O ar estava denso, carregado de tensão. Dentro do escritório de Bernardo, a luz fraca da lâmpada sobre a mesa iluminava apenas parcialmente o rosto de Chico. As palavras que saíam da boca de Chico eram pesadas, carregadas de acusação e dor.
“Bernardo, você está brincando com fogo.” A voz de Chico tremia, mas a expressão em seu rosto era de raiva controlada. “A conta secreta em São Paulo, tudo o que você tem guardado… Eu sei de tudo. Se você insistir em continuar com essa luta contra os originários, vou à Justiça. Vou lutar pelo que é meu.”
Bernardo ficou paralisado, os olhos fixos em Chico. Ele não havia imaginado que seu segredo seria revelado assim, e ainda menos da boca de alguém em quem confiava tanto.
“Você não entende, Chico,” Bernardo respondeu, tentando controlar a respiração. “Eu não estou lutando só por mim, estou lutando por uma causa maior, por todos aqueles que nunca tiveram voz. O dinheiro… o dinheiro é apenas uma ferramenta.”
Chico deu um passo à frente, o olhar fixo em Bernardo. “Você não está sendo honesto comigo. O que você tem escondido, é sobre poder e controle, não sobre justiça. Se continuar nessa jornada, vai perder tudo, Bernardo. Inclusive o meu amor.”
O silêncio que se seguiu foi pesado. As palavras de Chico ecoaram na mente de Bernardo como uma sentença. Ele não sabia o que fazer. A luta pela causa, pela justiça, parecia valer mais do que qualquer amor. Mas até que ponto ele estava disposto a ir?
Enquanto isso, Indianara, que estava na sala ao lado, ouvindo toda a conversa, sentiu um calafrio percorre sua espinha. Ela sabia que, em breve, sua lealdade seria testada. O que fazer com o que acabara de ouvir?
A expressão em seu rosto estava tensa. Ela sabia que deveria falar sobre o que havia escutado. O segredo de Bernardo e a conta secreta estavam agora em suas mãos, e isso a deixava em um estado de conflito interno. Mas o medo de Armando a fazia tomar uma decisão difícil.
Ela entrou no escritório de Armando, onde ele estava sentado, com os olhos fixos em uma pilha de documentos. Quando a viu, um sorriso sutil apareceu em seus lábios, mas Indianara não sentia mais prazer naquela companhia.
“Armando, preciso te contar algo,” ela disse, a voz firme, mas a garganta apertada. “Eu ouvi uma conversa entre Bernardo e Chico. Ele tem uma conta secreta em São Paulo, com uma fortuna que está sendo escondida. E ele está usando isso para sua ‘luta’ contra os originários.”
Armando a olhou com um interesse calculado. Ele sabia que o jogo agora mudava. Ele também sabia o quanto precisava da fortuna para seus próprios planos. “Então, o que você está esperando? Conte-me o que mais você sabe.”
Indianara hesitou, mas sabia que não havia mais como voltar atrás. “Sei que Bernardo está disposto a continuar com tudo isso, mesmo sabendo que Chico o está ameaçando. Mas ele não sabe que, caso continue, vai perder mais do que a amor de Chico.”
Armando, agora com um sorriso de satisfação, começou a arquear as sobrancelhas. “Se ele não sabe disso, vai descobrir logo. Eu não deixarei que esse dinheiro escape das minhas mãos. Vamos resolver isso.”
Indianara sentiu o peso da responsabilidade aumentar. O plano estava prestes a ser colocado em prática, e ela não podia mais se permitir duvidar de Armando, nem mesmo de si mesma.
Armando sabia que precisava agir rapidamente para garantir que Bernardo e Chico não fossem capazes de reverter a situação. Ele arquitetou um plano meticuloso, em que, com a ajuda de Indianara, conseguiria capturar os dois e forçá-los a revelar todos os segredos sobre a fortuna.
“Você vai trazê-los para mim, Indianara. Deixe-me com eles depois,” Armando disse, com uma frieza quase assustadora. “Eu sei o que fazer. E quando eu recuperar o que é meu, ninguém mais ousará cruzar o meu caminho.”
Bernardo e Chico foram capturados numa noite fria e levados para um local isolado, um armazém abandonado onde Armando já os aguardava. Eles estavam desacordados quando foram trancados em uma pequena sala escura. Quando acordaram, o ambiente já estava impregnado de um silêncio mortal.
Armando entrou, com um sorriso irônico, e olhou para os dois. “Eu sabia que não ia demorar até vocês descobrirem que o jogo estava prestes a mudar. Agora, vocês vão me contar tudo sobre aquela conta, ou a situação vai piorar.”
Chico, com o olhar endurecido pela raiva, tentou se manter firme. “Você nunca vai conseguir, Armando. Não com a gente.”
Mas Armando riu, um riso cheio de desprezo. “O que importa é que eu terei tudo o que é meu.”
Enquanto o confronto se intensificava, Indianara, que havia se infiltrado na cena, observava de longe. O plano de Armando estava prestes a chegar a um ponto crítico, mas algo dentro dela começava a preocupar.
Indianara se aproximou de Armando e, com um grito, tentou impedi-lo de continuar. “Não! Não faça isso, Armando. Deixa o Chico em paz. Mate o Bernardo.”
Armando, perdido em sua obsessão pela fortuna, não ouviu. Apontou a arma para Chico, e Indianara, num ato desesperado, se jogou à frente dele, tomando o impacto da bala. O tiro ecoou pelo ar, e ela caiu, sangue espalhado no chão frio do armazém.
“Indianara!” Chico gritou, correndo até ela, mas ela já estava sem vida. A mulher que havia tentado salvar todos estava agora morta, vítima de sua própria escolha.
Armando, surpreso com o sacrifício, hesitou por um momento. Mas o peso da culpa o consumiu rapidamente, e ele fugiu, sem perceber que seu destino já estava selado.
Armando tentou escapar, mas o destino, como sempre, tinha outros planos. Quando ele montou seu cavalo e tentou fugir pelo terreno escorregadio, o animal tropeçou e ambos caíram em um barranco profundo. Armando foi esmagado pela queda, e sua vida terminou ali, sem nem mesmo uma chance de se redimir.
Bernardo e Chico, agora livres, se encararam em silêncio.
Anos depois, usando a fortuna restante, os dois fundaram o **Centro de Acolhimento Infantil**, um lugar onde crianças em risco de vida poderiam encontrar abrigo e uma nova chance na vida.
O centro tornou-se uma referência, um símbolo de resistência e esperança. E em cada parede, em cada sorriso de uma criança salva, Bernardo e Chico ajudaram a construir algo mais forte do que o ódio e a vingança: um legado de amor e redenção.
**Fim.**