Fala CDE tô trazendo a quinta parte do conto segundas intenções para sabermos mais o que aconteceu após a chegada do Gabriel em Salavdor. Espero que curtam e caso seja leitor novo recomendo dar uma olhada nas outras parte. Boa leitura!
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Já fazia alguns meses que estava morando na pensão de dona de Ondina após minha fuga de Santalina. Já começava a esquecer meus traumas lentamente enquanto criava laços com os moradores da pensão. Eu lavava roupa, cozinhava, faxinava e algumas garotas que moravam lá até me davam umas dicas de costura já que viviam com linhas e agulhas concertando erros em suas roupas. Dona Ondina ficava a cada dia mais próxima de mim e juntos criavamos um laço de cuidado e afeto muito bonito. Erick era outro com quem já tinha criado grande carinho, ele sempre estava de alto astral e com um sorriso no rosto para todos os cantos e momentos, ele até conseguiu uma segunda cama para mim. As coisas estavam ficando boas demais para ser verdade, não tinha luxos ou vantagens, me sentia fazendo parte de algo, me sentia bem e feliz de certa forma.
Os moradores da pensão eram muito diferentes das pessoas que conhecia em Santalina. As garotas eram muito unidas mesmo com várias brigas de tempos em tempos, elas sempre se apoiavam e não fizeram segredo ao me contar onde trabalhavam. A maior parte trabalhava como garota de progama, no início eu fiquei um pouco em choque já que não imaginava algo assim, mas elas me ensinavam que não estavam naquela posição por opção, mas sim por necessidade, eu com minha mente de adolescente fiz muito esforço para entende-las e respeita-las. Os outros moradores em trabalhadores simples, vendiam bugigangas, eram faxineiras, viajantes e etc. Não demorou muito para conhece-los e ir aprendendo lições importantes que eles dividiam comigo. Um deles um rapaz jovem que trabalhava vendendo sapatos e chapéus na rua me ensinou a nunca tratar mal ninguém, mesmo em situações de grande raiva, outro me ensinou a ter compaixão sempre e nunca negar a mão quando alguém precisar, uma moça que trabalhava como empregada num hotel me mandou ser honesto sempre e nunca esconder a verdade, mesmo ela sendo terrível. Eu aceitei cada conselho como algo único e importante, nunca os esquecendo.
Depois de meses na pensão eu acreditava que estava tudo bem, todos me tratavam bem e nunca imaginaria que estivessimos com problema, porém numa noite enquanto era assombrado pelos rostos de Henrique e do prefeito nos momentos de fraqueza eu acordei. Levantei e desci as escadas para pegar uma água, já devia estar de madrugada quando passei pela porta do escritório de Dona Ondina. A luz estava ligada e dava para escutar gemidos, como se alguém estivesse chorando. Eu me aproximei e meio desajeitado tentei escutar, consegui distinguir a voz de três pessoas, duas eram das garotas que moravam conosco e uma de dona Ondina, ela parecia estar chorando e sendo amparada pelas meninas. Em um trecho da conversa eu consegui escutar :
- Eu não sei se vou conseguir manter a casa - Dizia dona ondina chorando
- Não dina! Não diga isso nem de brincadeira - Dizia uma delas
- Os números não batem, a cada mês chega menos e menos pessoas
- É essa crise mulher - Uma delas diziam tentando consolar Ondina
- Se eu não conseguir um dinheiro maior em meses talvez eu tenha que fechar a pensão! - Ao terminar essa frase ela caiu no choro
- Você pare viu! Que eu quero saber que se a gente for pra rua o que vai ser de todo mundo aqui. Por que eu não conheço nenhuma outra pensão que aceite um monte de viado, sapatão e travesti no mesmo lugar. Tu é nossa mãe mulher! Tay vai chamar as outras, a gente faz o que tiver que fazer mas isso aqui não fecha! - Dizia ela tomando o controle da situação
- Meninas, mesmo com o que vocês conseguem não da pra manter, até o dinheiro que Erick ganha fica menor a cada época! Se a gente não conseguir outra renda física correndo eu vou ter que fechar isso aqui
Depois de escutar isso eu voltei correndo para o quarto, me sentei na cama e não consegui dormir com medo de no dia seguinte ter que encarar Ondina pedindo pra fazermos as malas. Pra onde iriamos no final ? Para debaixo da ponte ? E a propósito, como Erick tinha aquilo tudo, ele sempre me disse que trabalhava com pessoas mas nunca me disse como. Minha cabeça martelou a noite toda e no dia seguinte eu não parei de pensar na voz deprimida de Dona Ondina o resto do dia, eu não podia ver ela assim, as meninas agiam normalmente mas sempre com discrição, eu não sábia como agir, só sábia que tinha que fazer algo.
Se passaram dias desde que escutei Ondina conversando com as meninas e depois daquilo comecei a notar mudanças visíveis na pensão. Os quartos estavam mais baratos, poucas pessoas apareciam, a comida começava a ser contada e até Ondina parecia mais cansada. Eu decidi dar um basta nisso, passei dias procurando coisas minhas que pudessem ajudar numa venda mas não achei nada. Fui caçando trabalhos em barracas de frutas, peixe e até bugigangas. Nada! Quando um mês se passou desde o dia fatídico eu já começava a me assustar quando via que o número de garotas morando lá tinha diminuido.
Eu não queria ver ninguém passando por aquilo e até cogitei sair da casa, mas não tive essa coragem. Eu já começava a ficar preocupado com a situação da pensão, tudo parecia desmoronar ao meu redor e comecei a imaginar que talvez aquilo fosse culpa minha, talvez eu era o problema, fui o problema em Santalina e agora aqui. Respirei fundo e voltei para quarto, dormi chorando várias noites enquanto Erick roncava na cama ao lado. Mas as coisas estavam prestes a mudar.
Uma manhã eu acordei e fiz o que fazia todos os dias, as 07:30 já estava pronto para ajudar nas coisas da pensão. Vi algumas garotas saindo para seus trabalhos pela manhã e em uma vez única me deparei com Erick saindo também, ele estava com uma mochila e parecia apressado.
- Opa Gabi, descola um pão pra mim ai - Ele correu até a mesa do café - Hoje tenho um trabalho grande, vou precisar de energia pivete
- Claro - Fui até o saco de pão - Erick, onde você trabalha mesmo ? Nunca me falou
- Ah nada não men! Trabalho com gente o dia todo, sabe como é
- E você sabe se eles precisam de alguém ? Você sabe que não tenho medo de trabalho
- Orra rapaz, eu sei - Ele arrancou um pedaço do pão com os dentes - Mas você não ia curtir não, muito peso sabe ? Minhas costas tão fudidas
- Ah...certo - Sorri
Erick abriu a mochila, organizou algumas coisas e pegou algumas frutas junto com uma garrafa de água, se despediu e correu pra fora da casa. Eu no início não deu importância até ir limpar o balcão quando dei de cara com a carteira de Erick, tava cheia de documentos e cartões, eu não pensei duas vezes e corri atrás dele na direção que o vi pela última vez.
No trajeto eu entrando em alguns becos até não conseguir mas um caminho direto e passar a perguntar para as pessoas onde elas tinham visto um cara com as características dele. Eu pensei em ligar mas quando me dei conta já estava bem longe da pensão. Fui andando com certo receio já que não conhecia aquelas ruas e não sábia se poderia encontrar algum maluco igual ao homem que me atacou quando cheguei em Salvador. No final do trajeto cheguei numa rua bem isolada com muitas construções inacabadas, na hora pensei ter me perdido e tentei ne localizar olhando para o local onde só notei uma alta vegetação sem cuidado e algumas poucas casas até bem bonitas e modernas. Eu estava convicto de que me pedir e já caminhava em direção a uma das casas para pedir um telefone, abaixei a cabeça e caminhei um pouco confuso até o outro lado da rua. Foi nessa travessa que tomei um susto. Um barulho intenso de moto foi se aproximando mais rápido do que podia imaginar, me coração acelerou, ela estava vindo na minha direção eu simplesmente travei, minha voz parou e só consegui me agachar e colocar as mãos pra cima tentando suavizar o impacto. Mas para minha surpresa o piloto conseguiu parar a moto segundos antes de um impacto real. Eu respirei fundo e olhei chocado para menos de um dedo que a moto ficou próxima a mim. O piloto desceu da moto e veio correndo em minha direção, ele estava usando capacete e uma jaqueta preta com uma calça do exercito e coturnos.
- Puta que pariu! Cê tá bem ? Quebrou alguma coisa ? - Ele dizia apertando meus braços enquanto estava catatónico
- E-Eu acho que sim, não tem nada doendo
- Quer ir pro hospital ?! Eu ligo pra alguém, você mora por aqui ?
- N-Não eu tava procurando um amigo e... - Perdi a atenção por alguns intantes - Você tem água ? Eu tô um pouco tonto
- Tem um lugar ali perto, eu tava indo pra lá, eu tê dou uma água e vejo se tem remédio
- Muito obrigado, mas eu tenho que voltar pra - Minha mente se distanciou novamente, era uma sensação estranha
- Puta que pariu, sua pressão deve tá baixa pra cacete, consegue andar ?
- Por que não a moto ?
- Por que na moto você apaga de um jeito que só um raio pra tê acordar
- Hahahaha você é engraçado.... - Minha visão ficou turva - Eu acho que eu vou... - Na hora eu apaguei.
Tudo ficou escuro, eu conseguia ter noção de algumas coisas mas me sentia totalmente fora do controle sobre meu corpo. Desmaiaei sobre os braços do piloto desconhecido com seu rosto escondido num capacete, a conversa foi tão rápida que nem teve como ver o seu rosto, eu apaguei e não tinha nenhuma noção do que aconteceu após isso.
Me lembro de acordar dentro de um carro, ele era acoxoado e tinha aquele cheiro de carro novo, era espaçoso e bem escuro, minhas pernas estavam pro lado de fora e meu tronco deitado no banco dos passageiros, parecia ter alguém do meu lado no lado de fora esperando que desce algum sinal de vida. Eu apenas inclinei a cabeça e observei uma estrada num local parecido com onde estavamos. Minha perna formigava um pouco então assim que tive total consciência de tudo e me levantei meio sem jeito. Tapei meu luz forte do sol no lado de fora com meu braço, na hora eu tentei sair mas uma alguém entrou na minha frente. Era um homem muito alto, ele tinha barba muito cheia e era muito forte, naquele clássico estilo de segurança. Ele tinha um ponto no ouvido e assim que me viu acordar falou algo para o ponto. Em instantes um rapaz alto com cabelos raspados e a mesma jaqueta preta que o piloto usava apareceu me olhando de braços cruzados.
- Viu! Eu falei que não ia precisar levar pro hospital - Ele deu um tapa no meu braço
- Onde eu tô ?
- Relaxa, só toma uma água e eu faço questão do bananão aqui te levar pra casa - Ele deu um tapa no segurança, o segurança olhou pra ele sem expressar emoção
- Quem é você ?
- Você não tá me reconhecendo ? Eu quase te matei hoje haha
- Você é o cara da moto ?
- O próprio, agora que a gente já se conhece - Ele estende a mão - Xande, você é ?
- Gabriel, onde eu tô ?
- Não dava pra tê levar pro hospital então eu tê trouxe pra onde eu tava indo - Ele me ajudou a sair do carro - Lux!
- O que é Lux ?
- Eu meio que trabalho aqui
Eu estranhei olhando para ele, desci do carro e dei de cara com um prédio gigante, era todo espelhado num to escuro e logo na entrada tinha um letreiro escrito "Lux : O lado B da vida é aqui" eu me senti confuso até lembrar do folheto que vi no quarto de Erick. Ao redor do prédio tinham vários carros bem luxuosos e ao redor vários seguranças. O local era bem afastado pelo que percebi, Xande andou até mim e colocou as mãos no bolso me olhando. Eu olhei ele pelo canto do olho e demonstrei uma certa confusão, ele andou de costas até minha frente e puxou assunto.
- Quer uma água ? Eu mando o bananão pegar pra você
- Você realmente trabalha aqui ?
- Não, eu sou meio que o dono - Ele sorriu dando um riso - Não, na verdade é o meu pai mas um dia vai ser meu
- É muito bonito...na verdade é a coisa mais linda que já vi de perto
- Sério ? Você diz isso por que ainda não viu por dentro
Xande me olhou sorrindo e me guiou para pegar uma água no interior do prédio. Passando pelo corredor que dava para a recepção tinha uma passarela toda em vidro tocando um música suave e luzes neon desligadas nas paredes. O local tinha vários quadros pequenos com voltas de pincel e vasos muito bonitos lembrando os locais que visitei quando cheguei na capital. Caminhamos até uma area enorme com muitos sofás, mesinhas e até uma pista de desfile com um pole dance enquanto a música ambiente parecia ficar cada vez mais forte. No local também tinha uma longa escada bem estruturada que dava um ar clássico ao local e um bar repleto de bebidas com um homem cheio de tatuagens e barba preparando algo.
- Água certo ?
- Exato - Caminhei olhando os detalhes - Que lugar é esse ?
- Ué, já tê disse Lux
- E o que é Lux ?
Xande o barman se olharem sorrindo de uma forma um tanto intrigante, eu olhei os dois sem entender. Xande se afastou e me olhou
- O que você acha que é ?
- Uma boate ?
- Quase isso, melhor que isso
- Ok, sem mais perguntas - Me aproximei do bar e peguei o copo com água
Após aquela rápida conversa Xande e o barman continuaram a conversar sobre esporte, política e outros assuntos muito por cima. Ele sempre olhava o celular como quem esperava alguma notícia. Eu aproveitava a demora para olhar todos os traços do local e detalhar com o máximo que consegui cada pedacinho. Tudo parecia monótono até a música parar, um barulho de portão abriu e um grupo de rapazes e garotas muito bonitos por sinal apareceram descendo as escadas com garrafas de água e roupa típica de ginástica. Eu não dei muita importância mas eles não paravam de olhar pra mim, se dividiram em grupinhos e me olhavam conversando sobre algo. Eu me senti bem intimidade sendo que nem sábia o que aquilo se tratava, já estava prestes a sair quando uma voz me chamou a atenção. Eu olhei para a escada e me surpreendi vendo Erick sem camisa descendo com outros três rapazes aparentemente rindo até me ver.
- Gabriel ?! Que você tá... - Ele viu que os outros olhavam para ele e disfarçou ~ Que você tá fazendo aqui ? - Disse se aproximando e tocando no meu braço
- Erick ? O que você tá fazendo aqui ?
- Eu trabalho aqui ? E o que você tá fazendo aqui merda ?! - Ele se virou e viu todos olhando pra ele
- Posso saber o que tá acontecendo aqui ? - Xande deixou o celular num canto do balcão e veio até nos dois
~ Puta que pariu Xande! Que merda é essa ?
- Você tá falando do que Erick ?
Eu olhava sem entender. Erick bufou, me pegou pelo braço e correu sem graça olhando para todos tentando disfarçar. Xande foi com a gente até o estacionamento nos fundos tão confuso quanto eu. Erick me soltou e cruzou os braços me mostrando pela primeira vez uma versão sua que nunca tinha visto. Xande ficou calado pensando que um de nós deveria começar a contar mas como não viu resultado tomou conta do controle
- Tá, agora me falem - Ele colocou os dedos entre os nariz e os olhos já se preparando pra uma briga
- Vem cá Xande! Cê tá me rondando ? Que porra é essa ?! Por que esse garoto tá aqui
- Erick, relaxa - Me coloquei no meio dos dois - Ele só me ajudou, eu tava perdido, na verdade eu me perdi tentando tê achar
- Me achar ?! Como assim
- É que hoje, você esqueceu seus documentos e a carteira, eu me preocupei e tentei tê seguir pra entregar
Ele se calou, respirou fundo de alívio e passou a mão no bolso da calça, ele não encontrou nada e viu seu engano. Eu apenas sorri e entreguei a carteira na mão dele sem nada mais para dizer, Xande nos olhou e soltou um urro de alívio ele deu uma risadinha não acreditando no mal-entendido.
- Desculpa Xande, não era pra ter tê acusado de nada
- É! Exatamente, você sabe que sou um cara legal
- Só leva ele pra pensão eu tento fazer a boa vizinhaça com os outros
- Espera! - Coloquei a mão impedindo Xande de se aproximar, segurei Erick pelo braço e eu mesmo me afastei com ele
- Que lugar é esse ? Você trabalha aqui ?
- ...trabalho.
- Por que não me contou ?
- Por que você não ia entender, sempre que eu faço uma amizade normal e conto com o que eu trabalho as coisas ficam estranhas
- Você foi a primeira pessoa que me acolheu quando eu cheguei aqui, como poderia imaginar que eu ia me afastar de uma das únicas pessoas que confio ?
Ele me abraçou, Erick nunca foi frio comigo, nem mal-educado, muito menos malvado. Aquele cara que tinha me ajudado quando cheguei me segurou nos seu braços num instinto meio protetor e não disse nada, ele sábia que não ia ser preciso. Eu sentia que Erick já tinha passado por muita coisa e que aquilo era uma grande coisa pra ele, pra mim também de certa forma, eu nunca pensei que confiaria muito nos outros após Santalina, mas olha o que já aconteceu comigo ? Haha. Erick me soltou do abraço rindo um pouco e olhou pro Xande e se afastou de mim. Xande se aproximou tirando um cisco do olho e tentando disfarçar algo.
- Eu não tô chorando, um cisco caiu nos meus olhos!
- Estamos a luz do dia - Disse Erick se aproximando dele - Bananão, leva ele pra pensão viu
- Ei! Eu que chamo os outros de bananão
Erick deu um soquinho no ombro dele e correu pra dentro da boate. Xande ficou comigo do lado de fora, teclou algo no celular e na hora um carro muito bonito e bem grande parou na nossa frente, ele me mandou entrar e sentou no banco ao lado do motorista. Ele não falou nada, eu olhei para trás pra dar uma última olhada na boate e vi uma cena estranha. Erick parecia ter voltado pro lado de fora e ao dele estavam dois homens bem altos entregando algo, eu tentei ver o que acontecia enquanto o carro se afastava mas não era nítido, só consegui perceber um rosto de apreensão da parte de Erick. Eu me virei e não dei importância para o que vi.
Chegamos na pensão e de cara já levei um esporro de dona Ondina por sumir daquele jeito e deixar todos preocupados. Eu não queria deixar ela preocupada então só pedi desculpas e voltei aos meu afazeres do dia, Xande não falou muito com dona Ondina e logo foi embora fazendo um aceno pra mim. Eu tinha gostado dele, ele era engraçado, um pouco bobo e até que bem bonito. Não vou detalhar ele agora, vou deixar para as próximas partes.
O dia se passou bem rápido, eu fiz tudo que sempre fazia e pensava sobre a Lux. Imaginava como aquele lugar exalava curiosidade, paixão e sexo. Eu não tinha ideia do que faziam por lá mas não focava muito nisso em meus pensamentos. Lembrava de como aquela manhã foi incomum, emocionante e reveladora, eu queria que Erick chegasse o mais rápido possível para podermos conversar sobre e por isso passei o resto do meu tempo fazendo coisas e ocupando a cabeça. Quando Erick chegou ele estava mais agitado que o normal, usava a mesma roupa que saiu naquela manhã e uma mochila que pensei estar com a roupa da ginástica, ele tinha chegado mas cedo e parecia mais agitado que o comum, não falou muito comigo só foi direto falar com Ondina e logo imaginei que ele iria me dedurar e não me surpreendi quando fui chamado no escritório dela. Erick estava em pé me olhando com um semblante sério e Ondina estava com a mão no rosto como se algo muito ruim tivesse acontecido.
- Olha Ondina eu posso explicar, é que eu...
- Não precisa explicar, Erick já me contou
- Você não tá brava ? - Perguntei
- Até poderia estar mas algo muito maior aconteceu - Ela olha pra Erick que estava de braços cruzados - Conta pra ele o que você me disse
Erick suspirou e me encarou - Não era pra você ter estado na Lux, foi por isso que fiquei irritado
- É eu sei, não é um lugar pra mim
- Não, não é por isso - Eu o olhei confuso - É difícil de explicar mas na Lux existe uma coisa chamada olheiro, eles andam por Salvador e outras cidades menores procurando pessoas pra trabalhar lá
- E o que eu tenho com relação a isso ?
- Acontece que quando um olheiro encontra alguém ele manda uma foto pro chefe, o pai do Xande - Erick coçou a cabeça - Hoje na Lux um deles tê viu, ele bateu um click e mandou pro chefe
- E o que isso tem de ruim ?
- Normalmente nada, na maior parte das vezes alguém que um olheiro achou não é chamado - Ele faz uma pausa e olha pra Ondina voltando a olhar pra mim - Só que com você foi diferente, o dono da Lux ele quer falar com você, uma espécie de entrevista
- E se eu não quiser ? - Olho tentando entender
- Você não tem escolha, o Montero que é o dono da Lux ele não é uma pessoa que aceita nãos, ele tem muito poder aqui e em outros lugares...você vai ter que ir
- Vai ser como um emprego ? Vou receber algo ?
- Gabriel ?! - Ondina se levantou assustada com minha pergunta - Ele acabou de dizer que um bandido quer falar com você! Eu não vou deixar você voltar a pisar o pé lá
- Dona Ondina! Eu sei que não é fácil de entender mas eu sei o que tá acontecendo aqui, a senhora não tem dinheiro nem mais pra pagar as faxineiras, a despensa tá esvaziando a cada semana - Me levanto - Vocês cuidaram de mim, agora eu vou cuidar de vocês
- Você não vai cuidar da gente se colocando em risco - Erick tomou a frente
- Eu já tomei a minha decisão. Eu vou pra essa entrevista
Erick e Ondina se olharam, eles não queriam me deixar fazer isso. Achavam que estava sendo estúpido, burro e sem noção, mas eu sábia o que estava fazendo. Não ia colocar ninguém em risco e se aquele era o momento para mostrar a minha gratidão eu ia fazer isso. Eles não fizeram outros gestos, só abaixaram a cabeça e pensaram por poucos minutos. Eu já estava apressado e ansioso, queria um retorno naquele momento. Os dois se olharam mais uma vez e Erick se aproximou.
- Vai ser amanhã, bem cedo - Ele colocou a mão no meu ombro - Você não sabe o que vai fazer...
- Erick, não se preocupa comigo, nem você nem a senhora dona Ondina - Abracei ela o mais forte que consegui - Vai ficar tudo bem.
E assim se passou o finalzinho do dia, voltei pro meu quarto finalmente podendo jogar toda minha tensão pra fora. Eu não sabia o que tinha feito, por que fui chamado ou o que aconteceria comigo. Aquele foi um dos raros momentos onde queria voltar pra Santalina, minha vida não era perfeita lá mas eu ainda tinha meus amigos. Imaginava em Bernado me abraçando e criando mil formas pra me proteger. Duca super assustado e se preparando pra meter a mão em alguém. Pensava em Gui sem saber como agir e falando coisas desconexas só pra me fazer me sentir melhor. Eu queria eles aqui, queria eles todos os dias, mas não podia te-los ao meu lado.
O resto da minha noite foi uma verdadeira aula de como agir. Erick voltou pro quarto me avisando sobre muita coisa, me explicou como sentar, como falar e até como contornar assuntos polémicos. Ele sempre cortava coisas importantes pra me fazer não ter tanto medo mas eu sabia que a coisa não ia ser tão simples. Depois de horas de explicação ele se sentou comigo, bebeu um pouco de água e respirou fundo.
- Levanta - Eu prontamente obedeci - Se você vai falar a cara a cara com o Montero ele vai tentar ao máximo tê desestabilizar, ele não quer um funcionário, quer alguém que o faça sentir prazer só de olhar - Ele se levantou se aproximando - Com ums é a dor - Ele levantou um pouco a camisa mostrando um machucado, eu tremi e me afastei
- Onde você quer chegar ?
- Pra outros é o prazer - Erick segurou com as duas mãos na minha cintura - Ele vai invadir o seu espaço e achar um pedacinho na sua mente, entregue o seu corpo, mas não a sua mente - Ele me apertou contra seu corpo nos deixando coladinhos.
O corpo de Erick era quente, nossas barrigas se tocavam e suas mãos pressionavam cada vez mais meu corpo contra o seu. Ele era bem forte usava uma camisa fina que deixava seu abdómen sarado bem visível. Sua calça também de um tecido mais relaxado me cutucava com um pau um pouco meia-bomba. Ele respirou fundo sentindo aquela atmosfera e me soltou.
- Tira a roupa
- Eu não vou tirar a minha roupa na sua frente
- Mas vai ter que tirar pro montero, você entende que aquela boate não é só uma boate - Ele me olhou como nunca olhou antes, numa mistura de maldade com preocupação - Tira a roupa
Eu não retruquei, me distanciei e fui tirando peça por peça, deslizando a camiseta para fora do meu tronco e mapeando a minha calça até o chão no quarto. Eu estava morrendo de vergonha, fiquei só com a cueca branca olhando Erick pelo canto do olho já que não tinha coragem de olhar diretamente. Ele caminhou até mim e me olhou como um general olha pro soldado. Eu tremi um pouco, ele agachou e como se tirasse um curativo arrancou a cueca me deixando totalmente nu no quarto.
Erick não parecia ser mais a mesma pessoa, ele caminhou ao meu redor como se me analisasse como um pedaço de carne. Eu sabia que ele não ia tentar nada, mas na hora eu me lembrei de Henrique tirando minha virgindade da praia, de como ele me tratou com amor mas ao mesmo tempo como um pedaço de carne. Eu tentei ficar frio com aquilo porém as imagens daquele momento insistiam em se misturar com a noite da praia. Erick e Henrique se misturavam, seus corpos viravam o mesmo e a minha vontade de chorar só aumentava. Erick parou e me olhou me tranquilizando, seu rosto brincalhão parecia ter voltado e ele só disse
- Porra Biel! Quem diria que você era esse filé todo viu - Ele riu - Você vai matar o Montero assim que ele ver você
Eu respirei fundo e sorri com Erick, meu espirito tinha se acalmado. Ele jogou as roupas para mim e em poucas horas já nos preparavamos pra dormir. Infelizmente só ele conseguiu esse feito, eu passei o resto da noite repassando lição por lição que tinha recebido e jurando a mim mesmo que não ia ser escolhido para tentar me acalmar. A noite daquela vez pareceu ser eterna, toda vez que olhava no relógio nada parecia mudar, eu já estava com a mente em frangalhos até que lentamente as estrelas foram se apagando e vi que passei quase a noite inteira em claro. Erick acordou, nos arrumamos e silenciosamente saimos do quarto, nem sequer devia ser 08:00 mas Erick insistiu dizendo que Montero era um homem extremamente pontual. Eu não discordei, me despedi de Ondina que estava extremamente preocupada e caminhei com Erick por ruas diferentes do dia anterior até chegarmos por outras vias ao lux. Quando chegamos nos deparamos com uma fila de garotos e garotas no interior super bonitos e com algumas pastas na mão, eu estava tão simples que passei despercebido. Esperei durante horas vendo eles sendo chamados e saindo com emoções totalmente diferentes até que uma moça alta me chamou. Eu respirei fundo e me levantei.
- É Gabriel...é agora ou nunca.
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É galera, as coisas pro Gabriel tão mudando muito rápido, será que ele vai conseguir ? Como essa nova fase vai acabar ? Essas perguntas vão ser respondidas nos próximos capítulos. Enquanto isso pode deixar sua opinião aqui em baixo ok ? Vlw por tudo e até a próxima