Vampire Project.
●Capítulo-2
●" Reencontros "
Para pessoas que não possuiam conhecimento algum sobre o mundo noturno, a instituição Lafaiate era apenas conhecida por ser um dos melhores colégios internos da cidade. Frequentada apenas por alunos de elite, de mais alta classe social. Os rumores diziam que pouquíssimas pessoas eram aptas a conseguir uma vaga. O que certamente dificultava o acesso a boa parte dos habitantes daquela pequena e pacata cidade. E essa era mesmo a intenção, pois, aquele não era um lugar para humanos . Mas sim, um ambiente para que Vampiros recém despertados pudessem se adaptar e assumir controle de suas faculdades mentais, com a supervisão e auxílio de outros vampiros mais experientes. Pierre foi quem fundou a instituição Lafaiate,com o consentimento do círculo de caçadores.
Por muito tempo, aquele lugar assombrou Vicktor em seus sonhos. Mas agora era diferente, porque ele estava lá, e para ele estar naquele lugar, era um pesadelo.
[...]
Os raios solares entravam por uma pequena brecha da janela, iluminando o ambiente. O garoto ainda sentia a parte de trás de sua cabeça latejando devido ao golpe que recebera na noite anterior. Vicktor despertou , sentando-se na cama enquanto olhava em volta do quarto. Ele sabia onde estava, mesmo assim nunca imaginou que a instituição Lafaiate fosse tão refinada. Por um momento ele realmente acreditou que ainda estivesse na mansão Lankaster.
A cama era de casal, com uma imponente cabeceira dourada. Ao lado havia uma mesa de madeira rústica, com um farto café da manhã, pães, manteiga, maçãs, ovos mexidos, um bolo, chocolate quente e também suco de laranja. Haviam vários castiçais espalhados por todos os cantos do quarto, ao lado da cama, em frente ao espelho, em cima da escrivaninha próximo a porta. As janelas eram imensas, com vitrais coloridos que iam do chão ao teto, as cortinas negras feito ébano estavam todas fechadas, apenas uma brecha fora deixada aberta. Varias estantes abarrotadas de livros rodeavam o quarto.Havia também uma poltrona vermelha do outro lado da cama.
O coração do garoto disparou quando se deu conta de que não estava sozinho.
- Bom dia, pequeno. Enfim despertou. -disse Pierre, com um sorriso no rosto.
- O que faz aqui?- perguntou Vicktor, erguendo os cobertores. O garoto percebeu que estava vestido com outras roupas, e embora essas também fossem pretas, não eram as suas. Pierre não conteve o riso debochado ao ver a reação de Vicktor.
-Você se sentiria melhor se eu lhe dissesse que foi Dayene quem lhe trocou?
Vicktor sentiu o rubor subir pela sua face. Mas se acalmou logo em seguida. Com tantos problemas a frente, aquela era uma de suas últimas preocupações. Pierre percebeu a expressão aflita do garoto, e então perguntou.
- Como se sente hoje?
- Como você acha? -Respondeu Vicktor, esfregando a mão na cabeça.- Como foi que Geórgio agiu, depois de tudo?
- Ele ficou... Muito preocupado, mas não decepcionado. Me deixou encarregado por manter você e seu irmão Urick em segurança.
"Geórgio nunca confiaria em um vampiro! Ou... sim?"
- seus pensamentos são gritantes,Vicktor.- Disse Pierre serenamente.O homem se levantou da poltrona em caminhou até a janela. Seus olhos tornaram-se ainda mais vermelhos sob a luz daquele sol matutino que entrava timidamente por uma brecha, iluminando parte do quarto. - Geórgio é um bom homem. E como todo homem, possui segredos.
"Segredos"- pensava Vicktor - "segredos os quais ele não quis dividir conosco."
Pierre direcionou o olhar para Vicktor, e então sorriu mais uma vez.
- para protegê-los- disse Pierre. - Geórgio achava que poderia afastá-los do perigo se escondesse a verdade sobre a existência vampírica. Apesar disso, ele fez o que fez, para protegê-los.
Vicktor sentiu uma pontada no coração, a dor foi tamanha que lhe fez perder o fôlego por alguns instantes.
- É melhor não ocupar sua mente com problemas que não pode resolver.- disse Pierre. - Aproveite o café, descanse. Sei que nenhum tipo de alimento lhe apetece no momento, mas ainda precisa se alimentar.Depois, vista o uniforme que deixei na cômoda, e os cavalheiros que guardam o quarto o levaram até minha sala.Temos muitos assuntos a discutir.
Vicktor direcionou o olhar para a mesa ao lado, e percebeu que realmente nenhum daqueles pratos o atraía. Pierre estava quase se retirando do quarto, quando Vicktor o deteve ao perguntar.
- E Ethan?- A voz do garoto ficou trêmula assim que despejou as palavras.- O que ele disse? Ele provavelmente deve ter feito alguma coisa!
- No momento, o melhor que tem a fazer, é cuidar de si mesmo.
Com isso, Pierre se retirou.
Vicktor sabia que aquilo era o certo a se fazer, mas não conseguia para de pensar em tudo o que estava deixando para trás. Geórgio, a casa Lankaster, sua antiga escola. Vicktor nunca foi muito sociável mas ainda assim tinha algumas colegas com quem partilhava segredos. Tudo isso estava em risco agora. Mas dentre todas essas coisas, o que ele mais temia perder era... Ethan, a amizade dele.
"Ele esteve comigo desde o início. "- pensava consigo -" não posso me dar ao luxo... De lamentar agora.Eles são o meu bem mais precioso."
Com esses pensamentos em mente, Vicktor se levantou da cama, jogando os cobertores no chão. Foi até a cômoda e abriu a primeira gaveta. Pegou o uniforme e o jogou em cima da cama.
"Nada mau"-pensou, enquanto analisava o uniforme.
Uma camiseta branca, um colete negro com o emblema da instituição Lafaiate, um blazer preto, com botões prateados e um broche em forma de crucifixo, incrustado com pedrinhas brilhantes ao redor e uma pequena esmeralda no centro.
Ele vestiu o uniforme, peça por peça, rejeitando apenas a calça,pois ele não havia gostado dela. No lugar, vestiu seu Jeans escuro ajustado. Rejeitou também os sapatos sociais, usando suas botas de couro.
O garoto caminhou até o espelho. Suspirou enquanto encarava seu reflexo. Vicktor concluiu que não estava tão mal. Embora estivesse muito pálido, seu rosto ainda possuía um leve tom rosado. Seus olhos cansados, marcados por olheiras ainda emitiam disposição. Ele não se sentia tão forte como antes, mas sabia que já havia encarado dias piores.
Caminhou até a brecha da cortina que havia ficado aberta, observando o dia lá fora. Ao contrário do anterior, aquele era um dia ensolarado.
"Não posso fraquejar."- pensava consigo -"Não irei fraquejar!"
Vicktor puxou a cortina com toda a força que conseguiu reunir, abrindo todas elas, uma a uma até iluminar o quarto por completo. Ele sentiu um leve desconforto no início, que logo em seguida evoluiu para uma ardência, se espalhando por todo seu corpo.
"Não é tão ruim assim. Posso suportar."
Vicktor sentia-se abençoado por ainda ter a capacidade de se expor ao sol sem ser consumido pela dor. Ele se perguntava, quanto tempo ainda teria? Quantos banhos de sol ele ainda poderia tomar? Quanto tempo lhe restava até que sua sanidade fosse completamente consumida pela sede de sangue?
Somente o tempo seria capaz de responder a esses questionamentos.
Como Pierre havia dito, dois Vampiros guardavam o quarto ao lado de fora.Ambos possuiam uma aparência jovem, Vicktor julgou que deveriam ter no máximo 20 anos, em termos humanos. O garoto foi recebido com nada mais do que um seco "bom dia" e foi conduzido até a sala de Pierre.
O caminho até o destino foi longo e silencioso. Nenhum dos rapazes entre Vicktor se atreveu a dizer uma palavra sequer.
A instituição Lafaiate possuía uma arquitetura gótica, semelhante às catedrais do século XV. Haviam várias estátuas posicionadas em fila ao longo dos corredores, quadros com ilustrações vampirescas e outros elementos peculiares. Mas o que mais chamava a atenção do garoto, eram as pessoas.
Toda vez que Vicktor passava por uma janela, ele direcionava o olhar para fora. O jardim era imenso, decorado apenas com rosas brancas e vermelhas. O garoto percebeu que não haviam pessoas fora da mansão, e bem poucas em seu interior.
"Aparentemente, um lugar tão silencioso quanto a casa Lankaster. "
Os rapazes que acompanhavam Vicktor o deixaram em frente a sala de Pierre.
- Nós estaremos aguardando aqui.-disse um deles.
-Obrigado -Respondeu, timidamente.
Vicktor abriu a porta sem bater, mas anunciou sua entrada logo em seguida.
-Olá?
A sala era tão grande quanto um salão real. Inteiramente rodeada por imensas prateleiras abarrotadas de livros. As cortinas estava todas fechadas, deixando o ambiente submerso em sombras.Vicktor caminhou até uma das janelas e a abriu, iluminando parte do local.
-Olá?- perguntou novamente, enquanto olhava em volta da sala. Vicktor já estava subindo os degraus da escadaria quando escutou.
- por aqui!
O garoto encontrou Pierre no andar de cima, sentado em frente a escrivaninha, segurando uma taça na mão. O líquido vermelho que havia em seu interior fez o coração de Vicktor disparar. Mas ele manteve o controle, forçando sua mente ao máximo para se concentrar em outra coisa.
Pierre estava vestido com um uniforme semelhante ao de Vicktor. Não usava o blazer, apenas o colete, aberto. Deixara três botões da camiseta abertos, deixando parte de seu peito a mostra.
- sente-se, por favor.- sugeriu Pierre, gesticulando com a mão. O garoto se aproximou lentamente, sentando-se em frente ao vampiro.
Ambos ficaram em silêncio por alguns instantes, apenas encarando um ao outro.
-Você veio cedo.- disse Pierre, tomando a iniciativa.
- Você também. -Respondeu Vicktor, desviando o olhar logo em seguida.
Pierre esvaziou a taça em um único gole, depois, limpou os lábios com os dedos e prosseguiu.
- lhe chamei aqui, porque tenho algas orientações a lhe passar. Mas antes disso, preciso saber, qual será sua escolha?
Vicktor não deu respostas ao homem. Ele sabia a que Pierre estava se referindo, apenas não conseguia entender o motivo de ele lhe fazer perguntas tão óbvias como aquela sendo que já sabia a resposta.
-Como imaginei - disse Pierre- Você fará o mesmo que seu irmão fez.
-É óbvio.- confirmou Vicktor, com confiança.-E eu irei conseguir.Nós iremos conseguir.
Pierre não acreditava no garoto a sua frente. Ele podia facilmente perceber que toda aquela coragem e confiança, não passavam de uma tentativa desesperada de se sentir forte e protegido.
-Sua determinação é...Admirável.-Disse ele,com doçura, escolhendo cuidadosamente cada palavra.-Mas como sou responsável por você agora, meu dever é lhe alertar. Urick também era um garoto forte, destemido e determinado quando chegou aqui. Mas as coisas mudaram.
-O que quer dizer com isso?
-Quero apenas dizer que... Reprimir a natureza vampirica, embora seja possível, é algo...Muito, muito raro.O caminho é longo e tortuoso. Urick era um garoto forte, ele realmente era assim, e não progrediu. Os dias de seu irmão aqui na instituição foram absurdamente dolorosos. Tem certeza de que quer seguir por este mesmo caminho?
-Tem que ser assim.-Respondeu Vicktor, logo após se lembrar de Geórgio,Ethan, e todas as outras coisas que teria de deixar para trás.
-Está decidido então.-Confirmou Pierre,abrindo uma gaveta a sua frente.Ele pegou de lá um colar de prata fina,com uma aliança dourada como pingente e o colocou em cimada mesa.-Para sua proteção,é melhor que use isto.
-Por que?-perguntou Vicktor , enquanto analisava o colar em suas mãos.
-Você pode ter escolhido permanecer humano,mas está em transição mesmo assim.Isso lhe protegerá dos danos causados pela luz do sol.
-Obrigado-disse o garoto,guardando o colar no bolso.-Mas não acho que seja necessário.
-Faça como quiser.Mais cedo ou mais tarde,você terá de usá-lo de qualquer forma.
"Até agora, tudo bem."-pensava Vicktor consigo.-"tudo está sob controle"
Apesar de o garoto tentar se convencer de que tudo estava bem, no fundo, ele sabia que as coisas não eram assim. Vicktor ainda possuía inúmeras dúvidas, e não poderia se retirar daquela sem respostas.
-O que eu devo fazer?-perguntou por fim,a voz trêmula. -Digo, existe alguma rotina nesse lugar? Obrigações, aulas ou algo do tipo?
Pierre negou com a cabeça, depois prosseguiu.
-Existem obrigações apenas para Vampiros que decidem permanecer aqui na instituição. Mas não é necessário e muito pouco recomendável que você saiba do que se trata. Afinal, você já fez sua escolha. Esses assuntos pertencem ao mundo noturno.
Pierre sorriu ao avaliar a expressão vazia e indifrente de Vicktor. Ele gostava da forma como o garoto se esforçava para ocultar seus sentimentos, sua evidente fragilidade.
-Não posso negar.- prosseguiu o vampiro.- seus dias aqui serão bem tediosos. Pessoas em suas condições não são muito bem vistas aqui na instituição. É algo duro de se dizer, mas um fato. A maioria dos Vampiros se sentem ofendidos com a rejeição dos humanos. Dizem que abrir mão dos inúmeros benefícios que a imortalidade traz é um ato arrogante e estúpido.
Desta vez, Vicktor não pode conter a expressão de espanto.
-É muito fácil para vocês dizerem isso! Quantos anos tem, Pierre? Aposto que até hoje deve se lembrar das coisas que deixou para trás. -O garoto se levantou da cadeira com brutalidade, andando agilmente de um lado para o outro, deu um giro e depois foi até Pierre, apoiando as mãos na mesa e aproximando seu rosto junto ao dele.-coisas que somente podem ser feitas sob a luz do sol.Coisas que aquecem o coração.
Vicktor deixou o colar que Pierre havia lhe dado em cima da mesa e virou as costas logo em seguida, prestes a se retirar.
- suponho que isso, você não deixará para traz.
As palavras do homem o fizeram parar. Ele direcionou o olhar para Pierre e então viu, em suas mãos, a data de Geórgio.
- É um presente de aniversário, seu pai deu a você.
- Me dê isso!-gritou o garoto, caminhando até a mesa.- Me entregue isso, por favor!
- Eu vou lhe devolver, sim.-disse Pierre rigidamente, apontando a lâmina da adaga para o garoto.- Até porque, um garotinho com o seu temperamento instável vai precisar bastante disso estando aqui. Mas antes disso.
O homem abriu novamente a gaveta e pegou uma chave, depois esbarrou ela ao fecha-la.
- Venha comigo!-disse Pierre, puxando Vicktor pelo braço. O garoto teve que correr para acompanhá-lo enquanto descia as escadas.
-Me solte!Agora mesmo- -protestava, tentando se separar do vampiro.
- vou lhe mostrar uma coisa!- Respondeu Pierre, levando Vicktor para fora da sala.
Os dois Vampiros que aguardavam Vicktor se espantaram conta a forma bruta com que Pierre saiu da sala. Ele cruzou por eles sem dizer uma palavra.
-Eu estou dizendo para você me soltar!
Os dois passaram por todo o corredor,Vicktor o insultava aos berros sem parar, chamando a atenção de algumas pessoas que passavam por eles, outros, até espiavam com a porta entreaberta para ver o que se passava.
Pierre levou Vicktor para fora da mansão. Estavam indo em direção ao jardim.O garoto obrigou-se a cobrir os olhos com a mão.
-viu só?-disse Pierre, ironicamente. -Eu disse que deveria usar o amuleto!
Depois de passarem pelo jardim,Pierre levou Vicktor até os dormitórios.
- Veja só...- disse ele.- esta área é apenas para Vampiros em transição. Ou seja, Vampiros que estão a beira da morte.
Ele puxou o garoto para perto, e abriu a porta. Cruzaram o salão principal, subiram ao escadaria e andaram pelo corredor. Pierre parou em frente ao quarto com o número 12, e usou a chave para abri-lo.
O coração de Vicktor estava prestes a explodir.
-Entre. -disse Pierre.-veja você mesmo.
Vicktor entrou no quarto, e por um instante se sentiu aliviado.Ele se aproximou da cama, e se sentou ao lado do irmão.
Ele estava dormindo. Mas parecia bem.
"Urick"
-como ele está? -perguntou Vicktor, como os olhos transbordando em lágrimas. Pierre deu um sorriso, caminhou até Vicktor e depois disse.
- olhe para a cômoda.
Vicktor sentiu suas veias arderem ao por os olhos no cálice sujo de sangue.
-coisas que somente podem ser feitas sob a luz do sol.- disse Pierre, imitando o tom de voz frágil de Vicktor. - coisas que aquecem o coração.Podem ser facilmente substituídas.
Pierre deixou a adaga em cima da cômoda, antes de sair, disse.
-Não demore muito. O recomendável é que você fique em seu quarto.O dia todo.
[...]
Vicktor suspirou aliviado depois que Pierre se retirou.
"Tão difrente."-pensava consigo, enquanto analisava Urick.
Urick ainda estava muito abatido,mas até mesmo sua palidez não parecia mais tão doentia como antes. Estava magro, debilitado, mas seu sono parecia pacífico e sem dor. Seus cabelos castanhos estavam na altura dos ombros, ele ainda usava o piercing que Ethan havia colocado em seu lábio inferior, e também o colar de miçangas que Vicktor havia lhe dado um dia antes de ele deixar a casa Lankaster.
Vicktor mais uma vez direcionou o olhar para o cálice ao lado da cama.
"Então... Essa foi sua decisão.."- pensava o garoto, acariciando o rosto do irmão.-"quando acordar, será imortal. Ethan lhe daria uns bons tapas se soubesse disso, com certeza."
Vicktor realmente tinha razão. Ethan não suportaria a notícia. Mas o fato é que ele já não pensava mais assim, naquelé momento, seintia-se aliviado.
"Ao menos... Você está aqui, Urick. Não ficarei sozinho nesse lugar."
Tudo o que ele precisava saber era se Urick ficaria bem. E agora, aquilo já era certo. No entanto, o que lhe atormentava era que, ele não sabia como seria. Depois que Urick despertasse.
"Ele não será o mesmo."-Dizia Ethan-"nunca nos trataria da mesma maneira!"
O garoto de alguma forma sabia que Urick jamais deixaria de ser o mesmo. Mas também sabia que não podia confiar em Vampiros.cada segundo que ele passava naquele lugar o fazia ter mais certeza disso.
Vicktor não gostava de ser desobediente, mas fez justamente o oposto do que Pierre havia lhe instruído. Passou o dia todo sentado ao lado de Urick.
Durante a tarde,ele bisbilhotou pelo quarto, organizou os livros em ordem alfabética,observou o movimento pela janela, acendeu e apagou as velas nos castiçais. Por um momento, ele pensou em posicionar a cama para mais próximo da janela, no intuito de fazer com que Urick tomasse um pouco de sol, mas se deu conta do que estava prestes a fazer e mudou de idéia antes que fosse tarde demais.
Logo a noite caiu e ele se sentiu entediado demais para ficar ali.Se aproximou de Urick e lhe plantou um beijo na testa.
"Por favor... acorde logo!"
Antes de sair,o garoto pegou a adaga e a guardou no bolso.
A área para Vampiros em transição era semelhante a uma casa de hóspedes.um local escuro e silencioso, e também, como tudo naquela instituição, rústica e refinada.
Vicktor agradeceu a Deus por ter conseguido sair de lá sem esbarrar em nenhum vampiro. A verdade é que ele não queria se aproximar de ninguém. Não havia motivos para isso. Apesar da escolha de Urick,os planos dele não haviam mudado. Tudo o que ele desejava, era sair daquela instituição o mais rápido possível. Mas, por algum motivo,algo dentro dele dizia que aquele lugar seria seu túmulo.
Era óbvio, que mais cedo ou mais tarde aquilo iria acontecer, ele sabia disso, esteve se preparando para aquele momento desde o início. Mas o coração de Vicktor estava aos saltos mesmo assim.
O jardim estava iluminando agora,é repleto de Vampiros.Todos vestidos com o uniforme da instituição, segurando uma taça cheia de sangue em uma das mãos, e na outra, um cigarro.
Estava reunidos em vários grupos,conversando e aparentemente se divertindo. Alguns lançavam olhares, outros simplismente riam enquanto Vicktor passava por eles.
"Preciso manter a calma"-pensava enquanto seguia seu caminho.-"falta pouco"
O garoto pretendia retornar para seu quarto, mas para isso teria de passar pelo pátio,entrar no salão principal, subir a escadaria, e torcer para que não se perdesse em meio aos vários corredores.
Vicktor percebeu que o ritmo da conversa e o tom de voz das pessoas ao seu redor diminuíram, transfomando-se apenas em sussurros a medida em que ele ia se aproximando.
"Urick tinha razão"-pensava consigo.-"As pessoas nesse lugar são completamente diferentes."
E de fato, eram. Vicktor evitava ficar observando muito, mas mesmo com a cabeça abaixada ele podia sentir todos aqueles olhares, gélidos e sem expressão, cravados em si.
O garoto entrou na mansão, ofegante, com o coração disparando. Observou em volta do salão principal, e percebeu que o local ali dentro estava tão movimento quanto lá fora.
Enquanto analisava o ambiente, se esforçando ao máximo para aparentar calma, Vicktor percebeu que um homem do outro lado do salão estava lhe encarando. Quando seus olhares se encontraram, o vampiro fez um gesto levantando a taça que transbordava sangue. Vicktor ignorou aquilo e seguiu em direção a escadaria.
Toda aquela situação e o cheiro de sangue estavam o levando a loucura.
" Preciso voltar, preciso achar o caminho! "- pensava ele enquanto andava apressadamente por um longo corredor.
Enquanto passava por entre os quartos, Vicktor pode espiar, muito rapidamente, o que se passava na maioria deles:
Haviam pessoas vendadas, amarradas em cadeiras, outras, eram suspensas na parede por ganchos que rasgavam a pele.Garotas de no máximo 15 anos, deitadas sobre a cama na companhia de 5 a 10 vampiros. Pessoas que se cortavam de livre e espontânea vontade, para ceder seu sangue a quem estivesse mais próximo.
Aquilo deixara Vicktor enojado. O garoto seguiu pelo corredor a direita, desta vez, sem desviar o olhar. A verdade é que ele havia esquecido o número de seu quarto, não prestou atenção nisso quando partira ao encontro de Pierre pela manhã. Ficar vagando pelos corredores, exposto a todas aquelas pessoas era uma situação agoniante. Devido a isso, ele teve a idéia de entrar em outro quarto. Qualquer lugar vazio seria melhor do que estar ali.
Vicktor parou em frente ao último quarto do corredor. Aproximou o rosto junto a porta, para verificar se estava vazio. Deu duas batidas e esperou, como não teve resposta, ele entrou, virando-se para fechar a porta logo em seguida.
O garoto arrepiou-se dos pés à cabeça. A temperatura do ambiente era absolutamente gélida. Vicktor virou-se mais uma vez para analisar o quarto, e então compreendeu.
As paredes,o chão, a mobília, tudo naquele quarto estava absolutamente congelado. Havia um caixão de cristal posicionado no centro, rodeado por rosas vermelhas, todas muito bem conservadas.
"Não pode ser"-pensava Vicktor consigo, aproximando-se do caixão.-"Como isso é possível? Ela é tão... tão linda"
A mulher que jazia dentro do caixão cristalino era realmente única. Nunca em toda sua vida Vicktor havia encontrado uma pessoa com tamanha beleza. Apele era absolutamente branca,os cabelos, tão longos, que estendiam-se por todo seu corpo, loiros com reflexos que por vezes se assemelhavam ao dourado. A boca era pequenina, conforme lábios fartos e levemente avermelhados. Vicktor desejava poder ver os olhos daquela mulher, que cor eles teriam? Mas o garoto sentiu-se agraciado por ter tido a oportunidade de contemplar aqueles longos cílios mesmo assim. Ela Trajava um longo vestido branco. O interior do caixão era inteiramente decorado com rosas brancas e vermelhas. Nas mãos entrelaçadas, uma aliança dourada.
"Quem ela é? "-pensava Vicktor, perplexo com tudo aquilo.
O garoto tinha a sensação de conhecer aquela mulher, de algum lugar, ou talvez, de algum sonho.
Quando a porta se abriu, Vicktor obrigou-se a interromper os pensamentos e a desviar o olhar da mulher.
A primeira pessoa a entrar foi uma garotinha, aparentava ter no máximo 12 anos. Mas a taça que transbordava sangue em suas mãos deixava evidente de que vivia a bem mais tempo. Mais dois rapazes entraram no quarto depois dela.
-Mas que sorte!-disse um dos garotos, sorrindo.
O outro rapaz se limitou a rir, enquanto a ga rota se aproximava de Vicktor estreitando os olhos.
- Como entrou aqui?- perguntou ela logo depois de esvaziar a taça em um gole só.
- Eu não sei...Estava aberto então, eu entrei.
-Mentira!- disparou o rapaz loiro, que antes estava rindo.- o senhor Lafaiate mantém este quarto trancado. Sempre foi assim.
- Mas esoava aberto!-gritou Vicktor logo em seguida, colocando a mão no bolso.
-calem-se!-disse a garota, colocando silêncio no ambiente.-Meu nome é Margareth, pequeno-disse ela acariciando o rosto de Vicktor. - Como se chama, e o mais importante, o que faz aqui?
Vicktor se afastou do toque da garota, e então Respondeu.
- meu nome é Vicktor. Eu não sabia que não podia entrar, sou novo aqui.
- Entendo. Um vampiro em transição.-Margarethcaminhou até o caixão de cristal, observado a mulher dentro dele. -Eu escutei sobre você, Vicktor. O irmão do coelinho!
-do que está falando?
Margareth não conteve o riso ao responder.
- Suponho que você ainda não saiba. Mas é assim que chamamos seu irmão. Um apelido carinhoso, sem dúvida!
- Você não o chamará assim quando ele acordar, pode ter certeza.
Os três se olharam e caíram em uma profunda gargalhada. Vicktor tentou se retirar, mas Margareth o deteve ao segura-lo pelo braço.
-Não terminei ainda-disse ela, abrindo um sorriso cínico logo em seguida.-Venha comigo pequeno, veja.
Ela se aproximou de Vicktor, colocando gentilmente uma mão em sua nunca, com a outra, ela alisava o caixão.
- veja só, como é patético.-dizia ela.- uma pessoa com tamanha beleza, tão cheia de vida, potencial, acabar assim. Porque escolher a morte e não a vida? O que existe de tão honrado em envelhecer, adoecer, e morrer? Porque vocês humanos, se julgam tão superiores a nós?
Margareth apertou o pescoço de Vicktor com toda a força, empurrando seu rosto contra o caixão de cristal logo em sequência.
-olhe bem para ela! Este é o seu desejo? Permanecer humano e acabar assim?
Vicktor se debatia, na tentativa de se libertar, mas sabia que era inútil. A força daquela garota estava além de seu alcance.
Margareth virou o rosto de Vicktor para si, queria olhar nos olhos do garoto.
- Eu vou lhe dar um presente.
-Me solte agora!- gritava Vicktor, colocando a mão no bolso mais uma vez. A garota direcionou o olhar para os dois rapazes que lhe acompanhavam, e então disse.
- Não sejam tímidos, tenho certeza de que Vicktor gostará da companhia.
Foi por impulso, mas aquela foi a única ideia que veio a mente de Vicktor para se salvar. Ele cravou a adaga na perna de Margareth, que lhe soltou no mesmo instante em que gritou.
O garoto correu desesperado em direção a porta,mas foi pego pelos dois rapazes que vinham em a seu encontro. O rapaz loiro o tomou pelo braço, torcendo-o e empurrando Vicktor para o chão. Ele tentou se levantar, mas o chute que veio em seguida o manteve no mesmo lugar.
-garoto insolente!-esbravejou Margareth do outro lado do quarto. Vicktor direcionou o olhar para ela, e então viu em suas mãos, a adaga.-Uma arma de caçadores! Você queria me matar? Eu estava apenas brincando!
Vicktor não deu respostas. O garoto já estava quase se afundando em lágrimas.
-segurem ele!-dizia Margareth-tragam-no até mim. Vou lheostras como se usa uma adaga, e qual a sensação de ser drenado por completo.Eis o meu presente para você, Vicktor!
Um dos rapazes puxou Vicktor com brutalidade, arrastando-o pelos cabelos até Margareth, enquanto o outro lhe chutava incansavelmente.
- experimente implorar pela sua vida, é talvez eu lhe deixe viver. Mas só se for... Para sempre!
Vicktor fechou os olhos.porque não queria mais ver nada.Estava apenas aguardando o momento em que sentiria as presas daquela garota em seu pescoço. Mas para a sua surpresa, o que veio a seguir foi apenas a voz de Pierre.
- tirem essas patas sujas de cima do garoto!
Os dois Vampiros que haviam levado Vicktor até Pierre durante a manhã entraram no quarto logo em seguida.
Margareth soltou Vicktor no instante em que Pierre apareceu. Seus companheiros fizeram o mesmo.
-senhor, sinto muito, estávamos apenas nos divertindo.
-cale-se!-disse Pierre, caminhando até Vicktor.- Como você está, pequeno?
- já estive melhor- Respondeu Vicktor, enquanto se levantava.
- quemás disse que poderia estar aqui? Eu mandei permanecer em seu quarto!- o tombro de voz de Pierre era severo, mas não ameaçador.- quanto a vocês!- disse ele voltando a atenção para Margareth e os rapazes.- o que aconteceu aqui não será esquecido e terá consequências.
Os três apenas concordaram silenciosamente com a cabeça, saindo do quarto em fila logo depois. Pierre caminhou até os dois Vampiros que haviam lhe acompanhado e Questionou.
-Onde estavam?
-No jardim, Senhor. Junto dos outros.- disse um deles.
Pierre deu dois tapas, nos dois lados do rosto de cada um .
- o que acontece aqui também é responsabilidade de vocês. Da próxima vez, não haverá clemência.
Vicktor en controle o olhar de Pierre mais uma vez. Aqueles olhos... tão vermelhos. Pela primeira vez, ele sentiu nada mais além de... Medo.
- é você, voltará para seu quarto. Apenas sairá de lá quando EU decidir, entendeu?
O garoto apenas concordou com a cabeça.
- Não escitei. - retrucou Pierre, se aproximando.- Eu perguntei se você me entendeu?
-SIM!-Respondeu por fim. - Eu entendi, perfeitamente.
[...]
Pierre levou Vicktor até seu quarto depois disso e o trancou lá dentro. Despediu-Se com um "até amanhã" e partiu.
Vicktor custou a pegar no sono naquela noite. Ficava repassando em sua mente os últimos acontecimentos, pensando em como seriam seus próximos dias ali, naquele lugar. ELe sentia medo.
Na manhã seguinte, enquanto observava as pessoas andando pelo pátio através da janela, Vicktor pode ver a garota que havia encontrado durante a noite passada, Margareth.
Ela estava rodeada por várias pessoas, parecia irritada, as garotas a sua volta lhe apontavam o dedo, dando risada. Tentavam puxarope seu braço, a todo custo, mas ela sempre recuava. Vicktor não estava entendendo toda aquela agitação, mas depois de um tempo, compreendeu.
Uma das garotas havia puxado o braço de Margareth e o levantado para o alto. Deixando a mostra, a parte enfaixada do braço transformada apenas em um cotoco, onde antes havia uma mão.
Vicktor se afastou da janela boquiaberto, comas os olhos esbugalhados. A única coisa que lhe veio a mente naquele instante foram as palavras de Pierre:
"O que aconteceu aqui não será esquecido e terá consequências "
A porta se abriu, e o corpo do garoto extremesseu ao dar de cara com Pierre.
- Bom dia, pequeno.-disse ele- trago novidades, seu irmão, Urick despertou e quer lhe encontrar.
[Capítulo-2- Reencontros - fim]
Continua.
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NOTA DO AUTOR:
Gostaria de agradecer as pessoas que estão lendo este conto, do fundo do coração. Espero que possamos nos encontrar mais vezes, e peço para que se mantenham fiel ao conto, pois estou trabalhando bastante nele. Não publico com tanta frequência, mas pretendo finalizar essa historia, e se possível, na companhia de todos vocês.
Abaixo deixô meu e-mais para mais informações sobre quando publicarei novos capítulos.
Bjs a todos , e atéa próxima ♡