DE VOLTA À PIZZARIA
CAPÍTULO 39
ATENÇÃO
ESSE É O TRIGÉSIMO NONO CAPÍTULO DA FASE 2 DA SÉRIE “A PIZZARIA” . ANTES DE PROSSEGUIR COM A LEITURA, LEIA, NESTE MESMO SITE, A FASE 1 DA SÉRIE ORIGINAL (A PIZZARIA), DO MESMO AUTOR. OBRIGADO.
DE VOLTA À PIZZARIA
CAPÍTULO 39
Quando adentrei à casa da Kátia, Ticiane vestia camiseta e shortinho vermelho bem curto. Trazia consigo a sobrinha no colo, enquanto conversava com a Luana no sofá.
Ao ver-me entrar, e ciente de tudo o que acontecera, Ticiane veio beijar-me o rosto dizendo-me:
—Sinto muito, Edu.
—Foi bom você ter vindo. Vou aguardar a minha irmã chegar do trabalho, pois eu quero voltar de carona pra sua casa, com você.
—Vamos ver se damos um jeito nisso!
Em seguida, disse-me baixinho:
—Eu “sarei”, viu!
Dei-lhe apenas um disfarçado sorriso, entendendo que ela quisera me dizer que estaria com a vulva cicatrizada.
Depois, referindo-se à esposa do Bruno, ainda perguntou-me:
—Você quer conversar a sós com essa mulher né, Edu?
Eu acenei-lhe com a cabeça afirmativamente, e então ela finalizou:
—Depois, em casa, a gente se fala mais à vontade...
Em seguida, ela pegou a menina e nos deixou a sós.
Após ela sair, toda cerimoniosa, Luana comentou comigo:
—Que sina triste essa nossa hein, Sr. Edu!
—Você não precisa de me chamar de Sr. Edu, Luana.
—Pode me chamar apenas Edu.
—Ok.
Depois, ela foi direta comigo:
—Não quero mais tomar o seu tempo, Edu. Até porque estou em boa companhia nessa casa.
—Suas sobrinhas e a Vera são pessoas maravilhosas.
—Mas, Edu. Posso te perguntar uma coisa?
—Apenas curiosidade minha. Justificou-se.
—Claro, Luana. O que seria?
—Você nunca desconfiou da sua mulher?
Então, para evitar adentrar em assunto particular sobre a minha vida conjugal com a Denise, devolvi-lhe a pergunta:
—E você nunca desconfiou do seu marido, Luana?
Ela respondeu-me:
—Como eu já havia dito à sua cunhada, Edu, de uns tempos para cá tomei conhecimento dessas safadezas dele.
—Antes eu jamais poderia desconfiar do meu marido, até porque ele é hiper ciumento, entende.
—Mas, agora ele me paga, pois ainda não sabe que vou me separar de uma vez por todas, além de outras coisas.
—Já chega!
—Ele tá pensando que vou ficar em casa feito uma boba, como antes.
E, deu um sorriso enigmático dizendo-me:
—Logo, eu!
Depois, cobrou-me:
—Mas você ainda não me respondeu se já desconfiava da sua esposa, Edu.
—Olha, Luana. Depende qual seria a sua colocação pra essa pergunta.
—Colocação como assim, Edu?
Então, resolvi contar-lhe tudo, para que ela ficasse a par sobre onde o seu marido estaria se metendo:
—Você me questiona se eu desconfiava que a Denise saía com outro homem? Seria isso?
—Sim. Você nunca desconfiou?
—Olha, Luana. Isso é complicado responder porque não éramos, digamos assim, um “casal normal”.
—Desculpe-me, mas não estou entendendo nada, Edu.
—Você poderia ser mais claro?
—Mas se você não quiser falar, sem problema. É só curiosidade minha, até porque o erro já está feito, concorda?
—Mas eu falo na boa sim, Luana.
—E respondendo à sua pergunta, eu nunca precisei desconfiar, porque tínhamos relação aberta, entende?
—Sério? Será que essa sua “relação aberta” é o que estou imaginando?
—Acho que sim, Luana. Você deve saber sobre isso.
—Claro que eu sei. E suponho que nessa relação aberta você também ficava com outra mulher, correto?
—Mais ou menos, Luana.
—Como assim, mais ou menos, Edu?
—Havia mulher no meio, ou não?
—Sim, Luana. Conheci algumas mulheres.
E completei:
—E também fizemos troca de casais.
Ela pareceu chocada com a minha revelação, mas não tanto quanto eu havia pensado que fosse ficar. Em seguida, comentou:
—Meu Deus! E eu que imaginava que num interior desses não fosse ter essas coisas. Suspirou.
—Realmente o mundo está mais avançado do que eu imaginava!
E, prosseguiu:
—Agora começo a entender muitas coisas, Edu.
E perguntou-me:
—E o que você me diz de tudo isso?
Então, eu lhe expliquei:
—Olha, Luana.
—Você acabou de me dizer que o seu marido é ciumento, né?
—Sim, Edu. Hiper ciumento!
—Mas o que isso tem a ver com a nossa situação atual, Edu?
—Nada! Só quero dizer que se ele realmente ficar com a minha ex-mulher, com certeza vai levar muitos chifres.
—Com a Denise não existe espaço pro ciúme!
Luana animou-se:
—Ah tomara!
—Eu pagaria tudo pra ver aquele safado ser corno!
Depois, sem que eu nada lhe perguntasse, ela revelou-me o que em parte eu já sabia:
—Ele não é normal, Edu.
—Não entendi. Porque ele não é “normal”, Luana?
Imaginado que ela fosse se referir ao avantajado membro do seu marido, Luana respondeu-me algo diverso mas que, igualmente, seria do meu conhecimento:
—Ele gosta de espiar, Edu.
—Frequentava casas de swing em São Paulo, só pra espiar as pessoas transar.
—E como você soube que ele frequentava esses lugares, Luana?
—Porque a família dele é desestruturada, Edu.
—Desestruturada como assim, Luana?
E, pensei com os meus botões, sem nada dizer-lhe:
—O que tem haver uma pessoa ser voyeur com família “desestruturada” como ela acabara de dizer?
Porém, antes de responder-me, misteriosa, ela perguntou-me:
—Se eu lhe revelasse algo você guardaria segredo, Edu?
—Claro, Luana. Qual segredo?
Ela insistiu na minha cumplicidade:
—Jura que você não contaria pra sua ex-mulher, nem na hora da raiva?
—Claro que não, Luana. Pode dizer!
—O que tem de errado na família do seu marido?
—Ora, Edu. A mãe dele, Dona Clélia, traía o esposo, e por isso se separaram.
—Nossa, Luana. E o Bruno sabe disso?
—Sobre essa “passagem” da mãe, ele nunca soube mas, da irmã mais velha, sim.
—E o que essa irmã “mais velha” do Bruno fez de errado, Luana?
—Você quer mesmo saber, Edu?
—Claro, Luana!
Daí, ela revelou-me algo surpreendente:
—Ela foi acompanhante de executivos em São Paulo, Edu!
—Mas, no início da “carreira” trabalhou no Bahamas.
Eu perguntei-lhe:
—Bahamas é alguma loja, ou agência de turismo, Luana?
—Não, Edu. Bahamas é bordel de luxo!
Assustado, e ao mesmo tempo intrigado, eu lhe perguntei:
—E como você descobriu essas coisas sobre a sua cunhada? Ela te contou?
—Não, Edu. Éramos amigas.
—Amigas como assim, Luana?
E, daí veio o torpedo final, de fazer inveja ao Kim Jong-un:
—Ora, nós “trabalhávamos” juntas, Edu.
—Sou ex-prostituta!
—Você tá brincando né, Luana?
—Você não disse à minha cunhada que cuida de um estacionamento de automóveis do seu tio, lá em São Paulo?
Ela explicou-me:
—Disse sim, Edu.
—Realmente, eu cuido de um estacionamento de veículos em São Paulo, desde que deixei o Bahamas pra me casar com o Bruno.
—Porém, o meu tio não é dono de nada, Edu. Ele é só meu empregado, entende?
Então, eu lhe disse:
—Desculpado o palavrão, mas, PUTA MERDA, Luana!
—Então a irmã do Bruno é mulher de programa?
—Não mais Edu. Eu sei que ela ainda tem alguns casos, mas hoje é só cafetina.
—Mas ela não era casada?
—Ela nunca se casou, Edu. De onde você tirou isso?
Eu expliquei-lhe:
—Foi a mãe do seu marido que me disse isso, quando ela veio com o Bruno pra cá.
Depois, Luana queixou-se da sogra:
—Aquela safada, nunca me deu sossego por causa do meu passado, Edu.
—Ela fez de tudo pra impedir o meu casamento com o filho dela.
—Tentei levar uma vida digna, mas ela nunca me aceitou.
—Inventava fofocas pro seu filho, e acabou deixando-o ainda mais ciumento.
—E hoje ele desconfia até da própria sombra!
—Mas eu lhe dei o troco, Edu!
—O que você fez com ela, Luana?
—Revelei as safadezas dela pro marido, ele fez o flagrante, e sumiu da vida dela.
—Colocou-a pra fora de casa, sem direito a nada, e agora ela divide o mesmo teto com uma cafetina!
Já me esquecendo do inicio da nossa conversa, eu lhe perguntei:
—Qual cafetina, Bruna?
—Ora, Edu! A Eliete!
Embora eu já soubesse sobre o parentesco da sua sogra com a Eliete, ela confirmou:
—Eliete é a filha dela, Edu.
Finalmente, eu exclamei:
—Que confusão!
Porém, agora a observando melhor, constatei que a Luana era uma ruiva maravilhosa. Alta, magra, talvez 1,70m e menos de 55 quilos, e olhos castanhos. Agora calma, sua voz soava doce como a de uma locutora de aeroporto.
Por um instante, veio-me a recordação da Denise. Realmente, fora triste, muito triste perdê-la. Mas, esse sentimento de perda me era recompensado quando eu me lembrava da princesa de olhos claros, paixão da minha vida, e também da menina Ticiane.
Entretanto, aos poucos, tive que entender que, infelizmente, a Denise fazia parte do meu passado feliz, aliás, muito feliz! Mas, como a própria gostava de dizer, “a fila anda”, de tal forma que, sem desprezo à linda paulistana ruiva, que parecia vir-me “de bandeja” devido a essa peculiar situação, os meus pensamentos reportavam-se mesmo para a Vera e à sua menina. E, para ser exato, voltavam-se mais para a Ticiane. E, eu já estava ansioso em levá-la para casa, tão logo a Kátia chegasse do trabalho.
Não sei dizer se o fato de eu tomar conhecimento acerca do passado da esposa do Bruno trouxera-me algum alívio, mas a verdade é que pouco me importei com isso, pois, após a partida da Denise, ao dormir com a Vera, eu notava que a minha ex-cunhada me amava cada vez mais, e transformara-se num vulcão em nossa cama. Tudo isso, sem contar que ainda me dava de “brinde” a filha novinha.
Diante de todo esse contexto, qualquer um poderia pensar que me seria extremamente fácil desejar a Luana motivado por espírito de vingança, devido ao abandono do nosso lar, pela Denise.
Todavia, enxergando a realidade, mas, cauteloso, pensei comigo:
—A Denise que se foda! Já foi tarde!
Entretanto, ao ver-me pensativo, a ruiva perguntou-me:
—O que foi, Edu?
Eu lhe respondi.
—Nada, Luana. Já levamos chifres mesmo, né?
Ela concordou:
—Sim, mas o que você acha que devemos fazer, Edu?
Porém, tive uma boa ideia. E, fugindo do óbvio, eu lhe expliquei:
—Você disse que o seu marido tem muito ciúme de você né, Luana?
—Oh se tem, Edu!
Talvez, à espera da minha previsível cantada, perguntou-me:
—Mas o que você pretende, Edu?
Então, lhe revelei:
—Olha, Luana tenho um plano...
—Que tipo de plano, Edu?
--Você poderia ir num motel, tirar foto com um homem, e mandar pro seu marido, no celular!
—Humm....E esse homem por acaso seria você né, Edu?
Daí, deixando transparecer toda a minha cautela, lhe expus:
—Eu bem que gostaria, Luana. Mas, infelizmente, eu não posso fazer isso!
—Porque você não pode, Edu?
—Por acaso não me acha atraente?
—Não é isso, Luana. Você é linda!
Agora jogando charme, ela simplesmente me falou:
—Então, Edu...
Daí, eu lhe expliquei os motivos:
—Eu amo alguém, Luana. E a Denise conhece esse alguém.
—E se ela, Denise, ver a foto de nós dois juntos, na certa “me entregará” a essa pessoa. E “essa pessoa” me deixa de vez.
Em seguida, lhe expliquei em tom descontraído:
—Além do mais, perder duas mulheres, em menos de uma semana, acho que nem na guerra do Iraque isso acontece, né?
Igualmente descontraída, Luana simplesmente riu da minha justificativa. Mas, eu continuei:
—E não me pergunte quem seria ela, pois é uma mulher proibida, entende?
—Claro, Edu. Eu não seria indiscreta a tal ponto.
—Só quero me vingar do safado!
—Não se preocupe, Luana. Você irá vingar!
Evidente que, pelo seu passado de luxúria, e esperta como aparentava ser, Luana já sabia de antemão que eu me referia à pessoa da Vera, pois era do seu conhecimento que vivíamos todos no mesmo lar. Tudo isso, sem contar que nestes últimos dias eu ficara a sós em casa com a gostosa, após a saída da Denise. Ademais, ex-dama da noite, Luana percebera que a minha cunhada se tratava de um mulherão, certamente desejada por todos.
Então, voltando ao assunto com a ruiva, eu lhe falei sobre o Caio, e ela aceitou de pronto encontrar-se com ele, sem ao menos lhe conhecer pessoalmente. Imaginei que tal situação pode ter-lhe sido corriqueira no passado, pois muitas garotas de programa marcam encontros pelo telefone, sem nunca ter visto o “cliente”.
É verdade que, em comparação com o Bruno, a “ferramenta” do Caio se pareceria minúscula frente à Luana. Mas, nessa hora, certamente ela não queria saber de cacete: Luana só queria vingança. Aliás, muita vingança!
E, certamente, o meu especial auxílio não iria lhe faltar para que, de alguma forma, alcançasse os seus intentos.
Daí, combinamos que, quando eu chegasse na minha cidade, iria atrás dele, Caio, no supermercado onde trabalha, para tratarmos do encontro. Desde já, ficamos acertados que ela, Luana, o esperaria na casa da Kátia.
Feliz, Luana ainda brincou comigo dizendo-me:
—Eu nunca imaginei que, anos após eu ter deixado a “noite”, iria novamente usar os serviços de um cafetão, Edu!
Para não ser deselegante com a moça, dei-lhe um sorriso forçado mas, no íntimo não gostei da sua brincadeira, e pensei comigo: triste sina é a minha, pois, agora, além de corno, virei cafetão!
Assim, tão logo a Kátia retornou do serviço, peguei a mochila da Ticiane e a coloquei no porta malas do meu carro. Em seguida, dei um beijinho no rosto da Luana, e nos despedimos. Ticiane e eu voltamos sozinhos à minha cidade.
Continua no próximo capítulo.
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