Ahn?
Entre Grades 20 - final da 1° temporada
2 anos tinham se passado, e pra ser bem sincero eu tinha uma vida boa e confortável na medida do possível para quem estava dentro de um presidio. Eu ocupava minha mente, quase que 100% do meu dia para que eu não ficasse ocioso... cabeça vazia é oficina do diabo.
Faltava apenas 2 meses para eu sair desde que o meu programa de educação mais os outros programas sociais que eu tomei frente no presidio começaram e nessa reta final eu não aparava de pensar em oque eu faria, assim que eu sair do presidio. era obvio que eu não tinha como abandonar , meus amigos e meu Carlos; na verdade tinham muitos planos para depois que todos saíssem.
Durante todo esse tempo, meus pais foram juntando esse dinheiro em nossa casa em especie e aos poucos em doses homeopatias, eles depositavam esse dinheiro, para que não levantasse suspeita, mas nos últimos meses a forma de deposito, não estava dando conta de tanto dinheiro que saia da cadeia. Pra ser bem sincero, movimentamos uma boa grana, que dava para eu e o Carlos colocarmos o boi na sombra. mas com o tempo, fui percebendo que esse não era bem o plano do Carlos.
Estava deitado em seus braços, a luz passava por entre as grades, como sempre eram 05:40 AM, e era a hora que meu relógio biológico me despertava. Viro de frente para ele e olho sua barba que estava pra fazer, sua boca, seus olhos fechados. sua testa relaxada e seu cabelo castanho com alguns cabelos brancos que o deixavam formoso. colei meu corpo ao dele e cheirei sua cabeça como eu costumava fazer. cheirei o sovaco do meu homem; e por mais que ele estivesse usando desodorante, seu cheiro era único.
Beijei sua boca e como de costume, ele retribuiu e me pressionou contra seu corpo
-Macho, ta na hora !
- Fica mais um pouco. - Era obvio que eu não tinha como negar esse pedido, até mesmo porque Carlos passou um braço por minha cintura e outro por meu pescoço e me manteve sobre sua posse. Estar em seus braços é estar em casa. estar em seus braços é estar no paraíso.
Passaria o resto do meu dia deitado com ele, mas a responsabilidade me chamava. eu tinha que levantar e ir trabalhar.
- Carlos , tá na hora de eu ir.
- Tá ! - responde Carlos ainda sonolento mas sem fazer a mínima questão de me liberar de deus braços.
Fui deslizando para fora da cama, saindo devagar. quando estava em pé e fora da cama, olho para Carlos deitado, e isso esquentava meu coração; porem quando me afasto dele meu peito se enche de um vazio e um peso. uma sensação de desconforto.
Vou para o banheiro, tomo meu banho, faço minha barba, faço minha rotina de auto cuidado. ponho minha roupa, venho voltando pelo corredor de beliches, e conforme me aproximo, olho para meus amigos e sinto de novo aquele quentinho no peito.
voltei a cama de Carlos para dar mais um beijo antes de ir trabalhar. Quando me aproximo, ele rapidamente, me puxa para cama de novo .
- Por favor, fica!
- Macho, falta pouco agora. Mas aqui apouco tô aqui.
- Por mim, hoje você não saia daqui.
Carlos me beija de novo, para tentar me impedir de ir dar aula. Desfruto desses minutos com ele, mas sou puxado para a realidade quando o carcereiro chega para me levar para sala de aula.
- Macho , tenho que ir.
- Tenha um bom dia! Eu te amo ! - Carlos não era muito de falar eu te amo, isso me deixou feliz, mas também ansioso. quando levantei da cama, ma minha cabeça, eu so queria voltar.
- Eu também te amo. Até mais tarde.
O agente penitenciária me esperava. Peguei minhas coisas e sai. Assim que eu passei pela porta ele bate aquela porta de ferro atrás de mim e meu coração volta a ficar apertado.
Sai do meu bloco , o dia estava bucólico, cinza , triste.
Segui em direção, a saída do pavilhão e percebo que não era para eu ter saído dos braços de Carlos. Estar com ele era o único lugar que eu deveria estar. Mais uma vez as portas se fecham e mais aço separam a gente .
"Vai Cesar! Você só precisa dar aula até meio dia! "
Segurei minhas coisas com força, peguei fôlego e fui em direção da minha sala. Com o passar do tempo, o programa de educação passou por algumas ampliações; eu prestava atendimento para alguns detentos de outros pavilhões. Foi tenso no começo juntar essas pessoas, aliás essa turma atual era composta por homens mais jovens que mau sabiam ler e escrever porque não terminaram nem o fundamental II, mas depois que a sala virou um lugar neutro tudo isso fluiu .
Entrei na minha sala, organizei tudo e fui direto para o quadro. eu sempre tinha mais ou menos uma hora e meia de HC ( HORÁRIO DE PLANEJAMENTO). Comecei a colocar a atividade no quadro; sempre focado na realidade dos detentos eu ia começar uma aula ensinando a aproveitar o óleo velho da cozinha para fazer sabonete , e usar outros matérias para fazer desinfetante e detergente. Na época estava muito focado em sustentabilidade e ensinar o máximo de ofícios para acrescentar coisa a vida daquelas pessoas.
Geralmente nessas HC's eu ficava sozinho. O guarda saia e voltava quando eu trazia os alunos . Eu não estranhei , quando fiquei só . Parei passei um café na minha cafeteira velha, que Saldanha tinha atravessado. Em quanto o café ia descendo para a jarra de vidro , eu voltei para o quadro e continuava a colocar a receita do sabão.
A porta se abre !
- Manel , já tô passando um cafezinho pra gente. !
- opa ! Beleza !
Manel , era um agente penitenciária, já tinha anos naquele presídio, conhecia cada cantinho, ele sempre acompanhava minhas aulas .
- os rapazes já estão vindo ?
- daqui a pouco estão no portão desse corredor , vão me passar o rádio e eu vou abrir.
- perfeito , na primeira aula vou passar a teoria , depois o senhor pode ir na sala do Adriano buscar a soda cáustica , pra fazer o sabão ?
- sim claro .
Segui meu planejamento de aula e coloquei tudo no quadro , tomei meu cafezinho diário com Manel e em seguida ele foi comunicado no rádio que os detentos já estavam no portão da entrada que dava acesso a sala de aula .
Alunos em sala fiz toda a parte teórica , expliquei a importância da redução de resíduos e impacto ambiental, falei sobre economia local e consumo consciente. Como sempre os alunos mantinham atenção e como sempre quem estava ali na sala realmente gostava da dinâmica de estudos.
Na segunda parte do planejamento divido eles em 3 grupos , cada grupo faria um preparo diferente.
. Grupo 1 - sabonete
. Grupo 2 - desinfetante
. Grupo 3 - detergente
Separei as bacias, baldes, algumas vidrarias de laboratório (3 provetas de 2Litros ).
Começamos a parte prática , foi bem dinâmico e muitos ficaram impressionados como foi simples como foi simples preparar tais produtos o mais trabalhoso foi o sabonete , porque precisava derreter a glicerina em banho Maria .
Durante a dinâmica o grupo 2, deixou uma das provetas caírem , e isso fez uma certa bagunça separei os cacos menores e o ficou em cima da minha mesa, depois desse incidente toquei a aula .
Tinha algumas caixas de leite na minha sala cortamos com alguns tesouras a parte de cima e colocamos o sabonete ali dentro para ele endurecer, em seguida pegamos algumas garrafas pet e fomos engarrafar o desenfetante e o detergente. Isso foi tempo suficiente para o sabonete endurecer e a gente tirá-lo da dentro das caixas de leite e cortalos com alguns estiletes em barras de sabão .
Juntamos tudo tiramos uma foto, tirada por Manel e envida direto para o diretor. em juntamos os produtos de limpeza e separamos, todos por pravilhoes assim todo mundo teria uma quantidade igual dos mesmos produtos .
Finalizei a aula e ainda teria mais uma hora para organizar a sala . Então comecei a colocar as mesas no lugar , contei todas as tesouras e todos os estiletes e os coloquei em cima da minha mesa.
Comecei a limpar o quadro, pensando que aquele dia pelo menos ali já havia acabado e poderia voltar para meu lugar seguro, que era os braços de Carlos. Ouço a portar atrás de mim abrir.
- Manel , acredito que ainda tenha café na jara, bebê aí para não desperdiçar.
Manel não respondeu, eu continuei a limpar o quadro de costas para a entrada; eu ouvia os paços da pessoa se aproximando da minha mesa. Alguns passos depois ouço, a pessoa pegar algo em cima da minha mesa e nesse exato momento me arrepio como um gato. Algo foi pego , viro em direção a porta .
Um dos detentos do pavilhão do terceiro comando estava lá, atrás de mim .
Antes mesmo de que ter qualquer reação, fui apunhalado no abdômen, segurei seu braço para que ele não puxasse mas minha mãos em segundos tremiam e comecei a ficar sem força. Ele puxou e me apunhalou mais uma vez, mas dessa vez minha força nas pernas foram embora , consegui segurar seu braço mais uma vez e comecei a cair sem forças...eu realmente não tinha mais .
Com as mãos cobertas de sangue; do meu sangue ele saiu da sala da mesma forma que entrou em silêncio . Minha mente estava confusa , eu não sabia oque fazer, sentei pressionar com as mãos os ferimentos, mas o sangue não parava de escorrer entre meus dedos. Um frio se aproximava do meu corpo. Eu tinha que chegar no corredor, eu sabia que teria ajuda se alguém notasse. Levantar não era uma opção, minhas pernas não tinham mais forças e até se arrastar pelo chão parecia ser uma tarefa difícil de ser realizada.
Eu me arrastava e gritava por socorro.
Cada braçada que eu dava em direção a porta e cada centímetro que eu me movimentava era mais uma chance de sobreviver. Quando comecei parecia mais fácil, olho pra trás e o chão está lavado de sangue . Eu não podia parar eles precisavam de mim , nesse momento a imagem dos meus amigos estavam na minha cabeça e essa foi minha motivação, para que eu não parasse.
Chego a porta ! Porém frio que eu sentia estava agora por todo o meu corpo , o cansaço era como se eu tivesse corrido uma maratona. Tento abrir a porta , mas sem sucesso , tento mais uma vez mas não obtenho exceto.
Fico de barriga pra cima deitado no chão e tento parar um pouco para tomar um ar, e tentar de novo. Na minha cabeça tudo parecia muito fácil , mas meu corpo mandava sinais explícitos que seu limite havia chegado. Minha respiração ficava mais lenta, o frio estava nos meus ossos , a fraqueza e cansaço me fazia não ter mais força para lutar.
Me encontrava no chão de uma sala de aula , dentro de um presídio, a 400 metros estavam meus amigos e o amor da minha vida, pessoas que eu me importava , respeitava e amava. Mas ali eu estava só, sangrando feito um porco no abate.
Minha visão além de turva , começava a escurecer e meu corpo cada vez mais pesado , será que minhas últimas memórias passariam pelos meus olhos ? Não ! A única coisa que eu conseguia pensar na hora era se Rogério, sentou isso !
Meu corpo corpo era absolvido para dentro do escuro, e tudo oque eu sentia era frio , vazio e solidão. Não tinha luz no fim do túnel.