TLK - Distopia XII

Um conto erótico de Bryan
Categoria: Homossexual
Contém 1622 palavras
Data: 10/09/2017 17:11:25
Última revisão: 10/09/2017 17:16:50

Me agarrava ao corpo desfalecido do soldado Brad, como se ele fosse meu suéter favorito. Não diria que o amava, mas confessava que sentia algo por ele. Talvez uma paixão. Puxei sua cabeça flácida para perto do meu rosto e percebi, pela primeira vez, que não teria mais seus lábios me tocando ou seu corpo empurrando-me com força contra uma parede enquanto queria me foder. E quando as marcas arroxeadas no meu braço desaparecessem, iria embora a constante lembrança da sua agressividade e toda violência.

Me permiti chorar por ele durante alguns minutos, antes de me levantar e secas as lágrimas com o dorso da mão. A poça de sangue do soldado morto se espalhara até a borda da popa e seus filetes vermelhos começara a escorrer em direção ao mar. Suspirei, procurando ar em meio ao nevoeiro sufocante.

Caminhei cambaleante por estibordo, o lado esquerdo do navio. O sangue que banhava meus braços escorria até as pontas dos dedos das minhas mãos e pingava no chão, deixando um trilho de gotas vermelhas por onde eu passava. Cheguei em frente a porta do laboratório, anormalmente sem soldados vigiando. Entrei pelo corredor estreito e saí na antessala separada do laboratório por uma parede de vidro. Aaron, que passava dia e noite vigiando o laboratório, olhou-me espantado. Sem troca de palavras, corri até a parede de vidro e esmurrei com toda a minha força. O sangue dos meus braços tingiram o transparente com a cor escarlate. Dra. Tess e o Dr. Slomman pararam assustados seus trabalhos e olharam para mim, imóveis. Talvez se perguntassem o que aconteceu ou de quem era aquele sangue. Mas eu jamais me permitiria responder... Eram os segredos e intrigas deles que custara uma vida humana.

Esmurrei mais uma vez o vidro blindado, que sequer estremeceu. Abri minhas mãos, almejando transformar aquele vidro na névoa densa que encobria o navio e alcançar os dois pesquisadores.

–QUEM?– Gritei sem fôlego para continuar a frase. Quem havia matado Brad?– O QUE TÁ ACONTECENDO?– Gritei esmurrando outra vez o vidro. Minhas pernas perdiam forças enquanto as mãos de Aaron envolvia minha cintura e me puxava para longe do vidro.

–Calma– Sussurrara ele ao meu ouvido, como se fosse possível ter calma enquanto estava preso no maldito navio.

–Por quê?– Perguntei para mim mesmo. Me sentia perdido e sozinho novamente. O “Eu te amarei para sempre” pronunciado por Aaron enquanto nos afogávamos enterrou-se naquele dia da tempestade. Nunca mais depois que nos recuperamos ele me falou algo a respeito. Me virei para ele, minhas mãos sujas de sangue agarravam ao rosto dele, sujando-o com o sangue do homem morto. Estava desesperado, havia presenciado um assassinato e fui suficientemente estúpido para não procurar pelo atirador.

Dra. Tess caminhava para a saleta em direção ao cubículo por onde poderia me encontrar, quando o Dr. Slomman pressionou um botão vermelho no alto da parede do laboratório, oposta a parede de vidro blindado. Imediatamente as portas do laboratório lacraram, impedindo a saída da Dra. Tess. Ela olhou irritada para seu colega de pesquisa. Ele balançou a cabeça.

Não sabia o que pensar vendo o que se desenrolava dentro do laboratório. Nem conseguia escutar as palavras de consolo que Aaron falava. Estava fora de mim, as imagens e sons que chegavam ao meu cérebro pareciam desconexas. Senti uma agulhada no pescoço, olhei para trás. Vi um segundo soldado ao lado de Aaron. Meus olhos pesaram, mas a única coisa que conseguia pensar era que Brad estava morto.

Tive sonhos conturbados, estava na minha cabine C27 durante meus delírios e podia sentir o corpo de Brad pressionando-me contra a porta. Ele me beijava, mas seus lábios eram frios. Olhava para ele, assustado, ele apenas sorria. Sentia seu toque com vivacidade até algo começar a molhar meu peito. Olhei para o peito dele enquanto me beijava e via um ponto vermelho emergindo da roupa. Em segundos sua camiseta estava encharcada no sangue que lhe escorria e então o chão da cabine toda estava banhada no vermelho-vivo. Tentava afastar seu corpo de mim, mas ele não parava de me beijar...

Acordei assustado. Estava deitado na minha nova cabine, A3, ainda coberto de sangue. Meu coração acelerou enquanto as lembranças da morte de Brad voltavam. Eu suava frio, acabei sujando minha colcha com sangue seco. Levantei atordoado e caminhei para o banheiro. Liguei a hidromassagem e me lavei de todo o sangue. Afundava minha cabeça embaixo da água numa tentativa falha de apagar as últimas lembranças que corroíam meu cérebro.

Saí da banheira e me sequei, vesti uma calça preta, uma camiseta cinza e um tênis. Olhei para minha blusa de moletom preta, que tanto usava. Ela era minha blusa favorita, mas agora estava manchada com o sangue seco. Peguei minha blusa e deitei na cama, agarrado a ela.

Não queria perder Brad. Não queria abandoná-lo. Talvez nós realmente tivessemos tido um romance. Talvez.

Levantei com lágrimas nos olhos e tentei sair da cabine, mas estava trancada a porta. Voltei para o banheiro e vasculhei minhas roupas, lembrei da Glock que Brad me entregara minutos antes de morrer. Encontrei a arma no meio da calça. Guardei na minha cintura, sabendo que o volume dela era visível. Me sentei na escrivaninha. E fechei meus olhos enquanto pela vigia conseguia ver os primeiros raios alaranjados de sol iluminarem uma manhã límpida, sem nevoeiro.

“Todas as cartas estão na mesa”, murmurou Brad segundos antes de levar o tiro. “Todas as cartas estão na mesa”. Com os olhos fechados, pensei em cada passageiro que tinha visto de relance. Na classe D parecia estar presente os acompanhantes dos passageiros de outras classes. Na classe C estavam os que ganharam a viagem por entrevista. Na B estavam pesquisadores e cientistas. Na A estavam um seleto grupo de cinco pessoas, entre eles eu.

Resistentes. São pessoas que resistem a algo. E por resistirem a algo, elas estão ameaçando o navio. Por seus ideais, tentaram me afogar e mataram Brad minutos antes de me contar o que acontecia nesse navio.

O som da tranca da cabine me despertou. Tirei uma blusa de moletom da minha mala e vesti apressado, para poder esconder o volume da arma. Do outro lado da porta estava Caleb, o soldado amigo de Brad. A colônia amadeirada que ele usava me enjoava.

–Sr. Scardino, deve comparecer imediatamente no laboratório.

Meneei com a cabeça e me levantei. Algo estava na beirada da minha memória, como se estivesse esquecido de algo importante. Saí da cabine, tudo parecia silencioso no navio. As pessoas provavelmente dormiam.

Movimentei meus lábios, formando o nome de Caleb. Ele estava presente no primeiro jantar que tive no navio, onde apenas Dra. Tess, Dr. Slomman, o comandante, o capitão e eu estivemos presentes. Ele deveria me levar para minha cabine, mas Aaron trocou de lugar com ele. Mas ainda não tinha decorado seu rosto, então não o reconheci quando ele e Brad me prenderam na balada.

Subi os lances de escada para o primeiro andar e caminhei em direção ao convés bombordo. Depois de ter visto Brad e Caleb na balada, apenas avistei o soldado na noite anterior, quando Caleb morreu, e... Sim, foi ele quem me sedou nos braços de Aaron.

Na noite do assassinato, no entanto, Brad olhava assustado para a névoa atrás de mim. Mas não havia ninguém, não que eu visse. Apenas havia aquele cheiro amadeirado... Respirei fundo, tentando tomar ar. Caleb caminhava na minha frente, estávamos andando pelo convés do navio, em direção ao laboratório no lado estibordo.

Minha mão direita deslizou pela arma na minha cintura, aproximávamos da escotilha de carga da proa. Parei de andar e retirei a arma da cintura enquanto a erguia com as duas mãos e apontava para Caleb. Os passos dele também pararam, como se percebesse que eu empunhava uma arma mirando nas costas dele, exatamente como fizera.

Eu reconhecia o cheiro amadeirado que vinha da névoa naquela noite. Era o mesmo cheiro amadeirado que ele exalava nas outras vezes que o vi.

–Foi você, não foi?– Gritei, ciente que em meio a manhã límpida toda a ponte escutaria nossa conversa– Brad te pediu para me chamar para a popa naquele dia e depois que eu chegasse, ele confiava que você vigiaria a retaguarda. Ele acreditou que você o protegeria enquanto me contava tudo.

Caleb virou-se. Suas mãos deslizavam pela cintura, seus dedos acariciavam a Glock que carregava.

–Você é o Resistente– Acusei num sussurro tão baixo que minhas palavras se perderam na brisa matinal. O sol já banhava o céu em azul.

Caleb balançou a cabeça e então sorriu. Atrás de mim ouvi o som de uma Glock destravando. Virei a cabeça e me peguei sendo a mira da arma de Aaron, enquanto Caleb começava a falar.

–Não sou o único Resistente.

____________________________

Eu te disse, todos escondem segredos. Aaron também escondeu... E um dos grandes. O cheiro forte de perfume foi citado em vários capítulos apesar de eu não citar o nome de Caleb, que realmente era um soldado qualquer e desconhecido para Christian. Várias vezes eu citei o perfume, imperceptivelmente. Era a marca de Caleb, presente em todo lugar em que ele estivesse. Seja como soldado, como na noite do jantar entre Chris e o alto escalão do navio ou como Resistente, como no assassinato de Brad.

Queria agradecer a todos os leitores anônimos da história. O último capítulo bateu recorde de leitura da história, apesar da pouca interação! E queria agradecer, como sempre, especialmente a Chria e ao Guilwiski por estarem sempre presentes <3

A história é dividida em 3 partes. Duas já escritas. Esse capítulo é o penúltimo da primeira parte. Amanhã teremos o último e depois começamos a segunda parte de TLK.

Obrigado todos que leram!

Com amor,

B.


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Comentários

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Sabia que Aaron era um traidor . Mas talvez ele ame Chris de vdd

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