu a mão sobre a mesa, entrelaçando os dedos nos meus. Ela parecia satisfeita, quase radiante. Mas então, o ar no restaurante mudou.

Senti antes mesmo de ver. Uma presença pesada, carregada. E então, ele apareceu: Miguel.

Ele deveria estar viajando. Ou será que já sabia de tudo?

Ao vê-lo se aproximando, meu coração disparou, mas minha mente já buscava uma forma de manipular a situação. Era preciso parecer arrependido, abatido, mostrar que não era um inimigo, mas um amigo que cometeu um erro. Se eu jogasse certo, poderia minimizar os danos. Então, abaixei a cabeça, mantendo um silêncio calculado.

Mina, à minha frente, estava apavorada. O olhar firme, desafiador, deu lugar ao pânico.

Miguel se aproximou com todo um discurso pronto. Vi o maxilar dele travar, os punhos se fecharem. Ele não veio para cima de mim, não gritou, não quebrou nada. Apenas nos encarou por longos segundos e jogou os papéis do divórcio sobre a mesa, junto com as provas colhidas contra nós.

A expressão no rosto de Mina, sempre feroz, dominante, deu lugar à completa letargia. Miguel disse tudo o que queria, e eu até tentei me levantar, defender a Mina, mas com a mão firme em meu ombro, ele me travou na cadeira, me calando. Assim que acabou de falar, ele simplesmente saiu.

O restaurante, antes cheio de conversas e risadas, estava em um silêncio desconfortável. Todos nos olhavam. Mina percebeu, e finalmente reagiu.

— O que foi, hein? — Ela disparou, encarando um casal na mesa ao lado. — Nunca viram ninguém sendo traído antes?

A mulher arregalou os olhos, o homem balançou a cabeça e voltou para o prato. Mas Mina não parou por aí.

— Cuidem da porra das suas vidas!

Algumas pessoas baixaram a cabeça, constrangidas. Outras, como um senhor de terno na mesa ao fundo, deram um sorriso divertido, apreciando o espetáculo.

Toquei o braço dela.

— Mina, abaixa a voz.

Ela se voltou para mim, o olhar carregado de ódio.

— Cala a boca, Leandro. Não foi você que acabou de perder tudo.

— Ei, calma …

— CALMA? — Ela gritou, enfurecida. — Você me convenceu a fazer isso! Me disse que era a melhor escolha!

Mina estava descontrolada, cuspindo as palavras como facas.

— E não era? — Soltei, tentando controlar o tom.

— Olha pra gente! — Ela abriu os braços. — Olha pra essa merda de situação! Eu acabei com minha família!

Eu já sabia que Mina tinha um gênio difícil, mas vê-la se voltar contra mim tão rápido acendeu um alerta. Ela estava fora de si. E quando Mina perdia o controle, era impossível prever o que viria depois.

— Senta! — Tentei apaziguar, empostando a voz, falando com firmeza.

— Me arrependo de ter sido tão idiota! — Ele me encarava com desprezo.

— Do que você tá falando?

— De você, Leandro! De nós! É tudo culpa sua. — Ela bateu a taça contra o tampo da mesa.

Eu sabia que Mina era volátil, mas a mudança era brusca demais.

— Mina, se acalma. Falo sério. — tentei intervir, baixando a voz. A última coisa que precisávamos era mais confusão.

Mas ela virou para mim com ainda mais fúria nos olhos.

— Me acalmar? Você tem ideia do que acabou de acontecer? — Sua voz saiu carregada de rancor. — Fui uma idiota! Uma completa idiota de ter acreditado que isso daria certo.

— Mina, a gente já sabia que isso poderia acontecer …

— Eu sabia? Ah, vai se ferrar, Leandro! Você me convenceu a ir até o fim com isso, me prometeu que seria melhor para nós dois!

Ela bufou, pegou a bolsa e se levantou. Antes de sair, lançou um último olhar de ódio para mim. Me levantei também, jogando algumas notas na mesa.

— Mina, espera.

Ela parou na porta, me encarando com os olhos faiscando.

— Não encosta em mim.

E saiu.

Fiquei ali parado, sentindo os olhares queimando minhas costas. A humilhação veio quente, latejante. Todos ali já tinham suas conclusões: eu era o amigo traidor, o canalha, o pior tipo de homem.

Então, fui embora também. Não restava nada a ser feito.

Naquela noite, cheguei ao pequeno apartamento que Miguel e Mina haviam me emprestado e comecei a planejar: Se eu deixasse Miguel esfriar a cabeça, talvez ele me ouvisse. Poderia tentar me desculpar, inventar uma mentira qualquer, jogar parte da culpa em Mina e torcer para que ele acreditasse. Miguel sempre foi um cara leal, um grande trouxa, e mesmo ferido, talvez houvesse uma chance.

Tentei ir até a casa dos pais dele, onde ele estava hospedado. Nada! Liguei. Sem resposta. Na terceira tentativa, quando finalmente consegui vê-lo, percebi que não havia mais chance alguma.

Ele não disse nada. Nem um insulto, nem um questionamento. Apenas me olhou com ódio puro e, sem hesitar, socou meu rosto.

Caí no chão, sentindo o gosto metálico do sangue na boca. Antes que pudesse me recompor, ouvi sua voz carregada de desprezo:

— Some da minha frente! Nós não somos mais amigos! Você morreu para mim.

Então, ele se virou e entrou em casa, sem olhar para trás.

Fiquei ali por alguns segundos, atordoado. Eu sabia que seria difícil, mas no fundo, acreditava que poderia convencê-lo a me ouvir. Naquela hora, ficou claro: para Miguel, eu não existia mais.

Na manhã seguinte, finalmente tomei coragem e fui trabalhar como se nada tivesse acontecido. Cheguei à farmácia e fui direto ao escritório. Mas, assim que entrei, uma das gerentes me chamou.

— Leandro, preciso falar com você.

Ela me estendeu um envelope pardo. Não precisei abrir para saber o que era.

— O que é isso? — Perguntei, fingindo surpresa.

— Sua demissão. O pagamento já foi acertado e depositado na sua conta.

Olhei ao redor, tentando encontrar Mina.

— Eu preciso falar com a Mina.

— Ela não está disponível — A gerente disse, firme.

Dei um passo à frente, mas imediatamente percebi dois funcionários novos se aproximando. Eram homens altos, de cara amarrada, olhando diretamente para mim.

Mina não queria apenas me demitir. Queria me tirar dali sem cena, sem chance de discussão. Engoli a raiva, peguei o envelope e saí.

Sem saber para onde ir, segui até minha casa de infância. Talvez meu pai me ouvisse. Parei em frente à porta e respirei fundo antes de bater.

Passaram-se alguns segundos, então a porta se abriu. O Sr. Antônio me olhou, em silêncio. Por um momento, esperei alguma reação. Uma bronca, um sermão, qualquer coisa. Mas ele não disse nada. Apenas segurou firme na maçaneta e, sem hesitar, fechou a porta na minha cara.

Fiquei ali parado, sentindo um peso no peito que nunca havia sentido antes. Eu tinha perdido tudo.

No desespero, recorri à minha última opção: Viviane. Liguei para o número dela, mas a operadora informou que o telefone havia sido cancelado. Tentei mandar uma mensagem nas redes sociais, mas não obtive resposta.

Voltei para o apartamento, sentindo um cansaço diferente. Não era apenas físico, mas mental. Pela primeira vez, comecei a entender as consequências reais das minhas escolhas. Eu me achava esperto, manipulador. Mas no final, o único enganado fui eu.

Na manhã seguinte, ao acordar, peguei o celular e vi uma nova notificação. Viviane havia respondido. Era uma foto de uma praia qualquer, o mar azul e um céu limpo. Na legenda, apenas uma frase:

"Já estou longe, seu otário. Nunca mais me procure, traidor mau caráter".

A imagem me atingiu como um soco. Eu tinha perdido Miguel. Tinha perdido Viviane. Tinha perdido meu pai. E tinha perdido Mina. Mas, acima de tudo, tinha perdido a mim mesmo.

{…}

Miguel:

Os dias se arrastavam, e minha inquietação só crescia. Leandro e Viviane haviam sumido do mapa. Nenhuma movimentação nas redes sociais, nenhuma aparição em locais habituais. Era estranho demais. E quando algo parece errado, geralmente é.

Decidi que precisava de respostas. Peguei o telefone e disquei o número de Rodrigo, o investigador. Ele atendeu no segundo toque.

— Miguel. Algum problema?

— Preciso de um favor. Quero saber onde estão Leandro e Viviane.

Rodrigo fez uma pausa.

— Está preocupado com eles?

— Não exatamente. Mas esse sumiço repentino, Mina partindo para o ataque … isso me incomoda. Desde que o escândalo da farmácia veio à tona, eles desapareceram. E com tudo o que está acontecendo com a Mina, eu não posso me dar ao luxo de ser pego de surpresa.

Rodrigo soltou um suspiro do outro lado da linha.

— Entendo. Vou ver o que consigo. Alguma pista, algo que possa me ajudar a começar?

Pensei por um momento.

— Desde que veio até minha casa, eu não soube mais do Leandro. E a Viviane, é uma total incógnita. Eu não sei, sinceramente, se ela é cúmplice ou tem os próprios planos.

— Certo. Vou ver o que eu consigo. Se eles estiverem fugindo de algo, sempre deixam rastros.

— Eu preciso dessas informações o quanto antes, Rodrigo.

— Deixa comigo.

Nós nos despedimos e desligamos. Eu joguei o celular sobre a mesa, cansado e frustrado. Uma sensação ruim rastejava pela minha espinha. Se Leandro e Viviane estavam escondidos, era porque tinham motivos. Eu só precisava descobrir quais.

No dia seguinte, depois de mais uma noite mal dormida, marquei uma reunião com meu advogado. Eu precisava saber quais eram minhas opções em relação a Mina. Ela estava cruzando limites perigosos, e eu não podia simplesmente esperar para ver até onde ela iria.

Cheguei ao escritório dele no fim da tarde. O ambiente era sóbrio, elegante, com móveis escuros e uma vista panorâmica da cidade. Ele já me esperava atrás da mesa impecavelmente organizada, os óculos na ponta do nariz enquanto revisava alguns papéis.

— Miguel. — Ele me cumprimentou com um aperto de mão firme. — Pode falar. O que te trouxe aqui?

Me sentei e fui direto ao ponto:

— Mina. Ela continua me rondando. Está me seguindo, mandando mensagens anônimas e, recentemente, ameaçou Carolina de uma forma nem um pouco sutil. Ela foi clara o suficiente para me fazer correr até a casa dela no meio da noite.

Ele me ouvia atento.

— Ela fez alguma ameaça direta? Algo concreto?

— Não com palavras exatas, mas o tom dela era evidente. E o pior: ela foi até a distribuidora, ficou me esperando por horas, me provocando na frente dos meus funcionários.

Ele suspirou, cruzando as mãos sobre a mesa.

— Olha, Miguel … Eu entendo sua preocupação, mas você precisa ter calma. Mina já está sendo investigada. Tudo o que aconteceu na farmácia, a questão da guarda da sua filha … O promotor já tem material suficiente para monitorá-la de perto.

— Monitorar não é o bastante. Você não entende … Eu conheço a Mina. Ela está instável, imprevisível.

Ele tirou os óculos, analisando minha expressão.

— E eu conheço o sistema, Miguel. Sei que parece frustrante, mas precisamos de algo mais sólido para qualquer ação legal imediata. Você sabe como é: sem provas concretas, tudo que ela está fazendo pode ser visto como desespero de uma mãe que se sente afastada da filha.

Eu ri, incrédulo.

— “Desespero” é um jeito suave de chamar o que ela está fazendo.

Ele deu de ombros.

— Não estou defendendo a Mina, longe disso. Mas do ponto de vista jurídico, suas ações ainda não ultrapassaram um limite que nos permita pedir uma medida mais severa. Mas eu vou reforçar suas preocupações ao promotor.

Concordei, mesmo ainda inquieto.

— E se ela continuar? Se piorar?

Ele me olhou com seriedade.

— Se ela cruzar a linha, nem que seja apenas um pouquinho, então teremos o que precisamos para agir com mais firmeza. Mas, por enquanto, Miguel … — Ele se inclinou para frente, baixando a voz. — ... Eu acho que ela está blefando. Perdendo o controle porque sabe que está perto da sarjeta.

— Eu espero que você esteja certo. Mas não vou baixar a guarda.

Ele me encarou por um instante e então sorriu de leve.

— Nem deveria. Mas tenha paciência. Às vezes, a queda é o pior castigo.

Eu só esperava que, até lá, Mina não levasse mais ninguém com ela.

Mais alguns dias se passaram e as coisas continuavam tensas. Mina insistia nas mensagens. Ela alternava entre se fazer de vítima, tentar me manipular e, às vezes, usava aquele tom de ameaça ao vazio.

O telefone vibrou sobre a mesa da distribuidora, interrompendo minha concentração nos relatórios. Peguei o aparelho e fiquei preocupado ao ver o nome de Dona Lúcia na tela.

— Dona Lúcia? Aconteceu alguma coisa? — Atendi, já sentindo um aperto no peito.

A voz dela veio aflita, quase trêmula:

— Senhor Miguel, a sua ex-esposa … Ela está aqui.

Senti meu estômago revirar.

— Onde?

— Na praça do condomínio. Ela apareceu do nada e foi direto até sua filha.

Minha cadeira arrastou bruscamente quando me levantei.

— Ela tocou nela? Fez alguma coisa?

— Não, não. — A babá suspirou, tentando manter a calma. — Ela está sentada no balanço com a menina, brincando. Mas, Sr. Miguel, eu tentei impedir, juro que tentei. Só que sua filha fez um escândalo, não quis se afastar. Eu até chamei o segurança … eu não sabia o que fazer.

Respirei fundo, tentando controlar a raiva e o pânico que subiam pelo meu peito como um incêndio.

— Como ela conseguiu acesso? Por que a deixaram entrar?

Dona Lúcia explicou.

— Parece que ela foi autorizada por outra moradora. A portaria não pôde impedir. E agora a segurança também não pode expulsá-la, porque, tecnicamente, ela não está fazendo nada errado.

Apertei o telefone com força. Mina era esperta. Ela sabia exatamente até onde podia ir sem cruzar uma linha definitiva.

— Tem alguém com vocês?

— Pedi para um dos seguranças ficar por perto, mas ele só pode observar. Ela continua lá, brincando com a pequena, sorrindo, como se nada tivesse acontecido.

Minha filha estava com Mina. Na mesma praça onde eu a levava para brincar todo fim de semana. O lugar onde ela devia se sentir segura.

— Eu estou indo agora. Não tira os olhos dela. Se qualquer coisa acontecer, me liga na hora.

— Sim, senhor.

Desliguei e saí da distribuidora feito um furacão, nem me dei ao trabalho de pegar o elevador e desci correndo as escadas. Peguei o carro e fui rasgando as ruas da cidade, os nós dos meus dedos brancos sobre o volante.

Minha cabeça fervia. Mina não podia simplesmente aparecer quando quisesse. Ela tinha visitas supervisionadas. Existiam regras. Mas ela sempre soube manipular qualquer situação a seu favor.

Quando entrei no condomínio, já era tarde demais. A praça estava quase vazia e Dona Lúcia me esperava perto do parquinho, segurando firme a mão da minha filha.

— Onde ela está? — Perguntei, ainda ofegante.

— Foi embora há poucos minutos. Disse que já tinha matado as saudades.

Meu olhar varreu o lugar, mas não havia sinal de Mina. Só a lembrança de que ela estivera ali.

Me abaixei diante da minha filha, que me olhava com os grandes olhos inocentes.

— Você gostou de brincar com a mamãe? — Perguntei, controlando a voz.

Ela sorriu, balançando a cabecinha, sem entender nada do que se passava entre os adultos.

Engoli a raiva e olhei para Dona Lúcia.

— Isso não pode acontecer de novo.

— Eu sei, senhor Miguel. Eu sinto muito. — Ela parecia assustada.

— A senhora agiu bem, rápido. Obrigado. — Eu a acalmei, ainda sentindo o sangue pulsar nas têmporas.

Na manhã seguinte, denunciei o ocorrido ao Conselho Tutelar. Eu queria uma ação imediata, alguma medida que impedisse Mina de se aproximar fora das visitas supervisionadas. E, alguns dias depois, recebi um relatório formal. Li cada linha com um gosto amargo na boca.

Mina tinha provas. Imagens, mensagens trocadas com a tal “amiga” que havia autorizado sua entrada no condomínio. O depoimento dela dizia que estava apenas visitando essa amiga e, ao ver a filha na praça, não resistiu e se aproximou.

O relatório concluía que tudo estava sendo registrado, mas que entendiam a situação. Casos como aquele aconteciam o tempo todo.

A última frase foi um golpe na minha paciência:

"Fora essa situação isolada, a Sra. Guilhermina está cumprindo todas as recomendações dadas".

Bufei e joguei os papéis sobre a mesa. Mina estava jogando o jogo dela. E, pior, estava vencendo.

Após aquele incidente, Mina me deu uns dias de paz. Com o relaxamento, voltei a dar mais atenção para Carolina.

Estávamos deitados no sofá da casa dela, minha cabeça apoiada em seu colo enquanto ela mexia distraidamente nos meus cabelos. A televisão estava ligada em um volume baixo, mas eu não prestava atenção em nada além do toque dela.

— No sábado vai ter uma festa da empresa. — Carolina disse, de repente.

Abri um olho, curioso.

— Festa?

— Sim. Um evento multinacional. Vem até gente de outros países. Todo mundo vai. Meus chefes, meus colegas de trabalho … E eu queria que você fosse comigo.

Me levantei um pouco, apoiando-me no braço do sofá.

— Tem certeza?

Ela me olhou esperançosa.

— Por que não teria?

Tentei avaliar a situação, me explicar.

— Carolina, você sabe que meu nome ainda está envolvido em muita coisa. Meu divórcio, a briga pela guarda da minha filha, um processo grave contra a Mina em relação a farmácia .… Ela pode tentar usar qualquer coisa contra mim. Sem falar que, pra muita gente, eu ainda sou “o traído”, o cara que foi feito de idiota pelo melhor amigo.

Ela deslizou a ponta dos dedos pelo meu rosto.

— Miguel … As pessoas sempre vão falar. E você não pode viver sua vida com medo disso.

Abaixei o olhar, pensativo.

— Eu sei.

— Então? Você vem comigo?

Olhei para ela, tão bonita, tão segura de si. Ela não se importava com o que os outros diriam. Ela me queria lá, ao lado dela.

Respirei fundo e aceitei.

— Tá bom. Eu vou.

Seu rosto se iluminou em um sorriso.

— Ótimo. Vai ser divertido.

Ela voltou a afagar meus cabelos, e eu senti que talvez estivesse pronto para seguir em frente.

No dia combinado lá estávamos nós.

O salão do hotel cinco-estrelas estava cheio. Luzes elegantes, música ambiente e um buffet impecável. Carolina usava um vestido branco justo, simples e sofisticado. Ela chamava atenção, mas parecia alheia aos olhares de outras pessoas. Sua atenção se concentrava totalmente em mim.

Segurei sua mão enquanto caminhávamos entre os convidados. Alguns cumprimentavam Carolina com respeito, e eu percebia como ela era bem-quista.

Estávamos pegando nossas taças de vinho quando um homem alto, de terno cinza e cabelos grisalhos, se aproximou. Ele me olhou por um instante, surpreso, e então sorriu.

— Mas vejam só! Se não é Miguel Novaes!

Ele estendeu a mão, e eu apertei, reconhecendo-o vagamente.

— Me desculpe, mas …

Ele riu.

— Não lembra de mim? Sou Renato França, diretor comercial. Mas, além disso, sou amigo do seu pai há muitos anos.

Minha memória clareou.

— Claro! Você costumava visitar meu pai quando ele ainda estava na ativa.

— Isso mesmo! — Ele sorriu e olhou para Carolina. — Então, é com você que nosso brilhante executivo está namorando, hein?

Carolina sorriu, discreta.

— Culpa dele, doutor Renato. Ele que me conquistou.

O homem riu e voltou-se para mim.

— Preciso dizer, Miguel … Fez uma ótima troca. — Ele piscou gentilmente.

Senti Carolina enrijecer levemente ao meu lado, mas mantive um sorriso educado. Renato percebeu e pigarreou, mudando de tom.

— Brincadeiras à parte, sinto muito pelo que aconteceu com você. Sei que está passando por um divórcio complicado.

Assenti, sem querer me aprofundar no assunto.

— A vida segue.

— E segue bem, pelo visto. — Ele sorriu e virou-se para Carolina. — Você é muito talentosa, Carolina. Tem um futuro promissor aqui dentro.

Ela agradeceu, e Renato deu um gole no vinho antes de voltar-se para mim outra vez.

— Cuide bem dela, Miguel. — O tom foi mais sério. — Ela tem um grande futuro pela frente.

Antes que eu pudesse responder, ele nos deu um último sorriso e se afastou para conversar com outros executivos. Carolina me olhou, analisando minha expressão.

— Está tudo bem?

Passei a mão na nuca, pensativo.

— Sim. Só achei … interessante o jeito que ele falou.

Ela riu baixinho.

— Você está acostumado a cuidar dos outros. Talvez seja a hora de perceber que eu sei me cuidar também.

Olhei para ela, tão confiante, tão firme.

— Eu sei.

Segurei sua mão e a puxei para a pista de dança.

— Mas, por via das dúvidas, eu cuido de você mesmo assim.

Ela sorriu e aceitou minha mão. Naquele momento, nada mais importava. Dançamos algumas músicas e depois voltamos a interagir com os outros convidados.

A música ambiente e o burburinho dos convidados preenchiam o salão, enquanto eu caminhava em direção ao bar. A festa estava animada, e eu me sentia à vontade naquele evento social.

Peguei duas taças de espumante e voltei pelo mesmo caminho, desviando dos grupos de funcionários que riam e conversavam. Estava a poucos passos de Carolina quando ouvi uma voz feminina, entusiasmada e familiar, chamando pelo nome dela.

— Carolina? Meu Deus, quanto tempo!

Vi minha namorada se virar rapidamente, os olhos brilhando de alegria ao reconhecer a pessoa.

— Carla? Não acredito! — Carolina sorriu de orelha a orelha e segurou as mãos da mulher, surpresa com o reencontro. — Nossa, que coincidência!

O sorriso de Carla, no entanto, congelou ao me ver. Seus olhos arregalaram-se em choque, e um reflexo quase automático fez com que ela recuasse um passo.

— Patrão? O senhor por aqui ...

Ela vestia um elegante vestido preto, discreto, nada semelhante às roupas ousadas que costumava usar nas noites em que eu a vi no passado. Mas era ela. Sem dúvidas, era ela.

Minha mente processava rápido. “O que diabos ela está fazendo aqui?”.

— Nossa, eu e Carla trabalhamos juntas! — Carolina comentou, rindo, alheia à tensão que se formava. — Mas faz algum tempo ... O quê? Três anos?

— Três anos. Isso mesmo — Carla corrigiu, sua voz falhando levemente, constrangida.

“Três anos desde que Carolina e Carla trabalharam juntas? Mas eu a conhecia de um tipo de trabalho bem específico. Um lugar que Carolina, definitivamente, não fazia ideia”. Minha mente escureceu.

Carla desviou o olhar rapidamente, tentando recuperar a compostura. Carolina continuava empolgada, sem perceber a troca de olhares entre nós, a tensão que se formava.

Minha boca secou. Minha visão estreitou sobre Carla, enquanto meu coração martelava no peito. Eu a conhecia bem demais. Sabia exatamente o que ela fazia nas “noites de trabalho”.

“O que ela está fazendo aqui? Trabalhando? Só pode ser.”

Meus dedos apertaram a taça. A dúvida se cravou como uma lâmina no meu peito.

Meu olhar voltou para Carolina, que continuava sorridente, completamente alheia ao turbilhão que começava a crescer dentro de mim. Ela ainda não tinha entendido o que acontecia e Carla, visivelmente desconfortável, sorria sem graça.

— Veio com quem? Será que eu conheço? — Carolina perguntou para a amiga.

— Ele não é daqui. É da matriz. Vim como sua acompanhante. — Carla apontou para um executivo jovem próximo a nós.

Eu sabia muito bem o tipo de “companhia” que ela fazia. De repente, a festa já não parecia tão confortável assim.

Carolina ainda sorria, mas sua expressão mudou ao notar minha tensão. Ela franziu a testa, olhando de mim para Carla e depois de volta para mim.

— Miguel? O que foi? — Sua voz soou preocupada.

Carla permaneceu imóvel, evitando meu olhar.

Minha mente estava a mil. Eu não queria uma cena ali, no meio da festa. Mas precisava de respostas. Respirei fundo, forçando minha voz a sair firme:

— Você trabalhava com a Carla há três anos?

Carolina ficou surpresa com a pergunta.

— Sim, claro. Na outra empresa. Não juntas, mas próximas. Foi só por um ano, mas a gente se dava bem.

Não havia hesitação na resposta dela, nenhuma preocupação. O que significava que … Ela não sabia que eu sabia sobre Carla.

Minha garganta ficou seca. Peguei Carolina pela mão e a puxei para um canto mais afastado do salão, onde as luzes eram mais baixas e ninguém prestava atenção em nós.

— Miguel, o que foi? Você está me assustando. — Ela disse, tentando soltar a mão, mas eu a segurei firme.

Olhei diretamente em seus olhos e baixei a voz, para que só ela ouvisse:

— Carolina, eu sei o que a Carla faz.

Ela piscou, confusa.

— Como assim?

Fui direto, sem rodeios.

— Carla trabalha para mim na distribuidora. É uma estagiária. Ela começou há pouco tempo. Mas eu a conheci como Lorraine. E sei que, fora do horário comercial, ela presta outro tipo de serviço.

O rosto de Carolina perdeu a cor.

— O quê …

— Foi assim que eu a conheci. — Soltei sua mão lentamente, mas ela não se moveu.

Vi sua mente tentando processar tudo. Seus olhos se arregalaram, sua respiração acelerou.

— Não … Isso deve ser algum engano … A Carla … ela …

Carolina estava em negação.

— Carolina … —

Tentei dizer, mas antes que eu pudesse continuar, uma terceira voz surgiu novamente.

— Miguel.

Me virei e Carla estava ali, de pé a poucos metros de nós.

Ela tocou meu ombro, pedindo a palavra.

— Antes de tirar conclusões precipitadas, me escute, por favor.

Carolina virou o rosto para ela, os olhos cheios de confusão e algo mais: medo.

— Isso não pode estar acontecendo … — Carolina estava em choque.

E então, as lágrimas vieram. Um soluço escapou de sua garganta e seu corpo tremeu levemente.

“Droga. Isso não era o que eu queria”. Pensei, me aproximando dela

— Carolina, calma … — Tentei abraçá-la, mas ela recuou um passo, apertando os olhos com força, como se quisesse acordar de um pesadelo.

Ela tremia. E naquele instante, nada mais importava.

— Eu só … preciso de um segundo. — Ela sussurrou, tentando enxugar as lágrimas do rosto.

Carla nos observava, sem se mover. Minha mente ainda girava com desconfiança, com dúvidas. Mas agora, minha prioridade era Carolina. Eu a tinha machucado. E isso era a última coisa que eu queria fazer.

Carla respirou fundo, hesitante, mas manteve a postura firme.

— Miguel, eu sei o que você está pensando, mas você está errado sobre a Carolina.

Carolina ainda tremia ao meu lado, os olhos marejados, confusa e assustada. Eu a encarei, depois voltei meu olhar para Carla, esperando que ela continuasse.

— Diferente de mim, Carolina nunca … — Carla parou, buscando as palavras certas. — ... ela nunca ofereceu o mesmo tipo de serviço que eu.

A revelação me acalmou, mas me deixou confuso.

— Como assim?

— Eu vendia o meu corpo, Miguel. — Carla continuou. — Você sabe disso. Mas a Carolina … ela apenas acompanhava homens solitários ...

Carla olhou para Carolina, sorrindo, antes de voltar a explicar.

— Ela se passava por namorada em eventos sociais, como casamentos, jantares, almoços de negócios ... Esse tipo de coisa.

Minha mente girou.

— Você está dizendo que ela … fingia ser namorada de desconhecidos?

Carla confirmou.

— Sim. Mas nunca passou disso. Nada físico. Nada além do que estava combinado.

Eu estava incrédulo, estático.

— E você espera que eu acredite nisso?

— Eu não espero nada, Miguel. Mas é a verdade.

Virei para Carolina, mas ela permanecia calada, os olhos presos no chão.

— Carolina … — Minha voz saiu mais baixa, menos dura.

Ela demorou alguns segundos para responder, e quando o fez, sua voz estava carregada de emoção.

— Eu nunca … Nunca fiz o que você está pensando.

— Por que não me contou?

Ela finalmente ergueu o olhar para mim, lágrimas escorrendo por seu rosto.

— Porque não era importante. Porque era algo do passado. Um passado que já não existe mais.

O silêncio entre nós foi esmagador. Meu peito estava apertado, minha mente ainda tentava processar tudo.

Carla, percebendo que não havia mais nada que pudesse dizer, soltou um suspiro e nos deixou sozinhos.

— Bom … era só isso que eu queria dizer. Tenho que ir.

Carolina me puxou pela mão com uma força inesperada, como se precisasse sair dali o mais rápido possível. Sem dizer uma palavra, ela me conduziu até o carro, suas mãos ainda apertadas nas minhas, como se tentasse se agarrar a algo que fosse real.

Assim que entramos e a porta do carro se fechou, o silêncio caiu entre nós. Carolina estava visivelmente tensa, o olhar perdido, como se quisesse encontrar as palavras certas.

Ela olhou para mim, seus olhos cheios de uma tristeza profunda, como se estivesse pesando cada palavra que diria. Com a voz suave, ela começou a explicar:

— Miguel, eu … eu não fiz isso por querer. Não era sobre mim ou sobre o que eu queria. Eu … eu fiz aquilo porque estávamos lutando com os custos da doença da minha mãe. As contas começaram a acumular, e eu … eu não tinha mais opção. Se eu não tivesse feito aquilo, a gente teria perdido a casa. E não havia outra forma de conseguir uma quantia decente de dinheiro de forma tão rápida, entende? Eu só queria ajudar, mas eu sei que as minhas escolhas não foram fáceis. E agora, vendo tudo o que aconteceu, percebo que o peso delas me afeta mais do que eu imaginava.

Ela fechou os olhos por um momento, como se tentasse aliviar a dor que suas palavras carregavam. Eu fiquei em silêncio, absorvendo a confissão dela, sem saber o que dizer.

Eu não sabia o quanto ela tinha se sacrificado até aquele momento.

— Miguel … — Ela pausou, os olhos buscando os meus. — ... eu realmente fui só acompanhante, mas … tem algo mais que você precisa saber.

Meu estômago revirou. Eu não esperava que viria mais. Suas palavras ainda ecoavam na minha cabeça, mas decidi ouvi-la. Carolina parecia hesitar, mas então soltou um suspiro pesado.

— Eu nunca dormi com alguém por dinheiro. Mas … eu me envolvi com dois clientes. Foi … foi algo que aconteceu naturalmente.

Eu me encolhi no banco, o coração batendo mais forte.

— O quê?

— Eu não fiz pelo dinheiro, Miguel. Eu realmente gostei deles. Ambos. E … era solteira, não tinha compromisso com ninguém. Não pensei que estivesse fazendo algo errado.

Eu senti um peso no peito, como se eu estivesse tentando entender onde começava a linha entre o que era aceitável e o que não era. Ela parecia tão sincera, tão vulnerável.

— Carolina … — Falei, minha voz suavizando, mas ainda carregada com a tempestade de emoções dentro de mim. — ... você não precisa se explicar.

Ela baixou a cabeça, como se tentasse evitar o impacto das palavras.

— Eu sei. Mas … eu tinha medo da sua reação. De te perder. E isso, agora, parece tão pequeno perto do que aconteceu.

Ela olhou para mim, os olhos cheios de lágrimas que não caíam. Eu não consegui mais manter a distância que estava tentando criar entre nós. Com um movimento rápido, a puxei para perto de mim, envolvendo-a em meus braços. Senti seu cheiro, o calor da sua pele.

Quando nossos lábios se encontraram, foi mais um impulso do que qualquer outra coisa. A pressão nos meus ombros, o desconforto da revelação, tudo desapareceu rapidamente. Ela se entregou ao beijo com a mesma intensidade, como se soubesse que precisava daquele abraço, daquele toque, tanto quanto eu.

Quando nos separamos, eu ainda a mantive perto de mim, tocando seu rosto suavemente.

— Eu sinto muito, Carol. Eu devia ter reagido de outra forma, não deveria ter deixado a situação me afetar tanto.

Ela sorriu, timidamente, mas o suficiente para me aquecer.

— Eu entendo, Miguel. É normal … Todos têm um passado, eu sei. E eu nunca quis esconder isso de você, só não sabia como falar. Mas agora … eu só quero saber se a gente vai ficar bem.

Olhei para ela por um momento, vendo a fragilidade, mas também a força que ela ainda carregava. Segurei sua mão com firmeza e beijei sua testa.

— Sim, Carol. Estamos bem. Eu entendo o que você teve que fazer, e não posso julgar. Eu só quero que a gente siga em frente, juntos.

Ela fechou os olhos por um segundo, aliviada. Seu sorriso apareceu de novo, agora com mais confiança.

— Eu também.

Meus dedos estavam entrelaçados com os dela, como se fosse a última coisa sólida que restava em meio ao caos da últimas hora. E, ao olhar para o seu rosto, vi o que eu queria ver: a sinceridade de alguém que, mesmo com um passado complexo, tinha se entregado ao que estava diante de si.

E naquele momento, entre o silêncio e a calmaria, eu sabia que as coisas iam se resolver. Talvez não fosse fácil, mas iríamos encontrar um caminho, lado a lado.

Continua …

Autor: Lukinha.

Revisão e consultoria :


Este conto recebeu 89 estrelas.
Incentive Contos do Lukinha a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.
Foto de perfil de Contos do LukinhaContos do LukinhaContos: 126Seguidores: 388Seguindo: 15Mensagem Comentários de teor homofóbico, sexista, misógino, preconceituoso e de pessoas que têm o costume de destratar autores e, principalmente, autoras, serão excluídos sem aviso prévio. Assim como os comentários são abertos, meu direito de excluir o que não me agrada, também é válido. Conservadores e monogâmicos radicais, desrespeitosos, terão qualquer comentário apagado, assim como leitores sem noção, independente de serem elogios ou críticas. Se você não se identifica com as regras desse perfil, melhor não ler e nem interagir.

Comentários

Foto de perfil de Samas

A mina sabe atormentar o Miguel sem correr o risco de infringir as regras . A sujeita é esperta até demais . Miguel devia conversar com os vizinhos e pedir para não deixar ela entrar

0 0
Foto de perfil genérica

.....revisão e consultoria:

Ela é chique demais!

....muito bem Lukinha, brincadeiras a parte,

Cara, sinceramente mexer com emoções humanas requer algo muito especial, uma dádiva, uma luz

Radiante que juntas com palavras, faz acontecer.

Cada capítulo carregado de pressão, o desconforto de Miguel toda vez que Mina está por perto, e por final o passado revelador de Carolina que o deixou bastante tenso!

Obrigado meus pupilos!

0 0
Foto de perfil de

Chique no úrtimo !!!!

0 0
Foto de perfil de Himerus

Lukinha, sua história é ótima mas não é fácil de ler. A carga de tensão é enorme, percebo o protagonista caminhando na beira do abismo a cada capítulo. Acredito que ele, apesar de bem assessorado, de ter um bom plano para se livrar/vingar da traíra, não tem estômago para luta e se deixou abalar mais que o aceitável pela traição.

Sim, eu sei, ele perdeu o chão ao descobrir que sua vida conjugal era uma mentira mas suas reações frente as provocações de Mina são infantis... Ela continua o manipulando seus sentimentos, cada explosão de raiva mostra isso.

Carolina que me desculpe mas, como diz o dito popular: o contrário do amor não é o ódio é a indiferença.

Ele não consegue ser indiferente a Mina, sofre a cada ação dela, como se o ataque e a tentativa de manipulação não fosse o esperado...

Um ponto mostrou que Miguel não está nada bem:

"A pequena encheu o rosto da mãe de beijos, sorrindo de orelha a orelha. Doeu vê-la tão feliz com a presença da Mina."

Ficar chateado com a felicidade da filha ao ver a mãe? Por mais vagabunda que ela seja é a mãe!!

Em síntese: Ele vai acabar fazendo merda! Vai explodir e perder a razão. Imaturo e com uma dor de corno mal resolvida Miguel, a meu ver, vai se tornar cada vez mais obsessivo, seja com as reações de Mina ou, como a festa mostrou, com a possibilidade de ser traído novamente.

1 0
Foto de perfil de Himerus

Sim, para mim o título do conto fala sobre os sentimentos de Miguel.

0 0
Foto de perfil de Contos do Lukinha

Você tocou num bom ponto. Meus protagonistas geralmente se recuperam rápido demais e partem para o contra ataque. Nessa série, quis fazer diferente. Quis mostrar que seguir em frente é diferente de esquecer. Mesmo que a Mina seja uma mulher cruel e vil, Miguel é um homem simples, comum, até um pouco inocente e puro. Carolina também foi criada com o propósito de ser fofa e honesta. O que não quer dizer que seja inocente. Ela deve ser o oposto da Mina, apesar das origens semelhantes. Tento enfatizar que apesar do meio influenciar a pessoa, as escolhas seguem sendo pessoais. Leandro e ela são irmãos e são complemente opostos. Apesar de tentar criar histórias com enredos diferentes, percebi que meus protagonistas tem muita coisa em comum. Estou tentando fazer Miguel mais humano, mais realista. Obrigado pela análise, você foi bem certeiro.

0 0
Foto de perfil de Whisper

Capítulo muito interessante, Mina para várias Continua jogando baixo, usar até a própria filha é algo muito sem noção!

Eu entendo Carol, não é fácil contar o que ela fez, apesar de que pelo que ela é Carla falou, ela não fez nada de errado, e sinceramente, mesmo se ela tivesse feito algo como a Carla, acho que Miguel iria entender, talvez não tão fácil, mas iria.

Muito bom como sempre!

Parabéns Lukinha e !

1 0
Foto de perfil de Contos do Lukinha

Como você sabe, não jogo personagens aleatoriamente na história. Carla sempre teve um propósito. Será que já cumpriu seu papel? 🤔

0 0
Foto de perfil genérica

Eita Carolina até tu!

Miguel não tem sorte mesmo,se livra de uma P. e arruma outra ,esse papo de namorada de aluguel não cola.

E ainda vem com essa conversa que ficou com dois clientes,mas não foi por dinheiro,corta essa,por dinheiro ou não (ficou com dois clientes).

Miguel saí dessa que é furada.

2 0
Foto de perfil de Contos do Lukinha

Eu acredito, sinceramente, que você leu os motivos dela para fazer aquilo, mas resolveu ignorar, apenas para poder fazer esse comentário. 🤔

Já imaginou, se as pessoas pegassem apenas a pior fase da sua vida e te julgassem por ela? Tenho certeza que, assim todos nós, você não é perfeito... Só acho.

1 1
Foto de perfil de rbsm

Outro capitulo intenso e emocionante parabéns vai dar tudo certo para esses dois

0 0
Foto de perfil genérica

Todos tem algo debaixo tapete.kkkk

Mas Miguel querer cobrar algo dela do passado é ridículo.

1 1
Foto de perfil genérica

Dali, uma vez (P) sempre (P),quem diz que muda,sempre tem uma recaída, mais cedo ou mais tarde.

1 0
Foto de perfil de Almafer

Lukinha você é a Ida juntos nesta saga são demaisuma história bem trabalhada nos seus mínimos detalhes parabéns nota mil amigos.

0 0
Foto de perfil genérica

Se Mina descobre, pode manipular a situação!

0 0
Foto de perfil de Contos do Lukinha

😳

0 0
Foto de perfil genérica

Acho que ela já descobriu porque em algum capítulo anterior jogou algo no ar do tipo: vc não sabe tudo dela... Mas agora, qeuele sabe, a hora que a Mina for tentar usar isso para desestabilizar ele, ele já estará preparado...

0 0
Foto de perfil genérica

Me enganei. O que a Mina escreveu foi:

"Será que ela sabe no que está se metendo?".

0 0
Foto de perfil de Contos do Lukinha

Acho que ela tá meio falida. Bem quebrada. Como será que ela vai reagir daqui pra frente?

0 0
Foto de perfil de

Carolina fofinha !!!

0 1
Este comentário não está disponível


xvideos as vigindades das mendigasnovinhas vigem nao aguenta rola no cu de jeito nem um ai ui tirabucetinha apertadinho arregassano xvideoeu quero ver a coxadinha acaba com a pica para fazer encostando nas mulher de calça compridaxvidiovadia deu o cu dos pautirando vingidade de novinha com o negao do lado da maeizinha gostosa tambemtia gostoza peituda seta no colo do sobrinho vigem deixa louco/texto/200802215xxxvides.com meu amigo enquanto jogamos video game ele vai fodendo minha mae/perfil/149190transei com meu cunhadoIrmão com a irma no colo conto eroticoabaxa vidio porno de tio fudeno supria só nucu da safadaeu não sabia que o amigo solteiro tinha um pauzao do meu marido eu queria fuder com ele eu marquei um encontro com ele eu fui me encontrar com ele eu entrei dentro do seu carro eu disse pra ele me levar pro motel ele me levou pro motel eu e ele dentro do quarto eu dei um abraço nele eu dei um beijo na boca dele eu tirei minha roupa eu deitei na cama ele chupou meu peito ele disse pra mim sua buceta raspadinha e linda ele começou a chupar minha buceta eu gozei na boca dele eu peguei no seu pau eu disse pra ele você tem um pauzao maior e mais grosso que o pau do meu marido eu chupei seu pau ele começou a fuder minha buceta eu gemia no seu pauzao ele fundendo minha buceta eu gozei eu disse pra ele fode meu cu bem devagar conto erótico/texto/201210326cunhadas de sanha gostosas querendo trazabumdasboavideo sexo mulherzinha nova traindo seu marido com cunhado mulekãovideos de com mulheres muito gostosa muito esitada dizendo qui ta muito gosto que è pra comer o cuzao delasmulher não transa com pauzãooooretribuindo o favor para a mae passando gel no seu cu contos eroticosx gostosa bonziada e bonitameu gay de onze aninhos adora a minha rola contos eroticosconto erotico imperadorXvideo as panteira a minha vizinha tá zangada marido e com a sua bobaxxx.videos.com alta troxudafui capacho da minha colega contosxividio filho fala mae deixa eu gozar dentro de vcxvideos cabeça esponjosamenina novinha nao aqenta a pica e sangra a bucetinhaContos eróticos de tulaxxvibeo morena fudeno com 4negao no trabalhocontos eróticos dri o cu pros meus irmãosMeus amigos me foderam bebada contosVoltei para casa toda arregaçada e cheia de porra/texto/202303761pornodoido se surpreendendo com pal do irmaoimagem de bucetinha vemelhinha saido sangue conto gay virei a puta de varios machos na saunarelatos íncestos tio e sobrinha dormindo nucontos porn pai fica bebado filhinha é arrombada por negaõ tripé e seus amigosConto erótico eu novinha e seu Joaquim /texto/201010550xvideos chm shortinha curtinho/texto/200907622xvideos tia e tio draza io sobrio onhameu filho meteu seu penis em mim conto eroticomulher mostrando a bunda com Arturzinho Só de shortmeninas virgens engatada varias vezes com caes na zoo contos eroticos/tema/pele%20brancaxxvideoirma dormi na cama do irmao minutosnissei rabudas vidiorapido doiscontos eroticos corno bebado esposa com fogo no rabo amigo roludomirtes dando a buceta na igrejaConto erótico comi minha tia e prima nas férias Contos bi casais bi.contos eroticos tesao no filhoparrudo pauzudoContos de zofilia de mulher suportando pau enormes contos eróticos crente. certinha contos com negao pauzudoxxxvidio deitada de bariga sem calsinha xeia de tensao xnxxnovinha se masturbando pelo Cantinho da calcinha e g******Vou contar o primeiro chifre com caseiro do sitiowww x. vidio gozano klconto erotico onibusxx cont erot cnn deu uma socadacontos eroticos varios homens arrombaram meu cuesposa bem dotado contos sandramulher do Espanto dopando a mais gostosagozando no cu da maecasetudo comendo cadela no ciochupou a cona da sogra todaporno conto erótico da entrada e padrastoxisvedeo comeno mia irma afosa/texto/2012041425