Segredos de Família - Capítulo 18: Queima de arquivo

Um conto erótico de Th1ago-
Categoria: Gay
Contém 1571 palavras
Data: 25/11/2024 13:32:55

A luz suave da manhã invadia o quarto, iluminando as cortinas com um brilho cálido. Abri os olhos devagar, ainda sentindo o peso dos eventos da noite anterior. O Kadu estava ao meu lado, dormindo profundamente, a respiração tranquila e regular. Seu rosto relaxado parecia de alguém que não carregava nenhuma preocupação, um contraste gritante com o turbilhão que era minha mente.

Tentei me levantar devagar, mas o colchão rangeu, e ele abriu os olhos. Seu sorriso meio sonolento apareceu antes de ele se espreguiçar.

— Bom dia, Yago. Dormiu melhor?

— Melhor, sim — respondi, tentando parecer mais tranquilo do que realmente estava.

Ele me olhou com preocupação, apoiando o cotovelo na cama para me observar melhor.

— Tem certeza? Ontem... foi pesado. Você quer falar sobre isso? Quer ajuda?

Balancei a cabeça, desviando o olhar para as dobras do lençol.

— Não precisa, Kadu. Foi só uma crise, já tô bem.

Ele suspirou, claramente não convencido, mas também não quis insistir. Eu sabia que ele queria me ajudar, mas o que poderia fazer? Não dava para contar tudo, não enquanto eu não tivesse respostas da Bia. Mesmo ela me ignorando, eu ainda precisava acreditar que algo ia surgir.

Depois de alguns minutos, saímos do quarto e fomos para a cozinha. Minha mãe já estava lá, preparando o café. A mesa estava arrumada, e o aroma de pão fresco e café preenchia o ar. Ela nos lançou um olhar demorado, tentando entender a dinâmica entre mim e o Kadu. Eu sabia que ela desconfiava de algo, mas como sempre, se manteve em silêncio.

Nos sentamos, e Kadu começou a falar sobre os treinos, numa tentativa de aliviar o clima. Ele sempre conseguia manter a conversa leve, enquanto eu permanecia quieto, tentando colocar os pensamentos em ordem. Minha mãe ouvia com atenção, mas seus olhares furtivos para mim não passavam despercebidos.

De repente, a campainha tocou. Levantei com um sobressalto, meio surpreso, e fui atender. Quando abri a porta, dei de cara com o Greg. Ele estava preocupado, quase ofegante.

— Yago! — disse, entrando sem esperar convite. — Tá tudo bem? Você me mandou mensagem ontem dizendo que tava mal e depois não respondeu mais!

Fiquei paralisado por um segundo, tentando lembrar do que tinha feito. Então me veio à mente: na crise, eu tinha mandado mensagem para o Greg, mas depois apaguei isso da memória. Olhei para o Kadu, e ele parecia desconcertado, desviando o olhar com um semblante fechado.

— Ah... é, foi só um momento ontem, mas já passou. Eu tô bem agora, Greg.

Greg me olhou com uma expressão de alívio, mas também de desconfiança.

— Certeza? Porque ontem você parecia bem mal. Achei que fosse algo sério.

Kadu, que até então estava quieto, interrompeu, tentando forçar um sorriso:

— Ele tá bem agora. Quer entrar e tomar café com a gente antes da aula?

Havia algo na voz dele, uma certa rigidez que só eu parecia perceber. Greg hesitou por um momento, mas acabou aceitando.

— Tá bom, só um pouco.

Greg se sentou à mesa, e o ambiente ficou subitamente mais pesado. Kadu parecia incomodado, mexendo no pão no prato sem realmente comer, enquanto Greg parecia despreocupado, como se sua presença ali fosse a coisa mais natural do mundo.

Minha mãe, mais silenciosa do que o normal, continuava nos observando, como se estivesse tentando montar um quebra-cabeça com as peças que via diante dela.

Enquanto isso, eu estava dividido entre a gratidão pela preocupação do Greg e o desconforto pelo jeito que o Kadu reagia. Por mais que ele não dissesse nada diretamente, seus olhares para o Greg eram óbvios. Ele estava com ciúmes, e isso só tornava o café da manhã ainda mais complicado.

O silêncio pairava sobre a mesa. Cada um parecia perdido em seus próprios pensamentos. Kadu mexia na xícara de café, distraído, enquanto Greg olhava para a mesa, claramente desconfortável com o clima pesado. Minha mãe, no canto, fingia estar ocupada com algo no fogão, mas o olhar furtivo para nós não escapava a ninguém.

O único som presente era o da televisão na sala, que preenchia o espaço com uma voz firme de um repórter, narrando uma matéria urgente. Inicialmente, ninguém deu muita atenção, mas algumas palavras captaram nossos ouvidos, como uma corrente elétrica atravessando o ambiente.

"Uma denúncia anônima feita por um tenente da polícia do Rio de Janeiro levou a uma operação em uma propriedade no interior do estado. O local era usado para tráfico humano. Ao chegar ao local, as autoridades encontraram um cenário devastador."

Me virei para olhar para a TV, minha atenção agora totalmente capturada. Kadu e Greg fizeram o mesmo, e até minha mãe largou o que fazia, com o rosto marcado por uma expressão de curiosidade e preocupação.

"O repórter continua: 'Muitas das vítimas traficadas foram executadas como forma de queima de arquivo. Algumas pessoas conseguiram fugir, mas os responsáveis destruíram computadores e qualquer outra prova física antes de abandonar o local. A polícia acredita que esta seja apenas a ponta de um iceberg muito maior. As investigações continuam para determinar quem está por trás desse esquema.'"

Meu coração começou a acelerar. Mesmo que nada fosse dito diretamente, eu sabia que isso estava conectado com algo muito maior, com Marc.

A imagem mudou para o rosto de Eric, um homem forte, de cabelos loiros e olhos claros. Ele vestia seu uniforme policial impecável, e sua expressão era séria enquanto respondia às perguntas dos repórteres.

"Quando chegamos ao local, a situação era muito delicada", disse Eric, olhando diretamente para a câmera. "Nos deparamos com um cenário trágico. Não conseguimos salvar muitas das vítimas, mas conseguimos resgatar algumas pessoas que estavam presas e desorientadas. Vamos continuar as investigações para entender a magnitude desse esquema. Não vamos descansar até encontrarmos os responsáveis."

O silêncio voltou a dominar a mesa, agora ainda mais pesado. O som da TV parecia ecoar na sala, mas ninguém sabia o que dizer. Kadu me olhou com uma expressão que misturava curiosidade e preocupação, mas permaneceu quieto.

Minha mãe foi a primeira a se mover, desligando o fogão e se sentando conosco.

— Que coisa horrível — murmurou ela, sem realmente esperar resposta.

Eu não conseguia tirar os olhos da tela, onde Eric continuava a dar detalhes vagos sobre a operação. Sabia que não podia ser uma coincidência. A denúncia era anônima, mas algo dentro de mim gritava que isso tinha a ver com Bia. E, por mais que o assunto fosse aterrorizante, algo me dizia que essa era só a primeira parte de um jogo muito maior.

Antes de sairmos para a escola, minha mãe me parou na porta. O rosto cansado dela estava mais sério do que o habitual, os olhos transmitindo um misto de preocupação e algo mais que eu não consegui decifrar.

— Yago, quando você voltar, precisamos conversar — disse ela, ajustando o avental.

Engoli em seco, mas apenas assenti. Não estava em condições de questionar. Os acontecimentos das últimas semanas já haviam me desgastado o suficiente, e agora parecia que algo mais estava por vir.

Na escola, o dia transcorreu sem grandes surpresas.

Kadu ficou ao meu lado quase o tempo todo, mas a presença dele, que normalmente me acalmava, não conseguia me tirar da inquietação que a manhã havia me deixado. Greg fazia questão de se aproximar durante os intervalos, o que só servia para deixar Kadu visivelmente desconfortável, mas ele tentava disfarçar com um sorriso, mesmo que não convencesse ninguém.

Foi na hora do intervalo que o inesperado aconteceu. Giovanna, como sempre, estava isolada em um canto, mexendo no celular com uma expressão irritada. Algo nela parecia ainda mais estranho do que o habitual, como se carregasse um peso invisível que a consumia.

Respirei fundo e me aproximei, sentindo que precisava tentar entender o que estava acontecendo.

— Gi, tá tudo bem? — perguntei, minha voz cheia de cautela.

Ela levantou os olhos para mim, e o que vi neles foi um misto de raiva e frustração.

— Por que você se importa, Yago? — respondeu ela, ríspida. — Não é da sua conta.

Aquilo me pegou desprevenido. Eu já esperava resistência, mas não tanta agressividade.

— Claro que é, você é minha amiga — insisti. — Você tem agido estranho há semanas, e agora parece... diferente. O que tá acontecendo?

Ela bufou, levantando-se de repente.

— Nada tá acontecendo, tá bom? Me deixa em paz! — gritou, atraindo alguns olhares curiosos ao redor.

Quando ela tentou se afastar, instintivamente segurei a alça da mochila dela.

— Espera, Giovanna, a gente precisa conversar!

O movimento fez com que a mochila escorregasse de um dos ombros dela, e algo pequeno e plástico caiu no chão. O som do impacto, apesar de baixo, foi como uma explosão.

Olhei para baixo e vi um pequeno saco com pó branco. Meu estômago deu um nó.

— Giovanna... isso é cocaína? — sussurrei, tentando assimilar o que estava acontecendo.

Ela se abaixou rapidamente, pegando o saco antes que alguém mais pudesse ver. O rosto dela estava pálido, e as mãos tremiam.

— Por favor, Yago, não fala nada pra ninguém — pediu, a voz entrecortada.

— A gente precisa conversar — respondi, a minha própria voz firme, mesmo que meu coração estivesse disparado.

Ela olhou ao redor, como se temesse que alguém tivesse percebido o que havia acontecido. Depois, assentiu de forma relutante, mas ainda com os olhos cheios de desconfiança.

— Tá bom. Depois. Mas, pelo amor de Deus, não conta pra ninguém, Yago. Ninguém.

Eu só assenti, mas sabia que aquilo era o começo de algo que não poderia ignorar.


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Comentários

Foto de perfil de Jota_

Thiago, você tá se superando na criação de tramas de cair o queixo! Tô adorando esse conto!

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Foto de perfil de Xandão Sá

uma teia de mistérios que prende a atenção da gente...

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