— Não é da sua conta e saia da minha casa agora — falei, andando em direção à porta e tentando fechá-la.
— Olha como você fala comigo — disse ele, segurando meu pescoço e me empurrando de volta para dentro do quarto.
— Me solta, seu merda — falei, cuspindo na cara dele. — Quer saber onde eu estava? Eu estava com um homem que realmente gosta de mim, que é bonito, que presta! O beijo dele é muito melhor que o seu. Ele me trata com carinho.
— O beijo dele é melhor que o meu? — disse ele, limpando o cuspe e aproximando a boca da minha.
— Muito melhor — falei. — Você é um brocha. Brocha e fudido! Não tem atitude de homem. Um macho que só serve para comer puta em baile funk.
— Mas você adora ser minha puta nos bailes, não adora? — disse ele, apertando meu pescoço e puxando a arma da cintura.
Quando vi aquela arma na minha frente, não pensei duas vezes. Aproximei meu rosto dele e encostei-o na arma.
— Atira — falei, colocando a mão na arma e pressionando o cano da pistola contra a minha boca.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, que mais pareciam horas. Dessa vez, eu não ia arregar. Olhava fixamente nos olhos de Samuel e, no olhar dele, eu via ódio.
Ele puxou a arma de volta e colocou-a na cintura, segurou meus braços e começou a gritar.
— Você me trocou por um merda qualquer? Eu te falei que você é meu, PORRA! Você é meu!
— Eu nunca fui seu — falei, trincando os dentes. — Você é um babaca. Hoje eu consigo ver, Samuel, você me abusou aquele dia!
— Porque eu te amo — ele dizia, chorando e me apertando cada vez mais forte. — Eu te amo, porra.
— Você não ama ninguém, Samuel! Você não sabe o que significa a palavra amor. Você é um doente.
Samuel me virou de costas e encostou meu corpo na parede do quarto, abaixando meu short.
— Você é meu e de mais ninguém! — disse ele, apertando o corpo dele contra o meu.
Fechei meus olhos, esperando o pior acontecer novamente, quando escutei o som de uma arma sendo engatilhada na direção da porta.
— Solta ele agora — disse a voz de Robinho. — Solta ele e se afasta. AGORA!
Samuel se afastou, me dando espaço suficiente para levantar meu short e correr para o outro lado do quarto.
— Que delícia, agora a festa tá completa — disse Samuel.
— Cala a sua boca — respondeu Robinho.
— Por quê? Não quer dividir a putinha? Só você que pode?
— Cala a porra da sua boca.
— O certinho da família, o bandidinho perfeito que desistiu de ser o chefe do morro porque queria mudar de vida. Que coisa mais linda!
— Samuel...
— Você nunca foi homem o suficiente para ser o homem que o Yuri precisava quando criança, e agora continua sem ser. Sabia que eu comi o cu desse viadinho primeiro que você, irmãozinho?
— Eu mandei você calar a porra da sua boca, seu desgraçado — disse Robinho, se aproximando e jogando Samuel no chão, disparando vários socos.
Eu nunca tinha visto Robinho com tanto ódio. Ele socava Samuel, e eu estava paralisado, tentando assimilar tudo o que acontecia.
Robinho pegou Samuel pela camisa e o arrastou até a sala, onde o jogou no chão e começou a chutá-lo. Por fim, cansado de espancar o irmão, pegou o rádio no bolso.
— Atenção, aqui é Robinho. Todos na escuta? — disse ele, recebendo uma resposta afirmativa. — Eu sou o dono dessa porra desse morro! Voltei para o meu lugar. Quero que peguem o Samuel e joguem ele pra fora daqui. Se alguém vir ele se engraçando de novo, a ordem é atirar.
Robinho bateu três vezes na porta, e três homens que estavam do lado de fora entraram.
— Pode levar — disse Robinho, dando o último chute em Samuel. — Some com ele daqui.
Eu estava no canto da sala, assistindo tudo, sem reação. Nunca tinha visto Robinho daquela maneira.
Percebendo que eu estava assustado, Robinho se aproximou e me abraçou.
— Por que você não me contou antes? — disse ele. — Eu podia ter protegido você.
— Demorei a enxergar o que estava acontecendo — falei, chorando. — Achei que ele ia ficar comigo.
— Você gosta do meu irmão? — ele perguntou, olhando nos meus olhos.
— Hoje eu sei que não. Eu só estava confuso.
Ao ouvir isso, vi um alívio no peito de Robinho, como se ele tivesse medo de que eu amasse outra pessoa.
Ficamos sentados no sofá por um bom tempo em silêncio. Eu olhava para a parede, pensando em tudo, enquanto sentia a mão de Robinho acariciando meu cabelo.
— Eu te procurei nessas últimas semanas, mas a Anne disse que você não estava vindo para casa. O que aconteceu? — perguntou ele, quebrando o silêncio.
— Estou de mudança, Robinho.
— Como assim de mudança? Você sabe que essa comunidade não é nada sem você, né?
— Eu preciso — falei, segurando as lágrimas. — Encontrei alguém que tem coragem de me amar.
— E se eu tiver coragem de amar você? — ele perguntou, virando-se para mim.
— Agora? Talvez seja tarde, não acha?
— Eu errei com você. Eu sei disso. Deveria ter arriscado mais, amado mais.
— Robinho — falei, suspirando. — Eu não posso viver essa vida. Quero alguém que possa estar ao meu lado, que possa sair comigo.
— Mas eu posso!
— Você é procurado pela polícia. Sabe que não pode. Às vezes a gente tem um amor da vida e um amor para a vida. Você pode ser o amor da minha vida, mas não acredito que seja o amor para minha vida. Se você realmente sente algo por mim, vai entender.
— Eu sei — disse ele, enxugando uma lágrima. — Só queria poder voltar no tempo e ter fugido com você quando tive chance.
— Eu sei...
Robinho aproximou seus lábios dos meus e me deu um beijo, lento e romântico, que trouxe de volta muitas memórias.
Retribui o beijo e, quando acabou, levantei-me e fui ao quarto terminar de pegar minhas coisas.
Quando voltei, ele já não estava mais lá. Sozinho, com as malas prontas, estava prestes a avançar para o meu futuro.
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