POR ESSE AMOR - EP. 27: SEGREDO

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2614 palavras
Data: 03/04/2021 21:20:51

— Santino. — o chamei pelo nome, coisa que não fazemos há um bom tempo.

O Santino estava agindo de forma estranha desde a competição. Eu conheço o meu namorado, sei que tem alguma coisa o incomodando. Agora, ao vê-lo no celular e ficando assustando quando o chamei, tenho certeza absoluta que alguma coisa aconteceu.

— Tem alguma coisa te incomodando? — perguntei tocando no rosto dele.

— Eu... eu...

— Você sabe que não existem segredos entre nós, né?

— Eu sei. É que pode ser uma besteira da minha cabeça, mas fiquei com ciúmes quando o professor Francisco te abraçou. Eu senti que não foi um abraço de amigo. Kleber, eu não quero parecer o namorado ciumento ou babaca. Eu só não gostei. Eu ia conversar com você, mas não hoje. Queria que você aproveitasse o seu dia. — Santino abriu o coração, quase sem ter tempo para respirar.

— Oh, meu amor. Desculpa. Nem eu sabia que ia ganhar aquele abraço. — afirmei fazendo carinho no cabelo dele. — Eu...

— Ei, pombinhos. A turma vai sair. Vamos encher a cara para comemorar! — avisou Giovanna muito feliz pelo irmão.

— Eu te amo. — abracei o Santino, enquanto a Giovanna nos observava e resmungava alguma coisa aleatória.

— Eu também te amo, mas vamos antes que a Giovanna lance um feitiço em nós. — ele pediu com medo da amiga.

— Olha que eu lanço mesmo. — Giovanna colocou as mãos para frente e fez um barulho de raios com a boca. — Eureka!

Puta merda! Até quando o Kiko vai se tornar um empecilho na minha vida? Já não bastasse tudo o que ele me fez passar, agora queria mexer com o Santino. Na comemoração, fiquei pensativo e reflexivo sobre a importância de ter uma conversa franca com ele. Queria colocar todos os pingos nos i's.

Por outro lado, o Santino merecia a verdade. Mas, e se ele não acreditasse em mim? Eu colocaria o meu relacionamento em risco e, dessa forma, o Kiko teria êxito. Kleber, meu amigo, você está em uma encruzilhada.

Naquela noite, preferi não beber. Falei para o Santino que seria o motorista da rodada. O meu gordinho estava mais tranquilo e voltou a ter aquele brilho nos olhos que eu tanto amava. Ele exagerou no álcool, ainda bem que eu fiquei apostos para cuidar dele.

Um fato sobre o Santino bêbado? Ele vira um conversador. Falou sobre coisas que o Santino sóbrio nunca falaria na vida como, por exemplo, o seu primeiro beijo que lhe deu caxumba ou o dia em que seus colegas o trancaram no banheiro e o deixaram dormir lá. Ok, que a maioria dos fatos eram tristes, porém, é interessante conhecer o meu namorado por outra perspectiva.

O bar começou a tocar músicas dos anos 2000. Eu nem era nascido, mas conhecia algumas canções dessa época. O pessoal decidiu dançar e o Santino ficou com um fogo que nunca vi antes. Ele queria ir para um lugar mais reservado e, claro, que aproveitei a situação.

Fomos até uma parte mais escondida do bar. O local ficava no Centro da cidade e era conhecido por ser um point LGBTQIA+. A decoração remetia às divas de Hollywood. Nas paredes, várias fotos e referências à elas, na real, as única que identifiquei foram a Marylin Monroe e a Julia Roberts.

Meu pensamento logo se voltou para uma única coisa: a boca do meu namorado. Eu não tenho controle sob meus atos quando estou com Santino. Procurava explorar cada parte daquele corpo, ele apenas gemia baixo e aproveitava os beijos. Ainda bem que não bebi, pois, poderia lembrar deste momento incrível.

Após um momento de celebração, fiquei responsável de levar algumas pessoas para casa como a Giovanna, Yuri e o seu irmão Richard, além do meu bebê. Ao entrar no condomínio do Santino, o porteiro perguntou se estava tudo bem. Eu não sei se ele quis ser cuidadoso ou desconfiou de mim. Expliquei que a gente estava em uma festa e entrei sem mais problemas.

O meu namorado é a coisa mais linda bêbado. Eu o ajudei a entrar em casa, a gente tropeçou bastante e o Santino insistiu para fazer um lanche antes de dormir. Eram 3h da manhã e lá estava eu fazendo um sanduíche de mortadela para ele. As coisas foram difíceis de encontrar, a cozinha dele é gigantesca, a sorte é que encontrei escadinhas para alcançar algumas prateleiras.

Pão? Ok. Queijo? Ok. Alface? Ok. Maionese importada? Hum, ok. Dei o meu melhor para fazer um belo sanduíche e o Santino observava cada movimento. Ele estava encostado na banqueta da cozinha com os cotovelos no batente e, vez ou outra, ria igual uma adolescente de filme americano.

— Eu te amo, Kleber. — ele disse ficando vermelho e escondendo o rosto com as mãos.

— Muito ou pouco? — perguntei, enquanto colocava o sanduíche em um prato.

— Muitão.

— Santino? — soltou Sérgio entrando na cozinha, aparentemente, chegando de uma festa. — A noite foi boa?

— Ótima! — Santino levantou as mãos e andou cambaleando na direção de Sérgio. — O meu mozinho arrasou na competição de hoje e um amigo vai pedir o namorado em casamento. Só motivos para celebrar. — contou Santino abraçando Sérgio que não se importou sem ser abraçado por ele.

Caramba. Que mudança. O Sérgio que eu conheci no Ceará jamais deixaria o Santino lhe abraçar. Talvez, todo o apoio que o Santino deu nos últimos meses surtiu efeito e um bem positivo. Respirei fundo e, para o bem do meu namorado, busquei conversar com o seu amigo.

— Aceita um sanduíche? — perguntei sem olhar para o Sérgio.

— Ah, não. Obrigado, já comi. — ele respondeu de forma seca e continuando a conversa com o Santino.

— Gente, sabe o que me faria muito feliz? — Santino questionou trazendo Sérgio para perto de mim.

— Um banho? — Sérgio brincou rindo um pouco.

— Não, o meu namorado e meu melhor amigo se dando bem. Vocês não querem isso também? — Santino me puxou e ficou entre nós olhando para o horizonte. — Espero que um dia vocês sejam amigos.

— Eu até tento, mas...

— Vai sonhando, Santino. — Sérgio me cortou e saiu do abraço em grupo. — Bem, meninos. Vou dormir. Não esquece, baixa renda, estou de olho em você. E Santino, não exagera mais na bebida, por favor. — saindo da cozinha.

— Ridículo. — pensei, voltando a minha atenção para o Santino que devorou o sanduíche em duas mordidas.

Depois de um encontro nada prazeroso com o Sérgio, levei o Santino para o banheiro e lhe dei um banho, aproveitei para fazer algumas outras coisas também. Ele pediu para usar um pijama do Pikachu que ficou a coisa mais linda do universo. O deitei na cama e peguei o celular para pedir um Uber, entretanto, o Santino pediu para que eu dormisse com ele.

Como eu não tinha outra roupa, o Santino ofereceu uma de suas camisetas. Ficou engraçado, confesso, porém, não pude ir contra aqueles olhinhos castanhos e bêbados. Enviei uma mensagem para mamãe, Deus me livre, se eu dormir fora de casa e não avisar. É capaz de ouvir um sermão de duas horas.

Com a mamãe fora da equação, deitei na cama e o Santino ficou nos meus braços. Você sabe aquele instante em que tudo se encaixa? Eu sentia isso toda vez que tinha o Santino nos meus braços. Ali, naquele quarto escuro, sentindo a respiração dele, era ali que eu queria sempre estar.

— Kleber. — ele me chamou com uma voz sonolenta.

— Oi, amor.

— Eu não devo me preocupar com o professor Francisco, né? — ele perguntou me desarmando. — Eu senti algo muito ruim hoje. Não quero sentir isso de novo.

— Santino. Eu sei que esse é o teu primeiro relacionamento, também sei que você está aprendendo a administrar os sentimentos, principalmente, o ciúme. Eu vou te contar uma história, porém, não quero que você se preocupe. Santino, o Francisco é meu ex-namorado. — falei de olhos fechados, apesar de estar no escuro.

Silêncio mortal. Queria que o Santino falasse algo. Reagisse de alguma forma, mas ele dormiu antes da minha revelação. E agora, quando vou ter a oportunidade de trazer essa assunto à tona? O Santino merecia a verdade, ainda mais, com as maluquices que o Kiko poderia aprontar.

— Desculpa, Santino. Eu não posso te dar um namoro tranquilo. — declarei o beijando e fechando os olhos para dormir, esperando que o futuro pudesse ser gentil conosco.

No dia seguinte, como o usual, acordei cedo, quer dizer, às 8h da manhã. O Santino dormia tranquilamente, mas sei como o álcool funciona e aquela paz toda não ia durar. Eu sabia que no banheiro principal da casa (um dos três), havia uma caixa com vários remédios e, provavelmente, algo para ressaca.

Desci às escadas despreocupado, quando encontrei uma senhora na sala. O meu cérebro demorou mais que o esperado para ligar os pontos, mas quando percebi já era tarde demais. Ela ficou me encarando, dos pés à cabeça, a intensidade no olhar foi tão forte que a minha espinha dorsal arrepiou.

— Olá, Kleber. Tudo bem? — ela perguntou sentando no sofá, cruzando as pernas e soprando uma xícara de café.

— Oi, dona Úrsula! — exclamei assustado, pois, estava usando apenas a camisa de Grey's Anatomy do Santino.

Agora eu tenho uma história engraçada para contar no futuro. Conheci a minha sogra usando apenas uma camisa velha, que era do filho dela. Ela explicou que voltou de um retiro espiritual na índia e não teve tempo de falar com o Santino. Se houvesse um buraco no chão pode ter certeza que eu me jogaria dentro.

A Dona Úrsula é uma mulher na faixa dos 50 anos, mas que dá show em muitas novinhas. Seus cabelos eram curtos e loiros, segundo ela, tingiu para ficar parecendo uma cantora do Pop.

Era evidente a vaidade dela. Ainda era de manhã e minha sogra estava impecável. Poderia muito bem participar de um evento da alta sociedade manauara. Apesar do nervosismo, respondi todas as perguntas e tentei manter a conversa.

— O Santino ainda dormindo? — ela perguntou com sua voz estridente. — Esse menino sempre foi preguiçoso, Kleber. Nunca gostou de se exercitar ou fazer coisas produtivas. Ainda bem que você é atleta e pode ajudar esse curumim preguiçoso. Tá precisando perder uns quilos ou muitos. — ela comentou rindo.

Meu Deus. Como uma mãe pode falar isso de um filho tão especial e talentoso? Eu tive vontade de respondê-la, porém, não queria causar um mal estar entre nós, ainda mais no primeiro encontro. Respirei fundo, serrei os punhos e expliquei que pegaria um remédio para o Santino.

Aproveitei o momento e pedi permissão para passar um café. Aparentemente, a dona Úrsula não me achou a pior pessoa do universo, mas preferi não dá sorte ao azar e ficar com os dois pés atrás.

— Com licença, Dona Úrsula. — pedi andando em direção ao banheiro.

Peguei o remédio para ressaca e segui para a cozinha. No início, demorei para me localizar, como disse anteriormente, essa cozinha é enorme. Para o meu azar, na casa deles era usada uma cafeteira elétrica, então, recorri ao google para salvar o meu dia. Com o tutorial em mãos, segui todos os passos e 'voilá', um belo café passado na hora, apesar de preferir o café feito da forma tradicional.

Coloquei tudo em uma bandeja e levei para o quarto do Santino, que dormia profundamente. Aproveitei o tempo para adiantar algumas pesquisas da faculdade. O Enzo estava esperando um material sobre sistemas de dados. Às 10 horas, o Santino deu os primeiros sinais de vidas.

O meu namorado gemeu baixinho e pediu para que o mundo parasse de girar. Eu não consegui evitar o riso e ofereci o remédio. Mesmo contra vontade, ele tomou a pílula e se cobriu com o edredom, reclamando sobre alguma coisa que não entendi.

— Amor, eu tenho duas notícias para te dar. — falei sentando ao lado da cama.

— Boa ou ruim? — Santino perguntou, ainda debaixo de edredom.

— Depende do teu ponto de vista. Eu acho as duas boas.

— Hum. — ele soltou.

— Tá bom. A primeira é: consegui passar um café na tua cafeteira. E a segunda, bem, a tua mãe voltou de viagem e tivemos um encontro no mínimo interessante.

— O quê?! — Santino levantou na mesma hora e olhou para mim com os olhos arregalados.

Realmente, nada melhor que uma notícia chocante para curar uma ressaca. O Santino queria descer, mas o convenci a tomar o café e um banho. Acho que os problemas veem com uma intensidade menor, depois de um banho gostoso e demorado.

Infelizmente, eu precisei usar as roupas do dia anterior, ou seja, uma camiseta dos jogos escolares da Ufam e uma bermuda do Corinthians. A gente desceu e a mãe do Santino estava na piscina conversando com uma amiga através de uma chamada de vídeo.

Ao ver o Santino, ela desligou o telefone e correu para abraça-lo. Para completar o pacote de desgraçadas, o Sérgio emergiu da piscina e andou na nossa direção. Ele parecia aqueles atores pornôs de filmes baratos. Aparentemente, alguém estava se esforçando para agradar a dona Úrsula.

— Mãe, a senhora não avisou que voltaria e...

— Filhote. Você me conhece. Eu sou a pessoa mais esquecida do universo. Lá estava em na Índia, quando me bateu uma saudade da tapioca com banana. Eu precisei voltar. Foi quase um chamado. — ela disse rindo, dando mais valor para uma comida do que para o filho. — Olha só para você. Está mais gordinho, né? — analisando o Santino da cabeça aos pés. — Esse cabelo sempre desgrenhado e essa barba? Filho. Olha só para o Sérgio. Vocês tem a mesma idade e nem se parecem.

— Não, Úrsula. Aí, eu tenho que descordar. — falou Sérgio tirando os óculos escuros e colocando uma toalha no ombro. — O seu filho é a pessoa mais perfeita que eu conheço. Dentro e fora. Não existe nada de errado com o Santino. Infelizmente, vivemos em uma sociedade onde os padrões de corpos são uma exigência, porém, isso não existe.

— Verdade, né? O importante é você ser feliz, meu filho. — concordou Úrsula abraçando o Santino.

— Fora que o Santino tem um coração de ouro. Mesmo depois de todas as coisas ruins que eu fiz e falei, ele foi capaz de me estender a mão. Eu nunca vou esquecer esse gesto de generosidade. — pegando no ombro do Santino.

O que foi isso, Brasil? De uma hora para outra, o Sérgio virou o fã número 1 do Santino. Ele conseguiu calar a boca da dona Úrsula, que pegou mais leve com o filho. O Santino olhou aliviado para o Sérgio, um olhar de agradecimento. Em seguida, a mãe dele nos convidou para almoçarmos em um restaurante cinco estrelas da cidade.

Levei o Santino para uma área mais reservada e avisei que não poderia ir. De fato, havia combinado com a mamãe que iríamos para o aniversário do seu chefe. Me despedi da Dona Úrsula e pedi um Uber.

— Eu te amo, viu. Não esquenta pelas palavras da mamãe. Ela é assim mesmo. O principal ela já nos deu. — disse Santino me beijando.

— Mesmo?

— Hum. Ela nos deu a benção dela. Inclusive, ela quer marcar um jantar com a tua mãe, mas não precisa ser agora. A gente vai combinando. Pode ser?

— Claro, mozão. — concordei o abraçando. — Meu carro chegou. Eu te amo. Depois eu te ligo.

Entrei no carro e encostei a cabeça no banco. Um turbilhão de pensamentos invadiu minha cabeça. Eu não fui sincero com o Santino e aquilo estava me destruindo por dentro. De repente, o fantasma do Kiko se tornava um grande obstáculo, algo que não deveria ser.

No calor do momento, enviei uma mensagem para o Kiko. Queria uma vez por todas, colocar um fim nessa história que só existia na cabeça dele.

***

Kleber:

Preciso falar com você. Urgente.

Kiko:

Claro. Estou sempre a sua disposição.


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Quando vai entender que a verdade spre irá tira a dúvida do medo

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