O ajudante de ferreiro e o aprendiz de feiticeiro - Capítulo 09

Um conto erótico de TitanKronous
Categoria: Gay
Contém 3748 palavras
Data: 20/02/2023 09:54:12
Assuntos: Fantasia, Gay, Homossexual

*Aqui voltamos com capítulos em que os personagens não estão juntos. Este é do Bran e o próximo será do Delvin.*

Sair da torre do mago foi moleza. Delvin explicou para seus companheiros que na manhã seguinte quando ele assumisse o posto de guarda, ele os deixaria sair. Ele mesmo teria de ficar para não levantar suspeitas e preferiu que Bran e Lanna levassem os pertences para longe, que assim que possível se reuniria novamente com eles para decidirem o próximo curso de ação. O ruim disso tudo foi ter de passar o restinho da noite perto de alguém com quem acabara de ter um encontro e desejava descobrir coisas novas, mas com uma terceira pessoa presente, isso não foi possível.

Bran caminhava pelas ruas da cidade de volta à forja com esses pensamentos, acabara de se despedir de Lanna, que pediu para encontrá-la, com Delvin, no mesmo lugar da noite anterior, onde ela os havia levado. Ela se responsabilizou pelos itens, e desejou boa sorte para ele, mas parecia que desejava mais para si mesma.

O sol estava começando a raiar quando Bran abriu a porta da forja e se deparou com uma cena inusitada. Nolgrin, sentado numa cadeira, de frente para a porta, dormindo. O Jovem não pode deixar de sorrir com a visão. Tentou não fazer nenhum barulho, mas a porta rangeu assim que foi fechada, e com o som, Nolgrin deu um salto de susto.

- Quem tá aí? – Gritou o anão a plenos pulmões olhando para todos os lados, com a barba meio úmida da baba que escorreu enquanto dormia. Quando finalmente pôs os olhos em Bran, ele continuou. – Ah, então finalmente resolveu voltar, é? Isso são horas? Já está amanhecendo, como que você me apronta uma dessas?

Bran apenas abaixou a cabeça e aceitou o sermão. Apesar de ralhar com o garoto, Bran podia perceber que parte daquilo era apenas preocupação, por isso preferiu ficar quieto. Nolgrin o mandou subir e tomar um banho e logo descer pois o dia já estava começando e o trabalho dele o aguardava. Enquanto se despia, Bran sentiu a dor do ferimento que aquele monstrinho lhe causou. Analisando seu braço, pode notar que não era um ferimento muito profundo, e estava fechadinho. Provavelmente em poucos dias estaria completamente sarado e ficaria apenas uma marquinha da ferroada. Morto de cansaço pela correria da noite anterior e a noite mal dormida, Bran apenas jogou uma água fria sobre o corpo nu. Enquanto fazia isso, o Jovem se lembrou dos beijos e amassos que ele e Delvin tiveram. Ele tinha certeza que estava muito afim de fazer isso novamente, e muito mais. Mas agora precisava descer e trabalhar, não podia ficar com esses pensamentos na cabeça. E toda a situação em que eles acabaram se envolvendo ainda o preocupava.

Nolgrin o colocou para trabalhar duro, como uma espécie de punição, porém, isso acabou sendo bom para Bran. Fez ele se concentrar melhor no trabalho que tinha de fazer e deixar as preocupações da noite anterior de lado. A dor no braço acabou nem atrapalhando o desempenho do rapaz, mas no final da tarde, Bran estava completamente exausto. Os três combinaram de se encontrar novamente naquela mesma noite, mas nas condições que Bran estava, ele não teria como comparecer. Então, logo que fecharam a ferraria, Bran avisou Nolgrin que daria uma breve saída e logo retornava.

- Se tu voltar no amanhecer de novo, eu te juro que arranco as tuas bolas, viu! Onde já se viu uma coisa dessas? Nunca saía de casa, foi só aparecer um namoradinho que já quer ficar a noite e a madrugada inteira com ele.

- Ele não é meu “namoradinho”.

- Tá bom, mas eu vi o seu sorrisinho bobo o dia inteiro no rosto, você nunca fica assim, aposto que teve um ótimo encontro, né rapaz? Vai me conta como foi, você gostou?

- Bem, não foi exatamente como eu esperava, mas … sim eu gostei. - Bran respondeu com um sorriso bobo no rosto. Preferiu não contar tudo o que houve, para não envolver Nolgrin.

- Só isso? Bom, não quero detalhes, e se você gostou e está feliz com isso, eu fico feliz também. Só cuidado tá, por que esse menino parece o tipo de cara que não fica com um só ou não fica por muito tempo com a mesma pessoa.

Bran se sentiu um pouco ofendido com o que Nolgrin dissera no final. Ele nem conhecia o Delvin direito, como poderia dizer algo assim dele? Quando o rapaz começou a abrir a boca para retrucar, Nolgrin o cortou.

- Espere, antes de falar escute. Eu tenho mais experiência que você nesse assunto. Já saí com anãs que só queriam fornicar e pronto. E eu também já tive minha fase de só querer sexo e nenhum compromisso. Não tem nada de errado nisso. O que eu quero te dizer é, tenha certeza de que o que você quer é o mesmo que ele está oferecendo. Se vocês dois só querem transar, e depois cada um segue seu caminho, ótimo. Mas eu sei que quando a gente é novo nesse assunto, é normal se apegar à primeira paixão e depois quebrar a cara por que a outra pessoa não queria nada sério. Mas também sei que é bom quebrar a cara pra aprender, foi assim comigo, hahahaha! - Nolgrin terminou rindo ruidosamente de seu último comentário.

Bran ponderou o que Nolgrin dissera. Ainda achava que o anão estava errado em relação a Delvin, mas entendeu o que ele quis dizer. Para não prolongar mais a conversa e não querendo dar satisfações exatas de onde estava indo, Bran apenas assentiu.

No caminho para o esconderijo de Lanna, Bran ouviu comentários das pessoas nas ruas sobre o incêndio numa das construções da cidade. O arauto (entre outras funções, o arauto é uma pessoa que anuncia notícias em voz alta em praça pública) anunciava a plenos pulmões que apenas uma vítima, ainda não identificada, fora morta pelo incêndio, e que os guardas da cidade levaram a noite inteira para conter as chamas. As pessoas já criavam suas teorias de como aquilo tinha acontecido. Uns diziam que eram bandidos, outros afirmavam ter visto diabos vagando por entre as ruas, e ainda haviam os que afirmavam que isso era um ato dos cultistas da Chama Eterna, um grupo terrorista com objetivos malignos e escusos.

Enquanto caminhava, Bran percebeu que Lanna tinha razão. Quase um dia inteiro tinha se passado, e ainda não sabiam nem quem era a vítima. Se o tal conde estava em uma visita oficial, provavelmente logo dariam pela falta dele, mas se não estivesse, poderia levar muito tempo até que as autoridades descobrissem o sumiço dele. E o corpo carbonizado do conde tornava quase impossível identificar quem era. Provavelmente haviam magias que ajudassem neste caso, mas Bran não sabia como isso funcionava.

Pensando em magias, Bran se lembrou de Delvin usando as magias para deixar a sala silenciosa e para se curar do ferimento causado pela criatura vermelha. Nesta última, ele havia sentido uma calmaria e uma espécie de bondade brotando da fonte da magia. Foi algo muito incrível, pelo menos para Bran, fora algo que ele jamais se esqueceria.

Com isso na cabeça, o jovem humano chegou ao local combinado. Chamou pela colega e recebeu um convite para entrar. Assim que estava dentro do recinto, Lanna foi logo falando:

- Que bom que você veio cedo. Antes de mais nada leia isto. - Ela lhe estendeu um pedaço de papel dobrado.

Bran pegou o papel, mas antes de abri-lo para ler ele falou:

- Você tinha razão. Ontem, quando convenceu a gente a fazer o que fizemos. Passei pela cidade e mal apagaram o incêndio e nem sabem quem é a vítima. Desculpe.

- Eu sei, também dei uma volta por lá. Não se desculpe por ter discordado de mim. É bom termos opiniões diferentes. Agora chega disso e leia.

Bran desdobrou o papel e encontrou uma carta, escrita com uma caligrafia muito bela:

Querida amiga,

Gostaria de informar que não poderei comparecer ao nosso encontro esta noite. Tenho Lições Importantes a cumprir aqui na torre e, devido a um incidente particularmente inesperado, nós alunos fomos proibidos de Visitar a cidade e nos ausentar das dependências do local. Até que o caso seja Resolvido, receio não poder comparecer a nenhum evento que venhamos a marcar, portanto, dê continuidade à nossa Obra da forma que você achar melhor.

Mando meus cumprimentos e espero que esta carta lhe encontre em ótimas condições. De minha parte, informo que me encontro bem Disposto e bem de saúde, apenas um pouco Exausto pelo fato de Não poder nos vermos pessoalmente, pois nosso último encontro foi um dos melhores que já Tive e desejo Realizar um novo o mais breve possível. Adorei escutar os bardos e Observar as pessoas na taverna junto de ti.

Não há necessidade de enviar-me qualquer tipo de resposta, Basta aguardar e Obrigado por tudo. Acredito que esta situação não deve se prolongar por muito tempo e assim que estiver Livre, te procurarei para nossos encontros Sociais de modo que possamos ficar em dia com nossos Assuntos.

Seu grande amigo,

Delvin

A letra de Delvin era muito bonita, comparada com a dele, que era um garrancho que só. Bran esperava nunca precisar escrever para o meio-elfo. Mesmo avisando que estava bem e aparentemente recuperado do ferimento, eles estava “preso” o que deixou Bran apreensivo.

- E agora? o que a gente faz? - perguntou o jovem.

- Primeiro, espero que você tenha entendido que o segundo parágrafo é diretamente pra você.

- Sim eu entendi, e tô feliz com isso, mas a situação dele é ruim, ele tá preso.

- Calma. Ainda não sabemos se o feiticeiro é mesmo o assassino e o seu “amigo” é um rapaz esperto. Ele conhece as ruas e conseguiu que esta carta chegasse até mim sem nem escrever meu nome nela ou o endereço. Ele também não escreveu o seu e não revelou o que é o “trabalho” que estamos fazendo. E ainda por cima deixou uma mensagem escondida na carta. Você notou?

Bran, que não havia notado nada de diferente, tornou a ler a carta, mas mesmo assim, nada mudou para ele. Vendo que seu colega não percebeu, Lanna tomou a carta de suas mão e em outro papel rabiscou as seguintes palavras:

1 - Lições - Importantes - Visitar - Resolvido - Obra

2 - Disposto - Exausto - Não - Tive - Realizar - Observar

3 - Basta - Obrigado - Livre - Sociais - Assuntos

- Essas palavras ele escreveu em letra maiúscula no meio do texto, já separei por parágrafo para facilitar pra você.

Bran olhou para as palavras rabiscadas no papel. A princípio não faziam sentido, não formavam nenhuma frase coerente. Então ele olhou apenas para as inicias de cada palavra:

L I V R O, D E N T R O, B O L S A

Imediatamente ele entendeu o que significava, e percebendo que o garoto entendeu, Lanna já foi falando:

- Imagino que a bolsa a que ele se referia era a mesma que roubamos, então deixei o livro lá dentro. Provavelmente o feiticeiro tem algum tipo de magia que encontra itens, mas a bolsa deve impedir que ela funcione, e seu amigo deve saber o que está nos dizendo, então vou confiar nele.

- Só que isso não ajuda a gente a decifrar o que tá escrito no livro, na verdade, fica até mais difícil assim. Você disse que conhecia as letras, né?

- Sim, eu já vi esse alfabeto antes. E sei de alguém que pode ler essa língua, acho que é a língua infernal, usada pelos diabos e associados.

Lanna falou isso com uma naturalidade que espantou Bran. Diabos eram criaturas malignas que Bran pouco conhecia, embora já tivesse enfrentado um sem saber. Entretanto, Lanna falou como se falasse sobre o almoço que tivera. Antes dele perguntar quem, como ou porquê, Lanna já foi emendando.

- Não fique tão espantado assim, essa língua é mais comum do que parece. Os Tiferinos a usam com frequência, muitos deles já nascem sabendo como usá-la. A língua por si só não é maligna, é como uma faca, que tem potencial para corte, mas normalmente é usada por todos no dia a dia. Enfim, a pessoa que conheço, e que pode nos ajudar mora nas terras do sul. Nas terras do conde Brandwick. Conveniente não? Eu sugiro que nós 3 devemos ir visitá-la, ela com certeza vai nos ajudar e vai querer participar disso aqui.

- Disso aqui o que? Nós só estamos tentando descobrir se o feiticeiro é mesmo o assassino. E falando nisso, temos que dar um jeito de tirar o Delvin de lá.

- Mas ele falou que está bem, e se tomarmos qualquer atitude precipitada, seremos presos por roubo. Mesmo que ele seja inocente, nós invadimos sua torre e roubamos seus pertences. Eu e você não somos ninguém, seu amigo pode se safar pois é nobre, mas não nós.

- Pelo que Delvin já me falou sobre ele, ele está no mesmo barco que a gente. Ainda acho que devemos tentar tirar ele de lá. Você mesmo disse que seria melhor os 3 juntos encontrar sua amiga. Hã, me diz uma coisa, ela mora nas terras do sul, mas eu nunca saí da cidade, não conheço a região, é muito longe? Quantas horas de viagem?

- Horas? Ha ha, você quis dizer dias, né?

- Dias? - Bran ficou incrédulo, ele não tinha nenhuma noção de geografia, sabia que o mundo era grande, mas não tinha ideia de como funcionava uma viagem. - Como assim dias?

- Você é bem ignorante mesmo hein!

- Ei, eu nunca viajei, não faço ideia da distância dos lugares.

- Tá, desculpa. Bom se o tempo estiver bom e formos pela estrada, deve dar uns 3 dias até a cidade do conde, mas ela mora na floresta, depois da cidade, então pelo menos mais um dia e meio até onde ela mora. Resumindo 4 dias e meio pra ir e o mesmo tanto pra voltar, mais o tempo que vamos ficar por lá, eu diria que isso deve dar uns 10 dias, se não mais.

- 10 DIAS? Não posso ficar esse tempo todo fora! Nolgrin precisa de mim na ferraria.

- Bom, eu não posso te obrigar a ir. Preferia que você estivesse junto, eu vi como você se saiu na luta contra o bichinho lá na torre. Você tem bons movimentos, imagino que usando uma armadura e uma arma maior, você seria ainda mais letal. Você é bem forte garoto, mesmo não tendo treinamento de soldado, deve ser tão forte quanto um, ou até mais.

Bran ficou encabulado pelos elogios. É verdade que ele não tinha treinamento de soldado, mas, às vezes, quando ficava sozinho na ferraria, ele provava uma ou outra armadura que ficavam expostas lá, pegava uma arma e fingia que era um guerreiro. Inclusive, uma das armaduras que estavam expostas tinha sido o próprio rapaz que fizera. Era uma armadura de escamas metálicas, com ombreiras, grevas e manoplas de placas. Possuía um elmo relativamente simples, aberto na frente, pois o rapaz acreditava que era melhor ter uma boa visão do que defesa na frente. Todo o conjunto tinha uma coloração verde escura, graças a uma técnica de forja que o anão ensinaou a Bran, e era do tamanho perfeito para ele. Bran se imaginou usando a armadura, brandindo uma espada e um escudo, como um guerreiro pronto para salvar a donzela em perigo. Neste caso, o donzelo preso na torre do feiticeiro maligno.

- Bem, acho que o melhor seria esperar por Delvin. Se o feiticeiro é mesmo o assassino, ele está agora empenhado em reencontrar os pertences roubados e não em dar continuidade ao que quer que tenha começado com a morte do Conde. Se até amanhã à noite não tivermos notícias dele, aí vamos ter que agir de alguma forma. - Lanna não queria dizer, mas temia que Delvin pudesse ser pego pelo feiticeiro e não queria nem imaginar as implicações disso.

- Tá bem, vamos esperar. Enquanto isso eu falo com Nolgrin pra ver se ele me libera pra viagem.

- Isso garoto, melhor assim.

Despedindo-se, Bran começou a fazer o caminho de volta a ferraria, o sol estava se pondo e o cansaço do dia estava se abatendo sobre o rapaz. Ele não via a hora de chegar em casa e dormir, mas precisava falar com Nolgrin sobre sua possível saída. Assim que voltou, viu que Nolgrin ainda estava na ferraria, já fechada a esta hora, com algumas lamparinas acesas contando as moedas do dia. O anão levantou a cabeça assim que avistou seu ajudante.

- Já de volta? Nem anoiteceu direito ainda?

- Eu disse que não demorava.

- Verdade, mas pensei que não ia te ver ainda hoje. Tá tudo bem? Você tá com uma cara de acabado.

- Tá sim. - Bran estava nervoso, mas resolveu não demorar e pediu - Grin, será que eu posso sair por alguns dias?

- Como assim? O que quer dizer? - Perguntou o Anão que parou o que estava fazendo e colocou toda sua atenção no rapaz.

- É que eu queria ficar uns dias fora, tipo uns 10 dias.

Nolgrin estreitou os olhos e observou Bran. Bran desviara o olhar e estava bem nervoso, não era só o nervosismo da timidez, havia também o nervosismo da mentira ali, e Nolgrin percebeu. Ele deixou as moedas de lado, saiu de trás do balcão de atendimento da ferraria, puxou uma cadeira e pediu para que o rapaz se sentasse de frente pra ele. Depois de acomodados, o anão retomou a palavra.

- O que está acontecendo Bran? Sei que tu tá na adolescência e que nessa fase a gente quer descobrir e fazer de tudo. Mas você não é assim. Você está mentindo pra mim. Eu sei que você não quer ficar uns dias fora. Você adora as armas e armaduras daqui! Me conta o que é Bran.

Bran tinha medo disso. Ele nunca mentiu em sua vida, não dessa forma. O anão sempre lhe ensinou que a honestidade era o melhor caminho, e sempre fora honesto com o rapaz, ainda que rude. Não era da natureza de Bran fazer isso e por isso ele estava tão nervoso. Só que ao mesmo tempo, não queria colocar Nolgrin em perigo contando o que aconteceu. Depois de um longo silêncio, o rapaz decidiu por um meio termo, contar apenas o necessário.

- Então,... no dia que eu saí com Delvin, nós tivemos um ótimo momento na taverna, mas aí uma pessoa me roubou e começamos a ir atrás dela. Quando a gente encurralou ela num beco… humm, aconteceu uma coisa, não posso dizer.

- Por que, garoto?

- Eu … eu não posso, Grin, eu não posso! - Bran estava muito angustiado. E Nolgrin percebeu.

- Tá bem, aconteceu algo que você não pode contar, e aí?

- Aí a gente foi pra um lugar seguro, com a pessoa que me roubou. Ela devolveu meu dinheiro e a gente acabou decidindo que precisa fazer algo por causa daquilo que aconteceu. Aí a gente fez e foi bem … empolgante?

- Ai garoto, no que você foi se meter? Os guardas podem vir atrás de você?

- Não! Ninguem sabe o que a gente fez, bem … quase ninguém, mas ninguém sabe que foi a gente.

- Você tá querendo ir pra fora da cidade, pra sumir por um tempo então?

- Na verdade, a gente vai atrás de alguém que pode ajudar en…

- E por que eu não posso ajudar! - Explodiu Nolgrin que tinha se segurado para não gritar com o rapaz até ele contar “tudo”.

- Por que você não sabe ler infernal! - Respondeu Bran na mesma explosão. Se era pra gritar ele também iria gritar.

Nolgrin olhou para o rapaz e bufou. Realmente o anão não sabia ler essa língua, que muitos diziam ser profana. Ele então falou:

- Você disse coisas que não queria dizer agora. Acho que entendi, você acha que se meteu em algo perigoso e quer me proteger, é isso?

- Sim, não quero te envolver nisso.

- E tá achando que pode resolver sozinho?

- Claro que não, o Delvin e a Lanna vão me ajudar. - logo depois que falou, ele percebeu a gafe que cometeu.

- Ah, a Lanna vai ajudar também então? Bom saber.

- Esquece que falei isso.

- Não dá rapaz! Tu nunca fez esse tipo de coisa, tá aí todo agoniado porque não quer mentir, mas não quer me contar também. O que vou fazer com você?

- Me deixar sair da cidade por uns 10 dias? - Perguntou Bran esperançoso.

- Parece que não tenho outra escolha né? Ai ai, eu sempre soube que chegaria o dia em que vc pediria pra sair e viver sua vida. Nunca pensei que fosse assim.

- É só por alguns dias. - Comentou Bran

- Isso é o que você pensa. Eu tenho certeza que você vai acabar indo se aventurar por aí. Aquele Delvin tá me roubando, sabia? Tá tirando você de mim.

- Nem é assim. Não é culpa dele que vou ficar uns dias fora, e depois eu volto.

- Não rapaz, sendo sincero, tu tá na idade de viajar por aí e descobrir coisas novas. Não tem nada que te prenda realmente aqui. Por mais que eu gostaria que tu continuasse como meu ajudante, isso não iria funcionar direito. Como um anão, eu vou viver ainda muitos anos, você é humano, apesar de ser jovem, se morrer com 100 anos , ainda é capaz de morrer antes de mim. Você seria meu ajudante pra sempre e isso não seria legal. Vai, faz essa viagem de 10 dias, volta e me conta, mas depois vai viver a tua vida. Abre a tua ferraria, continua viajando pra outros lugares, não sei, mas eu não vou mais te aceitar como meu ajudante depois disso.

Bran estava triste, não porque estava sendo “expulso” da ferraria, mas porque ele sabia que Nolgrin tinha razão. Ele abraçou o anão e começou a chorar, e percebeu que seu padrasto também chorava. Os dois mantiveram o abraço por alguns minutos e então Nolgrin soltou o jovem.

- Você está cansado e eu também. Vamos dormir amanhã vemos como que fica isso tá? - e deu um beijo na testa do rapaz. Algo que ele não fazia desde que Bran ficou mais alto que ele, o que já fazia muito tempo.

Os dois subiram, se trocaram e cada um deitou em sua cama para dormir. Nolgrin logo começou a roncar, mas Bran demorou mais. Ficou pensando nas emoções sentidas, no que viria a seguir e em como seria a despedida no dia seguinte, mas então se tranquilizou, pois mesmo que não fosse mais o aprendiz de Nolgrin, sempre terá um lugar no coração duro daquele anão.


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