Doce Vingança 21.

Um conto erótico de Lukinha e
Categoria: Heterossexual
Contém 4076 palavras
Data: 25/07/2023 19:10:29

Assim que o corpo de Hélio se acalmou, ele parou de respirar. Sem opções, achando que estava definitivamente fodido, que aquilo seria visto como assassinato, Toni fez a única coisa que jamais pensou fazer: desamarrou Hélio e se levantou da cama para tentar reanimá-lo, fazer uma massagem cardíaca, qualquer coisa ... mas não teve tempo.

Assim que Toni se virou, Hélio investiu contra o filho. Por sorte, ele ainda não estava recuperado da pancada na cabeça, sentindo tontura e desorientado. Toni conseguiu se desvencilhar e, quando estava de costas para a varanda, seu pai se atirou contra ele novamente. Com um movimento rápido, Toni saiu da frente do pai que, desequilibrado, acabou por se chocar com o parapeito da varanda e tombou para o mar abaixo da sacada.

O barulho acordou Yelena no quarto ao lado. Rapidamente, ela se levantou e foi em busca de Toni. Estava preocupada, achando que alguma coisa ainda pior pudesse ter acontecido. Ao entrar, o encontrou na sacada, com as mãos na cabeça, olhando para baixo. Ela notou que Hélio não estava mais amarrado na cama.

– O que acontecer? Cadê sua pai?

Mal conseguindo falar, gaguejando, ele tentou responder:

– Eu não queria … ele me enganou … veio pra cima de mim … eu saí da frente, mas ele continuou vindo … ele caiu …

Yelena não era boba, ela entendeu o que estava acontecendo. Seu primeiro pensamento foi egoísta: "Graças a Deus, Toni poderia ter caído junto". Mas também logo entrou em pânico:

– O que nós fazer? Nau poder deixar Hélio morrer. Nau assim …

Os neurônios de Toni trabalhavam a mil por hora. Ele saiu do estupor inicial e olhou ao redor, recolhendo a corda da cama e constatando que não havia sinais que indicassem um confronto físico. Ele se aproximou, segurou os braços de Yelena e disse:

– Você precisa ligar para a emergência, diga que ele escorregou e bateu a cabeça após a cerimônia de casamento e não quis ir ao hospital. Depois, aqui, na primeira noite de vocês, ele se sentiu mal e caiu da sacada …

Yelena, ainda entorpecida pelos acontecimentos, o interrompeu:

– Será que eles acreditar em nós? Ele cair agora, nessa instante?

Toni não tinha tempo, precisava ser rápido:

– Ligue para a Bá e peça para ela voltar, eu preciso sumir daqui o mais rápido possível. Você precisa ser forte agora, manter o personagem ou nós dois estamos ferrados. Mas se achar melhor, se achar que não consegue, nós podemos …

Yelena entendeu e o abraçou forte, não querendo largá-lo:

– Eu entender, mas e se Hélio sair desse?

Toni tentou acalmá-la:

– Eu vou estar por perto então e a qualquer sinal de perigo, nós sumimos no mundo. Mas eu não acho que ele …

Yelena levou o dedo indicador a sua boca e o calou:

– Não dizer nada. Nós passar por esse, você vai ver.

Ela o beijou, deu um último abraço e disse:

– Você precisar ir, deixar que eu cuida desse. Eu te ama.

Toni saiu apressado, levando consigo a corda e se lembrando de pegar pelo menos os papéis mais importantes da maleta de Hélio, principalmente, os que incriminavam ele e Yelena.

Assim que ele se foi, ela discou 190:

– Polícia militar, em que posso ajudar?

Colocando o máximo de desespero e agonia na voz, aos berros, ela disse:

– Par favor, minha marido cair do sacada, ele afundar na mar … precisar de ajuda, urgente!

Constatando que a ligação vinha de uma área nobre, viaturas policiais e barcos do corpo de bombeiros, chegaram em menos de quinze minutos. Enquanto os bombeiros iniciavam as buscas, policiais tomaram o depoimento de Anastasia:

– Acabar de casar e ele cair na quarto do pousada. – Yelena mostrou a eles fotos da cerimônia. – Ele ser teimosa, bater cabeça e não querer ir na médico, dizer estar bem.

Uma policial, solidária, lhe ofereceu um copo de água, que ela tomou em um gole só, enquanto outros cumpriam os protocolos legais, fazendo uma pequena revista pela casa, não notando nenhum sinal de que ela estivesse mentindo. Yelena continuou a falar:

– Ser nosso primeiro noite de casadas, ele abrir portas do sacada para ver lua … querer ser romântica, mas começar reclamar, dizer estar tonta ... Quando eu me aproximar dele, ele passar mal e … – Ela estava ficando boa naquilo, pois chorava copiosamente.

A mesma policial tentou confortá-la, dizer palavras de apoio, enquanto Yelena mantinha a postura de esposa em sofrimento:

– Eu precisar ligar pro mãe dele. Ela acabar de sair do cidade, talvez ainda ter tempo pra volta.

A policial pegou o celular das mãos trêmulas dela e tentou ajudar:

– Qual o nome do contato, senhora?

Anastasia, ainda chorando muito, disse:

– Ser o dois do discagem rápida.

A policial ligou e percebendo que falava com uma idosa, tentou passar a informação de forma otimista, diminuindo o impacto da notícia.

Já em casa, não acreditando no rumo que as coisas tomaram, Bá lamentou o destino de Hélio, as escolhas de Toni, e como tudo chegava a um final trágico. Enquanto se preparava para voltar a Angra, orava por Hélio, para que ele fosse encontrado com vida, duvidando da história contada pela policial. Orava também por Toni, para que ele não tivesse ido longe demais e ultrapassado um limite sem volta, mas entendia que após todo o veneno do pai, Hélio era o maior responsável por aquilo que vivia, apenas colhendo o que plantou em sua vida.

As buscas levaram quase uma hora, mas a equipe de resgate encontrou Hélio. Uma ambulância os esperava na casa. Anastasia ouviu a conversa entre os socorristas:

– Ele estava numa praia próxima, deve ter sido levado pela correnteza forte dessa região. O encontramos já sem vida, mas conseguimos reanimá-lo. O estado é grave, não sei se ele vai sair dessa.

Um dos bombeiros chamou por Anastasia e assim que ela viu Hélio sendo retirado do barco, imobilizado em uma maca, com uma máscara de oxigênio no rosto, ela precisou agir rápido, indo ao encontro do marido e o abraçando, fazendo o que se esperava dela para os presentes:

– Minha amor, você sair desse, eu ter certeza. – Ela deu um selinho carinhoso nos lábios dele.

A polícia liberou Anastasia para acompanhar o marido na ambulância. Ela teve tempo apenas para pegar o próprio celular e o de Hélio, o cartão de crédito e, orientada pelos policiais, algum documento dele, que ela encontrou na maleta, sua carteira de habilitação.

Chegaram ao pronto socorro rapidamente e Hélio foi levado direto para dentro, enquanto Anastasia foi orientada a permanecer na área de atendimento inicial, para fornecer os dados necessários e aguardar por notícias. Aproveitou para ligar para a Bá, que se preparava para sair de casa e perguntar se ela sabia os dados do convênio médico de Hélio. Informação que Bá não demorou a encontrar, pois sabia onde deveria procurar.

Com as informações mais relevantes em mãos, e cientes de quem era o homem que cuidavam, a administração do hospital precisou tomar medidas mais drásticas, pois o contato de emergência designado, o único com autoridade para decidir sobre Hélio em caso de algum impedimento do próprio, era o seu advogado, o Dr. Mathias.

Após exames detalhados, ficou constatado que fora o afogamento, Hélio tinha uma lesão grave no cérebro, um traumatismo e estava em coma profundo. O médico responsável precisava dar a notícia à esposa:

– Eu sinto muito, mas seu marido está em estado crítico. Infelizmente, as pessoas têm o costume de menosprezar pancadas na cabeça, isso é mais comum do que se imagina. Ao invés de procurar atendimento imediato, por acharem que estão bem, que não estão sentindo dor, deixam pra lá. É isso o que acontece, com o inchaço do cérebro, as consequências aparecem depois.

Anastasia fazia sua melhor cara de dor, com lágrimas escorrendo pelos olhos. Mas intimamente, ela não desejava aquilo para Hélio, o castigo não condizia com o crime. Ela se arrependia profundamente de suas escolhas.

O médico ainda não tinha terminado:

– Ele está na UTI, em coma e eu, sinceramente, não sou otimista com o prognóstico. Precisamos aguardar. Se ele acordar, e é um "se" enorme, dificilmente ele ficará livre de sequelas graves. Eu sinto dizer isso, mas uma recuperação plena está descartada. As áreas afetadas no cérebro são cruciais, as mais importantes para uma vida plenamente funcional. A pancada na parte traseira atingiu o cerebelo, o responsável pela movimentação e coordenação do corpo. Além disto, a falta de oxigenação prolongada, após o afogamento, diminuiu demais as chances de recuperação. Seu marido, infelizmente, perderá a capacidade de se comunicar também e dependerá de aparelhos para continuar vivendo.

A médica voltou aos seus afazeres, o hospital estadual estava lotado, liberando Anastasia para dar uma olhada rápida no marido. Para manter as aparências, ela cumpriu sua obrigação e ficou sabendo que o responsável legal, o homem que tinha a autoridade para falar por Hélio, estava a caminho.

Assim que Anastasia voltou à sala de espera, sua vontade era ligar para Toni e junto com ele, sumir no mundo definitivamente. Que sabe, voltar para a Rússia, começar uma vida nova, mesmo que simples, sem luxos, apenas os dois, inteiros e prontos para recomeçar. Se Bá não demorasse a chegar, talvez ela fizesse mesmo isso, com ou sem o Toni.

Sentiu o celular vibrar e não reconheceu o número, mas atendeu, pois poderia ser Toni ligando de um número diferente, para disfarçar. Do outro lado da linha, a pessoa não fez rodeios:

– Yelena, ouça com atenção …

Ela tentou enrolar:

– Não entender português, falar inglês, par favor.

O Dr. Mathias não estava com paciência para aquilo:

– Eu sou o advogado de Hélio, Mathias, e sei tudo sobre você, sobre o Toni ser Vincenzo, sobre essa vingança que vocês planejaram … você me conhece muito bem, então, vamos direto ao ponto, sem enrolação: Avise ao Toni que eu estou chegando e é bom ele ficar por perto, nós três precisamos conversar. Eu já sei tudo sobre o estado do Hélio e estou a caminho, chego em poucas horas. – Ele desligou.

Yelena sentiu seu estômago revirar. Seria aquele ultimato o fim da linha? Ela e Toni estariam prestes a pagar por seus crimes? Por que o advogado queria falar com os dois, se era só ele levar as provas até a delegacia mais próxima e acabar com tudo aquilo?

Várias horas se passaram e Hélio continuava em sua luta para sobreviver, sem sinais de que sairia do coma. O Dr. Mathias chegou primeiro, mas antes de falar com Yelena, precisava tomar decisões importantes em nome de Hélio. A primeira delas foi a transferência dele para um hospital particular na cidade em que moravam.

Só após lidar com toda a burocracia para a transferência, ele resolveu voltar sua atenção para Yelena. Encontrou-se com ela na sala de espera do hospital e foi direto:

– Hélio está sendo transferido, voltaremos para casa em seguida, mas antes, iremos até a casa nova daqui, precisamos conversar e acredito que lá teremos privacidade para isso. Diga ao Toni para se encontrar com a gente lá.

Anastasia tentou enrolar:

– Bá estar vindo, não poder sair daqui.

Mathias estava preparado:

– Não está, não. Ela está no hospital de lá, esperando por Hélio, a meu pedido. – Ele a encarou mais sério. – O que tenho para falar com vocês dois é importante, se desarme e me escute. Não estou aqui como capanga do Hélio ou coisa parecida. Vocês entenderão se me deixarem falar.

Yelena sabia que não tinha como correr. Ela se resignou e fez a ligação para Toni. Explicou a ele o que Mathias pediu e entregou o telefone ao advogado, que não fez rodeios:

– Toni, venha falar comigo, é importante. Você me conhece, não precisa me temer.

Toni estava em dúvida:

– Vou ser claro com o senhor, Doutor! Se estiver tentando nos enganar, mandarei tudo o que temos contra meu pai para a imprensa e para a polícia federal. Você sabe que não é nenhum santo nessa história e a OAB ficaria muito feliz em obter as informações que meu pai sempre usou para manipulá-lo.

Mathias insistiu:

– Se encontre comigo, me deixe falar, me dê a oportunidade e você irá entender. Não posso dizer o que quero por aqui, pois nenhuma linha é segura.

Yelena seguiu com Mathias para a casa de Angra, enquanto Hélio embarcava no helicóptero preparado para levá-lo de volta a sua cidade e ao hospital que o receberia. Ao chegarem, Toni já os aguardava na entrada da casa. Mathias tentou ser cortês, lhe estendendo a mão. Como o conhecia desde sempre, Toni preferiu não criar caso, aceitando o cumprimentando. Mathias parecia solidário demais, amigo demais, o que deixou Toni muito desconfiado. Os três entraram na casa.

Assustada, sem saber o que esperar, Yelena buscou proteção ao lado de Toni, deixando que ele e Mathias se entendessem. Toni falou primeiro:

– É estranha toda essa sua gentileza. O que você quer falar com a gente?

Mathias preferiu ser direto, abrindo a pasta que carregava e entregando a eles documentos sigilosos:

– Primeiro, vocês precisam saber que Hélio não é um figurão qualquer, apenas um empresário bem-sucedido. Na verdade, ele faz parte de algo mais profundo, um grupo de pessoas poderosas que tentam controlar a tudo e a todos. O que geralmente as pessoas chamam de “sistema”.

Toni e Yelena já tinham conhecimento daquilo, mas apenas esperaram Mathias terminar de falar:

– Seu pai andou passando dos limites, tentando se colocar acima das pessoas que deveria chamar de parceiros. Isso irritou profundamente a todos. Ao longo dos anos, seu pai veio reunindo evidências e provas para tentar controlar esse grupo. A mim, inclusive.

E completou:

– Acredito até que a minha ganância em tornar o meu escritório de advocacia o maior da cidade me fez tomar decisões, ou melhor dizendo, escolher usar o poder do seu pai a meu favor. O poder de ter juízes, promotores, policiais, etc sob seu controle ... O que eu só entendi depois, foi o custo disto. Eu me coloquei nas mãos do seu pai. Eu percebi que também estava sob o controle dele. Até o meu divórcio eu posso colocar nesta conta.

Aquela era uma informação nova para Toni. Ele sabia que o pai tinha o costume de chantagear inimigos e adversários, mas os próprios sócios? Aquilo era demais, muito ganancioso. Mathias continuou:

– O que aconteceu com seu pai foi um golpe de sorte. Uma obra do acaso ou, uma providência divina. Se isto não acontecesse desta forma, o grupo de desafetos já tinha outros planos para ele. Com ele fora de ação, as coisas podem voltar ao normal, se é que você me entende.

Antes que Toni o interrompesse, Mathias se adiantou:

– Mas a liberdade de vocês terá um custo e eu acredito que isso seja uma coisa boa.

Toni não entendeu e muito menos Yelena:

– E qual seria esse custo? Nossa intenção nunca foi chegar a esse ponto. Acabamos nos tornando criminosos. Quando você fala em nossa liberdade, ela é total e irrestrita? Não precisaremos nos associar a nada do que o meu pai fazia?

Mathias acalmou os dois:

– Nós também tínhamos um plano, eu precisei fazer a minha parte, e o casamento, diferente do que Hélio pretendia, é totalmente válido. Como ele confiava em mim, não imaginou que eu faria uma coisa destas. Se isso não tivesse acontecido, o fim de Hélio chegaria mesmo assim. A sorte dele já estava lançada.

Mathias adquiriu um tom mais severo, olhando para Anastasia ao falar:

– Não podemos trazer vocês de volta dos mortos, mas continuando como Anastasia, nós vamos garantir que você se mantenha como a única herdeira, mas para isso, seria melhor você abrir mão dos negócios "sujos" em que Hélio era sócio. Eu vou ajudá-los a limpar a holding. De qualquer forma, esse mundo não é para vocês. Nós queremos também, acesso irrestrito à casa de Hélio, pois precisamos encontrar os documentos que ele usava para nos chantagear.

Mathias, então, encarou Toni:

– Tenho certeza de que é você quem estará por trás da administração, enquanto Yelena, ou melhor, Anastasia, será o novo rosto da Kouris Holdings. Tecnicamente, você é o verdadeiro herdeiro, mas suas escolhas fizeram com que a gente chegasse até aqui. Apesar de tudo, os negócios limpos de Hélio ainda somam um patrimônio gigantesco. Dessa forma, todos saem ganhando.

Toni tinha outras preocupações:

– E o que acontece com meu pai?

Anastasia, com a ajuda de Mathias, aproveitou a pergunta para explicar a Toni tudo o que o médico disse. Por um momento, ele se sentiu mal, sabia que a lesão na cabeça era sua culpa e mesmo que não tivesse a intenção, era ele o responsável por ter feito aquilo com o próprio pai. Aquela culpa, ele carregaria para o resto da vida.

Mathias tinha uma última coisa a falar:

– Pense bem sobre o que eu estou oferecendo. Se aceitarem, a vida de vocês se tornará mais fácil e todos ganham. Eu preciso ir, afinal, ainda sou o responsável por aquele desgraçado. A bola está com vocês, se decidam ou aceitem as consequências. Eu cuido do Hélio.

Toni achou a última frase preocupante:

– Como assim você cuida do Hélio? O que você quer dizer com isso?

Mathias não enrolou:

– Acho que você entendeu bem …

Exaltado, achando que já tinham ido longe demais, Toni se impôs:

– Não! Ele não oferece nenhum risco mais. Se, por milagre, sobreviver, será em uma cama, incapaz de fazer mal a qualquer pessoa. Eu cuidarei dele, é minha obrigação.

Mathias não entregou os pontos:

– Se isso acontecer, resolvemos depois. Prometo que, por enquanto, apenas continuarei cumprindo o papel que me cabe.

Toni não estava negociando:

– Essa é minha única condição para aceitar sua oferta. Eu exijo cuidar do meu pai.

De repente, Toni diminuiu seu ímpeto. Não podia tomar aquela decisão de forma unilateral. Ele segurou as mãos de Yelena e disse:

– Me desculpe, me exaltei. Você concorda com isso? Estamos juntos em tudo, sua opinião é importante.

Entendendo que Toni poderia estar se culpando, Yelena cedeu:

– Eu concorda. É sua pai, sua decisau.

Mathias se foi e Toni sabia que não era uma questão de aceitar ou não a oferta. Aquilo, na verdade, era uma imposição, uma forma que aquele grupo poderoso encontrou para se defender e se manter no poder. No fundo, sabendo como o mundo funcionava, ele sabia também que lutar contra aquele inimigo não era uma opção, era pura burrice. Se rebelar, dar um passo maior do que a perna, após uma oferta inesperada e tão satisfatória, seria incorrer no mesmo erro de Hélio, que por ganância, acabou sendo corroído pela própria ambição.

Por sugestão de Mathias, acabaram passando aquela noite na casa de Angra. Por mais que se amassem, não existia clima algum para sexo. Enquanto Yelena descansava, Toni ligou para a mãe e contou a ela, finalmente, tudo o que havia acontecido naquele trágico dia. Mirian apenas ouviu e o apoiou, sem julgamentos ou conselhos.

{…}

Assim que desligou o telefone, Mirian foi incapaz de conter um sorriso de satisfação. Se sentia vingada por tudo o que sofreu. Jamais diria aquilo ao filho, mas secretamente, comemorava o destino de Hélio. Fora difamada, traída, usada, abandonada e falsamente condenada por um crime que não cometeu. Era incapaz de sentir qualquer tipo de empatia pelo homem que desgraçou sua vida. Considerava Hélio um homem fraco, manipulado pelo pai, que incapaz de entender o que era ser forte, se cercava dos fracos para se sentir poderoso.

Naquele sábado, dormiu feliz e por poucas horas. Precisava comemorar sua justiça, o fim de seu tormento, a queda do homem que a humilhou.

Mirian, aos quarenta e três anos, ainda era uma mulher muito bonita. Seu corpo maduro, em forma, desde que tomou gosto pelos exercícios na prisão, sua única companhia em meio aqueles dez anos dolorosos e injustos, estava ainda mais belo nos dias de hoje: seios médios, ainda firmes e bunda arrebitada, redonda, de quadril largo. Ninguém no bairro entendia o motivo dela permanecer solteira desde que saiu da prisão. Os homens babavam por ela, ofereciam mundos e fundos na esperança de conquistá-la, mas ela se manteve vigilante, à espera do filho, não tendo espaço para qualquer outro homem que não fosse ele.

Hélio fora seu primeiro e único homem, pois o segundo não contava. Ele a violentou em um complô para destruir sua vida, sendo sumariamente apagado de sua memória, bloqueado numa parte escura do seu subconsciente.

Era hora de voltar ao mundo, tirar os vinte cinco anos de atraso. Merecia voltar a ser feliz e principalmente, ser usada por um macho gostoso, que a pegasse de jeito e a ajudasse a comemorar o momento. Se arrumou de forma quase vulgar, pois sua intenção era chamar a atenção, ser desejada. Uma calça legging colada ao corpo, repartindo os lábios da buceta, sem calcinha, para que todos percebessem. Uma blusa com decote generoso, que valorizava e praticamente oferecia os seios a quaisquer olhos gulosos que a quisessem. O macho que mais mostrasse interesse, que mais babasse por ela, seria o escolhido.

Com a companhia de Meire, sua irmã, partiu para o pagode do bairro, decidida a enfiar o pé na jaca. Preocupada, mas entendendo tudo aquilo, Meire se fez protetora, mas decidiu que não iria empatar o lado da irmã. Ela merecia muito comemorar.

Mirian tomou todas, passou de mão em mão na roda de samba, beijou muito, sarrou bastante, mas nenhum macho tinha a pegada que ela esperava. Ela queria apenas ser usada, bem comida e esquecer dos últimos vinte e cinco anos. Já estava pensando em ir embora, aceitar o convite da irmã, quando foi puxada pela cintura, sendo levada de volta à pista, se derretendo nos braços que a seguravam:

– Eu não poderia deixar você ir embora sem uma última dança. Você está gostosa demais, me desculpe a ousadia.

O homem piscou para Meire, o sinal que ela esperava para se retirar. Sabia que a irmã estava em boas mãos, que ele cuidaria bem dela. Já queria apresentá-los a algum tempo, mas a irmã nunca aceitava.

Mirian não sabia o nome dele, nunca o tinha visto, mas a pegada estava certa. Ela não se conteve:

– É você que vai me levar embora? Que cheiro gostoso.

O homem era um negro muito bonito, alto, de sorriso largo e dentes perfeitos. Ele colou seu corpo ao de Mirian, deixando que ela sentisse o volume de seu membro que começava a ganhar dureza:

– Embora? Só se for pra minha casa, o que acha?

Mirian estava encantada. Ela apenas consentiu e os dois saíram juntos do pagode.

{…}

No mesmo instante, mas do outro lado da cidade, Yelena e Toni chegavam em casa. Precisando manter seu personagem, ela apenas tomou um banho e se dirigiu ao hospital. Prometera a Toni e a Bá que não deixaria nada mais acontecer a Hélio. Enquanto ela ia ao hospital, Toni foi se encontrar com Mathias.

A reunião entre os dois foi tensa, mas, de certa forma, cordial. Mathias mostrou a ele tudo o que estava contaminado nas empresas do pai e com uma procuração de Yelena, usando a identidade de Anastasia, lógico, Toni repassou aquelas empresas a Mathias. Por sorte, a parte em que Toni era especialista, a área da empresa que lidava com o agronegócio, estava ilesa e longe de qualquer influência maligna. Como eram grandes exportadores de alimentos, tudo tinha que estar na mais absoluta perfeição. Qualquer suspeita, qualquer ilegalidade, tornaria inviável que eles continuassem fazendo negócios com países compradores mundo afora.

Mathias entregou a Toni todas as provas que Hélio tinha encaminhado a ele, e que incriminavam o casal. Toni, com a concordância de Yelena, entregou a ele o HD do computador do pai, contendo toda a informação relevante de que Mathias precisava. Mathias assumiu também a responsabilidade sobre o que aconteceu com Mila. Apenas uma coisa ainda matinha Mathias curioso e ele não conseguiu deixar de perguntar:

– Como diabos você inventou e planejou essa vingança? Eu sei um pouco do que vocês precisaram fazer, mas eu gostaria de entender essa história. Você me contaria? Confesso que isso me deixou muito curioso.

Toni pensou por alguns segundos. Como tudo tinha saído um pouco diferente do que fora planejado, e após o acordo fechado com Mathias, não tinha motivo para não contar. Mathias serviu um whisky a ele e os dois voltaram a se sentar no sofá.

Olhando para trás, e após tantas complicações, Toni percebeu que todo plano só é brilhante na cabeça de quem acha que não tem nada a perder. Naquele momento, vendo o quanto Hélio ainda poderia ter tirado dele, Toni se deu conta do quanto havia sido ingênuo.

Continua…


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Comentários

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Bom deixe-me voltar para este aqui!Merece uma atenção especial! Porque eu estive acompanhando outras sagas e realmente este aqui e digno de uma Série na Netflix!!kkk tô falando sério. Um abraço especial para que pretendo voltar às suas postagens ! Obrigado Lukinha! Vocês formam uma dupla fantástica! Abraços!⭐⭐⭐💯

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O final foi realmente muito bom, vou me adiantar aqui e dar meus parabéns para o Lukinha e pra Ida pelo trabalho, foi um dos melhores contos do site.

Bem, no próximo eu imagino que vamos descobrir a totalidade do plano inicial dos dois, mas o engraçado disso são dois pontos:

1) O plano deu errado porque o Toni subestimou o pai, ele baixou a guarda dentro da toca do leão

2) Lógico que isso seria ser engenheiro de obra pronta, mas a ideia inicial de apenas expor o Hélio e a Milla teria sido a melhor opção para os dois, pq o destino do Hélio já estava traçado, essa organização já ia dar fim nele e talvez, até iriam atrás do filho traído pra fazer o que o Vicenzo fez depois.

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Meu Deus que reviravolta fantástica, já sabíamos que o hélio não prestava, mas que ele fazia parte de uma grande organização mundial e um acréscimo fantástico, Toni de forma indireta voltou a ser milionário juntamente com a yhelena, mas o que, me deixou com a pulga atrás da orelha e esse rapaz AE com a Miriam,ela merece sim tem alguém pra satisfaze-la e tirar o atraso( mas espero que ele seja só um cara de boa mesmo e que não tenha nada por trás dessa aproximação), mas a aproximação desse cara e bem suspeita, ainda mais depois da revelação do grupo maligno da que o hélio fazia parte e que eles já estavam com planos pra sumir com o hélio, o que pra mim e bem plausível incluir a Miriam nele, como ela já foi o grande amor do hélio no passado, e usá-la de alguma forma para atingido , se for esse o caso poderia ter uma segunda temporada em... A pareceria da com o Lukinha foi espetacular, espero que continue juntos.

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Mard, muito grata pelo seu comentário. Eu posso te dizer que gostei muito da parceria com o Luquinha. Entretanto, não acredito que vá ter uma segunda temporada. Até porque, o Luquinha ainda tem dois contos que foram interrompidos para que este pudesse ser finalizado.

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Fico triste em todos os sentidos, por não ter uma segunda temporada, e pela parceria interrompida, mas vocês já podem ir bolando outra saga juntos ou até mesmos se juntar ao Lukinha nas duas sagas restantes, Lukinha e um ótimo escritor não querendo puxar saco, mas a parceria de vocês foi e é fenomenal.

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Parabéns Lukinha e Ida,o final merecido p hélio,este crápula mereceu seu destino, único lamento foi p Mila,merecia sei lá uns anos de cadeia,triste seu fim, espero a continuação

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, muito grata por nos acompanhar. Mas, o destino do Hélio ainda não foi totalmente traçado. Milagres (ou "maulagres") ainda podem acontecer !!! Rsrsrs

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Nossa é muita loucura parabéns Lukinha e Ida sem palavras nota um trilhão kkkkk

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Almafer, muito grata pela consideração.

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Cara está demais, muitas reviravoltas, eu tbem fiquei bem desconfiado desse cara com a Mirian, tomara que não seja uma armadilha

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Hoje eu me atrasei !!! Rsrsrs.

Mesmo assim, espero que gostem. Estamos realmente finalizando uma história maravilhosa. Foi muito bom fazer parte dela.

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Prazer, eu sou o Mathias, pois, desde que esse plano começou estou me roendo para saber os detalhes!

Agora uma coisa me deixou intrigado, quem é esse que está com a Miriam?

Maravilhoso!

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