O amor vence qualquer barreira - parte 10

Tabela de Personagens

Pierre - Pedro

Jacques - Marcelo (Pai de Pedro)

Desirée - Dominique "Nikke"

A medida que vocês forem acertando ou deduzindo de forma assertiva, ou quando for claro no texto, eu vou acrescentando. Boa leitura a todos...

Abigail - Acorde, Pedro! Hora de acordar!

Nikke - Ele não está acordando! Ele não está acordando!

Estevão - Acalme-se, Nikke…

Nikke - Pedro, meu amor! Acorde…

Pierre/Pedro - Charlotte! O que você fez com ela?

Nikke - Eu?

Abigail - Ele está voltando, mas ainda está meio confuso…

Pierre/Pedro - Charlotte! Onde está você? Eu te…

Senti um tapa no meu rosto e acordei assustado…

Abigail - Estevão, segure-a!

Estevão - Não deveríamos ter deixado ela assistir…

Abigail - Agora não dá pra voltar atrás.

Nikke - Pedro, tudo bem contigo? Pedro?

Estava tudo muito confuso. Vi Estevão segurando a Desirée, ou seria a minha esposa Nikke. Ela estava chorando e me chamando. Parecia muito preocupada…

Abigail - Pedro, olhe pra mim! Olhe atentamente para o meu dedo e siga os movimentos… Quando eu estalar os dedos, você vai dormir profundente.

Nikke - Não! Pare com isso!

Abigail - Estevão, tire ela daqui!

Nikke - Não! Pedro… Pedro!!!

Ouvi um estalar de dedos e quando acordei, parecia que eu tinha dormido um dia inteiro. Me sentia muito bem. Olhei para o lado, e minha querida esposa estava ao meu lado.

Abigail - Qual o seu nome?

Pedro - Pedro, doutora… Algum problema?

Abigail - Qual o nome da sua esposa?

Pedro - Dominique.

Abigail - Perfeito! Está se sentindo bem?

Pedro - Um pouco triste. Afinal, minha mãe morreu, mas ela agora está em paz. Era inevitável!

Nikke - Pedro, podemos ir embora?

Estevão - Só um instante, querida. Pedro, você se lembra de Pierre?

Pedro - Pierre? Eu deveria saber quem é?

Estevão - Acho que não…

Nikke veio me abraçar, e me deu vários beijos.

Estevão - Nikke, seu marido vai precisar muito de você, entendeu? Alguma dúvida sobre o que conversamos?

Nikke - Não, Senhor!

Abigail - Pedro, nossa terapia está indo muito bem, e sinta-se a vontade para me procurar sempre que estiver confuso ou triste.

Pedro - Obrigado, doutora.

Nos despedimos de Abigail e Estevão e fomos embora. Quando entramos no carro, falei que estava me sentindo muito melhor e que agora eu estava com a cabeça no lugar.

Nikke - Pedro, tem certeza que você está bem?

Pedro - Nikke, não pense que eu esqueci.

Nikke - O que? Você se lembrou de algo?

Pedro - Quem é Valentina?

Nikke - Pedro, tem certeza que quer falar sobre isso agora?

Pedro - Quero esclarecer tudo contigo. Você me prometeu que não iria me esconder as coisas.

Nikke - Tudo bem. Eu vou falar..

Pedro - Ela é sua filha?

Nikke - Como seria a minha filha?

Pedro - Ela é muito parecida contigo.

Nikke - Ela é minha irmã.

Pedro - Sua irmã?

Nikke - Bem, ela é nossa irmã…

Tive que freiar o carro, se não eu poderia acabar batendo.

Nikke - Pedro, escuta o que vou te dizer. Minha mãe e meu pai, além de serem um casal naturista, também são liberais.

Pedro - Sempre desconfiei disso.

Nikke - Pois é, mas não sei se você sabe, mas no mundo liberal, é comum o casal ter regras de convívio. Cada casal faz suas próprias regras e meus pais não tinham quase nenhuma, mas uma delas era que sempre deveriam ser sinceros quando fossem sair com alguém.

Pedro - E onde meu pai entra nisso?

Nikke - Quando eu engravidei da Joana, meus pais vieram morar um tempo aqui no Rio de Janeiro e eles alugaram uma casa próxima da nossa. Se lembra disso?

Pedro - Lembro. Eu e meu pai ajudamos a procurar a casa.

Nikke - Seu pai e minha mãe tiveram uns encontros na França, com o aval do meu pai. Só que quando eles vieram pra cá, meu pai não podia ficar aqui no Brasil muito tempo e minha mãe ficou para me dar um suporte durante os primeiros meses de vida da Joana.

Pedro - Eu lembro disso. Meu pai não saía lá de casa nessa época.

Nikke - Minha mãe se apaixonou pelo seu pai e eu acorbertei isso. Eles transavam todos os dias na nossa casa.

Pedro - Porra, Nikke! Tu tá de sacanagem…

Nikke - Eu traí meu pai, você e a sua mãe. Meu pai não sabia de nada. E aí a merda aconteceu. Ela engravidou e não teve coragem de dizer ao meu pai. Disse que tinha se apaixonado por um brasileiro e que iria se separar dele.

Pedro - Mas eu não me lembro da sua mãe grávida.

Nikke - Ela foi embora quando a barriga começou a ficar visível. Chamou seu pai para ir embora com ela, mas seu pai disse que nunca abandonaria sua mãe.

Pedro - E a sua mãe voltou para a França. Disso eu lembro.

Nikke - O que você não sabe, é que ela foi para o Espírito Santo, e ficou lá até o final da gestação. Ela deu a criança para uma antiga amiga que morava lá e depois voltou para a França. Pediu perdão ao meu pai e disse que foi uma paixonite e que estava arrependida.

Pedro - Então, ele não sabe da criança?

Nikke - Não!

Pedro - Sabe que o meu pai era o amante dela?

Nikke - Não!

Pedro - Porra, Nikke! Aí é foda!

Nikke - Meu pai já não gostava muito do seu pai. Seu pai humilhou o meu, quando saíram na primeira vez. Além de chamar ele de corno, ainda o chamou de pinto fino.

Pedro - Meu pai sabe da Valentina?

Nikke - Ele sabe, mas não sabe quem ela é, e onde ela mora. Só sabe o nome dela. Ordens da minha mãe. A única coisa que ele fez foi mandar dinheiro. O sonho dele é conhecê-la, mas a minha mãe não quer isso de jeito nenhum.

Pedro - A garota sabe da história?

Nikke - Mais ou menos. Ela acha que o pai morreu e que a mãe não tinha condições de criar.

Pedro - E você? O que ela sabe de você?

Nikke - Ela acha que sou uma prima distante. É doida para me conhecer pessoalmente.

Pedro - Minha mãe sabe disso?

Nikke - Ninguém sabe disso. Ninguém pode saber. Só eu, seu pai, minha mãe e você agora.

Pedro - Que merda que o meu pai fez…

Nikke - E a minha mãe também, né? Eu nunca te contei, porque sempre achei que você contaria pra sua mãe e pra toda torcida do Flamengo.

Pedro - Não sei… Minha mãe ficaria muito mal.

Nikke - Ela sempre desconfiou que seu pai pulava a cerca. Tinha quase certeza, mas não sabia com quem. Saber da existência dessa garota, seria a materialização da traição. Uma prova viva dessa merda que aconteceu.

Pedro - E você, Nikke? Meu pai e você?

Nikke - Nunca tivemos nada. Teve uma época que eu achei que ele estava querendo algo comigo, mas eu deixei claro que muita merda já tinha acontecido e isso causaria mais desgraça.

Pedro - Nikke, a minha vontade é dar um sacode nele. Espinafrar isso tudo, mas muita gente vai se machucar com isso.

Nikke - Pelo amor de Deus, Pedro. Nem brinca com isso. Vamos deixar essa história esquecida por enquanto.

Pedro - Ela então é mais ou menos um ano mais nova que a Joana?

Nikke - Isso!

Pedro - Vamos pra casa, Nikke. Tenho muito o que pensar.

Nikke - Está tudo bem, né?

Pedro - Por enquanto, sim.

Voltamos pra casa calados como se fossemos dois estranhos. Era um silêncio constrangedor. Nenhum de nós sabia o que falar. O celular de Nikke tocou e ela mostrou que era o meu pai. Ela atendeu no viva voz e meu pai disse que estava tomando as providências para vir embora. Ele disse que optou por cremar o corpo, pois além de ser melhor para transportar, era também um dos desejos dela.

Eu dei um alô pra ele e perguntei se ele precisava de alguma coisa. Ele foi seco comigo e disse que estava tudo sobre controle. Disse ainda que o desejo de minha mãe era que nós dois jogássemos suas cinzas na Lagoa de Araruama, pois foi lá onde ela e o meu pai se conheceram. Eu concordei e disse para ele voltar logo pois nós tínhamos muito o que conversar.

Nikke - Pedro, você está bem?

Pedro - Estou ótimo, Nikke.

Nikke - Tem certeza?

Pedro - Estou. Tirando o fato que a minha mãe está morta num outro país, eu estou bem.

Nikke - É que você estava com muita raiva e decepcionado com todo mundo.

Pedro - Já passou! Agora não adianta mais ficar remoendo isso. Temos muita coisa pra resolver.

Nikke - Pedro, você está bem mesmo?

Pedro - Se você continuar a me perguntar isso, vai acabar me irritando.

Nikke - Tudo bem. Não vou falar mais nada.

Pedro - Nikke, me responda com sinceridade. Você e meu pai já tiveram alguma coisa?

Nikke - Não, Pedro. Eu juro que nunca tivemos nada e juro que nunca teremos nada. Como eu poderia ficar em paz comigo mesmo? Como eu poderia olhar nos olhos dos meus filhos? Seria um desastre se isso acontecesse. Você nunca mais iria olhar na minha cara, isso na melhor das hipóteses, porque acho até que poderia acontecer uma tragédia.

Pedro - Sabe, Nikke. Eu e meu pai sempre tivemos nossas diferenças. Ele é muito autoritário e tudo tem que ser do jeito dele.

Nikke - Eu sei, mon amour.

Pedro - Se não for o jeito dele, está errado e eu sempre quis fazer as coisas do meu jeito para mostrar que ele estava errado.

Nikke - Eu sei de tudo isso.

Pedro - Eu não te contei isso ainda, mas quando eu era criança, ele foi me dar banho na banheira, mas se descuidou de mim pra ir trepar com uma vizinha.

Nikke - Meu Deus!!!

Pedro - Eu acabei escorregando e me afoguei. Aquele dia na praia não foi a primeira vez que eu morri por alguns minutos.

Nikke - Por quê você nunca me contou isso?

Pedro - Eu não me lembrava. Acho que isso me traumatizou e ficou bloqueado na minha mente.

Nikke - Seu pai não pode ver um rabo de saia.

Pedro - Essa terapia com a Dra. Abigail está me ajudando muito. Seria bom você fazer um dia.

Nikke - Muito obrigada, mas prefiro passar…

Pedro - Minha vida na França foi muito difícil. Meu pai não me deu nenhum apoio financeiro. Tive que conquistar tudo sozinho. Se você não estivesse ao meu lado pra me dar um suporte, com certeza eu não teria conseguido.

Nikke - Ah, meu amor… Eu só te dei carinho e amor. Sempre fui apaixonada por você. Quando eu te vi pela primeira vez, eu me derreti todinha.

Pedro - Eu também! A gente se entrosou bem rápido, né?

Nikke - Sim. Eu nunca tinha sentido isso na minha vida. Quando eu te vi, eu tive certeza de que você seria o homem da minha vida.

Pedro - E eu serei pra sempre.

Nós trocamos um beijo muito apaixonado e eu me sentia o homem mais sortudo do mundo. Eu estava olhando pra minha esposa, quando ela começou a rir…

Pedro - O que houve?

Nikke - Deixa pra lá…

Pedro - Eu quero saber o motivo do riso. Não estou vendo nenhum palhaço por aqui fazendo palhaçadas.

Nikke - É que de repente, eu comecei a me lembrar de tanta coisa. Sabe quando você pensa em milhões de coisas ao mesmo tempo?

Pedro - Aham…

Nikke - Me veio na memória quando eu fui te apresentar aos meus pais.

Pedro - Aaaaah, não… Tinha que ser isso, né?

Nikke - Você fica me enchendo o saco perguntando se eu tive alguma coisa com seu pai, mas você ficou de pau duro pra minha mãe!

Pedro - Não foi pra sua mãe! Foi pra você!

Nikke - Nananinanão. Quando você viu minha mãe, ficou todo animadinho…

Pedro - Você me chama pra ir numa praia de nudismo e nem me avisa que seus pais estariam lá…

Nikke - Meu pai achou meio falta de respeito sabia?

Pedro - Em minha defesa, eu estava há quase uma semana sem transar contigo e você me chama pra praia de nudismo. Eu já estava ansioso pra te ver e com a esperança que fosse rolar um sexo selvagem na praia.

Nikke - A sua sorte é que meus pais já eram liberais naquela época, mas meu pai não teve uma primeira boa impressão de você.

Pedro - Eu percebi. Já eu, tive uma ótima primeira impressão da sua mãe…

Nikke - Fils de pute!!! Connard!!!

Pedro - Hahahahaha

Nikke - Ela depois teve o descaramento de me perguntar se o nosso namoro era realmente sério, porque se não fosse iria querer uma provinha…

Pedro - Você nunca me contou isso…

Nikke - Você não queria saber tudo? Agora aguenta…

Pedro - Posso te perguntar uma coisa?

Nikke - Pode.

Pedro - Será que eu ainda tenho chance com sua mãe?

Nikke - Você quer morrer agora, ou prefere que eu corte o seu pau fora?

Pedro - Hahahahah Brincadeira, meu amor…

Nikke - Você não teria chance hoje… Depois que ela provou o pauzão do seu pai, com certeza não iria querer saber de você kkkkkkk

Pedro - Porra, Nikke! Sacanagem…

Nikke - Aquele pauzão duro arrebentando todas as preguinhas do cu… me dá até um calor…

Pedro - Chega, Nikke! Já perdeu a graça…

Nikke - Aposto que eu ficaria uns dois dias sem poder sentar…

Pedro - Acabou a brincadeira!

Nikke - Me lembrei de uma coisa!

Pedro - O que?

Nikke - Se lembra que eu disse que o seu pai já se insinuou pra mim?

Pedro - Na minha cara, né Nikke? Ele faz isso a toda hora, só pra me irritar.

Nikke - Ah, não… Isso é brincadeira. Ele realmente faz pra te provocar mesmo, mas teve uma vez que eu acho que não foi brincadeira.

Pedro - Aaaai, caralho…

Nikke - Já tem muito tempo isso. Nós tínhamos acabado de transar e você saiu pra trabalhar. Eu voltei a dormir, mas nem coloquei roupa. Dormi durante um tempo e quando acordei, vi seu pai no nosso quarto com as calças arriadas. Ele tava sentado no banquinho e estava se masturbando.

Pedro - Filho da puta!!!

Nikke - Eu rapidamente me cobri com um lençol e mandei ele sair do quarto. Joana era novinha ainda, mas já entendia algumas coisas. Se ela entrasse no quarto ia ser uma merda…

Pedro - Tá vendo? Nossa relação nunca vai dar certo. Meu pai não me respeita… O que ele fez depois?

Nikke - Ele me pediu pra não se cobrir e esperar ele terminar a punheta. Mandei ele sair do quarto novamente, mas ele disse que já tinha visto tudo mesmo. Disse que já estava quase acabando e que estava com saudade da minha mãe. Acabei deixando e disse pra ele acabar rápido.

Pedro - Não acredito que você fez isso… Porra, Nikke!!!

Nikke - Ele já tinha me visto nua, umas quatro vezes pelo menos…

Pedro - Ver na praia de nudismo é diferente…

Nikke - Ele me pediu pra baixar o lençol e eu acabei baixando um pouquinho só, e deixei ele terminar. Não fica chateado comigo, mas eu fiquei um pouco excitada com a situação.

Pedro - Nikke, você jurou que nunca me traiu com meu pai!

Nikke - Eu fiquei olhando praquele pauzão e ele teve o descaramento de me perguntar se eu queria pegar um pouquinho. Que ninguém nunca iria saber e seria só aquela vez…

Pedro - Nikke, você é uma filha da puta igual a sua mãe!

Nikke - Calma, Pedro! Como eu te disse antes, eu não te traí… Eu xinguei ele de várias coisas e joguei o abajur da nossa cama nele. Eu quase acertei nele e o safado saiu correndo pro banheiro. Essa foi a única vez que algo mais sério aconteceu. Eu juro!

Pedro - Você quer que eu acredite que aconteceu só isso?

Nikke - Essa é a verdade. Juro que foi só isso que aconteceu. Se quiser pode perguntar a ele.

Pedro - Não sei, Nikke. Não sei se acredito nessa sua versão. Eu conheço o pai que eu tenho.

Nikke - Só tem mais um segredo agora.

Pedro - Ainda tem mais? É hoje que eu vou morrer ou ficar deprimido pra sempre.

Nikke - Se lembra que a Joana te pediu uma vez para viajar com os amigos e você não deixou.

Pedro - Lógico! Dez jovens de dezesseis a dezoito anos, numa chácara sozinhos! O que você acha que ia acontecer?

Nikke - Se lembra que logo depois disso ela ficou toda carinhosa contigo e disse até que queria aprender a cozinhar , e ela passou a ir direto pro restaurante.

Pedro - Eu bem que tentei, mas ela não leva jeito pra cozinhar.

Nikke - Ela não queria aprender a cozinhar, mas sim te dar o troco.

Pedro - E o que ela fez?

Nikke - Ela transou com dois dos seus funcionários. Um garçom e um ajudante de cozinha. Perdeu a virgindade com eles...

Pedro - Você sabia disso e não me contou?

Nikke - Ela me contou só depois que fez a cagada, porque a menstruação atrasou. Bateu aquele medo de gravidez e ela teve que me contar, porque nem sabia qual dos dois poderia ser o pai.

Pedro - Eu vou matar essa garota!

Nikke - Pedro, você não vai fazer nada… Isso é um segredo e você vai ter que guardar.

Pedro - Você despeja um monte de merda em cima de mim e eu tenho que aguentar tudo? Tomar no cu!!!

Nikke - Se você contar, ela nunca mais vai confiar em mim.

Pedro - Nikke, nós já estamos chegando em casa e eu vou te perguntar pela última vez. Você e o meu pai já tiveram alguma coisa?

Nikke - Não, Pedro! Eu nunca te trai e tudo o que aconteceu, eu te contei. Eu juro por tudo que é mais sagrado nessa vida. Quero que você morra se eu estiver mentindo…

Pedro - Engraçadinha…

Nikke - Falando sério, se eu estiver mentindo, que o teto desabe na minha cabeça. Eu sempre serei sua. Somente sua.

Estacionei o carro na garagem e com muita dúvida no coração, tive que acreditar na minha esposa. Até porque, isso já tem tantos anos… Minha relação com meu pai já está tão fodida, que isso seria só mais um peido no meio de varias cagadas.

Mesmo assim, eu estava puto com todos os segredos e mentiras que ela me contou e estávamos discutindo que num casamento não pode haver isso, mas ela dizendo que certas coisas vão acontecendo e é melhor deixar quieto pra ninguém se magoar, quando tivemos a surpresa de ver minha irmã Sabrina e minha filha Joana em casa. Regina também estava lá ao lado do Pedro.

Minha irmã percebendo o clima meio tenso, tratou logo de amenizar a situação, fazendo brincadeiras e falando as bobagens de sempre.

Nikke - Que bom ver você aqui, Sabrina. Pena que num momento tão triste…

Sabrina - Não tinha outro jeito, né? Um dia chega a hora pra todo mundo.

Pedro - Você também sabia da viagem, né?

Sabrina - Antes de ir, ela passou um fim de semana lá em casa.

Pedro - Isso só pode ser um complô! Caralho!!!

Sabrina - Sabe de uma coisa?

Pedro - Nada mais me surpreende…

Sabrina - Eu tentei tirar essa idéia da cabeça dela e o papai também, mas ela estava determinada.

Pedro - Eu vou descansar um pouco. Estou com um pouco de dor de cabeça.

Nikke - Tudo bem, meu amor? Quer que eu prepare algum lanche pra você?

Pedro - Eu quero ficar só um pouquinho deitado. Muita coisa pra pensar…

Nikke - Eu vou contigo…

Pedro - Cuide das visitas, Nikke. Quero ficar um pouco sozinho.

Fui pro quarto e desabei na cama. Uma tristeza muito grande se abateu sobre mim e eu chorei baixinho pra não chamar a atenção das pessoas na sala. Não queria que ninguém me visse chorando. Me cobri com um lençol e fiquei lá chorando e pensando na minha mãe. Me lembrei de vários bons momentos que nós passamos e acabei dormindo.

Voz - Pedro! Pedro!

Pedro - Quem está aí?

Voz - Não tenha medo…

Pedro - Onde estou?

Voz - Eu sou apenas alguém que lhe quer muito bem.

Na minha frente apareceu um ponto de luz muito brilhante, e logo outro apareceu e mais outro. Eu nunca tinha visto luzes tão brilhantes de tão perto.

Voz - Acompanhe-nos, pois alguém quer falar contigo.

Pedro - Quem? Onde irão me levar?

Voz - Fique tranquilo, Pedro. Se você não ficar tranquilo, teremos que te deixar aqui.

Pedro - Eu vou tentar…

Fomos andando em meio a escuridão e pude observar que algo nas sombras estava me seguindo. Ao mesmo tempo que esse vulto nos seguia, mantinha certa distância com medo das luzes.

Voz - Não tenha medo, Pedro! Ele nada pode fazer por enquanto, mas fique sempre atento. Toda vez que você sentir medo, raiva ou insegurança, ele estará lá ao seu lado pra te fazer mais infeliz ainda.

Caminhamos mais alguns minutos por um lugar e de repente a paisagem mudou. Tudo ficou mais claro e agora pude observar que esses pontos de luz eram três seres que me acompanhavam me levando a um prédio branco onde pude ver uma enorme cruz na frente.

Entramos no local e pude observar que era uma espécie de hospital, mas muito diferente de qualquer hospital que eu já vi. Fui passando por diversas saletas e cada uma delas tinha um paciente deitado numa cama e um enfermeiro tratando.

Voz - Já estamos chegando. Lembre-se que no momento, o mais importante é que te mantenhas tranquilo. Se houver um desequilíbrio muito grande, não poderemos te manter aqui.

Pedro - Estou tentando…

Eles pararam em frente a uma saleta, e falaram que ficariam na porta me aguardando. Entrei na saleta e tinha um paciente deitado numa maca e uma enfermeira ao lado fazendo uma espécie de massagem, mas não encostava no paciente. Me lembrei imediatamente que era muito similar ao passe que eu tomava no Centro após a palestra. Fiquei observando o local enquanto isso e era tudo muito branco e muito limpo. Não só era branco, mas um branco cintilante com muito brilho.

Enfermeira - Já estou acabando. Você poderá ficar alguns minutos, não mais que isso, pois o paciente ainda está muito debilitado.

Cheguei mais próximo do paciente e vi ali um homem de meia idade por volta dos sessenta anos. Seu rosto não me era estranho, mas eu não conseguia me lembrar de onde eu o conhecia.

Homem - Me desculpa, mon ami…

Pedro - Eu que peço desculpas. Não estou lhe conhecendo.

Homem - Eu sei. É melhor tomar uma sopa quente pelas beiradas para não se queimar.

Pedro - O que?

Homem - Maneira de dizer… Enfim, estou livre! Eu queria tanto falar contigo. Tive que implorar ao diretor daqui e saiba que tão cedo não poderemos nos ver de novo. Esse benefício foi concedido essa única vez, então vamos aproveitar.

Pedro - Luc, é você?

Luc - Até que enfim… Achei que não fosse reconhecer o seu melhor amigo.

Pedro - O que houve contigo?

Luc - Fiquei doente, mon ami… mas era necessário.

Pedro - Como assim?

Luc - Ação e reação. A gente faz as coisas sem pensar, querendo obter resultados, passando por cima das pessoas e aí depois a gente tem que responder pelos nossos atos.

Pedro - Mas o que você fez de tão grave?

Luc - Não gosto de falar muito sobre isso, mas eu matei muita gente.

Pedro - Você, Luc? Difícil de acreditar nisso…

Luc - Ah, Pierre, mon ami…

Pedro - Pierre, não! Meu nome é Pedro.

Luc - Verdade. Essas coisas às vezes são meio confusas, mas um dia você já foi meu grande amigo Pierre. Tanto é que você me identificou como Luc…

Pedro - É muito confuso mesmo…

Luc - Houve um tempo, há muito tempo mesmo, que eu queria ter tudo. Riqueza, glória, mulheres e matei muitas pessoas pra ter isso tudo.

Pedro - Antes de você ser o Luc?

Luc - Isso! Muito antes. Fui pobre várias vezes e mulher também. Fui usada e humilhada. Era necessário passar por isso pra saber como as mulheres se sentiam. E na pobreza, pude dar valor à riqueza que eu tanto quis e desperdicei numa outra oportunidade, mas eram tantas mortes que escolhi nessa última passagem, ter essa doença maldita que vai nos comendo por dentro e vai tirando as nossas forças.

Pedro - E agora?

Luc - Agora vai ficar tudo bem. Com o devido tempo, vou ficar livre de mais essa, e aí quem sabe poderei voltar algum dia, cuidar de você novamente e dessa vez viajarmos juntos pela nossa querida França. Desculpa por ter te abandonado na minha reta final, mas era necessário. A separação seria muito mais dolorosa, porque a nossa ligação é muito forte.

Eu notei que a aparência de Luc foi se transformando e agora eu conseguia ver realmente quem estava ali na minha frente.

Pedro - Mãe… Me desculpa por ter te xingado. Me desculpa por todas as vezes que te fiz sofrer. Eu queria tanto passar mais tempo contigo…

Luc/Beth - Meu filho, nossas emoções estão se excedendo e infelizmente nosso encontro irá acabar. Eu estou orgulhosa de você, meu filho. Você está conseguindo fazer várias mudanças na sua vida pra melhor. Toda mudança pode ser dolorosa no início, mas depois você irá se acostumar. Você tem uma família linda. Sua esposa te ama, e você agora não se lembra, mas você se comprometeu a ajudar todos eles.

Pedro - Não sei se posso confiar neles, principalmente em Nikke. Ela e meu pai estão tramando contra mim. Eu sinto isso.

Luc/Beth - Sua esposa te ama. Ela te ama tanto, que às vezes isso pode causar transtornos, mas acredite nela Quanto ao seu pai, ele também já sofreu muito. Ele é durão assim, porque a vida dele sempre é difícil. Ele escolhe às vezes os caminhos mais tortuosos pra não encarar suas próprias falhas e medos. Um dia você vai entender.

Pedro - Não quero ir agora, mãe. Queria ficar aqui mais tempo. Pra sempre. Tudo aqui é mais bonito e consigo pensar com clareza.

Comecei a chorar e não queria deixá-la, mas comecei a sentir uma dor de cabeça e tudo foi ficando mais confuso.

Luc/Beth - Eu sei, filho. Tudo aqui é melhor, mas você tem que voltar. Infelizmente você ainda está preso.

Eu abracei minha mãe, e não queria ir embora, mas os três seres que me acompanharam, entraram na sala e me levaram embora.

Luc/Beth - Vai dar tudo certo, filho! Confie em Deus! E tome cuidado com o velhote. Ele está à sua espreita, agindo nas sombras, esperando o momento certo de te pegar. Cuidado com ele, filho! Cuidado com o velhote! Ele carrega tanta mágoa no coração, que eu não sei se conseguiremos vencer no final.

Acordei assustado e agitado, olhando em volta onde eu estava. Nikke e Sabrina entraram no quarto, perguntando se estava tudo bem. Não sei se eu gritei, ou o que eu fiz, mas elas estavam com uma cara de dúvida, esperando que eu falasse alguma coisa.

Pedro - O que houve? Nunca me viram?

Sabrina - Nada, meu irmão… É que aconteceu um negócio estranho…

Pedro - Como assim, estranho?

Nikke - Acho que você teve um pesadelo.

Pedro - Sim, eu tive um sonho… estranho.

Nikke - Sonhou com o que?

Pedro - Sonhei com minha mãe.

Sabrina - Aaaah, meu irmão… Que lindo!

Pedro - Foi um sonho muito estranho.

Nikke - Você se lembra de alguma coisa?

Pedro - Lembro de algumas coisas, mas é bem confuso…

Sabrina - Conta logo! Estou muito curiosa pra saber.

Pedro - Eu sonhei que eu tinha ganho um ingresso pra ir num local especial. Não tinha endereço, e que alguém iria me levar. Logo em seguida apareceu na minha frente uma limusine branca, com faróis tão brilhantes que eu não conseguia ver o motorista. Só sei que havia um motorista porque ele disse pra eu entrar e ficar quieto. Fomos até um prédio branco e eu perguntei a ele pra que servia o ingresso, mas ele nada respondia. Entrei no prédio e eu vi várias salas, mas não consegui ver o que tinha nas salas. Cheguei então, numa espécie de sala que parecia uma escola de teatro. Digo isso, porque havia um palco e em cima do palco tinha um ator fazendo um espetáculo. Ele usava uma máscara, e algo nele me era familiar. Ele falava muitas coisas sobre destino, causa e consequência, coisas assim e do nada, ele tira a máscara se revelando que é a nossa mãe.

Sabrina - Uau, que louco! Você andando fumando alguma coisa?

Nikke - Sabrina!!!

Sabrina - Estou brincando hahahahah

Pedro - Eu estava longe dela, e dei acenei minhas mãos pra ela me ver, mas acho que não viu. Ela então deu um giro de 360 graus e não era mais a minha mãe, era um senhor de meia idade e aí falou mais coisas que não me lembro direito, mas devia fazer parte do espetáculo.

Nikke - Ah, meu amor… Sinto muito. Isso é saudade dela. Você a todo momento vai vê-la em vários lugares.

Pedro - Logo depois, se transformou de novo e era a minha mãe ali. Percebi que o show estava acabando, porque as cortinas começaram a se fechar, e eu me joguei para o palco e tentei abraçá-la. Ela me reconheceu e disse pra eu não ter medo, que tudo iria se resolver. Acho que eu não deveria ter invadido o palco, porque alguns seguranças apareceram e me tiraram de lá. Me levaram de volta pra limusine, e me trouxeram de volta pra casa, mas quando chegamos na esquina de casa, a limusine sumiu e por trás de uma árvore apareceu um velho carregando um saco preto muito grande e correu pra cima de mim, querendo me pegar. E aí eu acordei…

Sabrina - Hahahahahahahaha

Sabrina ria muito e Nikke estava segurando o riso, mas se mostrava um pouco preocupada.

Sabrina - Um homem velho desse com medo do velho do saco?

Nikke - A gente veio te ver porque você estava falando alto algo mais ou menos assim: "Sai daqui, velho do saco! Saí daqui!"

Pedro - Foi só um pesadelo, mas eu vi minha mãe no sonho e ela estava linda. Parecia que tinha uns 10 a 20 anos a menos. Como se ela tivesse feito uma plástica daquelas bem boas…

Sabrina - Que bom! Isso deve ser um bom sinal, né?

Nikke - Também acho.

Pedro - Algo no meu coração, tem certeza disso.

Nós três nos abraçamos, e ficamos ali conversando outras coisas. Sabrina me disse que tentaria levar nosso pai para o sítio. Achei ótima idéia, porque no momento eu não queria muito contato com ele. Eu ainda estava muito magoado e só o tempo poderia amenizar isso.

Pedro - Nikke, acho que devemos contar a Sabrina aquele negócio.

Nikke - Porra, Pedro. É a mesma coisa que eu pedir pra você não guardar um segredo.

Pedro - Em nenhum momento eu disse se guardaria ou não. Acho que ela pelo menos deveria saber. Sabrina é meio maluca, mas às vezes é a mais inteligente da família, justamente por pensar fora da caixa.

Nikke - Não acredito nisso, Pedro. Seu pai vai ficar puto!

Pedro - Meu pai tem que enfrentar a situação e agora que ele está sozinho, eu e ela somos os únicos herdeiros dele. Eu ficaria com a consciência muito culpada, em deixar certa pessoa desprotegida.

Sabrina - Vocês estão falando da Valentina?

Pedro - Sério isso, Nikke?

Nikke - Amor, eu não sabia que ela sabia da Val.

Sabrina - Papai me contou que vacilou numa pulada de cerca e acabou engravidando uma mulher, mas ele não sabe quase nada dela, além do nome. Ele não sabe nem como ela é.

Nikke - Ele falou sobre a mulher?

Sabrina - Não, e disse que foi uma paixão boba que nunca deveria ter acontecido.

Pedro - Será que alguém mais sabe sobre isso?

Sabrina - Mamãe sabia…

Pedro e Nikke - O que?!?!?!