O som da banda invadia o ar, misturando batidas de axé e forró com a energia vibrante da multidão. Estávamos todos no meio da rua, cercados por foliões fantasiados, com glitter e confetes espalhados por todos os cantos. Era impossível não se deixar contagiar pela alegria do momento.
Lucas e Brenda estavam dançando próximos ao trio elétrico, enquanto JP e Felipe conversavam com algumas pessoas que conhecemos ali. Gustavo, com uma cerveja na mão, ria alto de alguma piada do Breno, que não parava de falar. Bernardo estava ao meu lado, o braço dele passando casualmente pela minha cintura enquanto a banda tocava mais um clássico do carnaval.
– Rafa, acho que nunca vi um carnaval assim. Isso aqui é energia pura – Bernardo disse no meu ouvido, o sorriso estampado no rosto.
– E tá só começando – respondi, piscando.
Entre uma música e outra, dançamos, bebemos e nos misturamos ao bloco. O calor do final da tarde não parecia incomodar, e o brilho do glitter no rosto de cada um refletia a felicidade de estar ali.
Em um determinado momento, Bernardo se afastou de mim e começou a conversar com um rapaz próximo. Ele era alto, moreno, com um sorriso encantador e uma fantasia simples, mas que destacava o corpo definido. Fiquei observando à distância, e, em pouco tempo, eles estavam trocando sorrisos e toques discretos.
– Rafa, o Bernardo tá se dando bem, hein? – JP comentou ao meu lado, rindo.
– Tá na vibe dele – respondi com um sorriso, tentando parecer casual, mas não pude evitar sentir uma pontada de ciúmes.
Logo depois, Bernardo e o rapaz se beijaram no meio da multidão, despreocupados com os olhares ao redor. Senti algo me puxar para o momento, uma mistura de liberdade e provocação.
Enquanto isso, um outro cara, um pouco mais baixo, com cabelo cacheado e uma fantasia de pirata, se aproximou de mim com um sorriso tímido.
– Tá curtindo o bloco? – ele perguntou.
– Muito. E você? – respondi, já sentindo a energia dele.
– Melhor agora.
Não resisti ao clima e, em poucos segundos, estávamos nos beijando. Foi um beijo intenso, no meio daquela multidão pulsante, como se o mundo ao redor tivesse parado por um instante.
Quando abri os olhos, vi Bernardo se aproximando com o rapaz. Ele tinha um olhar divertido, e, sem dizer uma palavra, chegou mais perto, me puxando pela camisa.
– Tá se divertindo, Rafa? – ele perguntou, com um tom provocante.
– Você nem imagina – respondi, sorrindo.
Foi então que Bernardo, o rapaz com quem ele estava e eu nos juntamos em um beijo triplo, desinibido, cheio de intensidade e a pura essência do carnaval. A multidão ao nosso redor parecia sumir, e o momento se tornou único, marcado pela espontaneidade e pela alegria daquele dia.
Quando o beijo terminou, todos nós rimos, como se compartilhassem um segredo que só o carnaval poderia proporcionar.
– Isso aqui é o verdadeiro Alto – comentei, ainda rindo.
A noite já estava avançada, e a energia do bloco só aumentava. O som das músicas de forró misturado com o batuque das batidas eletrônicas era o combustível perfeito para a nossa empolgação. Todos nós já estávamos um pouco altos das bebidas, com os sorrisos mais soltos e as risadas mais altas.
No meio da multidão, percebi Sofia em seu auge carnavalesco. Ela estava radiante, com glitter espalhado pelo rosto e um sorriso tão grande que parecia iluminar o lugar. Mas o que me chamou mesmo a atenção foi a facilidade com que ela ia de um beijo para outro.
Primeiro foi um rapaz moreno, com um chapéu de cowboy, que se aproximou e a puxou para dançar. Eles riram, trocaram algumas palavras e logo estavam se beijando. Quando o beijo terminou, Sofia mal teve tempo de respirar antes de outro, loiro, com uma camisa florida aberta no peito, surgir e pedir um beijo. E ela? Não negou.
– Irmã, calma aí, né? Tá acelerada demais – falei, me aproximando dela.
Ela riu, ajeitando os cabelos brilhantes de purpurina.
– Ai, irmão, é carnaval! Preciso aproveitar, né? – respondeu, dando de ombros enquanto pegava uma lata de cerveja de um rapaz que mal conhecia.
Enquanto eu processava o segundo beijo, veio o terceiro, depois o quarto. Cada novo rapaz parecia ser de um canto diferente do bloco, mas todos atraídos pela energia magnética dela. Quando chegou o quinto – um rapaz de barba, fantasiado de marinheiro – já nem tentei intervir.
– Rafa, relaxa! Você tá muito careta – ela gritou por cima da música, rindo alto, antes de voltar para o bloco, deixando-me com uma ponta de ciúme fraternal.
– Essa menina ainda me mata – murmurei para Bernardo, que estava ao meu lado com o braço casualmente em volta do outro menino com quem tinha ficado mais cedo.
Enquanto isso, Lucas apareceu ao meu lado.
– Sua irmã tá melhor do que nós dois juntos, hein – ele comentou, rindo, com uma garrafa de água na mão.
– Nem me fale. Nem sei se fico orgulhoso ou preocupado – respondi, rindo também.
Nesse momento, Brenda surgiu com uma expressão fechada.
– Lucas, onde você estava? Fui te procurar pra dançar e você não tava! – ela disse, cruzando os braços.
– Fui comprar bebida. Calma, amor – ele respondeu, oferecendo a água que trazia para ela.
– Comprar bebida? Você demorou uma eternidade – ela retrucou, visivelmente enciumada.
Lucas suspirou, segurando o rosto dela com as duas mãos e plantando um beijo demorado em sua testa.
– Foi só isso, prometo. Não tem por que ficar assim.
Mesmo assim, Brenda lançou um olhar desconfiado para ele antes de pegar a água e beber um gole. Aproveitei o momento para aliviar a tensão.
– Brenda, relaxa, o Lucas tava comigo. Só tava tentando me proteger da minha irmã enlouquecida.
Ela deu uma risada, meio contra a vontade.
– Só espero que ele não se perca de novo.
Lucas me lançou um olhar agradecido antes de puxá-la para dançar novamente, tentando apaziguar o clima.
Voltei minha atenção para Bernardo, que agora estava sozinho.
– Cadê o garoto que tava com você? – perguntei, apontando com o queixo para o lugar onde estavam antes.
– Foi pegar uma bebida – ele respondeu casualmente, e nós dois rimos.
O carnaval seguia no seu ritmo frenético, com música alta, bebida e essa mistura louca de emoções e relações. E, no meio de tudo, percebi que o bloco não era só um lugar de diversão, mas também um palco para dramas e risadas inesquecíveis.
A noite seguiu em um ritmo frenético, exatamente como se espera de um carnaval no interior. Bebidas, músicas e aquele clima de liberdade pairavam no ar. Claro que, vez ou outra, alguém dava um "perdido" no grupo, mas, de um jeito ou de outro, a gente sempre se encontrava na multidão.
Perdi as contas de quantos caras minha irmã beijou ao longo da noite – sinceramente, acho que até ela perdeu. Sofia estava completamente entregue ao espírito do carnaval, e embora eu sentisse aquele ciúme natural de irmão, não pude evitar rir da energia contagiante dela. Quanto a mim e Bernardo, também não ficamos atrás. Beijamos outros caras, e, para minha surpresa, o ciúme dele, que só tinha aparecido no primeiro beijo, logo deu lugar a uma cumplicidade inesperada.
Isso, na verdade, dizia muito sobre o que estávamos construindo. Nosso relacionamento era complicado, mas ao mesmo tempo único. Eu amava o Bernardo – amava conversar com ele, estar ao lado dele, dividir momentos. Ele me transmitia calma e felicidade, coisas que eram difíceis de encontrar em outra pessoa. Mas, ao mesmo tempo, existia essa vontade de experimentar, de conhecer outras pessoas, e parecia que ele sentia o mesmo. Depois do Natal, nossa relação mudou muito, evoluiu. Se antes havia cobranças e inseguranças, agora havia um tipo de entendimento silencioso entre nós, algo que, de certo modo, nos aproximava ainda mais.
A noite terminou em risadas e passos cambaleantes. Quando voltamos para a fazenda, já passava da meia-noite. Estávamos alegres, exaustos e um pouco bêbados. Brenda, no entanto, estava de cara fechada. Lucas, com seus "perdidos" ocasionais, não ajudava em nada a controlar os ciúmes dela. Ainda assim, a volta foi tranquila, com o silêncio da estrada quebrado apenas por risadas esparsas e a trilha sonora improvisada por Lucas, que cantarolava algo baixo no fundo do carro.
Quando chegamos à fazenda, nos dividimos entre os quartos. O meu ficou com um quarteto improvável: eu, Bernardo, JP e Gustavo. E, bom, nessa noite, as coisas esquentaram de um jeito que nem eu esperava.
O quarto estava levemente iluminado pela luz que vinha da janela, uma mistura do luar com as luzes distantes da fazenda. Todos nós entramos rindo, ainda sob o efeito da bebida e do clima de carnaval que parecia pulsar em cada um. JP foi o primeiro a se jogar na cama, de costas, com os braços abertos.
– Isso foi insano! – ele exclamou, a voz embriagada e risonha.
– Insano mesmo – Gustavo concordou, sentando-se na ponta da cama enquanto tirava os tênis. Ele parecia tentar disfarçar o rubor no rosto, mas o álcool e a atmosfera no ar denunciavam sua inquietação.
Bernardo, já confortável, sentou-se ao meu lado no colchão improvisado no chão e passou um braço ao redor da minha cintura, me puxando para perto. Seus lábios tocaram meu pescoço de leve, como se me desafiasse ali mesmo.
– Ei, não vale começar sem avisar – brinquei, sorrindo, mas minha voz saiu um pouco mais rouca do que eu esperava.
JP ergueu a cabeça para nos encarar, o olhar cheio de diversão e um toque de provocação.
– E por que não começamos todos juntos? – ele disse, piscando, o tom brincalhão e desinibido.
Foi Gustavo quem quebrou o momento de hesitação. Ele se inclinou e puxou JP pela camisa, selando um beijo que começou tímido, mas rapidamente se tornou intenso. Foi impossível desviar o olhar. A forma como eles se conectaram era quase hipnotizante, um misto de desejo e curiosidade, e aos poucos as peças de roupas foram jogadas ao chão.
Senti Bernardo apertar minha cintura com mais força antes de virar meu rosto em sua direção. Ele não precisou dizer nada; seus olhos já diziam tudo. Nossos lábios se encontraram em um beijo quente e cheio de vontade, que rapidamente escalou. Suas mãos exploravam as laterais do meu corpo, e ele foi tirando a minha roupa, e eu as dele, enquanto o calor entre nós parecia aumentar ainda mais.
De canto de olho, vi JP e Gustavo se separarem por um instante, apenas para se aproximarem de onde estávamos. Bernardo, sempre audacioso, estendeu uma mão e puxou JP para perto, conectando nossos pequenos grupos. JP sorriu e nos surpreendeu ao inclinar-se e capturar os lábios de Bernardo em um beijo intenso, o tipo de cena que parecia saída de um filme. A essa altura já estávamos todos de pau duro, e pelados, e prontos pra viver o verdadeiro espírito de putaria no carnaval.
Nesse momento, Gustavo se aproximou de mim, seus olhos buscando permissão antes de me beijar. Nossos lábios se tocaram, e sua abordagem era diferente – suave, mas cheia de paixão reprimida. Ele explorava cada momento como se fosse único, e era impossível não me entregar, ele abriu os trabalhos, e começou a me chupar me olhando nos olhos, enquanto ao lado o Bernardo fez o mesmo com o Rafa, que dava leves gemidos, e elogiava o boquete do Bernardo.
A energia no quarto era quase palpável. Chupadas iam e vinham, trocas intensas de olhares e toques que pareciam criar uma corrente elétrica entre nós quatro. Puxei todos e demos um beijo quádruplo, enquanto nossas línguas entrava na boca um do outro, aos mãos iam se acariciando os corpos, ora eu pegava em algum pau, ora em alguma bunda, ora sentia alisarem meu peitoral, meu pau, era um verdadeiro clima de putaria. Não era sobre quem estava com quem; era sobre compartilhar aquele momento de liberdade e conexão.
Os gemidos se misturavam com sussurros, e, de repente, o quarto parecia pequeno para toda aquela energia. JP posicionou o Bernardo de quatro, pincelou seu pau no cú do Bernardo e antes de meter ele se inclinou para mim, nossos lábios se encontrando novamente. Bernardo e Gustavo agora trocavam um beijo próprio, enquanto Gustavo se posicionava de quatro ao lado do Bernardo, o JP iria meter no Bernardo e eu no Gustavo suas mãos exploravam os limites que ninguém ali parecia querer impor.
Começamos a bombar no cú de nossos parceiros, e vez ou outra puxava o JP para um beijo, os gemidos tinha que ser leves para as pessoas dos outros quartos não ouvirem o que deixou o clima ainda mais gostoso com aquele ar de safadeza pairando pelo ar, depois de um tempo trocamos de posição, o JP foi comer o Gustavo e eu o Bernardo, seguimos assim até que gozei dentro do Bernardo e o JP no Gustavo, viramos eles de frente e comecei a chupar o pau do Gustavo e o JP o do Bernardo, ambos gozaram quase que na mesma hora, primeiro o Gustavo e depois o Bernardo, e então puxei o JP e demos um beijo compartilhando as porras entre nossas bocas, e assim terminamos o primeiro dia de carnaval, com direito a muito beijo, bebida e putaria. Era um momento em que não havia certo ou errado, apenas o calor do momento e a liberdade que o carnaval havia nos presenteado.
Acordei com o sol já alto entrando pelas frestas da janela. Meu corpo ainda estava pesado dos excessos da noite anterior, mas eu precisava sair da cama. Com cuidado para não acordar os outros, me levantei e fui direto ao banheiro tomar um banho. A água fria ajudou a espantar o cansaço e me preparou para o dia.
Depois de me arrumar, desci as escadas e fui recebido pelo cheiro irresistível de café fresco misturado ao aroma de pão de queijo e bolos. Na mesa do alpendre, havia uma fartura digna das manhãs na fazenda: frutas, biscoitos, queijo de coalho, cuscuz, tapioca e sucos naturais.
Encontrei Lucas sentado em uma das cadeiras do alpendre, conversando animadamente com meu tio Alysson e tia Claudia. Ele estava descontraído, com um sorriso fácil enquanto segurava uma xícara de café. Me juntei a eles, puxando uma cadeira.
– Bom dia, dorminhoco! – Lucas brincou, me lançando um olhar divertido.
– Bom dia, gente – respondi, meio envergonhado pelo atraso. – Já tão aqui conversando faz tempo?
– Não muito – minha tia respondeu, sorrindo calorosamente. – Só estávamos rindo das histórias que o Lucas tava contando sobre o carnaval de vocês. Parece que foi animado.
– Animado é pouco – Lucas acrescentou, rindo. – Acho que vou precisar de uma semana pra me recuperar.
Eu ri e comecei a compartilhar algumas das situações engraçadas que haviam acontecido no bloco. Como sempre, meu tio ria alto e minha tia balançava a cabeça, mas com um sorriso nos lábios.
Alguns minutos depois, Brenda apareceu no alpendre. Ela estava com o rosto sério e os braços cruzados, mas cumprimentou a todos com educação. Sentou-se ao meu lado, mas não trocou olhares com Lucas. Algo me dizia que a demora dele para voltar no bloco na noite anterior ainda estava pesando.
– Bom dia, Brenda – eu disse, tentando quebrar o gelo.
– Bom dia – ela respondeu, sem muita empolgação.
Aproveitamos o café da manhã, e minha tia insistia para que todos comessem mais um pouco, típica anfitriã generosa. Após algumas conversas descontraídas, Lucas se levantou e esticou os braços.
– Rafa, você acha que dá pra gente cavalgar de novo hoje? – ele perguntou, empolgado.
– Claro, só preciso preparar os cavalos – respondi.
– Ótimo! Vou me trocar, então.
Depois de terminar o café, subi para pegar uma calça apropriada para montar e troquei de roupa rapidamente. Quando voltei ao estábulo, Lucas já estava lá, acariciando Apolo, o cavalo que ele havia montado no dia anterior.
– Olha só quem tá se achando amigo íntimo do Apolo – provoquei, enquanto ajeitava os arreios.
– Ele gosta de mim, dá pra ver – Lucas disse com um sorriso. – Só espero que ele continue colaborando hoje.
– Se você seguir minhas instruções, vai dar tudo certo.
Preparados, montamos os cavalos e nos dirigimos para a saída da fazenda. Lucas, ainda com a postura um pouco rígida, logo começou a relaxar à medida que Apolo seguia o trote tranquilo. A paisagem ao redor era de tirar o fôlego: campos verdes a perder de vista, cercados por árvores altas que dançavam com a brisa da manhã.
– É oficial – Lucas disse, olhando ao redor. – Eu poderia morar aqui.
– Quem sabe você não compra um cavalo e faz visitas regulares? – brinquei, puxando as rédeas para diminuir o ritmo.
Ele riu e balançou a cabeça.
– Se eu fizer isso, vou precisar de um guia. Já sei quem chamar.
– Pois é, acho que sou sua única opção.
Lucas subiu no cavalo com um pouco mais de confiança dessa vez, embora sua postura ainda fosse um tanto rígida. Subi no meu cavalo e trotei devagar ao lado dele, observando enquanto ele ajustava as rédeas.
– Você tá mais confiante, mas relaxa os ombros. O Apolo sente sua tensão – eu disse, apontando para a postura dele.
Lucas soltou um suspiro dramático e tentou relaxar, embora suas mãos ainda segurassem as rédeas com força.
– Assim?
– Melhor. Agora, lembra de inclinar o corpo levemente pra frente se quiser que ele acelere. Vai dar certo.
Ele seguiu minhas instruções, e Apolo começou a trotar suavemente. Lucas soltou uma risada alta e animada, o que fez o cavalo erguer as orelhas, atento.
– Tá vendo? Até parece que você nasceu pra isso.
– Não exagera, Rafa – ele disse, olhando para mim com aquele sorriso descontraído que parecia iluminar tudo ao redor.
Cavalgamos pela fazenda por um tempo, com Lucas fazendo perguntas sobre o lugar e a história dos cavalos. Ele estava encantado com a paisagem – as árvores altas, o cheiro de terra úmida e o canto dos pássaros ao longe. Em um momento, paramos perto de uma cerca, e ele desmontou do cavalo para esticar as pernas.
– Isso aqui é incrível – ele comentou, olhando ao redor. – Não sabia que eu precisava disso, mas parece que renova a alma.
– Faz isso mesmo – concordei, descendo também. – É por isso que sempre venho pra cá. É como apertar o botão de reset.
Ele se virou para mim, encostado na cerca, e sorriu.
– Valeu por me trazer, Rafa. De verdade.
– Eu disse que você ia gostar.
O momento foi interrompido pelo som de um outro cavalo ao longe. Quando olhamos, vimos Sofia se aproximando, a figura despreocupada e sempre cheia de energia.
– E aí, exploradores! – ela gritou, acenando. – Posso me juntar a vocês?
– Claro que sim – Lucas respondeu, rindo.
Sofia parou ao nosso lado, desmontou com agilidade me deu um leve beijo no meu rosto.
– Vocês dois estão de casal é? – Perguntou minha irmã com um olhar sacana.
Lucas riu, mas antes de montarmos de volta nos cavalos, ele me olhou e soltou uma última provocação.
– Só pra constar, Rafa: se eu fosse gay, acho que não teria problema em você me trazer aqui. Esse lugar, esses cavalos, essa vibe... perigoso.
Eu ri, balançando a cabeça.
– Acha mesmo que você teria chance, Lucas? – Falei de um jeito provocativo.
Com Sofia já montada em seu cavalo, sugeriu algo que mudou nossos planos.
– Que tal irmos à cachoeira? A manhã tá linda, e lá é sempre tão fresco.
Lucas, empolgado com qualquer novidade, concordou na hora.
– Bora!
Pegamos o caminho entre as árvores, com o som dos pássaros e o trote dos cavalos nos acompanhando. Chegando à cachoeira, a água cristalina descia em cascata por entre as pedras, cercada de árvores que filtravam a luz do sol em feixes dourados.
– Isso é incrível! – Lucas exclamou, descendo de Apolo com agilidade.
– Eu amo a energia dessa cachoeira – Sofia respondeu, sorrindo.
– Eu também irmã se essa cachoeira falasse – provoquei.
Sofia riu e, sem pensar duas vezes, começou a tirar os sapatos.
– Eu vou entrar na água. Quem vem comigo?
– De roupa e tudo? – Lucas perguntou, levantando as sobrancelhas.
– Óbvio! É carnaval, Lucas, viva um pouco.
Ele olhou pra mim e, antes que eu pudesse responder, já estava tirando os tênis.
– Tá certo, não quero ser o careta aqui.
Sem outra escolha, segui os dois e entramos na água gelada. Era refrescante, e logo estávamos rindo e jogando água uns nos outros como crianças. Mas então percebi algo diferente. Lucas e Sofia estavam um pouco mais próximos, as risadas deles soavam mais cúmplices.
De repente, enquanto eu me distraía explorando uma pedra no meio da água, vi os dois se beijando. Foi rápido, mas o suficiente para um aperto estranho se formar no meu peito.
– Ei, isso não é certo – disse, minha voz soando mais ríspida do que eu queria.
Os dois se afastaram, Lucas com um olhar confuso e Sofia, sorrindo sem remorso.
– Que foi, Rafa? É carnaval.
– Carnaval ou não, vocês sabem que isso não é certo com a Brenda – retruquei, cruzando os braços.
Lucas respirou fundo, como se procurasse as palavras certas.
– Deixa de ser careta Rafa, é carnaval
Eu balancei a cabeça, tentando ignorar o nó que se formava na minha garganta.
– Prefiro não ver pra não parecer o pior amigo do mundo – disse, virando de costas.
Eles seguiram agarrados trocando beijos e carícias, era difícil de ver, tinha um ciúme duplo, e então voltamos para a fazenda.
– E não deveria estar? – respondeu, rindo. – É carnaval, Rafa. E, sinceramente, você deveria relaxar mais.
Revirei os olhos, tentando disfarçar o incômodo. Não era apenas ciúmes de irmão. Havia algo mais ali, algo que eu não conseguia nomear naquela época, mas que agora, enquanto escrevo, vejo com clareza. Meus sentimentos pelo Lucas estavam começando a se formar, mesmo que confusos e embrionários. Naquele momento, eu apenas atribuía a irritação ao meu desejo de proteger minha irmã e à ideia de que aquilo não era justo com Brenda.
– Relaxar? – retruquei. – Sei que é carnaval, mas certas coisas têm consequências, Sofia. Especialmente se a Brenda souber.
Lucas riu baixo, chamando minha atenção.
– Acho que o Rafa está querendo dar uma lição de moral – disse ele, com a voz despreocupada.
– Só estou dizendo que é bom pensar antes de agir – respondi, tentando parecer mais sério do que realmente estava.
Sofia sacudiu os ombros, despreocupada.
– Irmão aqui não é seu local de fala, você traiu o Bernardo várias vezes no primeiro namoro de você, e bom fomos irmãos né… eu sou “Puta” e você também, eu estou vivendo o momento. – Disse a Sofia de forma triunfante que me deixou sem palavras e arrancou um pequeno sorriso do meu rosto.
Chegamos à fazenda pouco tempo depois, ainda em meio a essa troca de provocações e sorrisos. Sofia, claro, foi a primeira a descer do cavalo e entrar, provavelmente já planejando o próximo "momento" para viver. Lucas ficou ao meu lado enquanto eu cuidava de Apollo, seu olhar ainda carregando aquele brilho misterioso.
– Você se preocupa demais, Rafa – disse ele, num tom mais baixo e sério. – Mas isso é uma das coisas que eu gosto em você.
Fiquei sem palavras por um instante, surpreso com a honestidade repentina. Mas antes que pudesse responder, ele deu um tapinha leve no meu ombro e seguiu em direção à casa. Fiquei ali por alguns segundos, observando-o, sentindo o peso de algo que só mais tarde eu entenderia completamente.
Naquele carnaval, muito mais do que confusão e diversão, começaram a se desenhar sentimentos que mudariam tudo.