Álibi perfeito

Um conto erótico de Aparecido Raimundo de Souza.
Categoria: Heterossexual
Contém 1485 palavras
Data: 30/05/2019 19:59:04
Última revisão: 30/05/2019 20:04:43
Assuntos: Heterossexual

Álibi perfeito.

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.

O CASALZINHO CHEGOU ao consultório de um terapeuta sexual. Depois de preenchidas as fichas na recepção e pago o valor devido, à atendente os encaminhou para a entrevista. O especialista se abriu num sorriso largo e gentil. Indicou uma cadeira:

- O que posso fazer por esses lindos pombinhos?

A jovem encarou o doutor e perguntou, de chofre:

- O senhor se incomodaria em ver a gente transar?

Espantado com a indagação, o médico titubeou. Aquilo nunca acontecera antes em sua vida profissional. Contudo, diante da insistência da moça e também do rapaz balançou a cabeça afirmativamente:

- Ok. Que mal há? Sempre há a primeira vez.

- Um detalhezinho, se não for incômodo. Na verdade, queremos pedir ao senhor um obséquio. Se for possível, claro.

- Oxalá pelo rumo que as coisas estão tomando por aqui, podem se sentir à vontade. Sou todo ouvidos.

- Enquanto estivermos fazendo nossas proezas, por favor, só observe. Não diga nada. Nem nos interrompa. Pode ser?

Com a imediata concordância do esculápio, a dupla se desfez das roupas num abrir e piscar de olhos. Após isso, ignorando a presença daquele homem profundamente introspectivo e sisudo sentado atrás da sua mesa enorme, se acomodaram num confortável sofá retrátil. Com a naturalidade dos desinibidos, se abraçaram e se beijaram de língua demoradamente. Logo depois, apimentaram a coisa. Foi o melhor da festa.

- Amor – perguntou a certa altura o rapaz com a voz melosa. – Posso lamber seu cuzinho?

- Claro, meu príncipe. – disse a graciosa, em êxtase. - É todo seu...

- Fique de quatro pés.

Ela obedeceu inteiramente submissa.

Em toda a sua carreira, o doutor jamais se deparara com pacientes dessa natureza. Para ele, aquilo que acontecia ali, a sua frente, ao vivo e a cores, era novo e indescritível. A princípio ficou realmente quieto e estático, meio que travado, só observando. Todavia na medida em que o casal começava a permutar carícias cada vez mais ousadas, seu lado homem aflorou e ele, nervoso, desandou a comer as unhas.

- Amor, agora eu quero tomar mamadeira. - Balbuciou a fêmea com a respiração ofegante. - Você me dá mamadeira?

- Está com o bico quentinho e pronto para enfiar na sua boquinha, minha rainha.

- Manda vê. Até a goela...

O rapaz se posicionou na frente dela, em pé, no sofá. Do meio das pernas dele, como por encanto, surgiu uma vara comprida e grossa, a cabeça vermelha, latejando. Sem pestanejar, ela se ajoelhou e deu inicio a uma chupada que botou os nervos do doutor à flor da pele. Seu coração batia, descompassado. Nesse instante a garota se tornou sensual, se soltou como uma vagabunda bem puta, bem rameira, sem medo de esconder a fome que sentia em sugar o pau do seu homem amado. Como uma doidivanas, a graciosa escalou o bastão roliço e comprido com a ponta da língua, dando pequenas e rápidas mordiscadas. Como uma indomável, subiu e desceu, desceu e subiu com a boca cheia, como se buscasse, por entre as salivas que escorriam pelos cantos dos lábios um pedacinho ainda não engolido da piroca troncuda. A felação durou vinte minutos.

- Enfia tudo – Gritou a safadinha. - Quero ver essa mamadeira soltando leitinho dentro de mim. Leitinho quente. Vai meu tesudo, me fode, me come, me rasga...

Senhor absoluto de si, desembaraçado e intensivo, o garanhão atacou. Procurou, no mistério da penetração, um ponto desconhecido. Ela faz trejeitos ensaiados, rebolou numa intermitência cadenciada e gritou, berrou, arranhou as costas dele quando a melhor hora do recreio explodiu em liquido fluente. Saciados, o suor a escorrer, se recompuseram. Antes de saírem, se viraram para o médico e marcaram uma nova seção.

- Próxima quinta-feira, mesmo horário. Está bom para vocês?

- Perfeito doutor. Até mais ver...

Impreterivelmente desde essa prima vez, todas as quintas-feiras, mesmo horário, os dois jovens se fizeram presentes. Mal se acomodavam na sala do médico, se entregavam, sem titubearem, aos prazeres exultantes da carne. O doutor observava, em cada seção, eles promoviam farras recheadas com pequenas pitadas de coisas novas. Evidentemente ambos pareciam não ter a intenção de cair na rotina. Sempre aflorava uma ou duas inovações com posições diferentes, notadamente na maneira como se pegavam se entrelaçavam e se possuíam.

Uma loucura sem precedentes. Ela, eternamente afobada e incansável, parecia querer sempre mais. Ele, ousado, valentão e com o ferro em brasa para toda obra, não decepcionava. Houve uma quinta-feira, em que o médico se descontrolou de vez. Partiu para um cinco contra um. Esse fato o deixou satisfeito. Bom tempo não batia uma punheta tão relaxante. Nem mesmo quando vira a sua secretária só de calcinha, no banheiro, enquanto a dadivosa trocava a saia e se enfiava no jaleco branco de trabalho.

A vinda do casal todas as quintas-feiras se estendeu por seis meses. Sem que os dois percebessem, o terapeuta passou a interagir com eles. Ora descascando uma banana, escudado por sua mesa enorme, ora enfiando no rabo uma baita pica sintética que comprara numa dessas lojas especializadas em produtos eróticos. Contudo, um ano depois, exatamente um ano depois, o doutor resolveu tirar a coisa em pratos limpos. Na quinta-feira, depois que os ânimos se acalmaram e os dois se preparavam para irem embora, o especialista pediu que ambos se sentassem diante dele e, como da vez inaugural, em que ali estiveram a pedir seus cuidados, se abrissem num papo sério.

- E aí, doutor. Algo errado?

O terapeuta coçou a cabeça antes de dar o veredicto:

- Não há nada de errado como vocês fazem sexo. Aliás, não há nada de errado com nenhum dos dois. Tudo o que presenciei está dentro dos padrões normais...

- Mesmo as nossas variações?

- Fazem parte da libido, ou mais corriqueiramente falando, do insondável obscuro e sibilino que rege esse lado esfíngico e alegoricamente umbrático e metafórico que carregamos dentro do corpo. Esse, meus meninos, é o famoso espaço assombroso que eu chamaria de lado Zen. Aquele feérico impenetrável e escondido a sete chaves dentro de cada um de nós.

Foi à vez de a beldade interpelar:

- E quanto a mim, o que o senhor teria a dizer?

- Pouca coisa. Uma moça normal. Uma mulher completa. Sabe ser a parceira ideal. Geme, grita, chora se contorce, se dá e se entrega. Tem um linguajar sacana, bem aprimorado, sem ser vulgar. Certamente seu macho, após o coito, eu acredito piamente, fique completamente leve, satisfeito e feliz. Basta olhar para os olhos dele.

O misterioso casal se levantou. Hora de dizer adeus:

- Podemos ir agora?

- Antes eu gostaria que me esclarecessem uma dúvida. Uma dúvida que está martelando a minha cabeça, exatamente há doze meses. Pode ser?

- Claro. Afinal, nesse tempo de convivência em seu consultório, acho que criamos um vínculo, um laço de amizade. Pois não doutor? Qual a sua dúvida?

- Eu disse que não há nada de errado na maneira de como vocês fazem sexo, ou amor, como queiram. Vamos melhorar a coisa. Esdruxulamente como vocês trepam. Afinal o que estão tentando descobrir? Juro que, embora tenha larga experiência com casais de todos os tipos, não consegui, pelo menos até esse momento, atinar com o problema que os aflige. Pelo amor de Deus, se abram... ou enlouquecerei...

- Na verdade doutor, não estamos tentando descobrir nada. Nem temos, por conseguinte, problema algum. O senhor mesmo acabou de nos revelar que somos normais.

- São perfeitos. Mas, qual é, então, a lógica? Cada vez que vêm aqui, pagam R$ 70 reais pela consulta à minha secretária. Se formos somar o número de vezes em que aqui estiveram nesse um ano, sem a dispensação de uma quinta feira sequer, chegaremos a uma pequena fortuna. Onde querem chegar?

- A lugar nenhum, doutor. O problema é que ela é casada com um delegado da polícia federal. Por essa razão, eu não posso ir a casa dela. Ou ela à minha. Tampouco andar por ai, frequentar restaurantes, boates, barzinhos, ou qualquer outra forma conhecida de exposição publica.

O rapaz fez uma pausa. Em seguida, continuou:

- Some a isso que também sou comprometido. Minha esposa é juíza federal. Mesmo caso. No geral, a velha e repetida história. Em paralelo, num motel de luxo, com toda privacidade, um quarto não sai por menos de R$ 200 reais. Em outro, R$Continuo boiando... seja mais explícito.

- A matemática é simples. Raciocine comigo. Aqui no seu consultório, nos pegamos todas as quintas feiras e como o senhor mesmo viu, fazemos coisas que até o diabo duvida. E tudo numa boa, sem nenhum tipo de aporrinhação ou contratempo. Englobado no mesmo pacote, tudo por apenas R$ 70 reais. Sou reembolsado em R$ 42 reais pelo plano de saúde e, o melhor, meu prezado. Como o senhor me dá recibo, tenho, ainda, o direito de abater no meu imposto de renda, como despesas médicas.

(*) Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, do aeroporto de Viracopos, Campinas, São Paulo.

do livro "A periquita e o pintinho". Edições Catavento São Paulo Capital. 1ª ediçãopáginas.


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Comentários

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