<<<<Fabi>>>>
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Aqueles 19 dias foram mágicos, Nat era incrível em todos os sentidos. A gente fez de tudo um pouco naqueles dias, mas as nossas conversas foram sem dúvidas a melhor parte. Nat era mais velha, muito mais experiente e era assumida há muitos anos. Ela me ajudou muito a me conhecer melhor, meus desejos, meu corpo, meus medos, minha sexualidade e inseguranças. Eu juro que ela seria uma ótima psicóloga porque eu me sentia outra mulher depois daqueles dias com ela. Mas ela tinha várias outras qualidades. Uma delas era de me dar prazer. Meu Deus eu quase morri de tanto gozar, ela parecia insaciável e isso não é uma reclamação. Eu amei cada momento de prazer que vivemos juntas.
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No dia de sua partida, Nat teve uma conversa comigo que de início me deixou meio triste, mas no final eu a entendi. Não era o que eu queria ouvir, mas fazia sentido. Nat me disse que o que a gente viveu ali naqueles dias foi incrível e que ela nunca iria esquecer. Porém que queria deixar claro que no momento a gente não poderia passar daquilo, não tinha como a gente ter um relacionamento além de amizade. A gente morava longe uma da outra. Com certeza não seria uma opção nem para mim e nem para ela se mudar para perto uma da outra. Ela tinha o trabalho dela e apesar de ter amado o lugar não se via vivendo em uma fazenda ou cidade pequena. E ela sabia que eu não iria largar a fazenda e minha mãe. Então não era saudável para nenhuma de nós ter algo além de amizade. Ela disse que não queria estragar o que tivemos por causa de ciúmes, cobranças, brigas e DRs chatas.
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Quando ela disse aquilo eu realmente fiquei triste, eu não a amava, pelo menos eu achava que não, mas eu gostava dela e para mim a possibilidade da gente ficar juntas ainda existia. Mas o que ela falou fazia sentido, baixei a cabeça e concordei. Ela percebeu e disse mais algumas coisas que me animaram um pouco. Ela falou que isso não impedia da gente viver momentos como aqueles de novo. Que ela poderia vir ficar comigo todo final de ano que era suas férias ou em algum feriado prolongado. Eu também podia ir a BH ficar com ela no seu apartamento quando eu quisesse. E enquanto a gente fosse solteiras a gente podia se curtir. Ela levantou meu rosto com as mão e falou que a gente iria se falar direto. Que não iria me abandonar como minha amiga fez. Que mesmo a distância ela iria continuar fazendo parte da minha vida.
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Aquelas últimas palavras dela me alegraram um pouco. Eu tinha medo dela ir e simplesmente sumir. Acho que ela sabia disso porque sabia da minha história e quis me passar segurança que não iria me excluir da sua vida. Naquela noite dormimos juntas pela última vez antes dela partir. Fizemos sexo gostoso e conversamos bastante. Ela me disse que iria contar a verdade para o Felipe e não iria pegar o dinheiro dele. Eu disse que era melhor mesmo. Felipe era amigo dela e meu também.
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Ela se foi no outro dia de manhã. Eu a levei até a rodoviária e sinceramente deixei escapar algumas lágrimas quando vi o ônibus saindo. Voltei triste para minha casa, mas eu tinha que tocar minha vida. Logo o pessoal da fazenda iria estar todos de volta. Esse ano eu queria prestar mais atenção na fazenda porque seria muito importante ter bons lucros no final de ano para eu poder modernizar os maquinários e dar uma renovada nas lavouras mais velhas.
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Minha vida seguiu e Nat cumpriu o que disse e mantivemos contato. O ano foi corrido mas no final deu tudo certo. Eu foquei na fazenda e fiz questão de estar presente durante a colheita. Acompanhei tudo de perto, ia nas lavouras todos os dias. No fim o lucro foi muito bom. Deu para eu dar uma modernizada no maquinário e renovar uma boa parte das lavouras mais velhas.
Nesse tempo fui em BH e fiquei 5 dias lá. Conheci a casa do meu irmão e do seu padrasto. Mas o que mais gostei foi de matar a saudade de Nat. Dormi com ela duas noites fora que passamos um bom tempo juntas nesses dias. Conheci também a gráfica que era enorme. Felipe estava meio estranho comigo no início mas depois foi voltando ao normal. Mas não tocamos no assunto Nat. Ela já tinha me pedido para não falar com ele sobre isso para não deixar ele constrangido. Eu achei até melhor.
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Ano novo, vida nova, não, nada de novo graças a Deus, o ano começou do mesmo jeito. Meu irmão veio com Bárbara, sua mãe e para minha felicidade, Nat. Dessa vez ela veio de carro próprio porque iria ficar 30 dias comigo. Só Felipe não quis aparecer dessa vez. Sinceramente eu queria que ele viesse, mas no fundo foi bom para não ficar aquele clima meio chato. Meu irmão e a família ficaram 10 dias e foi ótimo. E Bárbara me deu uma notícia ótima. Da próxima vez ela iria trazer meu sobrinho, ou sobrinha, ela estava grávida de um mês e meio. Nossa eu fiquei muito feliz. Minha mãe disse que não queria nem saber, que iria tratar a criança como neto e ninguém iria tirar isso dela. Bárbara riu muito dela e disse que com certeza iria amar se ela o tratasse assim.
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Depois que eles se foram eu aproveitei mais meu tempo com Nat. Deu para matar a saudade dela direito. Mais uma vez foi tudo perfeito até sua despedida. Mas dessa vez foi mais tranquilo porque eu sabia que eu a veria novamente. O ano seguiu e a colheita do café começou. Dessa vez o lucro não foi grande mas foi suficiente para pagar tudo e sobrou o bastante para tocar a fazenda e renovar mais algumas lavouras. Mas não sobrou nada de dinheiro. Mas eu não me preocupei muito porque como a safra foi menor a próxima com certeza seria melhor um pouco. E no outro ano as primeiras lavouras renovadas já iriam dar frutos e aumentar o rendimento de grãos.
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Bom, nem tudo saiu como eu esperava. No ano seguinte a safra foi fraca novamente. Não deu prejuízo mas não chegou nem perto do que eu esperava. As novas lavouras não deram a carga que eu imaginei. Para piorar a saúde da minha mãe piorou de vez e tivemos que levar ela para BH. Meu irmão insistiu em levar ela para capital para poder se tratar com um especialista amigo do seu padrasto. Ficamos na casa do Heitor que deu todo o suporte para mim e minha mãe. Mesmo assim gastei uma boa grana já que tudo lá é caro, as consultas, exames e remédios também não ficaram baratos.
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O médico disse que o coração da minha mãe estava ficando muito fraco por causa da sua doença. Infelizmente minha mãe tinha a doença de chagas. Ela ataca diretamente o coração. Ele disse que com os remédios ela iria conseguir se manter mais saudável por algum tempo mas que provavelmente no futuro ela iria precisar por um marca passo para auxiliar seu coração. Eu já sabia disso, a doença não tem cura e na maioria dos casos o paciente tem que usar um marca passo.
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Voltamos para a fazenda e com o tempo realmente minha mãe deu uma melhorada. Mas outras coisas pioraram e pioraram muito. A colheita do ano seguinte foi péssima. As últimas lavouras renovadas tiveram que ser replantadas porque morreram 40% das mudas. As que já estavam maiores deram poucos frutos. Eu não estava entendendo o que estava acontecendo. O nosso agrônomo disse que tudo que podia ser feito foi feito e que o clima estava bom, então provavelmente o problema estava no solo. Ele disse que iria colher uma amostra do solo e pedir para analisar. Eu tive que fazer um pequeno empréstimo no banco para poder pagar todas minhas despesas e não ficar no vermelho.
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Nesse tempo, a única coisa boa foi as visitas da minha família de BH e da Nat. Vieram sempre em janeiro passar um tempo comigo. No último ano a família já estava maior porque o pequeno Lucas já tinha nascido. Eu e minha mãe já o conhecíamos porque tivemos em BH três vezes no último ano para ela ir no médico dela. Na última, a gente conheceu o meu sobrinho que já tinha nascido.
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Mais um ano se iniciava. Eu já tinha as notícias do resultado do solo. O agrônomo me explicou que o solo da minha fazenda estava muito fraco e seria preciso usar mais adubos, produtos com nutrientes para terra e pó calcário. Eu tinha como recuperar o solo, porém não tinha dinheiro para fazer isso. Falei com minha mãe e só teve uma solução. Outro empréstimo no banco. Porém esse foi bem auto. Era um tiro no escuro. Se eu conseguisse recuperar o solo eu teria uma boa colheita. Se eu não conseguisse eu provavelmente teria que vender a fazenda. Aquilo realmente estava tirando meu sono.
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No primeiro dia do ano eu sabia que meu irmão iria vir com sua família. Dessa vez Felipe prometeu vir com sua namorada. Eu fiquei feliz em saber disso. O clima não estava muito bom por causa de tudo que eu estava passando com a fazenda, mas eu prometi a mim mesma que eu iria fazer de tudo para não deixar esses problemas atrapalhar meu início de ano com todos ali. Era a melhor época do ano para mim. Minha mãe também sempre ficava animada com a chegada das nossas visitas. Aquilo tinha se tornado quase que um ritual em família. Dessa vez até a D° Luiza parecia mais empolgada. Ela não viajou no fim do ano porque não queria ficar longe da minha mãe com ela doente. Eu achei que ela iria ficar triste por não passar as festas de fim de ano com Gabi, mas me enganei. Ela estava sempre com aquele sorriso calmo no rosto.
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Por falar em Gabi, eu não gosto nem de lembrar dela mais. Minha tristeza virou raiva, eu não a odiava, mas fiquei com muita raiva dela ter me excluído da sua vida. Por mim que ela fique de vez em São Paulo. Não faz mais falta para mim sua ausência. Marcelo veio me contar que Carla a viu. Mas eu nem deixei ele me contar e já o cortei. Disse a ele que eu não queria saber nada sobre ela. Ele tentou insistir, mas eu ameacei parar de falar com ele se ele continuasse com aquele assunto. O coitado não falou mais nada.
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No final do dia meu irmão chegou com a família. Eu fui recebê-los e foi aquela sessão de abraços. Lúcia pegou Lucas e disse que iria levar até o quarto para minha mãe ver ele. Minha mãe e Lúcia se tornaram grandes amigas e se falavam direto por telefone. Lúcia sabia a saudade que minha mãe estava do Lucas e foi logo ajudar a amiga a matar essa saudade. Eu fui conhecer a namorada do Felipe que me pareceu ser gente boa. Chamei todos para dentro e dali em diante foi só mostrar os quartos de cada um e preparar o jantar. Nat só iria chegar no outro dia, ela não conseguiu vir com eles porque passou o fim de ano na casa dos pais depois de muitos anos. Seu pai tinha pedido desculpas a ela e eles tinham se acertado.
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Eu acordei no outro dia já ansiosa para Nat chegar. As horas demoraram a passar, mas logo chegou o horário mais ou menos que ela chegaria. Eu estava na varanda quando vi o carro de Nat apontar na entrada da estrada da fazenda. Assim que ela chegou eu já fui abraçar ela. Quando nos soltamos escutei um barulho diferente e bem bonito. Quando olhei vi que era uma moto. Ela se aproximou, vi que era uma moto grande e bonita. Achei que ela iria parar porque diminuiu a velocidade, mas o piloto passou só olhando e seguiu rumo ao sítio da D° Luiza. Eu fiquei olhando e a moto sumiu na curva da estrada. Mas ali só levava a dois lugares. O sítio e a plantações de café.
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Eu não vi o rosto do piloto, mas o corpo sim. Era com certeza uma mulher e para estar indo pro sítio só podia ser uma mulher em específico, Gabi!!!
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper